terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Temor a Deus

Saara Nousiainem

presidente da ADE-Ceará

Esse termo “temor a Deus” tem sido muito utilizado nos meios cristãos, sem muita preocupação com seu significado.

Entretanto, ele colide com a doutrina de Jesus, porque o Mestre ensinou que devemos amar Deus e não temê-lo. Por que temer Deus, se Ele não é mau, nem injusto; se é sábio, perfeito e bom?

Essas idéias de temor a Deus provêm do Antigo Testamento, escrito numa época e para pessoas bastante primitivas. Era necessário acenar com o medo para que obedecessem aos ditames das religiões.

Mas a história mostra que tudo está em permanente evolução.

Antigamente faziam-se sacrifícios humanos aos deuses. O povo israelita oferecia animais em holocausto a Jeová. Era a mentalidade da época.

Jesus trouxe novas luzes ensinando amor, perdão e mansidão e, aos poucos, tudo vai mudando com o lento progresso da humanidade, cedendo lugar a idéias mais civilizadas.

Também o bom senso e a razão ganham terreno com o avanço das ciências, abrindo espaço para inúmeros questionamentos, inclusive sobre temas tidos como tabus, como é o caso da sacralidade da Bíblia.

Desses conflitos todos surge, então, uma pergunta importantíssima: qual das religiões oriundas da Bíblia está com a verdade, já que todas possuem argumentos que entendem serem os mais fortes?

Vamos raciocinar um pouco:

Se você estiver elaborando seu orçamento doméstico e alguém afirmar que 5 mais 3 são 11, o que fará?

Vai simplesmente aceitar esses valores como certos, por que alguém em quem você acredita disse isto, ou irá fazer a conta para ver se a afirmação está correta?

Se aceitar simplesmente o que lhe dizem, sem questionamentos, você se arrisca a ter grandes problemas em sua vida

O mesmo ocorre com relação às religiões. Cada uma diz que está com a verdade, embora todas pensem diferentemente umas das outras.
Que fazer então, para encontrar a verdade religiosa?

O mesmo que você faria para encontrar os valores reais para o seu orçamento: analisar, questionar, usar a razão, o bom senso.

E nessa busca, certamente, a primeira questão, a mais importante, é a seguinte: será que nós, seres humanos atrasados e imperfeitos, temos acesso pleno à verdade?

Se a verdade plena está com Deus, por certo, nós só podemos ter dela apenas vislumbres... E é por isso que brigamos e até mesmo desencadeamos guerras sangrentas, porque cada qual entende ser seu dono exclusivo, quando realmente só lhe detêm alguns fragmentos.

Talvez você diga: “A verdade está na Bíblia”.
Mas será que tudo que a Bíblia diz pode ser aceito ou praticado no mundo moderno?

Você mandaria matar um filho, por ter-lhe faltado com o devido respeito? (Êxodo 21:17)

Alguma vez teve relações sexuais com outra pessoa que não o seu cônjuge? (Levítico 20:10)

Já fez sexo com mulher menstruada, ou estando menstruada? (Levítico 20:18)

Guarda o dia de sábado, não realizando nesse dia qualquer atividade? (Êxodo 20:8 a 11 e Levítico 23:3).

Pois, o Antigo Testamento determina pena de morte para todos estes itens e muitos outros, considerados como graves infrações contra a lei de Deus.

Vamos então analisar um pouco, pensar... apelar para o raciocínio.

Para que a verdade plena estivesse na Bíblia, esta teria de ser absolutamente coerente, sem contradições e de acordo com o bom senso, porque as contradições no corpo de uma doutrina tiram-lhe a credibilidade, a não ser que sejam vistas como contendo enfoques pessoais daqueles que a escreveram, assim como, também, refletirem a mentalidade e os conhecimentos peculiares à época em que foram registrados, ou seja, não poderia ser entendida “ao pé da letra”, mas dentro do contexto de época, condições, mentalidade, simbolismos etc.

Aí, você poderá dizer: “A Bíblia é a palavra de Deus e precisa ser obedecida e não compreendida”.

Mas foi Deus quem nos deu o raciocínio e um pouco de sabedoria, para que possamos discernir em nossa busca pela verdade. E lembramos que Jesus afirmou: “Conhecereis a Verdade e ela vos libertará”, deixando claro que Ele veio ensinar uma ética de vida, como realmente o fez, mas a Verdade viria mais tarde, quando o ser humano já estivesse suficientemente amadurecido para entendê-la e poder, assim, libertar-se dos condicionamentos milenares a que se vê manietado.

Além disso, quem nos garante que a Bíblia seja a palavra direta de Deus, e não um livro escrito por homens, embora sob inspiração superior?

Gostaria de analisar esta questão, sem preconceitos?

De princípio, queremos enfatizar nosso respeito pela Bíblia, pelo que ela representa. Mas nem por isso podemos ignorar as inúmeras contradições, incoerências e até mesmo “barbaridades“ que encontramos em seu corpo.

Vejamos em primeiro lugar algumas de suas contradições:

A primeira se encontra logo no primeiro capítulo de Gênesis, com a criação das noites e dias, a separação das águas, a produção de relva e árvores frutíferas que davam frutos e sementes, para só depois, no quarto dia, serem criados o sol, a lua e as estrelas. Como poderia haver noites e dias, plantas frutificando, sem o sol?
A humanidade inteira, durante milênios e até hoje, estaria pagando pelos pecados de Adão e Eva, embora Deus tenha afirmado em Ezeq. 18:20, Deut. 24:16, Jer. 31:29/30, que os filhos não pagam pelos pecados dos pais, nem o justo pelo pecador. E se o justo não paga pelo pecador, por que Jesus teria morrido na cruz para pagar pelos pecados da humanidade?
Em Êxodo 9:1 a 7 vemos Deus mandando uma praga que matou todos os animais dos egípcios, inclusive os seus cavalos, mas dias mais tarde a cavalaria egípcia é afogada no Mar Vermelho. Que cavalaria, se todos os cavalos tinham sido mortos com a praga?
Como conciliar (Ecles. 9:15): “Os vivos sabem que hão de morrer mas os mortos não sabem de cousa alguma”, com a parábola sobre o rico e Lázaro (Lucas 16:23); ou com a cena em que Moisés e Elias (mortos há séculos), conversaram com Jesus no monte, na presença de três apóstolos (Lucas 9:30), ou ainda, com a entrevista que teve Saul com o espírito de Samuel, já que este estava morto ( 1o Samuel 28:11/20)?
Em Oséas 6:6 Deus diz: “Misericórdia quero e não sacrifícios e o conhecimento de Deus mais do que holocaustos”. No entanto, Ele próprio ordena oferendas, holocaustos e sacrifícios pelos mais insignificantes delitos.

Mas no Novo Testamento também há inúmeras incoerências e contradições:

1 - João afirma: “Se dissermos que não temos pecado, não existe verdade em nós” (1o João, 1:8), mas no cap. 5:18 afirma que “quem é nascido de Deus não peca”.

2 - Não há como conciliar: “Jesus é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos mas ainda pelos pecados do mundo inteiro” (1o João 2:2), com: “Sabemos que somos de Deus, e que o mundo inteiro jaz no maligno” (1o João 5:19).

3 - Também os apóstolos nunca se entenderam quanto ao instrumento da salvação, se seria a graça, as obras ou a fé. E lembramos Jesus quando disse: “Não acabareis de percorrer as cidades de Israel, sem que venha o Filho do Homem (Mateus 10:23), “alguns dos que aqui estão não verão a morte sem que vejam o Filho do Homem no seu reino” (Mateus 16:28), e, falando sobre o que é interpretado como sua segunda vinda, afirmou que não passaria aquela geração sem que tudo se cumprisse.

É bom lembrar que os Evangelhos foram escritos muitos anos depois da morte de Jesus, sofreram inúmeras traduções, interpretações e até mesmo modificações e enxertos em seus textos, visando acomodá-los às idéias da Igreja Católica que precisava ser aceita pelo paganismo de Roma. Como exemplo podemos citar a guarda do sábado, que foi transferida para o domingo.

4 - Outra contradição bíblica, e das mais gritantes, podemos encontrar entre o Velho Testamento, os Evangelhos e as Epístolas. O conteúdo da mensagem de Jesus está integralmente calcado na mais perfeita justiça, na mansuetude, no perdão e no amor: “A cada um será dado de acordo com suas obras”, “Tudo que quiserdes que os homens vos façam, fazei-o também vós”, “Olhai as aves do céu...”, “Vinde a mim, vós que estais cansados e sobrecarregados, que eu vos aliviarei”, “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”, “Perdoa 70 vezes 7”...

Já o discurso de alguns dos fundadores do cristianismo difere essencialmente dos ensinamentos de Jesus. Por exemplo: o Mestre coloca o amor e a prática do bem, como condições únicas para se alcançar o reino de Deus: “Ama a Deus sobre todas as coisas... Ama o próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas” (Mat.22:37/40). Ainda em Mateus, cap. 25, fala sobre o grande julgamento, no qual apenas as atitudes e ações irão pesar na decisão final, e, em inúmeras outras ocasiões, como em Mat. 16:27, afirmou e reafirmou que a cada um Deus retribuirá segundo as suas obras.

Enquanto isso, Paulo afirma que a salvação vem apenas pela fé: “Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, independentemente das obras da lei” (Rom. 3: 28), ao passo que outros dos apóstolos ensinam que é pela graça e outros, pelas obras; não há consenso em seus ensinamentos.

Todos os ensinos de Jesus mostram Deus como o Pai justo e misericordioso, enquanto, em franca oposição, o discurso de Paulo é todo calcado na mentalidade judaica, cujo Deus é vingativo, parcial e injusto: “Logo, tem ele misericórdia de quem quer, e também endurece a quem lhe apraz” (Rom. 9:18), “Que diremos, pois, se Deus querendo mostrar sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita longanimidade os vasos de ira, preparados para a perdição, a fim de que também desse a conhecer os vasos de misericórdia, que para glória preparou de antemão, os quais somos nós, a quem também chamou, não só dentre os judeus mas também dentre os gentios?”

Essas palavras de Paulo enfocam Deus como um grande ditador que rejeita e faz sofrer a uns e beneficia a outros (dentre os seres criados por ele próprio), ao sabor de seus caprichos. Onde a justiça? Onde a misericórdia e o amor sempre presentes nas palavras de Jesus, quando se referia a Deus, chamando-o de Pai?

Por esta pequena amostra já se pode observar que a elaboração da doutrina cristã sofreu profunda influência da mentalidade judaica, desfigurando drasticamente a mensagem do Cristo.

Quanto ao Antigo Testamento, vibra, em inúmeros momentos, com a força do açoite, da espada e da vingança, mostrando um Deus contraditório, quase sempre irado, às vezes furioso, muitas vezes injusto, rancoroso, cruel, e sem saber exatamente o que faz.

Em Deut. 10:18 se diz que Deus “faz justiça ao órfão e à viúva, e ama o estrangeiro, dando-lhe pão e vestes”, concluindo: “Amai pois o estrangeiro, porque fostes estrangeiro na terra do Egito”. Entretanto, ainda em Deut. 20:16, orientando a forma como seu povo deveria invadir e exterminar seis nações para apossar-se de suas terras, Jeová manda matar tudo que tenha fôlego.

Em 1o Samuel 28:17/19, o espírito de Samuel, por intermédio da médium de Em-Dor, diz a Saul que Jeová o castigaria, a ele e a seus filhos, com a morte, e entregaria o povo de Israel nas mãos dos filisteus (o que aconteceu de fato), por ter ele desobedecido a ordem que o Senhor, no furor da sua ira, lhe dera contra Amaleque: Saul teria de matar tudo que tivesse fôlego, inclusive os bebês e até mesmo os animais. A desobediência estava no fato dele ter deixado de matar alguns animais que pretendia oferecer em holocausto a Jeová.

Como poderia ser analisada tal atitude da parte de Jeová?

Num momento de furor manda matar tudo e, porque Saul deixa com vida alguns animais para oferecer-lhe como holocausto, castiga-o com a morte, e não só a ele, mas a toda a sua família, entregando ainda o povo de Israel nas mãos dos filisteus.

E em Num. 31:17/18, Moisés, que comandava o povo sob orientação direta de Jeová, enfureceu-se com os oficiais do Exército porque, ao invadirem as terras dos midianitas, mataram apenas os homens, deixando vivas as mulheres e as crianças. Ordenou-lhes então que matassem todos os meninos e as mulheres, poupando apenas as virgens, para que servissem de diversão aos soldados.

Além das contradições encontradas nesses textos, podemos também observar, estarrecidos, até onde chegaram a injustiça, o machismo e a crueldade patentes nas orientações dadas por Jeová a Moisés.

E esses casos estão ao longo de vários livros do Antigo Testamento, como, por exemplo, em Jos.11:20, quando Israel invadia outros países, para tomar-lhes as terras: “Porque do Senhor vinha que seus corações se endurecessem para saírem à guerra contra Israel, a fim de que fossem totalmente destruídos e não lograssem piedade alguma, antes fossem de todo destruídos, como o Senhor tinha ordenado a Moisés”. E é bom lembrar que aqueles povos invadidos por Israel iam à guerra apenas para defenderem suas famílias, suas vidas, seus bens, seus países.

5 – Outra contradição entre o Velho e o Novo Testamento: “Deus nunca foi visto por ninguém” (João 1:18) e “Ninguém jamais viu a Deus” (1a João 4:12); o que foi confirmado por Paulo: “aquele a quem nenhum dos homens viu nem pode ver” (1a Timóteo 6:16), e pelo próprio Jesus: “não que algum homem tenha visto o Pai” (João 6:46).

Mas lemos no Velho Testamento: “Eu apareci a Abraão, Isaac e Jacó” (Ex. 6:3). Lemos também que Moisés, Arão, Nadib e Abiu e mais 70 anciãos viram Deus (Ex. 24:9-11). Além disso “Deus falava a Moisés face a face, como qualquer homem fala a seu amigo” (Ex. 33:11), e em Num. 12:18, afirma: “Eu falo com Moisés boca a boca e ele vê a forma do Senhor”, e ainda, em 1a Reis 11:9, “Deus, por duas vezes apareceu a Salomão”.

6 – Como entender que Moisés, ao descer do monte com as tábuas da Lei, de cujos mandamentos, um dizia: “Não matarás”, tivesse ordenado à tribo de Levi: “Assim diz o Senhor, o Deus de Israel: cada um cinja a espada sobre o lado; passai e tornai a passar pelo arraial de porta em porta, e mate cada um a seu irmão, cada um a seu amigo, e cada um a seu vizinho”.

Naquele dia (Êxodo 32:28) foram executadas, por seus irmãos da tribo de Levi, mais de três mil pessoas do povo de Israel. E o mais terrível é que em seguida Deus abençoou os assassinos por haverem obedecido àquela ordem tão monstruosa, quanto atroz.

7 – Em Deut. 24:16 Deus afirmou: “Os pais não morrerão pelos filhos e nem os filhos pelos pais, mas cada qual morrerá pelo seu pecado”. Mas, em 2o Samuel cap. 21:1/14, vamos encontrá-lo tão enfurecido contra o ex-rei Saul, a ponto de assolar seu povo com uma fome de três anos, só se aplacando sua ira quando Davi mandou executar, em oferta ao Senhor, sete netos de Saul.

Neste caso, além da contradição, há ainda uma demonstração de furor da parte de Jeová e o sacrifício de seres humanos, em sua intenção, o que lhe aplacou a ira.

Certamente não é essa a imagem que se deve fazer do Criador do universo e da vida, que, se não fosse justo e perfeito em tudo, sua obra seria o caos.

Mas também alguns líderes da nação israelita (considerada pelo Senhor como o povo santo) praticavam feitos desonrosos, pecaminosos e injustos (endossados e apoiados por Jeová) que o Antigo Testamento narra com a maior simplicidade.

Em Gen. 12:10/20, vamos encontrar Abraão, no Egito, enganando o Faraó, dizendo que Sara era sua irmã e não sua mulher. Com isso o Faraó tomou-a para si, recompensando Abraão com muitos bens. E por causa desta perfídia de Abraão, Jeová castigou o inocente Faraó e toda a sua casa com terríveis pragas.

Além disso, o patriarca da nação israelita era incestuoso, porque em Gen. 20:12 confessa que Sara, sua mulher, era também sua irmã por parte de pai, e ainda aceitou presentes riquíssimos que lhe foram dados pelo rei Abimeleque que se havia encantado pela beleza de Sara.

Na verdade, não há o que argumentar, ante o exposto, que, aliás, é uma mínima parcela das contradições que encontramos no corpo da Bíblia e, se há contradições, o bom senso nos diz que não se pode erguê-la como bandeira ou roteiro, muito menos como palavra de Deus. Isto sem falar nas inúmeras barbaridades cometidas por ordem de Jeová, como vimos em vários dos itens apresentados.

Mais adiante expomos algumas hipóteses que explicariam tantas divergências e enfoques contraditórios ao longo do corpo da Bíblia.
Mas há mais, muito mais...

Aquele Deus revelado por Jesus, e que a razão nos diz extrapolar toda a nossa capacidade de entendimento em sabedoria, justiça, amor e poder, não poderia jamais estar sujeito às paixões humanas. No entanto, o escritor e estudioso da Bíblia, Jaime Andrade, contou mais de 60 acessos de cólera atribuídos a Jeová, entre os livros Êxodo e 2o Reis.

A Bíblia, em vários momentos, nos ensina que Deus é justo e a razão assegura que Ele só pode ser perfeito em tudo o que faz, senão, tudo seria o caos. Mas, apesar disso, ao longo dos textos bíblicos a injustiça que lhe é atribuída fere até mesmo as almas mais rudes, como naquele episódio no Egito, em que Jeová endureceu o coração do Faraó para que não libertasse os israelitas e pudesse assim ter um pretexto para massacrar aquele povo inocente com 10 terríveis pragas, inclusive com a morte de todos os primogênitos (até mesmo dos animais) quando “nenhuma casa houve que não tivesse um morto” (Ex. 12:30).

Talvez aquele tipo de procedimento fosse até adequado àqueles povos rudes e primitivos... Mas acha que Deus seria capaz de ordenar tais atrocidades?

Fica, assim, suficientemente claro que o Jeová do Antigo Testamento tinha profundas afinidades e semelhanças com o povo israelita, apresentando, inclusive, os mesmos defeitos, paixões, ambições e idiossincrasias. Tanto isto é verdadeiro que, dentre todos os povos da Terra só cuidou, protegeu e comandou aquela raça, não com a sabedoria, justiça e amor do Criador de todas as coisas, mas com as características que poderia ter o chefe de uma nação, no comando do seu povo. Aliás, um dos títulos que lhe foram conferidos no Antigo Testamento é “Senhor dos Exércitos”.

Lemos em Gênesis 1:31 que Deus, depois da criação, foi examinar se tudo estava perfeito (o Criador do universo e da vida, inteligência suprema, jamais faria algo imperfeito);

Em Gen. 6:6, vamos encontrá-lo arrependido por ter criado o homem .

Será que Deus, a infinita perfeição, poderia arrepender-se de ter feito algo, como se não soubesse bem o que fazer e acabasse errando em seus atos?

Aliás, os arrependimentos de Jeová, estão ao longo da história bíblica, como, por exemplo, em Ex. 32:14, por haver ameaçado o povo de Israel; em 1o Sam. 15:11 e 35, por haver feito rei a Saul; em 2o Sam., por ter dizimado 70 mil pessoas do seu povo; em Jonas 3:10, arrependeu-se do mal que prometera fazer a Nínive, etc.

Entretanto, em 1o Samuel 15:29, este diz, referindo-se a Deus: “Também a Glória de Israel não mente nem se arrepende; porquanto não é homem para que se arrependa”.

Na verdade,tais feitos e tal mentalidade, conforme a que foi mostrada até aqui, são até compreensíveis e compatíveis com uma época como aquela, em que a barbárie predominava, mas jamais poderiam originar-se de Deus, inteligência suprema, causa primária de todas as coisas, perfeito em todos os seus atributos.

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Nossa humanidade pode ser comparada a uma criança. Quando pequena, os pais lhe ensinam várias regras de conduta: não pode bater no irmãozinho, não deve tirar nada dos outros, não deve quebrar as coisas, nem botar o dedo na tomada; não deve dizer nomes feios etc. Se não obedece, os pais a castigam, a fim de corrigi-la.

Ao crescer mais um pouco já começa a seguir aquelas regras para fugir aos castigos, ou para agradar aos pais; por amor a eles.

Ao se aproximar da idade adulta, porém, já passa a guiar-se pelas leis comuns, não mais por temer castigos ou para agradar aos pais, mas por compreender que esse é o seu dever; que as leis existem para resguardar seus próprios direitos e preservar os alheios.

Também na infância da humanidade vários líderes espirituais, sob inspiração divina, criaram religiões com suas leis e preceitos, cada qual adequada à sua época e ao tipo psicológico da raça.

O mesmo ocorreu com o povo israelita, cujo grande líder, Moisés, recebeu no monte Sinai os Dez Mandamentos e criou uma série de leis complementares, muito severas, próprias para educar aquele povo orgulhoso e indisciplinado.

Assim, com medo dos castigos divinos, os israelitas cuidavam de obedecer às leis e, dessa forma, iam acostumando-se à idéia de que não deviam matar nem roubar; que deviam respeitar as coisas sagradas, adorando apenas a um Deus; que precisavam respeitar e honrar a seus pais, não deviam mentir, nem prejudicar o próximo, e assim por diante.

Quando aquele povo já havia assimilado as idéias de justiça e disciplina veio Jesus, trazendo a lei do AMOR. E para que sua mensagem pudesse abrir caminho em meio à mentalidade vigente, iniciando uma nova era para a humanidade, sua passagem pela Terra foi marcada por fatos incomuns, culminando em seu sacrifício na cruz.

Esse sacrifício não teve o significado que lhe deram, o de resgatar com o seu sangue os pecados do mundo. Isto não faz sentido, mesmo porque, sendo Deus onipotente, o máximo poder do universo, autor das leis universais, poderia Ele simplesmente perdoar os pecados do ser humano, sem necessidade de sacrificar alguém, muito menos um inocente. Aliás, essa idéia de sacrificar alguém em nosso lugar é muito cômoda e injusta, partida do egoísmo e hipocrisia humanos.

Mas hoje, com a humanidade entrando numa fase que poderia ser comparada à sua adolescência espiritual, já começam a surgir novos conceitos em termos de religiosidade. Conceitos esses que vigoram como normas de conduta, praticadas livremente pela criatura, mediante sua conscientização como ser cósmico que é, necessitado de conduzir-se dentro de uma ética de vida superior.

São muitos os que já começam a entender que se pode buscar a verdade por vários caminhos; que não há uma religião verdadeira, mas inúmeras facetas da verdade representadas por religiões, e que elas devem caminhar de mãos dadas, trabalhando intensamente para que o homem melhore sua conduta, seus sentimentos, tornando assim o mundo melhor.

Mas, voltando à Bíblia, podemos observar que muitas das suas passagens espelham realmente orientações superiores, reflexos das leis de Deus, como por exemplo, nos dez mandamentos e em outros textos, tipo: “Misericórdia quero, e não sacrifícios”. Há também profunda beleza e elevados sentimentos de religiosidade ao longo de incontáveis dos seus textos, assim como também conselhos e provérbios da mais elevada sabedoria.

Já em outros momentos fica patente a influência de espíritos identificados com o povo israelita, ou seja, seus Guias ou Mentores.

Os 5 primeiros livros da Bíblia (Pentateuco), além de narrarem a gênese da Terra e da vida que nela há, conforme entendimento de seu autor, historiam a saga do povo israelita até chegar às portas de Canaã, a terra prometida, e contém as leis ditadas por Moisés, além dos 10 mandamentos que recebeu no Monte Sinai.

Os outros livros como Josué, Juízes, Samuel, Reis, Crônicas etc., são também históricos, narrando detalhadamente a história da raça ao longo das gerações, contendo também orientações dadas por Jeová, através dos profetas. O livro de Jô conta seu drama, suas lamentações e ilações filosóficas, podendo-se observar que ele acreditava na reencarnação, através de afirmações e indagações que fazia:

“Pergunta às gerações passadas e examina as memórias de nossos pais; pois somos de ontem e o ignoramos” (Jó 8:8 e 9).

“Morrendo um homem tornará a viver?” (Jó 14:14)

“Quantas vezes se apagará a luzerna dos ímpios e lhes sobrevirá a destruição?” (Jô 21:17). Essa luzerna refere-se à vida. As idéias sobre reencarnação, que são muito antigas, diziam que os maus teriam de reencarnar tantas vezes quantas fossem necessárias para tornarem-se bons ou puros.

O livro dos Salmos traz os cânticos de Davi, retratando a glória de Deus, sua justiça e a beleza da sua obra, além de lamentos e petições.

O livro dos Provérbios é do rei Salomão, assim como os Cantares que refletem o amor entre marido e mulher.

Depois vêm os profetas com suas exortações, visões, narrativas e sentenças.

Para os judeus, certamente o Antigo Testamento deve ser um livro sagrado, por conter toda a sua história e as bases de sua vida religiosa.

Mas para nós que somos de outras raças e além do mais, nesta época, como poderíamos entendê-lo?

Pelas citações feitas até agora, que representam uma ínfima parcela das incongruências e absurdos encontrados no Antigo Testamento, podemos levantar algumas hipóteses:

certamente Moisés, visando infundir respeito naquele povo rude e orgulhoso, atribuía à divindade todos aqueles rompantes de ira, ameaças e ordens cruéis de que o Antigo Testamento está repleto, assim como, também, de tantas outras leis e orientações, como as dos holocaustos, oferendas etc.;
é bem provável que os seres espirituais responsáveis pela evolução do povo israelita se fizessem representar por Jeová, uma deidade tribal, talvez até mais de uma, como se pode inferir pela leitura de Gen. 3:22: “Eis que o homem é como um de nós, sabendo o bem e o mal”;
o Protetor da nação israelita seria uma entidade mais ou menos identificada com a índole guerreira da raça, pois cada homem e cada povo tem um Guia espiritual compatível com seu próprio grau evolutivo; talvez fosse algum dos seus antepassados, dotado da autoridade necessária para impor-se e dominar.

Esta hipótese é confirmada em 2o Samuel 7:6, quando Jeová disse que habitava no tabernáculo, ou “de tenda em tenda” (1o Crôn. 17:5); em Números os capítulos 28 e 29 são dedicados às ofertas contínuas e às das festas solenes, ofertas essas constituídas de sacrifícios de bodes, cordeiros, novilhos, carneiros, além de manjares e bebidas alcoólicas. Em onze dessas orientações, quando se trata dos sacrifícios dos animais, há a referência ao aroma agradável ao Senhor, como no cap. 28, vers. 27: “Então oferecereis ao Senhor por holocausto, em aroma agradável, dois novilhos, um carneiro e sete cordeiros de um ano”.

Também havia bebidas alcoólicas, conforme se lê no cap. 28, vers. 7: “A sua libação será a quarta parte de um him para um cordeiro; no santuário oferecerás a libação de bebida forte ao Senhor”. No Dicionário Aurélio se lê: “Libação: 1. Ato de libar. 2. Entre os pagãos, ritual religioso que consistia em derramar um líquido de origem orgânica (vinho, leite, óleo etc.) como oferenda a qualquer divindade. 3. Ato de libar ou beber, mais por prazer que por necessidade.”

Pense um pouco no absurdo dessa idéia: o Criador e mantenedor do universo e da vida, habitando nas tendas dos judeus e recebendo prazerosamente oferendas de álcool e sangue?

Esse tipo de procedimento pode ser encontrado, hoje, embora em mínimas proporções, nos terreiros que praticam rituais com bebidas alcoólicas e sacrifício de animais. Esses rituais geralmente são destinados a fazer o mal a alguém, ou a desmanchar um mal que já fora feito em formato semelhante.

E muitos perguntam: como pode um espírito beneficiar-se com esse tipo de coisas?

Muitos espíritos menos evoluídos, cujos corpos espirituais são mais adensados, por sua maior proximidade com a matéria física, procuram nutrir-se com energias animalizadas, a fim de poderem dar continuidade às sensações materiais, como se ainda tivessem o corpo carnal. E eles sugam as energias do sangue que é derramado em sua intenção, assim como de outros elementos que lhes são oferecidos, encontrando nisso grande prazer.

Vemos assim, claramente, que a Bíblia realmente não pode ser a palavra de Deus, sagrada, intocável, inquestionável.

Esse enfoque de sacralidade, no entanto, tem sido usado ao longo dos séculos como recurso para alienar consciências, manietando-as aos ditames das religiões.

Por quê?

1 - Muitos acreditam honestamente nessa sacralidade;

2 - Há interesses em jogo;

Toda uma árvore hierárquica de membros atuantes tem nas religiões o seu meio de vida;
Há a busca do poder religioso, o mais extraordinário instrumento de domínio porque se apodera das consciências, do psiquismo das pessoas, invadindo-as pelos seus pontos mais fracos: o medo e as promessas de felicidade e até mesmo de bens materiais;
Há ainda a ganância, com a possibilidade de enriquecimento para muitos dos seus líderes.

As religiões prendem. A religiosidade liberta.

Mas é muito difícil libertar-se de condicionamentos milenares, por mais incoerentes que sejam.

Por isso estamos abordando estas questões com a coragem necessária, deixando cristalinamente claro que já é hora de se colocar cada coisa em seu devido lugar; despir a Bíblia dos véus de santidade e passar a vê-la em seus valores reais, aceitando o muito que tem de bom e ignorando o que esteja ultrapassado ou não sirva como alavanca para o nosso crescimento espiritual.

Nesse contexto e como resultado da mentalidade religiosa cristã em vigor, vamos encontrar o combate que muitos fazem ao Espiritismo, apegando-se a algumas passagens bíblicas, como é o caso de Deut. 18:10, em que se proíbe a consulta aos mortos.

Na verdade, os espíritas não consultam os mortos, mas realizam intercâmbio com espíritos, não para consultá-los mas para ajudar sofredores, tentar aplacar o ódio ou a sanha dos perseguidores e receber orientações e/ou mensagens dos espíritos superiores. Lembramos, a propósito, que o próprio Jesus conversou com os “mortos” Moisés e Elias, no episódio da transfiguração (Mateus 17:3).

Ainda, com relação à ordem de Moisés proibindo a consulta aos mortos, que diria se lhe apresentassem agora uma lei proibindo, sob pena de morte, pregar a independência do Brasil? Veria logo que ela teria sido promulgada no tempo em que o Brasil era colônia de Portugal. Seria ridículo alguém tentar cumpri-la, hoje. O mesmo ocorre com a maior parte das leis bíblicas.

Também é o caso de se perguntar: por que consideram apenas aquela proibição e não todas as demais? Dentre as centenas de determinações de Moisés, selecionaram apenas uma para servir de bandeira ao seu combate.

Os que pugnam pelo cumprimento dessa lei que proíbe consultar os “mortos”, teriam de cumprir também todas as demais, dentre as quais destacamos:

Quem não for circuncidado, será morto (Gen. 17:14).
Quem fizer qualquer trabalho no dia de sábado, será morto (Ex. 31:15).
O filho desobediente morrerá apedrejado (Deut. 21:18,21).
Quem se chegar a mulher casada, ambos morrerão (Deut. 22:22).
Mulher que se casa sem ser virgem, morrerá apedrejada (Deut. 22:20/21).

?

O conhecimento espírita foi trazido por uma plêiade de espíritos superiores, sob orientação do Espírito da Verdade, aquele mesmo que foi prometido por Jesus, quando disse, em João 16:12: “Tenho ainda muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora, mas quando vier o Espírito da Verdade, ele vos guiará a toda a verdade”, e em João 14:26, complementa: “... Ele vos ensinará todas as cousas e vos fará lembrar de tudo que vos tenho dito”.

Que coisas eram aquelas que Jesus deixara de ensinar, porque “não poderiam suportar”?

É claro que naquela época Ele não poderia dar explicações mais diretas e claras sobre reencarnação, lei de causa e efeito, vida após a morte etc., porque não O entenderiam, mas prometeu enviar o Espírito da Verdade, no devido tempo, para dizer toda a verdade e relembrar ao mundo os seus ensinamentos

Dizem algumas religiões cristãs que o Consolador, o Espírito da Verdade, teria vindo no Pentecostes. Mas no Pentecostes não se justificava alguém vir dizer toda a verdade, posto que Jesus já havia dito tudo o que a humanidade daqueles tempos poderia suportar, conforme Ele próprio afirmou. Além disso, naquele episódio não houve qualquer revelação. Também não havia motivos para alguém vir relembrar os ensinamentos do Mestre, porque estes estavam ainda muito vivos nas mentes e corações dos seus seguidores.

Mas no século XIX esses ensinamentos já estavam muito esquecidos pelos cristãos quando o Espírito da Verdade veio, através da mediunidade, relembrá-los, trazendo ainda todas aquelas informações e explicações que Jesus não pudera dar naquela época, quando não poderiam entendê-Lo. Agora, porém, em outros níveis de conhecimento e depois de tantos séculos de cristianismo a humanidade já estava madura para receber mais esclarecimentos sobre a vida, os mecanismos da evolução, o mundo espiritual, a mediunidade etc.

Também o título, Consolador, ajusta-se como luva ao Espiritismo. Há consolo maior que saber que os nossos entes queridos que morreram, não estão mortos mas vivos, continuando sua evolução numa outra dimensão de vida e que, eventualmente, poderão até mesmo comunicar-se conosco através da mediunidade? Há consolo maior do que saber que ninguém irá para o inferno sofrer pela eternidade afora; que os nossos entes mais caros, que “não aceitaram Jesus” nesta vida, não estão perdidos por causa disso? E aos que carregam terríveis pesos na consciência só pode haver consolo se informados de que poderão um dia consertar o mal que fizeram, nem que seja numa futura encarnação.

Quanto à reencarnação e à lei de causa e efeito (carma), elas explicam uma infinidade de porquês, principalmente as diferenças existentes entre as pessoas, não só em termos de sofrimentos e oportunidades, mas também de temperamento, natureza, grau de inteligência etc.

Ora, se acreditamos que Deus é sábio, todo-poderoso, justo e bom, não dá para entender porque faria uns nascerem com boa índole, sentimentos de religiosidade, conduta firmada na ética etc., sendo candidatos naturais ao Céu, e outros com má índole, desonestos, agressivos, perversos... perfeitos candidatos ao Inferno.

Impossível entender como alguém justo e bom, possa criar seres imperfeitos, com tendências negativas, inclinações para o mal, para depois atirá-los a sofrimentos eternos; arrancar dos braços das mães seus filhos pecadores para lançá-los no Inferno. Como essas mães iriam sentir-se no céu, sabendo que aqueles a quem mais amam estão nos mais tenebrosos sofrimentos, sem direito sequer a uma nova chance... e tudo isto pela eternidade a fora? Se um pai terreno jamais faria tão inconcebível atrocidade, como se pode imaginar que Deus o fizesse?

Também é inconcebível acreditar que um Deus justo e bom pudesse criar seres, fazendo-os nascerem, uns em condições míseras, limitados pela cegueira, surdez, paralisias, deformações as mais diversas e outras tantas causas de sofrimentos atrozes, enquanto outros nascem com saúde perfeita e em situações em tudo benéficas e favoráveis.

Na verdade, sem a chave da reencarnação, nenhum arranjo teológico será jamais capaz de explicar satisfatoriamente tantas diferenças no trato do Criador com suas criaturas.

Mas o conhecimento da reencarnação nos permite entender que somos hoje o resultado do que fizemos em vidas passadas; que Deus não nos castiga por nossos erros, mas os mecanismos das suas leis nos levam, através de situações adequadas, ao resgate das nossas culpas e aos aprendizados de que estamos precisando.

É bom lembrar também que nossa consciência tem as leis divinas impressas em seus registros, e é por isso que o ser humano traz em sua intimidade o conhecimento do bem e do mal. Sendo assim, nenhum tipo de perdão poderá acalmar uma consciência pesada. Só mesmo o resgate poderá aliviá-la.

Uma consciência culpada, mesmo que essa culpa esteja arquivada no inconsciente, quando o fato gerador ocorreu em alguma vida passada, atua como um núcleo de energismo específico que atrai situações de resgate. Então podemos entender porque tantas pessoas são portadoras dos mais diversos problemas e sofrimentos, em muitos casos, desde o nascimento. Podemos igualmente entender as questões afetivas, assim como, também, os casos de ojerizas e ódios gratuitos entre pessoas próximas, até mesmo entre pais e filhos. São espíritos endividados uns com os outros, em reencarnações de reajuste. E mesmo que não se lembrem desses porquês, eles estão presentes em seus inconscientes, muitas vezes como fatores meramente intuitivos.

E quanto às diferenças entre os seres, cada qual está vivenciando a realidade das suas necessidades de resgate, ou apenas de crescimento interior.

Assim, podemos amar Deus pela grandiosidade da sua sabedoria, a justiça com que rege a vida, e o amor cuja presença podemos sentir vibrando, desde a intimidade dos nossos corações, até a vida animal, e até mesmo a vegetal.

Mas a reencarnação e a lei de causa e efeito também estão na Bíblia. Jesus deixou isto muito claro, em várias ocasiões:

No episódio da transfiguração, depois que conversou com Moisés e Elias na presença de Pedro, Tiago e João, estes lhe perguntaram: “Por que dizem os escribas ser necessário que Elias venha primeiro?”. Ao que respondeu dizendo que Elias já viera, mas não o reconheceram. Então os discípulos entenderam que Ele falava de João Batista. Claro, Elias reencarnara como João Batista, cumprira sua missão e retornara ao mundo Espiritual, apresentando-se naquela ocasião em sua antiga forma, quando fora profeta do Antigo Testamento.

“Se puderdes compreender, ele mesmo (João Batista) é Elias que devia vir (Mat.11:14)”. Está claríssimo, João Batista era Elias reencarnado, o que ficou confirmado também em outros textos:

“Mas eu vos declaro que Elias já veio e fizeram-lhe tudo o que quiseram. Então compreenderam os discípulos que era de João Batista que lhes falava” (Mat. 17: 12 e 13).

“E Jesus perguntou aos seus discípulos: Quem dizem os homens que eu sou? E responderam: uns, João Batista; outros, Elias; outros, Jeremias ou algum dos profetas” (Mat. 16:13 e 14).

Como poderia ser Jesus algum desses profetas do Antigo Testamento, a não ser pela reencarnação?

Já com Nicodemus, doutor da lei, o Mestre foi mais explícito:

“O que é nascido da carne, é carne; o que é nascido do espírito é espírito; não te admires de eu dizer: “Necessário vos é nascer de novo” (João 3:6).

Conforme Jaime Andrade, em seu livro O Espiritismo e as Igrejas Reformadas, também alguns “Pais da Igreja” acreditavam na reencarnação:

São Gerônimo afirmou que a “doutrina das transmigrações (reencarnações) era ensinada secretamente a um pequeno número, desde os tempos antigos, como uma verdade tradicional que não devia ser divulgada (Hyeron, Epístola ad Demeter).

Santo Agostinho escreveu: “Não teria eu vivido em outro corpo, ou em outra parte qualquer, antes de entrar para o ventre de minha mãe?” (Confissões, I, cap. VI).

Orígenes chegou a tecer judiciosas considerações sobre certos trechos da Escritura, que “atirariam o descrédito sobre a Justiça Divina, se não fossem justificadas pelos atos bons ou maus praticados em existências passadas”.

Também as pesquisas científicas sobre reencarnação têm avançado muito, deixando esses pesquisadores plenamente convencidos de que é ela, uma lei natural.

Poderíamos apresentar ainda centenas de argumentos dos mais fortes, para legitimar o conhecimento espírita, o que não caberia num trabalho como este. Mas podemos afirmar que essa Doutrina, mediante as informações sobre reencarnação e lei de causa e efeito, nos possibilita perder o temor a Deus, passando a amá-Lo conforme exortações de Jesus.

Assim, se pensarmos a questão religiosa com mais liberdade mental, sem preconceitos, podemos concluir que o futuro das religiões deverá estar na religiosidade e não nos formatos religiosos, mesmo porque está muito claro que não existe uma religião certa, verdadeira ou legítima, porque nas centenas de religiões existentes há sinceridade, há verdade, há Deus, mas com interpretações distintas. Não se pode então dizer que tal ou qual é a verdadeira. Todas representam parcelas da verdade e são de procedência divina, desde que sua meta seja a busca do divino e com ela, o crescimento interior do ser.

Essa diversidade de religiões é perfeitamente natural, porque atende a todos os gostos e a todos os tipos psicológicos.

A humanidade vai ganhar muito quando entender que a verdade está um pouco com todos e de forma plena, com ninguém, a não ser com o Criador.

Quanto ao Espiritismo, sem ser propriamente uma religião, tem as seguintes características:

representa um leque de informações e esclarecimentos que convergem para a religiosidade, já que, pelo conhecimento das leis naturais, indica Deus como a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas, e o que se possa entender como sendo a perfeição absoluta em todos os seus aspectos;

tem como modelo, Jesus, e suas atividades são inteiramente gratuitas e direcionadas exclusivamente ao Bem;
pugna pela ética e pelo amor posto em ação, ao entender que nesses valores estão os fundamentos da própria Vida e a ciência do bem-viver;

ensina que não estamos precisando nos salvar, porque ninguém está perdido, mas sim, evoluir, conforme o Mestre exortou: “Sede perfeitos como perfeito é o vosso Pai Celestial”, lembrando que essa perfeição será alcançada através das lutas, dores e alegrias, em incontáveis experiências ao longo das reencarnações;

informa que a pátria espiritual, para a qual retornamos pelas portas da morte, representa um universo em outra dimensão de vida, tão vivo e tão dinâmico quanto o mundo físico; que ali há zonas inferiores, de muitos sofrimentos, habitadas pelos espíritos mais atrasados ou mais endividados com as leis cósmicas; outras intermediárias e ainda outras mais elevadas, verdadeiros paraísos de paz e felicidade; que a estadia dos espíritos em zonas inferiores tem conotação purgativa, podendo os mesmos serem de lá resgatados, em função de arrependimento sincero, ou para retornarem à matéria em nova encarnação, e que ali também habitam espíritos francamente votados ao mal, seres endurecidos e perversos, mas que esses também, um dia, arrependidos, poderão retomar sua caminhada evolutiva, em direção à Luz;
é o Consolador prometido por Jesus, mostrando que nossos entes queridos não se extinguiram com a morte mas passaram para outra dimensão de vida e que podem, eventualmente, comunicar-se conosco através da mediunidade;
estuda e conhece a mediunidade, aplicando-a na ajuda a espíritos sofredores, a pessoas necessitadas e para receber orientações e esclarecimentos dos espíritos benfeitores;
não usa rituais, paramentos, nem materiais como velas, defumadores, imagens... por entender que o caminho para a Luz está em nossa vivência e não em atos exteriores;

não adota práticas divinatórias como “baralho”, “jogo de búzios” e assemelhados, informando que os espíritos superiores não se prestam a solucionar problemas do cotidiano, posto que não são nossos empregados nem babás, mas sábios educadores trabalhando pela nossa evolução;

também não realiza “trabalhos” como “desmanchas”, “abertura de caminhos” etc., mas ensina que a vivência no bem nos livra de inúmeros males;
foi codificado por Allan Kardec na metade do século passado, através de perguntas respondidas por espíritos superiores, e essas informações continuam sendo pesquisadas por inúmeras universidades, estudiosos e cientistas, assim como profissionais da saúde em vários pontos do planeta, que as vêm confirmando uma a uma.

Jesus ensinou o código de conduta adequada a toda a humanidade, e a Doutrina Espírita esclarece quanto aos mecanismos da vida e da evolução. É a ciência espiritual que se entrelaça com a material, tanto que, até hoje esta última, apesar de pesquisá-la, testá-la e experimentá-la há mais de um século, jamais conseguiu desmentir uma só das suas teses.

Não há hierarquias no Espiritismo. Para que haver intermediários entre a criatura e o Criador, intermediários esses tão imperfeitos quanto os demais seres humanos? Nos seus ensinos Jesus sempre colocou cada qual como o único responsável por si mesmo, não por graças de qualquer natureza, mas tão-somente pelas atitudes, omissões e ações vivenciadas no cotidiano. Observe-se que Ele nem mesmo criou qualquer religião, mas ensinou uma ética de vida e colocou a fraternidade, o amor posto em ação, como caminho único que leva o ser de retorno ao seio do Pai.

O Espiritismo é a doutrina da lógica e do bom senso, e através dos seus enfoques podemos verdadeiramente amar Deus, jamais temê-lo

Se você teme ou odeia o Espiritismo por causa das interpretações bíblicas que lhe foram inoculadas na mente, volte a ler a Bíblia sem preconceitos, sem medo de estar ofendendo Deus com suas dúvidas e questionamentos, pois Ele não se ofende com os nossos erros, muito menos com nossos esforços de crescimento.

domingo, 29 de janeiro de 2012

Caridade, Virtude Que Faz Fluir o Amor Divino

Elio Mollo

O importante é sempre sermos nós mesmos, procurando avaliar tudo sensatamente, separando o que é ruim e desfazendo-se dele, e o que é bom procurando adaptar em nossos hábitos. Falar de nós sim, mas tomando o cuidado de que isto não apareça mais do que é necessário. É sempre bom utilizar a palavra "nós" ao invés de "eu", assim sempre estaremos no contexto e não ficaremos expostos no sentido exagerado, ou seja, falemos de nós como integrados a um conjunto, afinal, na Terra ainda não há ninguém perfeito, somos todos mais ou menos parecidos, as diferenças simplesmente somam o conjunto para movimentar o progresso naturalmente.

Em nossas vidas sempre surgem pessoas especiais, que nos ensinam como seguir adiante, diminuindo nossos medos e traumas, fazendo com que diante dos obstáculos nos tornemos mais serenos e com mais vontade de superá-los. Claro que, também, surgem pessoas difíceis que desejam a nossa derrubada, mas isto faz parte, ou seja, eles são os instrumentos que sem saberem nos fazem muito bem, pois através deles crescemos muito mais. Eles, na realidade, servem de alavanca para que mais depressa cheguemos ao objetivo divino, que é, de cada dia sermos melhores do que ontem.

No Universo tudo se encadeia, desde o ser mais simples ao mais perfeito, pois não devemos esquecer nunca que qualquer que seja o grau de nosso adiantamento, nossa situação como encarnados, ou na erraticidade, estaremos sempre colocados entre um superior, que nos guia e aperfeiçoa, e um inferior, para com o qual temos que cumprir com esses mesmos deveres. Esta é a hierarquia do cumprimento de deveres em todo o Universo.

Jamais seremos substituídos, pois cada um de nós é único no Universo, contudo, como as notas musicais, seremos sempre sucedidos. Assim, como na música, na sucessão das notas, seja numa oitava abaixo ou numa oitava acima, formam-se as belas melodias, nesta sucessão dos seres Deus rege a grande melodia universal.

É também, nesta sucessão, que através do ato de relação, da hierarquia, do cumprimento de deveres que a solidariedade se faz presente, pois Deus, o Grande Maestro do Universo, com a força do seu amor, faz com que cada um de nós use seu instrumento para fazer soar da forma mais vibrante a Caridade, virtude que faz fluir o Amor divino, e que torna mais alegre nossa caminhada rumo a perfeição.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

O Perispírito ou Corpo Astral, segundo Geley

Perispírito tem na Doutrina Espírita uma importância capital, constitui o princípio intermediário entre a matéria e o Espírito, o meio de união entre a Alma e o corpo, as condições necessárias para as relações entre o Moral e o físico.

É composto á quinta essência dos elementos combinados das relações anteriores. Evoluciona e progride com a Alma e tanto mais sutil é e tanto menos material, quanto mais elevado e perfeito é o indivíduo.

O Perispírito assegura a conservação da individualidade, fixa os progressos já conseguidos, sintetiza, numa palavra, o avanço do estado do ser. Serve de molécula, de molde orgânico para toda nova encarnação, condensando-se no embrião; agrupa em uma ordem dada, moléculas materiais e assegura o desenvolvimento normal do organismo. Sem o Perispírito, o resultado da fecundação não seria mais que um tumor informe.

O Dr. Gustavo Geley, diz: O Perispírito assegura também a sustentação do corpo e suas reparações em idêntica ordem durante a perpétua renovação das células. Sabe-se que o corpo se transforma por completo no espaço de alguns meses.

Sem a força misteriosa do Perispírito a personalidade do ser variaria constantemente em cada uma destas mudanças.

O Perispírito não está estreitamente aprisionado ao corpo do encarnado; irradia mais ou menos fora dele, segundo sua pureza. Esta irradiação constitui o que se chama aura. Inclusive, pode às vezes, mesmo em pouca proporção, separar-se momentaneamente do encarnado ao qual só permanece ligado por ligeiro fluido.

Neste estado de desencarnação relativa, o ser pode tomar conhecimento de fatos ocorridos longe dele e demonstrar que possui faculdade anormal.

Se o Perispírito leva moléculas materiais consigo, em grande número, poderá agir a grande distância e também exercer certa influência sobre a vista ou os outros sentidos das pessoas que encontre em seu caminho; neste caso representa exatamente o que se chama em termo espiritista, o duplo exato do seu corpo.

O Dr. Geley, diz: A Alma. Esta síntese compreende numerosos elementos que podem agrupar-se nas categorias

1.°) elementos adquiridos em encarnações anteriores;

2.°) elementos adquiridos na encarnação atual.

No primeiro caso, são as recordações das personalidades passadas e o conhecimento de todos os fatos importantes das existências sucessivas.

Esses elementos não estão na consciência normal; esquecidos na aparência, são conservados integralmente pelo Perispírito. A consciência total, isto é, o produto dos progressos realizados desde o começo da evolução.

A Alma : é a parte essencial da individualidade, a que constitui seu verdadeiro grau de avanço e aperfeiçoamento ; é o eu real, que a personalidade atual oculta mais ou menos. Toda nova encarnação a dissimula momentaneamente, pelos elementos que leva consigo.

Da herança : A herança é dupla, física e psíquica.

A herança física é evidente e muito importante, visto que dela depende, em parte, o bom estado do instrumento orgânico (dos Pais). A herança intelectual e moral, quase sempre ausente (em absoluto).

Pelo que precede, vê-se claramente que a consciência normal de um ser encarnado não constitui toda sua individualidade pensante. De acordo com as teorias da ciência, a doutrina espírita, admite que a síntese psíquica é muito mais extensa.

A Alma compreenderia uma parte consciente e outra inconsciente, ou melhor, subconsciente ; esta última é, sem duvida, a mais importante.

Com efeito, admitindo a teoria das existências múltiplas, a parte subconsciente da Alma compreenderia uma série infinita de recordações veladas momentaneamente, mas gravadas no Perispírito.

A parte subconsciente compreenderia : a consciência total, o eu real, produto de todos os progressos passados, e muito superior em todos os seres, avançados do que o seu eu aparente.

Cordão Fluídico

Conduto energético que liga o perispírito ao corpo físico, quando dos desdobramentos; também denominado de cordão astral, cordão fluídico, cordão de luz, fio de prata, cordão perispirítico. Espécie de , como o nome diz, "cordão" que liga o perispírito e, conseqüentemente, o espírito ao corpo físico.É inprenscindível à vida de relação, por assim dizer, pois assegura a perfeita e pontual realização das funções biológicas vitais durante o período do sono natural, no qual o corpo material fica ligado por tal cordão ao seu espírito, que então se desprende para interagir no mundo espiritual durante o período de entorpecimento dos sentidos que caracteriza o sono.É apresentado, sob vidência, com uma coloração que tende do cinza á prata, por isso seu nome se referir à uma coloração prateada.Denominação essa que não é fundamentalmente espírita e sim um nome genérico.Porém resolví adotá-la aqui para facilitar a identificação.O cordão-de-prata é pré-requisito essencial para a vida orgânica propiamente dita, posto que no momento da morte física ele se rompe.

Nos meios ditos "espiritualistas" há uma discussão sobre os perigos de rompimento desse cordão espontâneamente durante o fenômeno das projeções, como se algo no universo pudesse acontecer "espontaneamente" , isto é, sem o consentimento e conhecimento de Deus.Esse acontecimento é impossível de suceder, a não ser que seja a "hora" do indivíduo desencarnar.É preciso não ser infantil ao se discutir questões espíritas.O "cordão-de-prata" não é feito de material suscetível de atritos e à acontecimentos que possam vir á "rompê-lo".Isso contraria a lógica.Os ditos "espiritualistas" deveriam estudar Kardec e praticar a caridade antes de se aprofundar e perder tempo em discussões inócuas e de cunho pseudo-filosófico-espiritualista que somente os levam de lugar algum para nenhum lugar.

Desencarnação: Fluido e Perispírito

A CAUSA DA MORTE

A causa da morte está na exaustão dos órgãos. O conceito de morte vigente hoje no meio científico internacional, é o da "ausência de atividade elétrica cerebral". Ao lado de alguns sinais de fácil identificação, a ausência de atividade cerebral determinada pelo eletroencefalograma, confirma o diagnóstico de morte física, mesmo que o coração continue em funcionamento a custa de aparelhos específicos. Bezerra de Menezes [Entrevistas] nos diz que o eletroencefalograma é o processo através do que podemos assinalar a desencarnação.

No entanto, em muitas oportunidades, esta exaustão do corpo físico será precedida por uma deterioração do fluido vital que o animaliza.

Podemos comparar o mecanismo da morte a um aparelho elétrico em funcionamento. Poderíamos fazê-lo parar de funcionar de duas maneiras:

1. Suprimindo a corrente elétrica que chega até ele;

2. Quebrando o aparelho.

Assim também ocorre com a morte nos seres orgânicos; ela pode ocorrer de duas formas:

1. O empobrecimento do tônus vital iria desarticular as células do veículo físico, surgindo daí a doença e posteriormente, a morte. Seria o processo observado como mais freqüência nas mortes naturais;

2. A destruição direta do veículo físico sem desintegração do fluido vital prévia, mortes trágicas (como acidentes, homicídio, suicídio)

QUADRO XI - Mecanismo da Morte

Mortes Naturais

- Deterioração do Fluido Vital

- Exaustão do corpo físico

- Desligamento do Espírito

Mortes Trágicas

- Destruição do corpo físico

- Desligamento do Espírito

No primeiro caso, o corpo enfermo não estaria em condições de participar da renovação do fluido vital adulterado, o que completaria o circuito de forças enfermiças.

No segundo caso, a morte alcançaria os órgãos impregnados de fluidos vitais sadios, o que poderia criar dificuldades na readaptação do desencarnante à sua nova vida, já que o fluido vital é exclusivo dos encarnados. Nesta eventualidade (mortes trágicas), sabemos que o sofrimento que acompanha o desencarnante é diretamente proporcional à culpabilidade da vítima naquele acidente. Nos casos em que o Espírito não foi responsável (consciente ou inconsciente) pelo seu desencarne, o fluido vital restante sofreria uma "queima rápida" o que liberaria o Espírito dessas energias impróprias para a vida espiritual. Nos casos de suicídio direto ou indireto, as faixas de fluido vital estariam aderidas ao corpo espiritual do desencarnante, gerando dificuldades a sua readaptação à vida na erraticidade.

O DESLIGAMENTO

Há diferença capital entre morrer e desligar-se: a morte é física, mas o desligamento é puramente espiritual.

Dá-se o nome de desligamento espiritual ou desprendimento espiritual ao processo através do qual o Espírito desencarnante se afasta definitivamente do corpo físico que o abrigava durante a vida na Terra.

Allan Kardec ensina-nos que o corpo espiritual e o corpo físico estão aderidos uma ao outro - do ponto de vista magnético, átomo a átomo e molécula a molécula. Essa união que se estabeleceu durante a encarnação, quando o Espírito estava ainda no útero materno, é necessária ao intercâmbio indispensável que se verifica entre Espírito e corpo.

O desligamento, portanto, consiste na separação mais ou menos lenta que se verifica entre eles.

Segundo André Luiz, o desligamento, via de regra, inicia-se na porção caudal do corpo, e, em sentido ascendente, atinge a região cefálica.

Quando não mais existir nenhum ponto de contato entre perispírito e corpo físico, o desencarnante está completamente liberto da matéria; podemos dizer que o desligamento concluiu-se.

O FLUIDO VITAL

Fluido vital é um fluido mais ou menos grosseiro, encontrado apenas nos seres orgânicos. É o responsável pela animalização da matéria nos seres vivos.

Forma-se, como todos os fluidos espirituais, de transformações do Fluido Cósmico Universal.

Durante o processo gestacional, o Espírito reencarnante irá se impregnando de determinada quantidade deste fluido, quantidade esta, proporcional ao tempo médio de vida que terá na Terra.

Esta carga de fluido vital, no entanto, poderá sofrer modificações durante a existência (para mais ou para menos). O perfeito funcionamento dos órgãos poderia renová-lo; assim como também poderia sofrer um processo de deterioração em conseqüência de uma vida atormentada moral e emocionalmente.

São três as principais condições onde o fluido vital terá uma participação ativa:

a) Animalização da Matéria: o fluido vital é a força motriz dos seres orgânicos; o elemento que dá impulsão aos órgãos, movimento e atividade à matéria organizada;

b) Mediunidade de Efeitos Físicos: o fluido vital é um dos constituintes do ectoplasma, material de que se utilizam os Espíritos nas manifestações mediúnicas de efeitos físicos. Os médiuns aptos à produção de tais fenômenos libertam essas energias com mais facilidade;

c) Curas Espirituais: nos processos de cura espiritual onde são utilizados energias dos encarnados, o fluido vital será o principal elemento a ser transfundido para o enfermo. Quem o possui em melhor condição pode doá-lo àquele que necessita dele e fazer retornar à saúde uma criatura doente. Nos processos de "moratória espiritual", onde o encarnado recebe permissão para continuar na Terra por mais alguns anos, estará ele recebendo determinada carga de fluido vital, para renovar as suas reservas já combalidas.

O fluido vital no seu conjunto vai constituir o que se denomina de "duplo etérico", "corpo vital" ou "corpo bioplásmico".

Acredita Jorge Andréa que o fluido vital constituiria uma zona de energias bastantes densificadas, dispostas entre o perispírito e o corpo físico.

Por ocasião da morte, o corpo vital sofrerá um processo de desintegração, qual ocorre ao corpo físico.

DESENCARNAÇÃO E PERISPÍRITO: TRANSPLANTES

Os transplantes de órgãos são, hoje, uma realidade indiscutível. Os diversos avanços na terapêutica médica têm permitido o prolongamento da vida física em pessoas portadoras de moléstias gravíssimas, graças ao transplante de órgãos vitais.

Muitas questões de natureza espiritual têm sido levantadas.

A presença de um órgão estranho junto ao perispírito do receptor não deveria gerar implicações negativas para ele, como a rejeição, por exemplo? Qual seria a situação daqueles Espíritos que tiveram seus órgãos doados? A retirada do órgão, estando o Espírito ligado ao corpo físico não iria lesar o seu corpo espiritual?

A REJEIÇÃO E O PERISPÍRITO DO DOADOR

A rejeição do órgão transplantado, condição verificada com relativa freqüência, se deve, sob o ponto de vista espírita, a vários fatores:

Rejeição em nível físico

As células do doador são incompatíveis com a organização física do receptor. Essa incompatibilidade fará com que o sistema imunológico do doador desencadeie uma reação de defesa, através da produção de anticorpos dirigidos contra o órgãos estranho.

Rejeição em nível do fluido vital

O órgão transplantado vai impregnado de fluido vital do doador e caso não haja entre ele e o fluido vital do receptor uma certa afinidade poderá observar-se uma rejeição.

Rejeição em nível perispiritual

Os órgãos transplantados estarão também impregnados dos fluidos perispirituais do doador que poderão não ter afinidade vibratória com as energias perispirituais do receptor.

Rejeição em conseqüência de possível influência obsessiva do doador

Essa influência poderia ser consciente quando motivada por ódio, ciúme ou qualquer outro sentimento menos digno, ou inconsciente naqueles Espíritos que, sendo excessivamente apegados à matéria, mantém-se junto ao campo magnético do encarnado. Vale lembrar que, também nesses processos obsessivos seria respeitada a lei das sintonias.

No que se refere a possíveis lesões perispirituais no doador, sabe-se que não há reflexos traumatizantes no perispírito do doador.

O que lesa o perispírito são as atitudes incorretas perpetradas pelo indivíduo e não o que é feito a ele ou a seu corpo por outras pessoas.

André Luiz [Evolução em Dois Mundos] diz:

"Para definirmos de alguma sorte, o corpo espiritual, é preciso considerar que ele não é reflexo do corpo físico, porque na realidade, é o corpo físico que reflete, tanto quanto ele próprio o corpo espiritual, retrata em si o corpo mental que lhe preside a formação."

A integridade do perispírito após a morte está relacionada intimamente com a vida que o indivíduo levou e não com o tipo de morte que teve, com a destinação de seus despojos.

Acredita-se também, que o doador desencarnado, em muitas oportunidades, possa ser beneficiado pelas preces, vibrações e pelo carinho daquele que recebeu o órgão e de seus familiares.

Ectoplasma

Dr. Ricardo Di Bernardi

SUBSTÂNCIA ainda pouco conhecida,que flui para fora do corpo humano do médium ectoplasta (médium de efeitos físicos), através da sua manipulação , seja pelo inconsciente ou por inteligências externas encarnadas ou desencarnadas , ocorrem fenômenos de ordem superfísica, incluindo a materialização ou ectoplasmia que pode ser parcial ou completa.
Sinonimia: (fontes diversas) atmoplasma, éter vitalizado , hylê, ideoplasma, paquiplasma , primeira matéria, psicoplasma, teleplasma.
Etmologia : Grego : Ektós, por fora, plasma : molde ou substancia.
ligação do Ectoplasma projetado com o emissor:
o Ectoplasma expelido apresenta-se ligado ao médium emissor ou ao indivíduo projetado fora do corpo físico como um canal de alimentação. Há impulsos vitais bidirecionais, dando a aparência de um cordão umbilical.
Interação corpo físico / corpo astral
o Ectoplasma ao se evidenciar demonstra uma interação constante entre os dois corpos ou veículos da consciência, o corpo biológico mais denso e o corpo astral ou extrafisico menos denso
Forma
Ao exteriorizar-se por aplicação de passes magnéticos sobre o médium (Experiência de Raoul Montandan) tende a reproduzir a forma humana (antropomórfica) Vide "Formé materialise' do autor. Há a duplicação do rosto e das demais formas , seguindo a ação dos campos vitais das células do organismo humano ou modelo organizador biológico (perispírito=corpo astral)
Instabilidade
costuma ocorrer uma condição de equilíbrio instável da forma física humana com a forma humanóide (lembrando o gasparzinho ou fantasminha puff !!!)
Subordinação a Consciência
As manifestações do ectoplasma são condicionadas a fatores psicológicos derivados da vontade e da emotividade do comando inteligente direcionador do fenômeno.Inconsciente do médium , inteligência desencarnada ou encarnada)
Aspecto similar a cordão
É comum a forma de fios ou cordões.
Raio de ação
ao contrario do corpo astral que se projeta a longas distancias o ectoplasma tem raio de ação mais ou menos definido , a partir e em torno do corpo humano do médium.
Reabsorção
De natureza muito sensível demonstra tendência automática (programação pelos computadores do corpo astral ?) de retornar e ser reabsorvido pelas estruturas donde emanou.
Impacto de retorno
Em condições adversas pode retornar abruptamente ou recolher-se repentinamente.
Fenômenos de efeitos físicos
O ectoplasma do médium está relacionado a mediunidade de efeitos físicos sendo manipulado pelos espíritos desencarnados
Pseudo-consciência efêmera e dupla
médiuns relatam sentirem uma espécie de consciência dupla de curta duração durante os fenômenos.
Projeção astral:
A exteriorização de ectoplasma pode ocorrer também quando o médium está em desprendimento embora tal fato não seja o mais freqüente
Vias de eliminação
A literatura tradicional considera os orifícios de saída do ectoplasma como os naturais do organismo. (boca, anus, nariz,genitais etc) no entanto é possível que o mesmo saia por todos os poros do corpo.
Coloração
Esbranquiçada variando de tons mais claros a escuros. Já foi descrita até a cor preta o que não se observa comumente.
Elasticidade
Relativa a algumas dezenas de metros
Reação Térmica
Abaixa a temperatura do ambiente humano de contato imediato.
Sensibilidade ao olhar
Descreve-se a influencia do olhar dos circunstantes sobre o ectoplasma (ação mental ?)
Subordinação aos corpos físico e etérico
Parece haver menor subordinação ao corpo astral (perispírito) do que ao corpo etérico (corpo vital) e corpo físico.
Docilidade
Ao contrario do cordão de prata que não atende sempre ao comando mental do espírito o ectoplasma apresenta-se extremamente domesticável
Adesão de partículas
O ectoplasma pode retornar ao emissor com partículas estranhas que aderem a sua estrutura, podendo causar reações no médium
Fotossensibilidade
O ectoplasma é sensível à luz branca comum podendo ser por ela modificado.
Densidade flutuante
Em função dos fenômenos decorrentes de sua exteriorização, (efeitos físicos) pode se apresentar de forma sólida, liquida ou gasosa
Aspecto à observação
Frio, Gelatinoso, grudento, úmido, untuosos e viscoso modificando-se para floculoso, difuso, leitoso, ,liquido, gasoso, plasmático e assemelhados.
Desagradável ao toque
Alguns pesquisadores referem certa repulsividade ao tocar o ectoplasma
Odor
Pode exalar odor lembrando o gás ozônio.
Composição Química
Controvertida conforme cada pesquisador. Já foram descritas, substancias albuminoides, glóbulos brancos sanguíneos, células epiteliais, muco, lipídios etc.
Combinações
O ectoplasma apresenta-se como um combinação de elementos do corpo etérico do médium (fluido vital) , elementos do corpo humano, elementos provindos de vegetais provavelmente direcionados por mentes extrafisicas, e até fragmentos moleculares de tecidos da roupa do medium
Seccionável
Podem ocorrer rompimentos do ectoplasma expelido para análise laboratorial.
Corporificação
Corporifica veículos ou aparências e desenvolve manifestações orientadas pelas mentes do emissor ou de outrem
Escala de materialidade

corpo biológico
ectoplasma
cordão de prata e corpo etérico
corpo astral
corpo mental
espírito (inconsciente)

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

A Última Pergunta

Orson Peter Carrara

Os livros da Codificação Espírita constituem fonte permanente para estudos e reflexões. Sempre encontramos em suas páginas fecundas oportunidades de análise para qualquer tema do cotidiano da vida humana. Isto sem falar nas questões transcedentais…

Assuntos admiráveis ou polêmicos encontram no pensamento do Codificador ou na revelação dos Espíritos, roteiros e argumentações, orientações e material para manter concentrado qualquer pesquisador que venha procurar na Doutrina Espírita respostas às suas indagações. Trata-se de vasto campo cultural alicerçado na mais alta moral que o planeta pode conhecer: a moral de Jesus. Incrível como qualquer assunto possa ser analisado sob a ótica espírita.

Trazemos essas considerações pensando em convidar o leitor a pensar conosco sobre a última questão de O LIVRO DOS ESPÍRITOS, a de número 1.018. É que o tema dessa questão está diretamente relacionada com uma preocupação coletiva.

Vive-se no planeta um período de grandes dificuldades, agravadas por inúmeros problemas sociais, todos conhecidos graças ao poder da mídia. Problemas que têm gerado grandes aflições coletivas. Aí estão presentes no dia-a-dia do cidadão do planeta a violência, a miséria, o desemprego e pior, a indiferença, o desamor.

Ao lado de um tanto de criaturas que lutam pelo bem, que se esforçam pelo aprimoramento individual e coletivo, boa parcela da população se perde ainda nos excessos, na incompreensão, na intolerância, fechando-se no egoísmo que tantos males tem gerado.

E vem a última pergunta do livro referido:

"1.018 - Jamais o reino do bem poderá ter lugar sobre a Terra ?

- O bem reinará sobre a Terra quando, entre os Espíritos que vêm habitá-la, os bons vencerem sobre os maus. Então, farão nela reinar o amor e a justiça que são a fonte do bem e da felicidade. É pelo progresso moral e pela prática das leis de Deus que o homem atrairá sobre a Terra os bons Espíritos e dela afastará os maus. Mas os maus não a deixarão senão quando dela forem banidos o orgulho e o egoísmo. A transformação da Humanidade foi predita e atingis esse momento, que apressam todos os homens que ajudam o progresso. Ela se cumprirá pela encarnação de Espíritos melhores, que constituirão sobre a Terra uma nova geração (...)".

Notem os leitores que a transformação virá pela atração de Espíritos melhores, através da transformação moral dos próprios homens e da prática das leis de Deus.

O amadurecimento humano, pelo progresso inevitável, fará isso, cedo ou tarde. Porém, nada nos impede de antecipar o notável acontecimento, através de esforços individuais e coletivos que melhorem o padrão moral do planeta.

Felizmente, há muita gente boa trabalhando para isso, em todo o mundo. Iniciativas brilhantes nas áreas de pesquisas científicas (para as conquistas tecnológicas que beneficiem o homem em todos os sentidos), ou esforços de solidariedade que despertem o coração humano para a importância da afabilidade, estão levando o homem para o caminho da tão sonhada paz e felicidade.

Vou citar um exemplo muito simples, pequenino mesmo, mas muito ilustrativo. Em nossa pequena cidade, há um cidadão espírita, atualmente cego, que solicita para seu funcionário escrever diariamente uma frase motivadora ou de teor cristão, em pequena lousa localizada em seu estabelecimento comercial. Trata-se um hábito muito antigo, já conhecido da cidade. Pois, com a prática já transformada em hábito, hoje em dia é comum pessoas pararem para ler a frase e outras copiarem a dita frase para reflexão posterior. Até uma professora solicita a uma de suas alunas passar por lá diariamente para copiar a frase...

O comerciante teve uma idéia simples, mas gerou simpatia e ajuda às criaturas que por ali passam e já buscam até com certa ansiedade a frase do dia, inclusive para anotações. A iniciativa criou um clima melhor naquele ambiente, atraindo forças positivas e irradiando amor para muitos.

O exemplo simples pode ser usado para dimensões mais abrangentes que gerem modificações positivas em ambientes perturbados ou perturbadores.

Desejamos atingir o fato, destacando para o leitor, de que a a implantação do reino do bem e por extensão natural da paz e da felicidade tão procurada, está principalmente nas iniciativas que tenhamos para criar oportunidades do bem aparecer, fazendo-o presente em nossas vidas. Se a ação generalizar-se, em breve tempo, teremos o bem implantado sobre o planeta. E isto propiciará a encarnação de Espíritos melhores…

(Artigo originalmente publicado no site do autor e reproduzido com sua autorização)

sábado, 21 de janeiro de 2012

Elefantes Brancos

Richard Simonetti


Mateus, 13-44

Em várias passagens Jesus reporta-se ao Reino dos Céus, ou o Reino de Deus, ou, simplesmente, O Reino.

São expressões equivalentes.

A teologia medieval concebeu que Jesus veio instalá-lo, o que sugere que a Terra não estava sob a regência divina.

Permanecia acéfala?

Um tanto estranho, amigo leitor, se considerarmos que Deus é o Criador, o Senhor supremo, presença imanente, cujas leis têm vigência em todos os quadrantes do Universo.

Não encontraremos uma só galáxia, um só sistema solar, um só planeta, um só recanto, por mais remoto, onde o Todo-Poderoso esteja ausente.

Ele é a consciência cósmica do Universo. Permanece em tudo e em todos. Estamos mergulhados nas bênçãos divinas, como peixes no oceano.


***

Se nascemos no Brasil, se aqui vivemos, legalmente somos cidadãos brasileiros.

Mas, sob o ponto de vista moral, essa cidadania só será legitimada pelo empenho em cumprir as leis do país, o que implica na observância de nossos deveres perante a comunidade, zelando por seu equilíbrio e bem-estar.

Algo semelhante acontece com o Reino.

Se há um Reino Universal regido por Deus, somos todos seus súditos.

Não obstante, isso pouco significa, se não nos preocupamos em cumprir o que o Eterno espera de nós.

Por isso Jesus diz (Lucas, 17:20-21):

O Reino de Deus não vem com aparência visível. Nem dirão: Ei-lo aqui! Ou: Ei-lo ali! Porque o reino de Deus está dentro de vós.

O problema, então, não é entrar no Reino. Vivemos nele.

O problema é o Reino entrar em nós.

***

Em várias parábolas Jesus nos diz como alcançar essa realização.

No tempo antigo não havia Bancos para depositar bens amoedados; então, as pessoas os escondiam em terrenos isolados, de sua propriedade.

Não raro, esses tesouros se perdiam pelo falecimento do proprietário. Quem os encontrasse podia entrar na posse deles, desde que comprasse as respectivas glebas.

Havia pessoas que se especializavam nessa lucrativa atividade, caçadores de tesouros, que ainda hoje povoam o imaginário popular.

Jesus usa essa imagem para nos contar sugestiva e breve parábola.

O Reino dos Céus é semelhante a um tesouro escondido num campo.

Um homem o encontra e esconde-o novamente.

Feliz, vende tudo o que tem e compra aquele campo.

O Reino seria aquele estado de paz, de tranqüilidade e alegria, no pleno cumprimento das leis divinas, habilitando-nos a desfrutar as bênçãos de Deus.

No simbolismo evangélico, situa-se como um tesouro oculto em recôndita região de nossa consciência, no solo de nossas cogitações existenciais.

Custa caro. Para sua aquisição, que equivale à posse de nós mesmos, imperioso nos desfaçamos de inúmeros bens, entre aspas, porquanto mais atrapalham do que ajudam.

São elefantes brancos.

***

No antigo reino de Sião, atual Tailândia, o raro elefante branco era animal sagrado.

Quando o rei queria punir alguém, oferecia-lhe um. O súdito sentia-se honrado, mas logo percebia tratar-se de um “presente de grego”.

Deveria dispensar sofisticados cuidados com o animal. Alimentá-lo com iguarias caras, colocar-lhe enfeites, ter empregados para cuidar dele…

Acabava arruinado.

Algo semelhante ocorre em nossa vida.

Há elefantes brancos em nosso caminho.

Temos satisfação com eles, em princípio, mas logo percebemos que nos causam prejuízos imensos.

Alguns deles:

• Ambição

Riqueza, poder, destaque social, prestígio, constituem o anseio de muitos.

O ambicioso só tem olhos para aquelas realizações.

Toma gosto pelos bens materiais que, sendo apenas parte da vida, convertem-se para ele em finalidade dela.

Deixa de ser dono de seu dinheiro.

Situa-se escravo dele.

Rico materialmente, mendigo de paz.

Parafraseando Jesus, podemos dizer que é mais fácil esse elefante branco passar pelo fundo de uma agulha do que seu proprietário entrar no Reino.

• Vício

Em princípio, oferece o Céu.

O fumo tranqüiliza.

O álcool desinibe.

As drogas produzem euforia.

Mas é céu artificial, precário, que nos leva, invariavelmente, ao inferno da dependência.

Enquanto o usuário está sob seu efeito é ótimo.

Logo, porém, o corpo cobra novas doses, submetendo-o a angústias e tensões terríveis.
Assim, oscila entre o céu e o inferno.

Cada vez menos céu; cada vez mais inferno, à medida que se amplia a dependência. E nele se instala de vez, quando retorna ao plano espiritual, antes do tempo, expulso do próprio corpo que destruiu.

Em terrível destrambelho, sofre horrivelmente, em longos e dolorosos estágios em regiões lúgubres e trevosas, habitadas por companheiros de infortúnio.

Ao reencarnar, os desajustes provocados em seu corpo espiritual se refletirão na nova estrutura física, dando origem a males variados, dolorosos, angustiantes, mas necessários.

Funcionam como válvulas de escoamento das impurezas de que se impregnou, ao mesmo tempo em que o ajudam a superar entranhados condicionamentos, que fatalmente o induziriam a retomar o vício.
Se o viciado tivesse a mínima noção do futuro dantesco que o espera, ficaria horrorizado.

Haveria de lutar com todas as forças de sua alma para livrar-se desse comprometedor elefante branco.

• Sexo.

Dádiva divina, é por intermédio dele que entramos na vida terrestre, além de favorecer gratificante momento de intimidade entre o homem e a mulher.

Entretanto, vivemos tempos perigosos, de liberdade sexual confundida com libertinagem. O sexo deixou de ser parte do amor para transformar-se no amor por inteiro.

Casais que mal se conhecem falam em “fazer amor”, pretendendo uma comunhão sexual sem compromisso, em lamentável promiscuidade.

É um tremendo elefante branco!

Oferece euforia em princípio, mas cobra muita inquietação depois, e perene insatisfação.

Com a troca constante de parceiros e a busca desenfreada de prazer, o indivíduo cai no desvairo sexual, envolvendo-se em comprometedoras perversões.


• Paixão

Fixado em alguém, empolgado pela comunhão carnal, o apaixonado estende as raízes de sua estabilidade física e psíquica no objeto de seus desejos e passa a viver em função dele.

Se a relação não dá certo e vem o rompimento, é uma tragédia. Suicídios, crimes passionais, loucuras variadas, são mera decorrência.

Quando o amor deixa de ser um ato de doação, rebaixado ao mero desejo de posse, em que pretendemos que o ser amado submeta-se aos nossos caprichos, transforma-se em voraz elefante branco que nos exaure e desajusta.


***

Não nos tornaremos santos do dia para a noite, campeões do Evangelho, apóstolos do Bem, mesmo porque a Natureza não dá saltos.

Consideremos, porém, em nosso próprio benefício, que é preciso avaliar se não estamos sustentando insaciáveis elefantes brancos, que nos empobrecem.

Com eles fica impossível o cultivo de aspirações superiores, no solo sagrado do coração, para a conquista do almejado tesouro divino.