Mecanismo de justiça e evolução, a pluralidade das existências constitui uma das leis divinas
Warwick Mota
Indubitavelmente a reencarnação constitui-se em uma das crenças mais antigas da humanidade. Ponto comum a muitas religiões, a idéia da reencarnação é difundida sob as mais diversas formas. Reencarnar significa voltar à carne outra vez, nascer de novo; podemos conceituar então reencarnação, como renascimento.
Se fizermos uma análise desapaixonada do assunto, poderemos observar que a doutrina da reencarnação, é, entre todas as doutrinas filosóficas, aquela que melhor se pode aceitar nas bases de investigação de natureza científica. Já são muitos os cientistas que estudam a problemática reencarnacionista, dentre os quais podemos citar grandes pesquisadores como o Dr. Jan Stevenson da universidade de Virgínia, U.S.A.,o Dr. H. N. Banerjee, da Universidade da Índia, o Dr. Hernani Guimarães de Andrade, do Instituto Brasileiro de Pesquisas Psicobiofísicas, de São Paulo e tantos outros não menos importantes, com boas obras publicadas, que destacam o caráter científico deste maravilhoso tema.
Não podemos esquecer que dentro de uma análise religiosa, a reencarnação é a única doutrina que se mostra compatível com a Justiça de Deus. Diante da reencarnação caem por terra as arbitrariedades dogmáticas, as injustiças, os absurdos teológicos, os problemas psicológicos, as anomalias genéticas, as incongruências de natureza social; todas essas situações encontram uma resposta diretamente proporcional para com a dignidade humana, pois somente uma explicação plausível pode-se encontrar para tais situações: a reencarnação, que por dedução lógica é a resultante da lei de causa e efeito, ou seja, sabemos que o homem tem várias vidas e que cada vida é vivida como efeito das causas de outras vidas; se assim não o fosse, a Justiça Divina seria completamente injusta.
Dentro desse mesmo contexto religioso, vamos encontrar na Bíblia, no antigo testamento, indícios claros de que a reencarnação já era conhecida também pelos israelitas, onde está escrito: “visito a maldade dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração daqueles que me aborreceram - Êxodos 20:5”. Podemos entender, em outras palavras, que o sofrimento atual das pessoas é na maioria das vezes uma conseqüência direta dos erros cometidos no passado, que sensibilizaram as leis naturais; o resultado dessa sensibilização reflete-se diretamente no próprio infrator, que deverá em uma nova existência adequar-se às mesmas leis que infringiu; para isso, volta várias vezes no mesmo círculo familiar.
Sem fugir ainda deste contexto, vamos encontrar aqueles que combatem a reencarnação, afirmando que esta não fazia parte dos ensinamentos do Cristo; esse posicionamento está equivocado, pois ao buscarmos no novo testamento, Mateus 11:14, vemos os discípulos perguntarem ao Cristo: “esse é o Elias que há de vir? “ Ora! Elias tinha morrido há mais de quinhentos anos; essa pergunta seria uma insanidade se os discípulos não conhecessem a reencarnação.
A crença na reencarnação era um conceito tão difundido no oriente próximo e médio que o povo a aceitava como algo perfeitamente normal; essa aceitação está tão explicita, que no caso do homem cego de nascença, os discípulos chegam a ser contundentes. “Rabi, quem pecou, este ou os seus pais, para que nascesse cego? (João 9:1:12)”.
O paralelo entre Elias e João o “Batista”, tão mal compreendido por irmãos de outras crenças, é muito rico em evidências reencarnacionistas; basta querer enxergar. Elias foi um homem de muita importância dentro do seu cenário histórico, visto que teve ele, uma grande ascendência na religião e na política de Israel, entre os anos de 874 a 853 a.C., período em que Achab governou Israel. O ponto alto dessa história começa com o Rei Achab, casando-se com Jezabel, filha do Rei Etibaal da Sidônia.
Na Sidônia prestava-se culto ao deus Baal e Jezabel era uma adoradora desse deus; após seu casamento com Achab, ela entendeu que como rainha de Israel, poderia introduzir naquele país o culto ao deus Baal, o deus pagão de seu país de origem. Tal decisão atingiu em cheio as concepções religiosas dos israelitas e com isso Elias posicionou-se radicalmente contra essa inserção pagã, deflagrando uma guerrilha pessoal contra Jezabel, que resultou em uma morte trágica da mesma, como está descrito em 2º Reis 9:30/37: “Jeú, o general do Rei, a jogou de uma janela de uma torre do palácio e, ao cair seu corpo despedaçou-se, sendo devorado pelos cães; só lhe sobrando as palmas das mãos e a caveira.”
Trezentos anos após a morte de Elias, o profeta Malaquias afirma em uma de suas profecias que Elias iria voltar. “Eis que vos envio o profeta E/ias, antes que venha o dia grande e terrível do Senhor.” Foram quase quinhentos anos para que essa profecia acontecesse, o que veio ocorrer ao tempo de Jesus; Elias reencarnou como João o “Batista”, comprovado pelo Cristo, em Mateus 11:14.
Ao que tudo indica, a querela entre Elias e Jezabel não ficou lá muito bem resolvida, pois, Elias, ao retornar como João o “Batista”, reencontra a inimiga do passado, Herodias. E impossível negar, as evidências são irrefutáveis entre os dois episódios, envolvendo Jezabel/Herodias e Elias/João Batista.
Vejamos: ambas casaram-se com Reis de Israel; Jezabel casou-se com Achab e Herodias com Herodes; as duas cometeram o mesmo “pecado”: ofenderam as leis religiosas de Israel, uma tentando introduzir culto ao deus Baal, a outra, cometendo o incesto, ao casar-se como cunhado. A primeira, foi perseguida por Elias e a segunda, por João Batista. Jezabel, que no primeiro episódio desencarnou de forma trágica, como Herodias, desta feita inverteu os papéis, induziu sua filha Salomé a convencer Herodes a ordenar a decapitação de João Batista, cuja cabeça foi entregue a Salomé em uma bandeja.
Muita água rolou e, ao contrário do que muitos pensam, a crença na reencarnação foi aceita pela igreja cristã primitiva até o ano de 553 d.C, quando foi abolida pelo Quinto Conselho Ecumênico, reunido em Constantinopla, por três votos a dois. posteriormente, o reverendo G. Nevin Drinkwater, um sacerdote católico liberal, esclareceu, que o Conselho jamais declarou que a reencarnação fosse herética; o fato é que, em um sínodo local, o Conselho condenou os ensinamentos que foram propostos por Orígenes, em suas obras De principiis e Confra Celsus; entretanto, o reverendo esclarece que a decisão do Concilio foi apenas local, não sendo assim compulsória, para toda a Igreja Universal1.
Alguns estudiosos da Bíblia informam que após o Concílio, os textos do antigo e novo testamento, que referiam-se à reencarnação, foram considerados esotéricos, sendo decifráveis apenas pelos iniciados ou pelos que detinham o conhecimento para a interpretação das escrituras; dessa forma a reencarnação foi aos poucos caindo no esquecimento do povo e só nos séc. XII e XIII d.C, foi novamente difundida pelos cátaros (palavra de origem grega que significa “puro”), ou albigenses, devido à cidade de Albi. Além da crença na reencarnação, os cátaros não admitiam qualquer tipo de intermediário entre o homem e Deus; essas crenças afrontavam diretamente os interesses da Igreja e do regime feudal; por isso passaram a ser perseguidos ferozmente pela Igreja Católica, que os considerava hereges.
Apesar das tentativas das teologias tradicionais em abafar a crença na reencarnação ao longo dos séculos, a Providência Divina não nos deixa órfãos de conhecimento e envia no tempo preciso, missionários como Allan Kardec, que vem revelar para a humanidade carente de conhecimentos coerentes, a doutrina da reencarnação, ensinada pelo espíritos superiores, como um elemento pedagógico dentro do processo de evolução individual das criaturas.
Quando, no desdobramento da questão 330 de “O Livro dos Espíritos”, o Codificador, evoluindo em seu raciocínio acerca da necessidade da reencarnação, pergunta aos Espíritos superiores: “a reencarnação é uma necessidade da vida espírita, como a morte é da vida corpórea?” Ao que os Espíritos lhes respondem sem rebuços: “Certamente, assim o é”.
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