sábado, 29 de agosto de 2009

Livre-Arbítrio e Providência - Léon Denis

Um dos problemas que mais preocuparam os filósofos e os teólogos é o do livre arbítrio: conciliar a vontade e a liberdade do homem com o fatalismo das leis naturais e com a vontade divina, parecia tanto mais difícil quanto um cego acaso parecia pesar, aos olhos de muitos, sobre o destino humano. O ensinamento dos espíritos esclareceu o problema: a fatalidade aparente que semeia de males o caminho da vida, não é mais que a conseqüência lógica do nosso passado, um efeito que se refere a uma causa, é o cumprimento do destino por nós mesmos aceito antes de renascer, e que nossos guias espirituais nos sugerem para nosso bem e nossa elevação.Nas camadas inferiores da criação, o ser não tem ainda consciência; apenas a fatalidade do instinto o impele, e não é senão nos tipos superiores da animalidade que surgem, timidamente, os primeiros sintomas das faculdades humanas. A alma, jungida ao ciclo humano, desperta para a liberdade moral, o juízo e a consciência desenvolvem-se cada vez mais no curso de sua imensa parábola: colocada entre o bem e o mal, ela faz o confronto e escolhe livremente, tornada sábia pelas quedas e pela dor; e na prova, sua experiência forma-se e sua força mental se afirma.A alma humana, livre e consciente, não pode mais recair na vida inferior: suas encarnações sucedem-se na dos mundos, até que, ao fim de seu longo trabalho, tenha conquistado a sabedoria, a ciência e o amor, cuja posse a emancipará para sempre das encarnações e da morte, abrindo-lhe a porta da vida celeste.A alma alcança seus destinos, prepara suas alegrias ou dores, exercendo sua liberdade, porém, no curso de sua jornada, na prova amarga e na ardente luta das paixões, a ajuda superior não lhe será negada e, se ela mesma não a afasta, por parecer indigna dela, quando a vontade se afirma para retomar o caminho do bem, o bom caminho, a providência intervém e propicia-lhe ajuda e apoio, Providência é o espírito superior, o anjo que vigia na desventura, o Consolador invisível cujas inspirações aquecem o coração enregelado pelo desespero, cujos fluidos vivificadores fortalecem o peregrino cansado; providência é o farol aceso na noite para salvação daqueles que erram no oceano proceloso da existência; providência é, ainda e sobretudo, o amor divino que se derrama sobre suas criaturas. E quanta solicitude, quanta previdência neste amor. Não suspendeu os mundos no espaço, acendeu os sois, formou os continentes, os mares, para servir de teatro à alma, de campo aos seus progressos? Esta grande obra de criação cumpre-se somente para a alma, para ela combinam-se as forças naturais, os mundos deixam as nebulosas.A alma é nascida para o bem, mas para que ela possa apreciá-lo na justa medida, para que possa conhecer-lhe todo o valor, deve conquistá-lo desenvolvendo livremente as próprias potencialidades: a liberdade de ação e a responsabilidade aumentam com sua elevação, pois quanto mais ela se ilumina mais pode e deve conformar a sua obra pessoal às leis que regem o universo.A liberdade do ser é exercida, pois, em um círculo limitado, parte pelas exigências da lei natural que não sobre violações ou desordens neste mundo, parte pelo passado do próprio ser, cujas conseqüências se refletem sobre ele através dos tempos, até a completa reparação.Assim o exercício da liberdade humana não pode obstar, em caso algum, a execução do plano divino, sem o que a ordem das coisas seria continuamente perturbada: acima de nossas vistas limitadas e variáveis, permanece e continua a ordem imutável do universo. Somos quase sempre maus juizes daquilo que é nosso verdadeiro bem; se a ordem natural das coisas devesse dobrar-se aos nossos desejos, que espantosas perturbações não resultariam disto?A primeira coisa que o homem faria, se possuísse liberdade absoluta, seria afastar de si todas as causas de sofrimento, e assegurar para si uma vida plena de felicidade: ora, se existem males que a inteligência humana tem o dever e os meios de conjurar e destruir, como os que provêm do ambiente terrestre, outros existem que são inerentes à nossa natureza, como os vícios, que somente a dor e a repressão podem domar.Neste caso a dor torna-se uma escola, ou antes, um remédio indispensável, pelo qual as provas são apenas uma repartição equânime da infalível justiça: é por ignorar os fins desejados por Deus, que nos tornamos rebeldes à ordem do mundo e às suas leis, e se elas são suscetíveis de nossas críticas, é apenas porque ignoramos o seu oculto poder.O destino é conseqüência de nossos atos e de nossas livres resoluções: no suceder-se das existências, na vida espiritual, mais esclarecidos sobre nossas imperfeições e preocupações com os meios de eliminá-las, aceitamos a vida material sob a forma e nas condições que nos parecem adequadas a atingir esta finalidade. Os fenômenos do hipnotismo e da sugestão mental explicam-nos o que acontece em tais casos, sob a influência de nossos protetores espirituais; no estado de sonambulismo, a alma empenha-se a realizar uma certa ação em certo momento, por sugestão do magnetizador, e, despertada, sem recordar aparentemente a promessa, executa com exatidão o ato imposto. Assim o homem não conserva lembrança das resoluções que tomou antes de renascer, mas, chegada a hora, afronta os acontecimentos previstos, e participa deles na medida necessária ao seu progresso, ou ao cumprimento da lei inexorável.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

A Epilepsia e o Espiritismo

A epilepsia é tão antiga como o homem. Sabe-se de legislações a respeito de pacientes epilépticos no código de Hammurabi e na antiga Grécia se lhe chamava “a doença sagrada”, pois devido à característica súbita e inesperada do fenômeno se acreditava que os deuses ou demônios possuíam o corpo do enfermo. “Do grego deriva o termo epilepsia, que significa “ser tomado desde acima”. Hipócrates, pai da Medicina, escreveu “a respeito da doença sagrada”, e quatro séculos antes de nossa era disse que não era mais sagrada do que qualquer outra e que tinha seu assento no cérebro. Em Roma se lhe chamou a “doença comicial”, pois o fato de que algum dos assistentes apresentasse uma convulsão era um sinal de suspender as eleições”. Portadores de epilepsia sofrem com o estigma, o preconceito, a vergonha e o medo do desconhecido. A epilepsia é uma doença cerebral caracterizada por convulsões, que vão desde as quase imperceptíveis até aquelas graves e freqüentes. A Organização Mundial da Saúde estima que cerca de 50 milhões de pessoas no mundo são portadores de epilepsia, sendo que, destas, 40 milhões estão em países subdesenvolvidos. Apesar desse cenário alarmante, a organização afirma que 70% dos novos casos diagnosticados podem ser tratados com sucesso, desde que a medicação seja usada de forma correta.(1) O tratamento preferencial para a epilepsia é o medicamentoso. O uso das drogas anticonvulsivas é eficaz em 70% a 80% dos casos. Para os pacientes com epilepsia refratária às drogas anticonvulsivas (20% a 30% dos casos), o tratamento indicado é o cirúrgico. Dependendo do tipo de epilepsia, a cirurgia pode ser bem-sucedida em até 80% desses pacientes. A cirurgia se desenvolveu, principalmente, a partir dos anos 80 com o avanço da tecnologia nos exames de imagens. A ressonância magnética estrutural e a funcional (SPECT), além do monitoramento em vídeo, permite fazer um diagnóstico exato do foco epiléptico. Porém, apesar da tecnologia médica atual “é como atirar no escuro e esperar que o alvo seja acertado”. É assim que o neurologista Ley Sander, professor do Departamento de Epilepsia Clínica e Experimental do University College London, define o tratamento da epilepsia. “Em todos os países, a epilepsia representa um problema importante de saúde pública, não somente por sua elevada incidência, mas também pela repercussão da enfermidade, a recorrência de suas crises, além do sofrimento dos próprios pacientes devido às restrições sociais que na grande maioria das vezes são injustificadas”, afirma o neurologista Jesus Gomez-Placencia, MD, PhD, professor titular do Dep. de Neurosciências da Universidade de Guadalajara, no México.(2) Foi Hipócrates (em torno de 460-375aC) - talvez influenciado por Atreya, pai da medicina hindu (e que viveu 500 anos antes), quem passou a afirmar que a epilepsia não tinha uma origem divina, sagrada ou demoníaca, mas que o cérebro era responsável por essa doença. E apenas muitos anos depois, Galeno (129 - em torno de 200 dC) fez a primeira classificação de diferentes formas da doença.(3) Apesar das afirmações de Hipócrates e Galeno, as crenças em torno da epilepsia como possessão, maldição ou castigo perpetuaram por muito tempo. A epilepsia, sob a ótica do Espiritismo, é uma doença neurológica, como qualquer outra doença que pode alterar o organismo humano, por isso mesmo deve ser tratada com os especialistas da medicina terrena. A propósito, alguns estudantes do Instituto Politécnico do México (IPN) criaram um dispositivo que diminui os ataques de epilepsia, consoante informa o instituto da Cidade do México. “Com o objetivo de contribuir para melhorar a qualidade de vida das pessoas que sofrem de epilepsia, estudantes criaram o Saceryd, que reduz a freqüência e a intensidade das crises por meio de estímulos elétricos”(4). Nos Estados Unidos, já existe aparelho semelhante. Não há dúvida que a terapêutica espírita poderá ajudar na recuperação do equilíbrio físico do enfermo, se for ministrada adequadamente, sem nunca dispensar a assistência médica. Porém, muitas pessoas confundem as crises epilépticas com sintomas obsessivos ou mediunidade a ser desenvolvida, o que é um grave erro. Ainda hoje, em pleno Século XXI - a despeito de todas proezas da medicina - muitos centros espíritas e igrejas de outros vários credos, sobretudo no Brasil, lidam com a epilepsia - como se esta fosse originada de “incorporações de espíritos de mortos”, de “possessões pelo demônio” etc... Até bem pouco tempo atrás, em todo o mundo, os ataques epilépticos, as convulsões cerebrais, o histerismo, as doenças em geral, eram tratados quase que exclusivamente com “passes magnéticos” ou “exorcismos”, muitas vezes violentíssimos e desumanos. A epilepsia não é obsessão, muito embora esta pode, às vezes, se apresentar com os sintomas da epilepsia, e o epiléptico pode ser portador de um processo obsessivo. Daí a confusão que muitas vezes é feita entre uma coisa e outra. O conceito que existe no meio espírita de que os epilépticos são médiuns que deveriam desenvolver suas mediunidades é completamente equivocada. Essa patologia mui raramente ocorre por meras alterações no encéfalo(5), como sejam as que procedem de pancadas na cabeça geralmente, é enfermidade da alma, independente do corpo físico, que apenas registra, nesse caso, as ações reflexas. Pois a epilepsia tem ligação com problemas espirituais. A recordação dessa ou daquela falta grave que ficam enraizada no espírito sem que tenha tido oportunidade de desabafo ou corrigenda, cria na mente um estado patológico que se classifica de zona de remorso, provocando distonias diversas de uma encarnação para outra. O corpo procede do corpo, porém há influência enorme da consciência do reencarnante, modelando seu próprio corpo, influenciando os genes da hereditariedade com o distúrbio ligado à causa pregressa no aproveitamento da Lei de Deus para que o espírito não escape ao seu destino doloroso, mas intransferível e necessário. No livro Missionários da Luz, cap. 12, André Luiz narra-nos inúmeras experiências em cujo espírito reencarnante pede que sejam alteradas certas condições físicas para que possa vencer as suas provas redentoras. A epilepsia é uma doença neurológica e possui matrizes cerebrais para que ela ocorra. No entanto, muitos fatores podem provocar essas alterações cerebrais e, dentre eles, há a causa espiritual. A grande contribuição do Espiritismo nessa área é apontar causas espirituais diretas e indiretas. No livro A Gênese, no capítulo XIV, Allan Kardec ensina que uma obsessão intensa (forte interdependência entre o obsessor e o obsidiado) e prolongada pode gerar lesões orgânicas através dos fluidos espirituais “viciados”: “Tais fluidos agem sobre o perispírito, e este, por sua vez, reage sobre o organismo material com o qual está em contato molecular. (...) se os fluidos maus forem permanentes e enérgicos, poderão determinar desordens físicas: certas moléstias não têm outra causa senão esta(6). O Mestre de Lyon reconhece em O Livro dos Espíritos, questões 481-483, que uma influência espiritual obsessiva pode causar uma neurolesão epiléptica e propõe que o método desobsessivo pode levar à cura do paciente”.(7) A epilepsia possui muitas relações com mecanismos naturais das provas e expiações, no contexto das causas atuais e anteriores das nossas aflições. Assim, apesar da epilepsia ter uma causa orgânica, a influência espiritual para que ela aconteça não pode ser ignorada. Segundo narra André Luiz um caso no qual durante “uma convulsão epiléptica o obsessor ligando-se a Pedro, seguindo-se convulsão generalizada tônico-clônica, com relaxamento de esfíncteres. O mentor Aulus afirma ser possessão completa ou epilepsia essencial e analisa que, no setor físico, Pedro está inconsciente, não terá lembrança do ocorrido, mas está atento em espírito, arquivando a ocorrência e enriquecendo-se.”(8) Na seqüência do fato, após a prece e o passe ocorre o desligamento do desencarnado, termina a convulsão e Pedro entra em sono profundo. “Com a terapia desobsessiva exitosa, será possível terminar com os ataques de “possessão”, mas Pedro sofrerá os reflexos do desequilíbrio em que se envolveu, a se expressarem nos fenômenos mais leves da epilepsia secundária que emergirão por algum tempo, ante recordações mais fortes da luta atual até o reajuste integral do perispírito (reflexo condicionado)”(9). Esse caso demonstra que, apesar de tratar-se de obsessão, não ocorreu a manifestação do obsessor após a convulsão, certamente devido ao passe aplicado durante a convulsão, que produziu o desligamento do espírito desencarnado. Infere-se pois, ante a presente exposição, que os quadros de epilepsia podem ser provocados por obsessão também, tanto quanto existem casos sem ação de desencarnados e casos mistos. Independentemente do caso, com ou sem envolvimento obsessivo, há necessidade de uso de medicação da medicina acadêmica, considerando-se óbvio que a terapia desobsessiva é altamente eficaz, devendo ser usada como preconiza a obra kardequiana. Jorge Hessen é espírita, autor dos livros Praeiro Peregrino da Terra do Pantanal e Luz da Mente. jorgehessen@gmail.com

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Vida e Valores (Valorize seu dia: Violência cotidiana)

É curioso notar como nos estarrecem as notícias que as mídias projetam em torno da violência.Em toda parte as notícias dos crimes, das guerras nos causam verdadeiro estupor.

É muito comum que as pessoas registrem tudo isto com uma certa dose de angústia, como se o mundo estivesse de mal a pior.

E, quando pensamos nessas questões da violência, que a televisão mostra, que as emissoras de rádio, que os jornais escritos apresentam; quando pensamos nessa violência que está nos filmes, nas telenovelas, que está em toda parte na sociedade, sentimos um aperto muito grande no coração.

Afinal de contas, que mundo é este? Em que mundo nós estamos vivendo?

Esta é uma pergunta crucial, porque quando nos perguntamos, que mundo é este, em que mundo estamos vivendo, não podemos esquecer que nós fazemos parte deste mundo. Não é um mundo lá fora, como se fôssemos dele independentes.

Este mundo no qual estamos identificando tantas catástrofes de violência, tantas tragédias comportamentais, é o mundo que estamos fazendo.

Por causa disso vale a pena nos perguntarmos: O que é que está acontecendo neste capítulo da violência no nosso cotidiano?

Não existe um único dia sequer que não tenhamos notícias de assassinatos, de homicídios, de estupros, de sequestros, de atentados em toda parte. Na sociedade mais próxima, onde estamos e na sociedade do mundo em geral. Parece que o ser humano adentrou caminhos nunca dantes trilhados.

Mas, isso não é bem verdade porque bastará que olhemos a História para percebermos que essa realidade da violência, nesses tempos que vivemos no mundo, é mais conhecida, mas não é uma coisa nova É mais divulgada, mas não é uma coisa recente.

Cabe-nos verificar de onde é que vem essa onda de violência tão terrível na nossa vida cotidiana.

É por causa disso que nos cabe ver como podemos fazer, agir, viver para dar conta desse quadro tão angustiante que aí está em nosso mundo.

Violência, violações, violar - todos esses verbos e substantivos expressam uma patologia da criatura humana. Expressam um tormento pelo qual passa o indivíduo.

Compete-nos identificar onde começa a violência e teremos surpresas muito curiosas ao percebermos, ao registrarmos que todo e qualquer processo de violência que explode na macrosociedade, que avança no mundo em geral, tem começo no indivíduo.

Sim, é no indivíduo que todo esse processo começa. Somos essencialmente portadores desse vírus da violência.

Quando pensamos nessa verdade, sentimos uma certa frieza na espinha, um calafrio que nos passa na espinha porque jamais imaginaríamos que toda essa onda de tormentos sociais, de sequestros, violências, mortes, estupros tivesse começo na nossa atitude pessoal.

Parece que estamos fazendo as coisas às escondidas, temos a sensação de que ninguém nos vê ou, muitas vezes, fazemos abertamente para que sejamos vistos. É a questão da adrenalina. Fazer alguma coisa errada no meio de tanta gente, produz uma adrenalina mas, ao mesmo tempo, indica um desequilíbrio.

É desse modo que a violência vai ganhando expressividade, que a violência vai se disseminando na sociedade em que vivemos. Ao pensarmos nessa disseminação da violência nos cabe cumprir aquilo que viemos à Terra fazer: dar boa conta da nossa administração existencial, dar boa conta de nossa vida, viver de tal modo que não sejamos nós os fatores pré-disponentes da violência. Que não carreguemos em nós essa força que promove a violência mas que consigamos, gradativamente, trabalhar num sentido oposto e verificar que a violência tem nascedouro em nós e, por isso, terá que encontrar seu término também em nós.

* * *

Se nos damos conta de que é no indivíduo que tem nascedouro a violência, fica muito mais explícita a sua origem e, naturalmente, a sua solução.

Em verdade, todos precisamos nos dar conta dos quadros de violência dos quais fazemos parte.

A violência das palavras ásperas, das palavras grosseiras, a violência da pornografia. Falamos o que queremos como se todas as pessoas tivessem a obrigação de nos ouvir o verbo como a gente o queira expressar. E a vida não é bem assim. Se impomos a alguém ouvir-nos nas coisas ruins que queremos dizer, estamos impondo às pessoas violentamente, as nossas ideias.

Se fazemos na nossa casa uma festa e porque estamos na nossa casa ignoramos que os outros vizinhos também estão nas suas casas, fazemos barulho até a hora que bem entendamos porque os outros terão que nos aceitar assim, é violência. Porque se temos direito a fazer barulho em nossa casa, os nossos vizinhos têm direito a ter silêncio em suas casas.

Começamos a nos aperceber das atitudes violentas junto à família: o esposo machista, violento, grosseiro com a esposa; a esposa patologicamente feminista e que acha que a sua palavra tem que ser a última, não ouve a mais ninguém; as agressões contra os filhos; a pancadaria; as brigas entre irmãos dentro de casa são aspectos os mais variados da violência no cotidiano.

Curioso é que não percebemos que isso é violência.

Parece-nos uma coisa muito normal, muito corriqueira nos agredirmos e depois, tudo parece voltar ao normal. Mas as coisas não voltam ao normal que estavam, nunca mais chegamos ao nível zero. Estamos sempre ajuntando lixo nas nossas relações.

E por causa disso mesmo a violência tem começo dentro de nós, estoura nas nossas relações, dentro de casa, no nosso trabalho, com as pessoas com as quais convivemos. Graças a isso é que, a cada dia, a violência urbana aumenta mais.

Parece que o problema da violência urbana é do Governo. Mas o governo da minha casa sou eu, o governo da minha rua sou eu, o governo do meu bairro somos nós.

Então, como fazer para mudar esse quadro que nos incomoda tanto?

Temos que apelar para esse processo de autoeducação. Precisamos aprender a voltar às origens da boa relação.

Saber o que falar perto de quem, respeitar senhoras, crianças, respeitar outras pessoas porque todas as vezes que nós dizemos o que queremos, diz o ditado popular, ouvimos as coisas que não queremos e não gostamos.

Quando dizemos uma palavra de má qualidade, uma palavra de baixo calão, uma palavra indevida, instigamos a reação das pessoas, das que aceitam o que dissemos e daquelas que se rebelam contra o que dissemos.

É da microviolência, digamos assim, a violência do indivíduo, a violência de cada um que nasce a macroviolência.

É da nossa violência individual que advém a grande violência social, não tenhamos nenhuma dúvida.

Quando vemos, numa guerra, soldados se engalfinhando, a guerra não começou com os soldados, começou com cada um dos indivíduos que somaram energias envenenadas.

E essa energia envenenada, essas forças negativas vão impondo à sociedade o desbordar, o desaguar das nossas negatividades reunidas.

Muito mais do que podemos imaginar somos os agentes da violência no nosso cotidiano.

Muito mais do que podemos supor damos ensejo à violência urbana, comentando-a, divulgando-a, devorando essas notícias nos jornais, nas revistas que vendem a rodo o sangue pisado das vítimas sociais.

Quando começamos a fazer essas reflexões, quando partimos para esses entendimentos, agora parece que conseguimos encontrar a saída, a renovação pessoal, o esforço por nos apaziguar, o esforço por nos tranquilizar e fazer com que a cada dia, ao nosso redor, haja harmonia, haja paz.

Transcrição do Programa Vida e Valores, de número 152,
apresentado por Raul Teixeira, sob coordenação da
Federação Espírita do Paraná. Programa gravado
em julho de 2008. Exibido pela NET, Canal 20,
Curitiba, no dia 31 de maio de 2009.
Em 10.08.2009.

Vida e Valores ( Animismo e mistificação)

Nos ensinamentos da Boa Nova, Cristo propõe: Brilhe a vossa luz, enquanto é dia.

Este é um ensino bonito, dentre tantos ensinos bonitos que o Mestre nos trouxe. Este é fundamental, porque este Brilhe a vossa luz é uma instigação, é uma insuflação à nossa vontade de crescer, de desenvolver nossas potências, transformar nossas potências em atividades.

Brilhe a vossa luz é muito bonito. Porque Cristo está dizendo que todos nós somos luz, todos carregamos essa chama interna, que muitas vezes bruxuleia, que muitas vezes perde o brilho gradativamente.

É como se as brumas do mundo fossem abafando o nosso brilho, o nosso luminar interior.

É por causa disto que a proposta de Cristo se enche de valor para nós. Brilhe a vossa luz.

Esse trabalho de desenvolver nossas potências, nossa própria realidade é um trabalho de desenvolver a nossa capacidade anímica, nosso animismo, nossa alma.

A desenvoltura da alma, o progresso do ser é uma das objetivações de nossa vida na Terra.

Estamos aqui, encarnados, para desenvolver nossas potências.

A Terra é uma grande escola onde trabalhamos em prol de nós mesmos, em prol do nosso crescimento. Aqui é um laboratório em que, no dia a dia das refregas, vamos conseguindo pôr para fora esse brilho que está internado em nós.

Curiosamente, quando nos referimos a animismo, existem outras considerações relativas a essa referência.

Porque, quando Aristóteles falou em animismo, ele pensava em outra coisa, ele pensava de outra maneira.

Animismo para Aristóteles, por exemplo, era esse fato de alguém tomar um pé de coelho, o animal já morto, transformá-lo num pendentif, ou num chaveiro, ou numa peça qualquer, para dar sorte.

Aristóteles imaginava que, todas as vezes que tomamos uma coisa morta e lhe damos características de coisa viva, dar sorte, por exemplo, é um ato de animismo. Conferimos alma a uma coisa que não a tem.

Quando pegamos uma pedra e achamos que essa pedra vai nos dar felicidade, vai trazer-nos felicidade interior, luz, harmonia, etc, estamos, segundo Aristóteles, criando um quadro de animismo, dando um valor dinâmico a algo que é inerte.

Mas, no campo do Espírito, no campo das coisas da alma, o animismo é essa exteriorização do próprio indivíduo, de cada um de nós.

Quando se trata, por exemplo, de um fenômeno de ordem mediúnica, em que alguém diz estar dando passividade a um ser espiritual, ou estar manifestando um ser espiritual, a grande preocupação dos estudiosos dessa questão é verificar se de fato é o falecido que fala através do sensitivo, através do sujeito, através do médium, ou se é a própria mente do sujeito, do sensitivo, do médium que se exterioriza.

É verdade que carregamos no nosso íntimo muitos valores enraizados, armazenados no nosso inconsciente. Valores desta vida, valores de vidas passadas, que estão no nosso inconsciente.

São riquezas ou pobrezas, mas são conquistas que estão no nosso íntimo, na nossa caixa preta e, em dadas circunstâncias, esse material vem à tona.

Imaginemos que, num dado momento, sintamos um perfume e esse perfume nos remeta à infância, nos lembremos que nossa avó usava esse perfume. Em função disso, nos recordamos de alguma festa que fomos e a vovó usava esse perfume. Aí nos lembramos que nessa festa em que fomos, tínhamos determinado amigo, comíamos determinada coisa...

Vejamos como o perfume nos fez recordar, ir andando para trás. A isso se daria o nome de animismo. Quando a nossa memória trouxesse inconscientemente lá de dentro as coisas que estão armazenadas em nós.

Animismo, então, significa essa projeção da alma do próprio sensitivo, a manifestação da nossa própria realidade, internalizada, coberta que, em dados momentos, vem a lume, em dado momento vem a flux e aflora como se fosse uma outra entidade falando por nós.

* * *

É compreensível que todos nós sejamos indivíduos que temos muito material na nossa intimidade e nem sempre nos demos conta de quantas vezes esse material vem à tona, se manifesta, e podemos supor que seja uma entidade espiritual que esteja se manifestando através de nós.

Essa parede entre o que é mediúnico e o que é anímico é uma parede muito tênue, muito fina porque, afinal de contas, não temos muita habilidade de perceber em que momento deixamos de ser nós mesmos e estamos filtrando um pensamento alheio.

Nós não temos muita precisão com relação a isto. É necessário que haja muita especialidade, muito trato, muita habilidade para que nos apercebamos disto.

Mas, sempre que se fala em animismo, levamos em conta que o indivíduo anímico, não sabe que é anímico.

Ninguém sabe que está pondo para fora esse material do seu passado, esse material da sua caixa preta, dos seus arquivos psíquicos.

Quando o indivíduo passa a saber e usa isto de caso pensado, aí então o fenômeno deixa de ser anímico, tipicamente falando, e entramos no território da mistificação.

A mistificação sempre caracteriza um engano, um engodo, pelo qual quero fazer alguém passar.

Sempre que mentimos estamos mistificando e , no caso das manifestações espirituais, pode ser que o próprio Espírito que se manifesta, o próprio Espírito que se comunica, diga ser uma pessoa que ele não é. O sensitivo está drenando corretamente, o sensitivo está deixando passar aquela manifestação corretamente, mas o manifestante é que mente.

Ele diz ser Rui Barbosa, ele diz ser Jesus Cristo ou qualquer outro vulto da História e não é. Nesse caso temos o animismo do Espírito comunicante dizendo ser quem ele não é.

Mas, encontramos outros casos em que o sensitivo, o médium finge estar dando passividade a um Espírito, finge estar recebendo um Espírito para enganar os outros, para obter lucros ou para qualquer outro objetivo escuso. Nesse caso, a mistificação não é mais do Espírito, é do médium.

Muita gente procura médiuns na sociedade, procura terreiros, centros espíritas, cartomantes, quiromantes, médiuns quase sempre, sensitivos quase sempre. Contudo, as pessoas não têm a habilidade, não têm o traquejo, não têm o conhecimento para identificar essas coisas. Então, quase sempre entram nesse mundo da credulidade, acreditam simplesmente.

É muito grande o número de pessoas inescrupulosas que tiram proveito da ignorância popular, que tiram proveito do desconhecimento geral.

Por causa disto, é sempre importantíssimo que se tenha cautela com os fenômenos da mistificação.

Como é que eu vou saber se há mistificação ou se não há mistificação?

Verifiquemos onde é que a informação nos vai levar.

A informação nos vai levar a alguma dependência de alguma coisa ou de alguém? Não acreditemos.

A informação nos vai cobrar dinheiro, recursos para que resolvamos casos espirituais, problemas de amor, problemas familiares? Não acreditemos.

As revelações que nos chegam são estapafúrdias, são irracionais? Não acreditemos.

Não tenhamos nenhum medo em desacreditar de coisas que nos pareçam absurdas porque nós não devemos crer naquilo que é absurdo.

Não há nenhum crime em rejeitarmos informações nefastas, o grande problema é quando aceitamos as informações mentirosas.

Nas páginas de O livro dos médiuns, de Allan Kardec, há uma orientação muito interessante, quando o Espírito Erasto recomenda-nos que Melhor é repelir dez verdades do que admitir uma única falsidade, uma só teoria errônea.

E isso é lógico. A verdade sempre aparece, se a rejeito hoje, ela aparece amanhã, ela aparece depois de amanhã, se eu a negar amanhã.

Porque a verdade é a Lei da vida, ela sempre aparecerá.

Mas, a mentira deseja imediatamente impor-se porque se demorar ela será descoberta.

Por isso todo mentiroso quer levar o maior número de pessoas o mais rapidamente possível. Se ele demorar, se a mentira demorar, as pessoas acabam por descobrir.

Não misturemos, pois, animismo que é essa voz do nosso íntimo inconscientemente vazada, com a mistificação, que é o enganar aos outros de caso pensado.

Transcrição do Programa Vida e Valores, de número 144,
apresentado por Raul Teixeira, sob coordenação da
Federação Espírita do Paraná. Programa gravado
em abril de 2008. Exibido pela NET, Canal 20,
Curitiba, no dia 15 de junho de 2009.
Em 17.08.2009.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

A felicidade é possível

Acreditavas que a felicidade seria semelhante a uma ilha fantástica de prazer constante e paz permanente. Um lugar onde não houvesse preocupação, nem se apresentasse a dor; no qual os sorrisos brilhassem nos lábios, e a beleza engrinaldasse de festa as criaturas. Uma felicidade feita de fantasias parecia ser a tua busca. Planejastes a vida, objetivando encontrar esse reino encantado, onde, por fim, descansasses da fadiga, da aflição e fruísses a harmonia. Passam-se anos, e somas frustações, anotando desencantos e amarguras, sem anelada conquista. Lentamente, entregas-te ao desânimo, e sentes que estás discriminado no mundo, quando vês as propagandas apresentadas pela mídia, nas quais desfilam os jovens, belos e jubilosos, desperdiçando saúde, robustez, corpos venusinos e apolíneos, usando cigarros e bebidas famosas, brincando em iates de luxo, ou exibindo-se em desportos da moda, invejáveis, triunfantes... Crês que eles são felizes... Não sabes quanto custa, em sacrifício e dor, alcançar o topo da fama e permanecer lá. Sob quase todos aqueles sorrisos, que são estudados, estão a face da amargura e as marcas do ressaibo, do arrependimento. Alguns envenenaram a alma dos charcos por onde andaram, antes de serem conhecidos e disputados. Muitos se entregaram a drogas pertubadoras, que lhes consomem a juventude, qual ocorreu com as multidões de outros, que os anteciparam e desapareceram. Esquecidos e enfermos, aqueles que foram pessoas-objeto, amargam hoje a miséria a que se acolheram ou foram atirados. Felicidade, porém, é conquista íntima. Todos os que se encontram na Terra, nascidos em berços de ouro ou de palha, homenageados ou desprezados, belos ou feios, são feitos do mesmo barro frágil de carne, e experimentam, de uma ou de outra forma, vicissitudes, decepções, doenças e desconforto. Ninguém, no mundo terreno, vive em regime especial. O que parece, não excede a imagem, a ilusão. Se desejas ser feliz, vive, cada momento, de forma integral, reunindo as cotas de alegria, de esperança, de sonho, de bênção, num painel plenificador. As ocorrências de dor são experiências para as de saúde e de paz. A felicidade não são coisas: é um estado interno, uma emoção. Abençoa os acidentes de percurso, que denominas como desdita, segue na direção das metas, e verás quantas concessões de felicidade pela frente, aguardando por ti. Quem avança monte acima, pisa pedregulhos que ferem os pés, mas também flores miúdas e verdejante relva, que teimam em nascer ali colocando beleza no chão. Reúne essas florezinhas em um ramalhete, toma das pedras pequeninas fazendo colares, e descobrirás que, para a criatura ser feliz, basta amar e saber discernir, nas coisas e nos sucessos da marcha, a vontade de Deus e as necessidades para a evolução. Autor: Joanna de ÂngelisPsicografia de Divaldo Franco

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Paz em Casa

Compras na terra o pão e a vestimenta, o calçado e o remédio, menos a paz.

Darte-á o dinheiro residência e conforto, com exceção da tranqüilidade de espírito.

Eis porque nos recomenda Jesus venhamos a dizer, antes de tudo, ao entramos numa casa: "paz seja nesta casa".

A lição exprime vigoroso apelo à tolerância e ao entendimento.

No limiar do ninho doméstico, unge-te de compreensão e de paciência, a fim de que não penetres o clima dos teus, à feição de inimigo familiar.

Se alguém está fora do caminho desejável ou se te desgostam arranjos caseiros, mobiliza a bondade e a cooperação para que o mal se reduza.

Se problemas te preocupam ou apontamentos te humilham, cala os próprios aborrecimentos, limitando as inquietações.

Recebe a refeição por bênção divina.

Usa portas e janelas, sem estrondos brutais.

Não movas objetos, de arranco.

Foge à gritaria inconveniente.

Atende ao culto da gentileza.

Há quem diga que o lar é ponto do desabafo, o lugar em que a pessoa se desoprime. Reconhecemos que sim; entretanto, isso não é razão para que ele se torne em praça onde a criatura se animalize.

Pacifiquemos nossa área individual para que a área dos outros se pacifique.
Todos anelamos a paz do mundo; no entanto, é imperioso não esquecer que a paz do mundo parte de nós.
A melhor educação é o exemplo!



Autor: Emmanuel
Psicografia de Chico Xavier

sábado, 15 de agosto de 2009

Alma Querida

Alma querida! Batida pelo vendaval, sacudida pelas incertezas sob chuva de calhaus, sobre espículos cruéis. É noite, e as sombras desenham fantasmas. Tu tremes, choras... Dói-te o peito, represado de angústias e cambaleiam as tuas pernas fragilizadas. Tuas mãos, sempre ágeis, descem e se negam a transformar-se em asas para voar. Alma querida! Fita além da noite e verás, verás o amanhecer longínquo que chegará a ti, pleno de luz, apagando todas as sombras, diminuindo todas as aflições. Não pares! Ergue a cabeça e avança, alma solitária e triste! O Sol da eterna crença, avança no teu rumo, aguardando que sigas na Sua direção, no encontro, quando nimbada de luz, alma feliz, bendirás todas as dores, todas as humilhações, que são os tesouros imarcessíveis da vida, coroando-te de estrelas. Almas queridas! Não canseis de lutar! Cada um de nós é alma em reajustamento. Experimentamos aqui, outra vez, o seu quadro de testemunho, mas o nosso Modelo, quando aceitou a Cruz, transformou-a em dois braços que afagam e não numa trave hedionda de horror. Ide! Avante, Almas queridas, bendizendo a noite com vossas preces, que se transformarão em estrelas, com vossas lágrimas que se converterão em pingentes de luar, para que nunca mais haja escuridão. Deus vos abençoe, almas queridas! São os votos da servidora humílima e maternal de sempre.Autor: Joanna de ÂngelisPsicografia de Divaldo Franco

O Pensamento

"O que se pensa sempre responde pelo clima emocional onde se vive. Mede-se, pois, a psicosfera de alguém pela incidência freqüente do seu pensamento, no que elege. A inteireza moral é uma defesa para qualquer tipo de agressão, difícil de atingida; a conduta digna irradia forças contrárias às investidas perniciosas; o hábito da prece e da mentalização edificante aureola o ser de força repelente que dilui as energias de baixo teor vibratório; a prática do bem fortalece os centros vitais do perispírito que rechaça, mediante a exteriorização de suas moléculas, qualquer petardo portador de carga danosa; o conhecimento das leis da Vida reveste o homem de paz, levando-o a pensar nas questões superiores sem campo de sintonia para com as ondas carregadas de paixão e vulgaridade". Autor: Manoel Philomeno de MirandaPsicografia de Psicografia de Divaldo Franco. Livro: Loucura e Obsessão

Somente Você

Ninguém poderá carregar o fardo de suas dores. Eduque-se com o sofrimento. Ninguém entenderá os problemas complexos de sua existência. Exercite o silêncio. Ninguém seguirá com você indefinidamente. Acostume-se com a solidão. Ninguém acreditará que suas aflições sejam maiores do que as do vizinho. Liberte-se delas com o trabalho de auto-iluminação. Ninguém lhe atenderá todas as necessidades. Subordine-se apenas ao que você tem. Ninguém responderá por seus erros. Tenha cuidado no proceder. Ninguém suportará suas exigências. Faça-se brando e simples. Ninguém o libertará do arrependimento após o crime. Medite na paciência e domine os impulsos. Ninguém compreenderá seus sacrifícios e renúncias para a manutenção de uma vida modesta e honrada. Persevere no dever bem cumprido. Sábio é todo aquele que reconhece a infinita pequenez ante a infinita grandeza da vida. Embora ninguém possa servi-lo sempre, você encontrará um sublime Alguém, que tem para cada anseio de sua alma uma alternativa de amor. Por você, Ele carregou o fardo do mundo... Compreendeu os conflitos da vida... Caminhou com todos... Socorreu todos que O buscaram... Matou a fome, saciou a sede e ouviu as multidões inquietas... Atendeu à viúva de Naim, ao apelo materno em Caná... Carregou a cruz da injustiça sem nenhuma reclamação... Perdoou a traição de Judas, desculpou as negativas de Pedro e a ambos libertou do remorso com a concessão do trabalho em novos avatares... Compreendeu as lutas da mulher atormentada, sedenta de paz; esclareceu o enfático doutor do Sinédrio, sedento de saber; arrancou das trevas o cego Bartimeu, sedento de claridade... Ensinou que diante do amor todos os enigmas do Universo se aclaram, por ser o Pai Celeste a Suprema Fonte do Amor. Não se imponha, pois, a ninguém. Embora você dependa de todos, nada aguarde dos outros. Receba e agradeça o que lhe chegue e como chegue, ajude e passe... Aprenda que a luta é a lição de cada hora no abençoado livro da existência planetária, e siga adiante com Ele, que "jamais se escusava". Autor: Marco PriscoPsicografia de Divaldo Franco

Perda de entes queridos

Diante da inexorabilidade da morte, as dores da separação e da perda de um ente querido não podem ser evitadas. Contudo, a maneira de encarar a situação e o entendimento de que a morte não existe podem auxiliar, em muito, as pessoas a passarem por este transe tão difícil.Sir Oliver Lodge, eminente cientista e laureado físico e inventor do final do século IXX e início do século XX, estudou e conduziu experimentações, durante anos, acerca dos fenômenos espíritas e tendo perdido um filho durante a 1ª Grande Guerra escreveu um livro, Raymond, sobre as comunicações mediúnicas e inequívocas provas de identidade do filho que empresta o seu nome à obra, traduzida por Monteiro Lobato. Diz o cientista: “Jamais ocultei minha crença de que a personalidade não só persiste, como ainda continua mais entrosada ao nosso viver diário do que geralmente o supomos; de que não há nenhuma solução de continuidade entre os vivos e os mortos...”Outra personalidade que obteve grande consolação após a perda da filha querida, Leopoldine, foi o escritor e pensador francês Victor Hugo. Quando exilado na ilha britânica de Jersey, começou a pesquisar os fenômenos espiríticos, relatando as suas experiências na obra Les Tables Tournantes de Jersey(As Mesas Girantes de Jersey). Dentre os escritos que deixou para serem publicados após sua morte, destacamos o seguinte, que reflete bem a posição espírita do autor:“A morte não é o fim de tudo. Ela não é senão o fim de uma coisa e o começo de outra. Na morte o homem acaba e a alma começa. Eu sou uma alma. Bem sinto que o que darei ao túmulo não é o meu eu, o meu ser. O que constitui o meu eu irá além.”“O homem é um prisioneiro. O prisioneiro escala penosamente os muros de sua masmorra. Coloca o pé em todas as saliências e sobe até o respiradouro. Aí, olha, distingue ao longe a campina. Aspira o ar livre, vê a luz.”“Assim é o homem. O prisioneiro não duvida que encontrará a claridade do dia, a liberdade. Como pode o homem duvidar se vai encontrar a eternidade à sua saída? Por que não possuirá ele um corpo sutil, etéreo, de que o nosso corpo humano não pode ser senão um esboço grosseiro? (...)”“A morte é uma mudança de vestimenta. A alma que estava vestida de sombra vai ser vestida de luz. Na morte o homem fica sendo imortal. A vida é o poder que tem o corpo de manter a alma sobre a terra, pelo peso que faz nela. A morte é uma continuação. Para além das sombras, estende-se o brilho da eternidade.” Entretanto, há dores que se estendem demasiadamente. Em O Livro dos Espíritos, livro IV - Capítulo I, Perda de entes queridos, Allan Kardec indaga dos espíritos, na questão 936: “De que maneira as dores inconsoláveis dos que ficaram na Terra afetam os Espíritos desencarnados que as provocam?” Resposta: “O Espírito é sensível à lembrança e às saudades daqueles que amou na Terra, mas uma dor incessante e fora de propósito o afeta penosamente, porque ele vê, nessa dor excessiva, falta de fé no futuro e de confiança em Deus e, por conseguinte, um obstáculo ao progresso e talvez ao reencontro com os que ficaram.”O grande antídoto ao desespero, além do conhecimento de que a separação é transitória e a perda o é apenas da forma física tangível, advém da prece recomendada pelo Espiritismo a todos aqueles que partiram. Enquanto se lhes auxilia e fortalece, através destas vibrações sutilíssimas da prece os corações daqueles que choram se sentirão aliviados e as suas lágrimas estancadas. Da mesma forma, a prece ajuda no desligamento do espírito das vibrações da matéria, tornando o seu despertar no mundo espiritual mais tranquilo durante a transição da morte. A consolação espiritual necessita refletir-se no fortalecimento psicológico. Quem guarda relação de dependência emocional com o ente querido que partiu tem muito maiores dificuldades na separação. De agora em diante, inelutavelmente, deve contar apenas consigo mesmo. Se a pessoa acha-se frágil, insuficiente e tem baixa autoestima, provavelmente necessitará de um trabalho psicoterápico para redescobrir seu potencial interno e resgatar sua autoconfiança e autoestima.Uma observação essencial é que a pessoa que sofre a dor da perda de um ente querido não deve ficar na dependência emocional de uma mensagem psicografada. Apesar de esta ser um inigualável consolo, a pessoa precisa criar forças em seu próprio ser. As comunicações mediúnicas obedecem a leis muito complexas e se constituem mais exceções do que regra. Nem todos os espíritos conseguem se comunicar por um dado médium e, dentre os médiuns, poucos têm as faculdades plenamente desenvolvidas a permitir mensagens com inequívocas comprovações de identidade. São afortunados, pois, espíritos e encarnados que logram obter comunicações satisfatórias. Não obstante, as ocorrências destas comunicações se multiplicam, constituindo-se em decisivo peso comprobatório da imortalidade da alma. Mas, enquanto isso, porque não nos consolarmos, regozijarmos mesmo, com as comunicações bem sucedidas, tais como as de Fábio Nasser, que nos comprovam a continuidade da vida e dos afetos daqueles que se foram? Por que não nos voltarmos para as questões espirituais da vida, ressignificando conceitos e valores que elegemos como prioritários?Estas são as recomendações de nossos entes queridos que partiram, a nos concitar uma urgente mudança de rumos em nossas mesquinhas e vazias existências. Fábio Nasser, um interlocutor lúcido dentre aqueles, observa-nos em sua última carta, de 29/01/2009, através da médium Mary Alves: “Ainda estamos com sentimentos desregrados, com paixões desmedidas, com cobiças aviltantes, com maldades vergonhosas, e o trabalho é lento e exige muito sacrifício e renúncia, pois Deus recuperará todos os corações.” Luiz Antônio de Paiva é médico psiquiatra, vice-presidente da Associação Médico-Espírita de Goiás e consultor legislativo inativo do Senado Federal

Superando a perda de entes queridos

Perder um ente querido significa um dos momentos mais difíceis da existência humana. A dor da separação daqueles que amamos pode ser definida de inúmeras formas. Alguns a descrevem como uma dor no coração indescritível, outros dizem sentir uma sensação de vazio como se a alma estivesse despedaçada, há aqueles também que custam a querer acreditar no que aconteceu. O fato é que a dor da perda não pode ser evitada, mas a maneira de encarar a situação e a compreensão de que a morte não existe pode ajudar as pessoas a passarem por este momento doloroso.A crença na vida após a morte e que a separação é passageira, diante da eternidade, traz um grande consolo no momento da partida daqueles que amamos. Outro aspecto importante que a Doutrina Espírita ensina é que o desespero e a revolta diante desta perda podem prejudicar aqueles que partiram. A questão 936 de O Livro dos Espíritos diz: “Uma dor incessante e desarrazoada o toca penosamente, porque, nessa dor excessiva, ele vê falta de fé no futuro e de confiança em Deus e, por conseguinte, um obstáculo ao adiantamento dos que o choram e talvez à sua reunião com estes”.O Espiritismo também recomenda a prece pelos entes queridos que partiram, para que seus corações possam se sentir aliviados. O Evangelho Segundo o Espiritismo traz uma coletânea de preces e fala da importância da oração pelos que acabam de deixar a Terra como forma de ajudar no desligamento do espírito, tornando seu despertar no Além mais tranqüilo e breve. “Vós que compreendeis a vida espiritual, escutais as pulsações de vosso coração chamando esses entes bem-amados, e se pedirdes a Deus para os abençoar, sentireis em vós essas poderosas consolações que secam as lágrimas, essas aspirações maravilhosas que vos mostrarão o futuro prometido pelo soberano Senhor”.Além da busca do consolo espiritual é preciso aprender a lidar com a perda do ente querido. Para compreendermos melhor como trabalhar interiormente esse momento tão difícil e doloroso, entrevistamos a psicóloga Kátia Flock, que é vice-presidente da ABRAPE (Associação Brasileira de Psicólogos Espíritas) e apresentadora dos programas Alquimia da Mente e Despertar para a Vida, na Rede Boa Nova de Rádio. Como você, psicóloga e espírita, analisa a questão da perda de entes queridos? Acredito que o indivíduo que tem conhecimento da existência da vida após a morte aprende a lidar muito melhor com a questão da perda de entes queridos, porque tem uma concepção diferente dos demais, sabe que a perda é apenas física e transitória. Então, quando a pessoa passa por essa situação, muitas vezes de uma forma inesperada ou brutal e tem a crença nos valores espirituais, consegue viver esse período de luto com maiores condições de enfrentar o distanciamento. Quer dizer, então, que a pessoa que possui fé e crença na vida após a morte lida melhor com a separação?A pessoa que crê na existência da vida após a morte e passa pela dor da perda de um ente querido, lida melhor psicologicamente e emocionalmente com a morte. O individuo que não tem essa concepção da existência espiritual, acaba vivendo esse distanciamento de uma maneira pior e de forma conflituosa, por não acreditar na possibilidade de reencontrar a pessoa que partiu.Com a dor da perda, o psiquismo sofre muitos danos e se existir uma ligação muito forte entre esses, a pessoa acaba vivendo com um grande drama. Muitas, até, não conseguem se curar quando perdem seus entes queridos; continuam sofrendo muitos anos com a mesma dor. Além do aspecto espiritual, como podemos trabalhar psicologicamente a dor da perda?Nós temos que analisar o que é a perda. Ela significa não podermos mais compartilhar com aquele indivíduo que é muito importante em nossa vida. Todos nós temos pessoas importantes em nossas vidas, mas se estivermos mais preparados e desenvolvermos oautoconhecimento, aprenderemos a trabalhar melhor com os momentos difíceis. Muitas vezes existe uma dependência emocional muito grande entre elas e a perda parece brutal, até mesmo, desesperadora. Então, uma forma de lidar melhor com essas situações é a busca da psicoterapia. Por intermédio do tratamento, acaba entrando em contato com suas potencialidades internas e desenvolvendo a auto-estima, pois em geral, as pessoas muito dependentes das outras são pessoas que não confiam em si mesmas.O autoconhecimento é uma ajuda para tudo na vida do ser humano, porque as perdas, as dificuldades e as frustrações existem e vão existir sempre. Mas a pessoa aprende, dessa maneira, a ter subsídios emocionais e afetivos suficientes para enfrentar as perdas em geral; aprende a canalizar o seu amor também para outras pessoas. Desabafar sobre os problemas pode ajudar?Sim. Falar, expressar seus sentimentos pode ajudar muito, mas apenas isso não resolve totalmente a questão. O tempo também ajuda a pessoa a enfrentar a situação.É importante que aconteça a comunicação, porque o indivíduo muitas vezes acaba entrando em um estado de isolamento e se distanciar não é a maneira mais adequada de solucionar o problema. Negar, jamais deve ser o caminho de resolução de uma questão, e evitar falar é fugir. A dor da perda leva muitas pessoas para os consultórios dos psicólogos?O ser humano não foi criado para viver a dor, foi criado para viver o prazer, e desde criança aprendemos a lidar com a vida cheia de prazeres. Por isso que muitas vezes vemos os jovens com grandes frustrações e decepções, buscando até as drogas para fugir, exatamente porque não foram educados para vencer as dificuldades.A maioria dessas pessoas que procuram os consultórios chegam em grande dor, até mesmo em desespero. E a dor se simboliza através de uma depressão, onde a pessoa não quer viver mais já que perdeu um ente querido. Nós chamamos esse período de depressão por luto. E através das sessões terapêuticas a pessoa vai percebendo que a grande dor dela foi de não querer aceitar que ela consegue viver sozinha; não acreditava até então que poderia viver sem aquela pessoa e vai começar a compreender que pode. Para encerar, deixe uma mensagem.O importante é perceber os bons momentos que vivemos com esse ente querido. Além disso, tentar entender que nada acontece ao acaso, tudo tem uma finalidade e se a separação ocorre, ela causa um grande impacto, mas temos que guardar um bom sentimento e sabermos que a caminhada foi importante enquanto estivemos juntos e que a separação não é o fim. Existe a possibilidade do reencontro.Nós aprenderemos a lidar melhor com essa separação se tivermos a certeza de que ela é transitória. Todos nós partiremos um dia para o plano espiritual. Lidar com a morte não é nada fácil, porque é conviver com a perda. O enfrentamento vem a partir do momento em que tentamos aproveitar a presença de nossos entes queridos enquanto estão conosco, demonstrando carinho e amor, para quando partirem, não sofrermos tanto. Mas o que resta quando esse ente desencarna é lembrar desses bons momentos e ter a certeza de que a perda não é permanente, é apenas transitória. É um período de afastamento.A pessoa deve tentar levar sua vida adiante, porque quando ficamos presos demais à perda, no futuro acabamos tomando conhecimento de que não vivemos a própria vida e sim, a vida do outro. A pessoa que sofre a dor da perda de um ente querido não deve depender emocionalmente de uma mensagem psicografada. Apesar de muitas vezes servir como consolo, a pessoa precisa criar forças em seu próprio mundo interior.Participando de grupos de apoio A pessoa deve tentar levar sua vida adiante, porque quando ficamos presos demais à perda, no futuro acabamos tomando conhecimento de que não vivemos a própria vida e sim vida e sim, a vida do outro.Segundo os depoimentos que ouvimos de muitas pessoas que perderam seus entes queridos, desabafar sobre o assunto é muito importante. “É como se tivéssemos nosso ente querido perto de nós novamente por alguns instantes”, nos relatou um dos entrevistados.Existem alguns centros espíritas que oferecem esse tipo de apoio a esses familiares. Entramos em contato com dois deles. O centro espírita A Caminho da Luz, no bairro da Água Rasa, em São Paulo, mantém um grupo que recebe o nome Gotas de Amor, voltado aos pais que perderam seus filhos. O grupo se reúne para a leitura do Evangelho, passes, apoio às mães e psicografia. As voluntárias também orientam as gestantes e auxiliam na confecção de enxovais.Outro local que possui um atendimento voltado às pessoas que perderam seus entes queridos é o centro espírita Perseverança, no bairro Santa Clara, zona leste de São Paulo. Entrevistamos Vilma Faria, coordenadora do grupo. O trabalho consiste em palestras e passes, depoimentos de pessoas que já vivenciaram a mesma dor, sessões de psicografia e auxílio nas obras sociais da casa. Vilma nos relatou, também, que perdeu seu filho há 25 anos, e como é ajudar outras mães que estão passando pela mesma situação. “Eu me encontrei na Doutrina Espírita e aprendi a olhar mais para a dor dos outros”, relata.Seu filho, Moacyr Júnior, desencarnou em um acidente de moto aos 17 anos. Depois da perda ela passou a freqüentar o centro espírita Perseverança e lá recebeu diversas psicografias. Algumas dessas mensagens constam em livros como Motoqueiros do Além e Vozes da Outra Margem. Passou também a freqüentar o grupo de mães e hoje, como coordenadora, diz que tenta passar tudo aquilo que aprendeu para outras pessoas que estão passando pela dor. “Acima de tudo, devemos amar a Deus e jamais devemos nos entregar ao desespero. É através da vontade de servir a Jesus e ao próximo que aprendemos a sobreviver, apesar da dor, e muitas vezes não é preciso ir longe para isso; pode haver alguém de nossa família precisando de nossa ajuda”, reflete Vilma.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

O Espiritismo como Instrumento de Evolução em Tempos de Transição

“Naquele 18 de abril de 1857, com o Livro dos Espíritos, raiou a madrugada de uma Era Nova.”Bezerra de Menezes
“Se me amais, guardai os meus mandamentos, e eu rogarei a meu Pai, e Ele vos enviará outro consolador, para que fique eternamente convosco, o Espírito da Verdade, a quem o mundo não pode receber, porque não o vê, nem o conhece. Mas vós o conhecereis, porque ele ficará convosco e ficará entre vós. Mas o Consolador que é o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar tudo o que tenho dito.”(João, XIV: 15 a 17: 26)
Após a estada do Cristo entre nós, seguiu o homem a sua jornada de Espírito em evolução, disseminando dentro dos seus próprios critérios e pontos de vista e dentro da sua capacidade de compreensão, as lições deixadas por Jesus, fundando religiões, seitas e igrejas em seu nome. Cada uma a seu modo, justificando a vida e predestinando o homem a um juízo final, o qualificando para a felicidade ou para as penas eternas, em função da aceitação e cumprimento dos seus dogmas e rituais, ou da negação destes.
No séc. XIX, a civilização humana, especialmente na Europa, passa por um período de grande avanço em todos os aspectos – político-econômico, industrial-tecnológico, sócio-cultural e filosófico, e passa o homem deste século a questionar os dogmas religiosos que lhe eram impostos até então. Começa a buscar na ciência e na razão as respostas dos seus questionamentos mais íntimos. Esta fase da humanidade passa para a história como o Século das Luzes, ou ainda o Século da Razão.
É em meio a este contexto histórico que o Consolador prometido por Jesus é apresentado ao homem.
Inaugura-se para o homem a “madrugada da Era Nova” onde recebemos os princípios de uma doutrina que nos fala sobre:• A imortalidade da alma;• A natureza dos Espíritos e suas relações com os homens;• As leis morais;• A vida presente;• A vida futura;• O porvir da humanidade.
Essa doutrina nos chega completa tendo:• Aspecto religioso – nos liga a Deus – Inteligência suprema, causa primária de todas as coisas, Aquele que mantém a ordem do Universo através de leis que são a representação do Amor Supremo, e não um deus antropomórfico, vingativo ou punitivo;
• Aspecto Científico – pois que foi codificada metodologicamente, através de experiências que foram mostrando que o “sobrenatural é apenas o natural ainda não conhecido, provisoriamente não explicado”;
• Aspecto Filosófico – sem querer criar uma nova escola filosófica (no dizer de Kardec) mas respondendo a questionamentos íntimos do homem no que diz respeito a sua origem, sua natureza e destinação.
Questionado sobre qual dos três aspectos é o maior, Emmanuel responde: “Podemos tomar o espiritismo simbolizado deste modo, como um triangulo de forças espirituais. A ciência e a filosofia vinculam a Terra essa figura simbólica, porém a religião é o ângulo divino que a liga ao céu. No seu aspecto científico e filosófico, a doutrina será sempre um campo nobre de investigações humanas, como outros movimentos coletivos de natureza intelectual, que visam o aperfeiçoamento da humanidade. No espaço religioso todavia, repousa sua grandeza Divina, por constituir a restauração do Evangelho de Jesus Cristo, estabelecendo a renovação íntima do homem, para a grandeza do seu imenso futuro espiritual.”
***
No seu livro Libertação pelo Amor, Joanna de Angelis nos diz textualmente:“A Terra, generosa mãe, experimenta o clímax de sua transição de mundo de expiações e provas para mundo de regeneração.”
E no livro Jesus e Vida a autora espiritual nos afirma:“A melhor maneira de compartilhar conscientemente da grande transição é através da consciência de responsabilidade pessoal, realizando mudanças íntimas que se tornem próprias para a harmonia do conjunto.”
Então vemos que o homem precisa buscar a sua própria transformação, buscando harmonizar-se com a natureza e com o próximo para auxiliar e participar do processo de transição planetário.
Como a Doutrina Espírita pode auxiliar nesse processo?No cap. VI do E.S.E. o Espírito da Verdade nos recomenda: “Instruí-vos na preciosa doutrina que dissipa o erro das revoltas e vos ensina o objetivo sublime da prova humana.”
Ensina-nos o espiritismo que somos espíritos imortais, jornadeando por diversas encarnações, num processo evolutivo que nos traz da simplicidade e da ignorância e que nos levará a angelitude – condição de espíritos puros. Ensina-nos ainda que esse processo evolutivo é individual, mas que é fruto de nossas ações na nossa vida de relação.
Muitos hão de estranhar que o espiritismo não nos indique regras e diretrizes comportamentais rígidas, no dizer do Apóstolo Paulo:“Tudo me é lícito, mas nem tudo me convém.”
A compreensão do que nos convém ou não, faz parte do amadurecimento espiritual do ser, do aprendizado que vamos adquirindo com o resultado das nossas experiências vividas, onde construímos ou reformulamos nossos conceitos éticos que harmonizando-se com as leis divinas nos aproximam de Deus, levando-nos à nossa destinação mais rapidamente e com menos sofrimento ou se não harmonizam-se com as leis divinas, nos levam a experiências com resultados infelizes e dolorosos, soando como um alarme avisando que nos afastamos do caminho do Amor.
Conforme nos coloca Joanna de Angelis, é tempo de buscar a ESPIRITIZAÇÃO.
Espiritizar é buscar a interiorização do conhecimento espírita e a utilização desse conhecimento na nossa vida de relação.
A primeira lição que devemos aprender é que não basta identificarmos nossas imperfeições, mas que precisamos utilizar o conhecimento que adquirimos nos livros e mensagens que lemos, nas palestras e conferências que assistimos, nos estudos que participamos e nas informações que nos são trazidas pelos espíritos, para a nossa transformação moral, nossa reforma íntima. Principalmente que devemos utilizar todo esse conhecimento antes para nós mesmos que para os outros.
Perceber antes que seja tarde, a responsabilidade que já temos por termos a felicidade de conhecer um instrumento tão eficaz, tão esclarecedor e tão rico de informações, que tanto nos favorece.
Hoje em dia, os espíritas formam um grupo social de pressão, o conhecimento proporcionado pela Doutrina dos Espíritos esclarece de tal modo o porquê da vida, formatando um enfoque próprio e definido, que pessoas que professam outras crenças, ao observarem o comportamento de um indivíduo espírita, espera deste indivíduo um comportamento mais humanizado.
E é exatamente para isso que a doutrina espírita veio. Para instrumentalizar o homem para a sua reforma moral e auxiliá-lo nesse momento de transição, fortalecendo a sua identidade espiritual, revivendo os ensinamentos do Cristo, nos lembrando que seu Reino não é deste mundo, que estamos aqui numa curta passagem de tempo diante da eternidade que nos espera para visitarmos ainda outras moradas da casa do Pai.
Segundo Jaci Régis “Se não houver uma identificação capaz de dizer – esse é espírita, esse não é espírita – então o espiritismo não teria trazido contribuição alguma, e se diluiria, como uma seita a mais, uma forma particular de culto a fantasia religiosa.”
Não precisamos temer carregar a bandeira do espiritismo em nossas vidas, nos achando indignos dela, ou que ainda não somos capazes de vivenciar o Cristianismo Redivivo como a doutrina nos convoca a fazer. Lembremos que estamos todos em constante evolução e que a natureza não dá saltos. Temos a tendência de desejar transformações súbitas, nos esquecendo que para que uma semente germine e dê frutos é necessário primeiro limpar e arar o terreno, semear, cuidar da mudinha, cultivá-la para que possamos no tempo devido colher os seus frutos.
As sementes já nos foram ofertadas. As leis morais foram semeadas em nossa consciência desde o nosso princípio como Espíritos. Desde sempre temos a consciência de um ser supremo, criador de todas as coisas que sabemos não ser obra dos homens. Desde sempre também, nos foi plantado na consciência o conhecimento do bem e do mal. Há 2000 anos veio o Mestre Jesus plantar na Terra a árvore do seu Evangelho, e há 151 anos Kardec acolhe o Consolador prometido e planta na Terra a semente do Espiritismo para que nós, hoje, possamos nos beneficiar, alimentando nossos espíritos com um conhecimento tão sublime.
***
L. E. 918:Por que sinais se pode reconhecer num homem o progresso real que deve elevar seu espírito na hierarquia espiritual?O Espírito prova sua elevação quando todos os atos da sua vida corporal representam a prática da Lei de Deus e quando compreende antecipadamente a vida espiritual.
Tem o homem na Doutrina dos Espíritos toda instrumentalização tanto para reconhecer, relembrar, e internalizar o conhecimento da Lei de Deus, quanto para compreender antecipadamente a vida espiritual.
A Doutrina Espírita é a doutrina do livre-arbítrio, que conscientiza o homem que ele é o artífice do próprio destino, que não mais é do que o acúmulo de experiências no tempo e no espaço. Cabe ao homem da Terra a decisão de como deseja participar do processo de transição, pois a lei do progresso é inexorável e o progresso se dará “com os homens, sem os homens ou apesar dos homens”.
Abracemos o conhecimento espírita, busquemos através deste conhecimento melhor compreendermos e melhor vivenciarmos o Evangelho de Jesus que é todo Amor, e o Amor dispõe de recursos valiosos para enfrentarmos as situações penosas que agitam a Terra neste momento.
Convido a todos ao estudo da Doutrina Espírita, principalmente ao estudo das Leis Morais, parte terceira do L. E. a fim de que possamos ser agentes de transformação de nós mesmos e assim participarmos de modo consciente da grande transição que já se opera no globo terrestre nos levando a regeneração e construção do Reino do Céu, dentro e fora de nós.


Letícia Helena Silveira - O Mensageiro

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Não Perdoar

Bezerra de Menezes, já devotado à Doutrina Espírita, almoçava, certa feita, em casa de Quintino Bocaiúva, o grande republicano, e o assunto era o Espiritismo, pelo qual o distinto jornalista passara a interessar-se.
Em mio da conversa, aproxima-se um serviçal e comunica ao dono da casa:
- Doutor, o rapaz do acidente está aí com um policial.
Quintino, que fora surpreendido no gabinete de trabalho com um tiro de raspão, que, por pouco, não lhe atingiu a cabeça, estava indignado com o servidor que inadvertidamente fizera o disparo.
- Manda-o entrar – ordenou o político.
- Doutor – roga o moço preso, em lágrimas -, perdoe o meu erro! Sou pai de dois filhos... Compadeça-se! Não tinha qualquer má intenção... Se o senhor me processar, que será de mim? Sua desculpa me livrará! Prometo não mais brincar com armas de fogo! Mudarei de bairro, não incomodarei o senhor...
O notável político, cioso da própria tranqüilidade, respondeu:
- De modo algum. Mesmo que o seu ato tenha sido de mera imprudência, não ficará sem punição.
Percebendo que Bezerra se sentia mal, vendo-o assim encolerizado, considerou, à guisa de resposta indireta:
- Bezerra, eu não perdôo, definitivamente não perdôo...
Chamado nominalmente à questão, o amigo exclamou desapontado:
- Ah! você não perdoa!
Sentindo-se intimamente desaprovado, Quintino falou, irritado:
- Não perdôo erro. E você acha que estou fora do meu direito?
O Dr. Bezerra cruzou os braços com humildade e respondeu:
- Meu amigo, você tem plenamente o direito de não perdoar, contanto que você não erre...
A observação penetrou Quintino como um raio.
O grande político tomou um lenço, enxugou o suor que lhe caía em bagas, tornou à cor natural, e, após refletir alguns momentos, disse ao policial:
Solte o homem. O caso está liquidado.
E para o moço que mostrava profundo agradecimento:
- Volte ao serviço hoje mesmo, e ajude na copa.
Em seguida, lançou inteligente olhar para Bezerra, e continuou a conversação no ponto em que haviam ficado.
Chico Xavier e Waldo Vieira - Espírito Hilário Silva.

Seara de Ódio

- Não! Não te quero em meus braços! - dizia a jovem mãe, a quem a Lei do Senhor conferira a doce missão da maternidade, para o filho que lhe desabrochava do seio - não me furtarás a beleza! Significas trabalho, renúncia, sofrimento...
- Mãe, deixa-me viver!... Suplicava-lhe a criancinha no santuário da consciência - estamos juntos! Dá-me a bênção do corpo! Devo lutar e regenerar-me. Sorverei contigo a taça de suor e lágrimas, procurando redimir-me... Completar-nos-emos. Dá-me arrimo, dar-te-ei alegria. Serei o rebento de teu amor, tanto quanto serás para mim a árvore de luz, em cujos ramos tecerei o meu ninho de paz e de esperança...
- Não, não...
- Não me abandones!
- Expulsar-te-ei.
- Piedade mãe! Não vês que procedemos de longe, alma com alma, coração a coração?
- Que importa o passado? Vejo em ti tão-somente o intruso, cuja presença não pedi.
- Esqueces-te, mãe, de que Deus nos reúne? Não me cerres a porta!...
- Sou mulher e sou livre. Sufocar-te-ei antes do berço...
- Compadece-te de mim!...
- Não posso. Sou mocidade e prazer, és perturbação e obstáculo.
- Ajuda-me!
- Auxiliar-te seria cortar em minha própria carne. Disputo a minha felicidade e a minha leveza feminil...
- Mãe, ampara-me! Procuro o serviço de minha restauração...
Dia a dia, renovava-se o diálogo sem palavras, até que, quando a criança tentava vir à luz, disse-lhe a mãezinha cega e infortunada, constrangendo-a a beber o fel da frustração:
- Torna à sombra de onde vens! Morre! Morre!
- Mãe, mãe! Não me mates! Protege-me! Deixa-me viver...
- Nunca!
- Socorre-me!
- Não posso.
Duramente repelido, caiu o pobre filho nas trevas da revolta e, no anseio desesperado de preservar o corpo tenro, agarrou-se ao coração dela, que destrambelhou, à maneira de um relógio desconsertado...
Ambos, então, ao invés de continuarem na graça da vida, precipitaram-se no despenhadeiro da morte.
Desprovidos do invólucro carnal, projetaram-se no Espaço, gritando acusações recíprocas.
Achavam-se, porém, ligados um ao outro, pelas cadeias magnéticas de pesados compromissos, arrastando-se por muito tempo, detestando-se e recriminando-se mutuamente...
A sementeira de crueldade atraía a seara de ódio. E a seara de ódio lhes impunha nefasto desequilíbrio.
Anos e anos desdobraram-se, sombrios e inquietantes, para os dois, até que, um dia, caridoso Espírito de mulher recordou-se deles em preces de carinho e piedade, como a ofertar-lhes o próprio seio. Ambos responderam, famintos de consolo e renovação, aceitando o generoso abrigo...
Envolvidos pela caricia maternal, repousaram enfim.
Brando sono pacificou-lhes a mente dolorida.
Todavia, quando despertaram de novo na Terra, traziam o estigma do clamoroso débito em que se haviam reunido, reaparecendo, entre os homens, como duas almas apaixonadas pela carne, disputando o mesmo vaso físico, no triste fenômeno de um corpo único, sustentando duas cabeças.
Psicografia Chico Xavier - Espírito Irmão X

Resgate Pelo Exemplo

Queridos amigos! Muita pessoas procuram uma casa espírita para resolverem um problema particular, que vem afetando o seu dia a dia, atribuindo esses mesmos problemas aos espíritos.
Como pode uma pessoa obsediada pedir para amenizar seus sofrimentos, sem que Ela procure uma reforma íntima a qual vai servir de exemplo a quem a persegue? Não sabemos o que fizemos em vidas passadas, quer seja prejudicando nossos irmãos, ou até nesmo um grande número de pessoas. Se não procura-mos uma reforma íntima, vamos estar de acordo com a vibração do obsessor que vai continuar a nos atingir por causa da sintonia que materemos com Ele. Devemos compreender que a melhor maneira de educar é o exemplo.
A reforma íntima nos fará admitir erros pretéritos, orar pelos que nos persegue e a pedir perdão pelos nossos atos de ignorância cometidos tempos atrás. Dessa forma estamos contribuindo para que o obssessor também faça sua reforma íntima e passe a praticar a lei do amor.
Com isso estamos ganhando um amigo em vez de inimigo, pois a lei do amor é a que rege o mundo espiritual e o espírito em pauta deixará sua vingança para evoluir.
Finalizando, muitas pessoas obsediadas chegam ao centro espírita para que prenda o obssessor, afaste, faça qualquer coisa para se ver livre, mas na maioria das vezes quem deveria estar preso seria esta pessoa pelos seus erros pretéritos que não reconhece na vida presente.
Perdoar e reconhecer os erros é capaz de verdadeiros prodigios, resgata as pessoas de abismos e abre o seu coração para uma vida melhor, basta apenas tirar-mos o véu do orgulho do nosso coração, que nos leva sempre ao sofrimento e entender que a linguagem dos bem aventurados se chama: AMOR.
Muita Paz em Cristo!
Antonio Carlos Laranjeira Miranda 14.08.09

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

A Grande Escolha!

Prezados Irmãos em Cristo! Há momentos em nossas vidas que temos que tomar decisões para que não fiquemos em cima do muro,como diz velho ditado.Devemos buscar a Deus seguindo os ensinamentos de Jesus e fazer uma escolha coerente da nossa crença religiosa. O Espiritismo é a terceira revelação prometida por Jesus, que não podendo revelar tudo ao povo que não tinha maturidade para compreender na íntegra os seus ensinamentos,prometeu um consolador que viria lembrar e esclarecer tudo que Ele havia dito. Esse consolador se chamou Allan Kardec, este espírito de luz que veio trazer a mensagem através de vários estudos e pesquisas do espírito e verdade.
Hoje em dia, há pessoas movidas pela crença do temor, do castigo etc. Isto é uma prática que funciona como lavagem cerebral, que fazem as pessoas fecharem seus olhos para a lógica da fé raciocinada. Se raciocinamos, veremos que esse temor não tem fundamento, pois o Espiritismo busca sempre a verdade dos ensinamentos de Jesus, e Ele é amor, bondade, justiça,e não um carrasco ou torturador. Devemos temer sim,as nossas escolhas erradas, elas sim nos trarão consequencias e não um Pai de amor sublime e soberano como Jesus.
Esse temor que é religião do "satanás", é coisa de gente preconceituosa, que tem medo de encarar a realidade através de fé cega. Vamos raciocinar: Se o Espiritismo prega Fora da Caridade não há salvação, isto é amar a Deus sobre todas as coisa e ao próximo como a si mesmo, é sinal de que será preciso mudar o conceito de "satanás". Muitas vezes a falta de conhecimento leva as pessoas a cometerem atos impensados.
O segredo da felicidade é conhecer e praticar o evangelho de Jesus, que só assim alcançaremos nossa elevação espiritual.
Então prezados irmãos, vamos dar as mãos e trabalhar na seara do senhor com amor e coragem.
E tenhamos certeza que o grande reencontro se dará e um dia haveremos de habitar a casa dos bem aventurados. Louvado seja Jesus Cristo! Muita Paz,
Antonio Carlos Laranjeira Miranda 13.08.09.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

CÉLULAS TRONCO E O ESPIRITISMO

Plínio Mariano do Nascimento
A FECUNDAÇÃO
Uma criança é formada a partir da união de uma célula reprodutora da mãe (o óvulo) e uma célula reprodutora do pai (o espermatozóide). Quando um espermatozóide se une ao óvulo, forma-se a célula inicial de um novo ser. Esta célula é denominada ovo (ou zigoto) e se divide muitas vezes, originando outras células que, por fim, formam o embrião, e de seu desenvolvimento resulta o feto.
As células reprodutoras são formadas em órgãos especiais: os ovários, na mulher, e os testículos, no homem. Estas células reprodutoras, ao contrário das demais células do organismo, têm 23 cromossomas diferentes (um de cada par). Após a união do óvulo com o espermatozóide, a célula formada terá os 46 cromossomas da espécie humana.
Os cromossomas são longas seqüências de DNA (da sigla em inglês para o ácido desoxiribonucleico) que contém os genes. Estes últimos são os responsáveis pela transmissão das características físicas do indivíduo formado.
O óvulo (a célula reprodutora feminina) ao ser penetrado pelo espermatozóide (a célula reprodutora masculina) gera a célula denominada ovo e o processo é denominado fecundação ou fertilização. Na atualidade, a fecundação pode ser produzida em laboratório e a célula-ovo obtida pode ser implantada em um útero, com a finalidade de desenvolver a gravidez ou pode, simplesmente, ser congelada para uma eventual gravidez futura. Essas células -ovo ou os blastócitos gerados e congelados que os pesquisadores desejam utilizar, constituem as “sobras” que os casais em busca do auxílio da fertilização assistida, deixam nos laboratórios. Esses blastócitos, via de regra, não são utilizados e são destinados ao descarte.
O ovo constitui a primeira célula-tronco, ou seja, uma célula com capacidade de formar qualquer célula existente no ser completamente formado. Essa célula-tronco inicial se divide em duas, que se dividem em quatro, que se dividem em oito e assim sucessivamente até formar um conjunto de células que constitui o blastocisto. As células dos blastocistos são as células-tronco embrionárias, que tem motivado tanta discussão ultimamente, á luz da ética e dogmas religiosos.
CONSIDERAÇÕES DOUTRINÁRIAS
Não há referências ao uso experimental ou terapêutico das célulastronco nos textos e nas comunicações que se referem à Doutrina Espírita.
Desse modo, o exame do tema pelos seus adeptos, à luz dos ensinamentos doutrinários espíritas, apenas pode ser feito por analogias ou inferências. Essas, entretanto, são passíveis das interpretações imperfeitas a que estamos sujeitos, devido ao estágio de desenvolvimento em que nos encontramos. Nas obras que constituem os alicerces da Doutrina Espírita, O Livro dos Espíritos trata da vida, da reencarnação e das suas relações com a fecundação natural.
Examinando as questões 344, 358 e 880 de O Livro dos Espíritos, vemos que Kardec recebeu claros conceitos sobre a vida humana e suas origens:
Pergunta 344 (LE) - Em que momento a alma se une ao corpo?
R. “A união começa na concepção, mas só é completada por ocasião do nascimento. Desde o instante da concepção, o Espírito designado para habitar certo corpo a este se liga por um laço fluídico, que cada vez mais se vai apertando até o instante em que a criança vê a luz. O grito que o recém nascido solta anuncia que ela se conta no mundo dos vivos e servos de Deus”.
Pergunta 358 (LE) – Constitui crime a provocação do aborto, em qualquer período da gestação?
R. “Há crime sempre que transgredis a lei de Deus. A mãe, ou quem quer que seja, cometerá crime sempre que tirar a vida a uma criança antes do seu nascimento, por isso que impede uma alma de passar pelas provas a que serviria de instrumento o corpo que se estava formando”.
Pergunta 880 (LE) – Qual o primeiro de todos os direitos naturais do homem?
R. “O de viver. Por isso é que ninguém tem o direito de atentar contra a vida de seu semelhante, nem de fazer o que quer que possa comprometer-lhe a existência corporal”.
Ainda segundo a doutrina espírita, a paternidade e a maternidade são sempre decorrentes de vínculos pretéritos; o triângulo constituído por pai, mãe e filho resulta de uma continuidade necessária para todos os envolvidos na nova constelação familiar, onde, também, irmãos e parentes próximos são normalmente ligações de encarnações anteriores. A reencarnação é presidida por Espíritos Superiores que auxiliam o Espírito reencarnante nas escolhas dos pais e das eventuais provas a que deverá submeter-se ou das eventuais expiações que deverá sofrer.
A fecundação artificial, produzida pela fusão de um óvulo e um espermatozóide no ambiente de laboratório, com a finalidade imediata de congelamento e preservação, representa uma tecnologia nova, inexistente à época de Kardec. Esse fato permite supor que as perguntas formuladas em “O Livro dos Espíritos” referem-se especificamente à fecundação natural, única possível à época em que a Doutrina Espírita foi codificada.
Sabedores da intenção de imediato congelamento e preservação por tempo indeterminado da célula-ovo, é possível supor que os Espíritos Superiores não tenham contribuído para a programação reencarnatória em um blastocisto não destinado ao implante em um útero materno. Entretanto, esse argumento tem apenas um caráter especulativo.
Outros argumentos devem ser lembrados nessa discussão, como o desígnio de Deus, de que seus filhos permaneçam sadios e progridam em sua caminhada de aperfeiçoamento moral e espiritual, até alcançar o amor pleno e absoluto. Além disso, como os Espíritos Superiores nos tem asseverado, o conhecimento científico só é revelado ao Homem quando este se encontra em condições de compreendê-lo e utilizá-lo corretamente, em benefício da humanidade.
A convergência e a fusão entre a ciência e a doutrina espírita são inevitáveis e o processo teve início há bastante tempo. Entretanto, nas últimas décadas, tem acelerado seu ritmo inexorável. Não é improvável que o uso terapêutico das células tronco seja um dos pontos dessa convergência. As células (óvulo e espermatozóide) utilizadas para a fecundação artificial são produtos de doação e, sem dúvida, representam incomparáveis e sublimes gestos de amor ao próximo.
A ciência e a sociedade humana se defrontam com a necessidade de estabelecer se a fecundação ocorrida em um laboratório pela fusão de células reprodutoras doadas (óvulos e espermatozóides) para o congelamento da célula-ovo resultante, sob nossa ótica, representa o início de uma nova vida ou representa uma esperança de cura para doenças incapacitantes ou fatais.
Avaliado sob esse aspecto, talvez seja lícito considerar que o uso terapêutico das células-tronco destinadas ao descarte, após anos de criopreservação, pode ser analisado de um modo distinto e particular, não encontrando similitude em nenhuma forma de aborto.
Como tem ocorrido com os mais importantes progressos da ciência, Espíritos Superiores, através de médiuns de elevada reputação, oportunamente farão divulgar seus comentários que deverão ser entendidos como acréscimos doutrinários capazes de dirimir as dúvidas ainda existentes. Joanna de Angelis, em sua magistral obra “Dias Gloriosos” nos ensina: - Não obstante as incomparáveis realizações da ciência e da tecnologia, continuam desafiadores inumeráveis outros quesitos que aguardam solução nos laboratórios. ... Em outro trecho, Joanna refere: - “Lentamente, mesmo sem dar-se conta, os cientistas se tornam sacerdotes do Espírito e avançam corajosamente ao encontro de Deus e das Suas Leis, que vigem em toda parte.”
Esperamos que em um futuro não muito distante tenhamos soluções definitivas, capazes de atender a todos os interesses envolvidos, especialmente daqueles que, em suas cadeiras de rodas, anseiam por uma injeção de células capazes de devolver lhes os movimentos e a vida normal a que podem ter direito.
Somos favoráveis ao emprego das células-tronco adultas (removidas dos próprios pacientes) por não constituírem qualquer ofensa à moralidade, aos costumes, à lei ou à Doutrina Espírita. Somos também favoráveis ao uso científico das células-tronco dos blastocistos ou dos embriões criocongelados e abandonados pelos doadores, cujo destino final será o descarte e destruição. Não acreditamos que a espiritualidade superior, elevada a esse estado pelo sublime desenvolvimento do amor ao próximo, permita qualquer programação reencarnatória em um embrião destinado ao aprisionamento por anos, mediante os processos de congelamento e preservação artificiais, sem perspectivas de gerar um corpo físico.
Não se pretende criar a vida nos laboratórios. A ciência busca utilizar o conhecimento de algumas das forças criadoras de vida com o elevado intuito de amenizar o sofrimento de milhões de irmãos, cuja existência terrena é abalada pela presença de doenças graves e incuráveis. Além disso, o merecimento, apesar de todos os esforços que a ciência contemporânea possa empreender, jamais poderá ser modificado, porque faz parte da lei natural.
Fontes de Pesquisa:
Elias, Decio O. e Souza, Maria Helena L. As células-tronco e a bioética espírita
Luiz, André. Missionários da Luz, Psicografado por Francisco Cândido Xavier.
Zats, M. Clonagem e células-tronco. Estudos Avançados. 2004.
Zats, M. Biossegurança. Saiba mais sobre o assunto. Publicação do Senado Federal do Brasil, 2005.
Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos. Ed. Petit, Paris, 1857.
Kardec, Allan. A Gênese. Ed. Petit, Paris, 1868.
De Angelis, Joana. Dias Gloriosos. Psicografado por Divaldo Franco.

A AÇÃO ESPÍRITA NA TRANSFORMAÇÃO DO MUNDO

Três são os elementos fundamentais de que o Espiritismo se serve para transformar o nosso mundo num mundo melhor e mais belo:
a) Amor,
b) Trabalho,
c) Solidariedade.
1 - O AMOR abrange a compreensão e a tolerância, pois quem ama compreende o ser amado e sabe tolerá-lo em todas as circunstâncias. Abrange também a Verdade, pois quem ama sabe que o alvo supremo do Amor é a Verdade. Ninguém ama a mentira, pois mesmo os mentirosos apenas a suportam na falta da verdade.
O amor egoísta do homem por si mesmo expande-se no desenvolvimento psicobiológico como, segundo já vimos, em amor altruísta, amor pelos outros, a partir do núcleo familial até à Sociedade, à Pátria e à Humanidade.
Alguns espíritas dizem que os espíritas não têm pátria, pois sabem que todos podem renascer em várias nações. Isso é uma incongruência, pois então não poderíamos também amar pai e mãe, que variam nas encarnações sucessivas.
O Amor não tem limites, mas nós, os homens, somos criaturas limitadas e estamos condicionados, em cada existência, pelas limitações da condição humana. Amamos de maneira especial aqueles que estão ligados a nós nesta vida ou se ligaram a nós em vidas anteriores. Amamos a todos os seres e a todas as coisas na proporção do nosso alcance mental de compreensão da realidade.
E amamos a nossa Terra, o pedaço do mundo em que nascemos e vivemos e a parte populacional a que pertencemos, no recorte da população mundial que corresponde à população da nossa terra. E amamos os que estão além da Terra, nas zonas planetárias espirituais, como amamos, por intuição mental e afetiva, a todos os seres e coisas de todo o Universo.
O ilimitado do Amor se impõe aos limites temporários da nossa condição imediata. E é esse o nosso primeiro degrau para a transcendência espiritual. Na proporção em que a nossa capacidade infinita de amar se concretiza na realidade afetiva (nascida dos sentimentos profundos e verdadeiros do amor) sentimo-nos elevados a planos superiores de afetividade intelecto-moral, respeitando progressivamente todas as expressões da vida e da beleza em todo o Universo.
O Amor não é gosto, nem preferência, nem desejo — é afeição, ou seja, afetividade em ação, fluxo permanente de vibrações espirituais do ser que se expandem em todas as direções da realidade. Foi por isso que Francisco de Assis amou com a mesma ternura e o mesmo afeto, chamando-os de irmãos, aos minerais, aos vegetais, aos animais, aos homens e aos astros no Infinito.
As ondas do Amor atingem a todas as distâncias, elevações e profundidades, não podendo ser medidas, como fazemos com as ondas hertzianas do rádio. Depois de ultrapassar os limites possíveis da Criação, o Amor atinge o seu alvo principal, que é Deus, e Nele se transfunde.
O Espiritismo aprofunda o conhecimento da Realidade Universal e não pretende modificar o Mundo em que vivemos através de mudanças superficiais de estruturas. Essa é a posição dos homens diante dos desequilíbrios e injustiças sociais. Mas o homem-espírita vê mais longe e mais fundo, buscando as causas dos efeitos visíveis.
Se quisermos apagar uma lâmpada elétrica não adianta assoprá-la, é necessário apertar a chave que detém o fluxo de eletricidade. Se quisermos mudar a Sociedade, não adianta modificar a sua estrutura feita pelos homens, mas modificar os homens que modificam as estruturas sociais.
O homem egoísta produz o mundo egoísta, o homem altruísta produzirá o mundo generoso, bom e belo que todos desejamos. Não podemos fazer um bom plantio com más sementes. Temos de melhorar as sementes.
As relações humanas se baseiam na afetividade humana. Não há afetos entre corações insensíveis. Por isso a dor campeia no mundo, pois só ela pode abalar os corações de pedra. Mas o Espiritismo nos mostra que o coração de pedra é duro por falta de compreensão da realidade, de tradições negativas que o homem desenvolveu em tempos selvagens e brutais.
Essas relações se modificam quando oferecemos aos homens uma visão mais humana e mais lógica da Realidade universal. Essa visão não tem sido apresentada pelos espíritos que, na sua maioria, se deixem levar apenas pelo aspecto religioso da doutrina, assim mesmo deformado pela influência de formações religiosas anteriores.
Precisamos restabelecer a visão espírita em sua inteireza, afastando os resíduos de um passado de ilusões e mentiras prejudiciais. Se compreenderem a necessidade urgente de se aprofundarem no conhecimento da doutrina, de maneira a fornecerem uma sólida e esclarecida doutrina espírita, poderão realmente contribuir para a modificação do mundo em que vivemos.
Gerações e gerações de espíritas passaram pela Terra, de Kardec até hoje, sem terem obtido sequer um laivo de educação espírita, de formação doutrinária sistemática. Aprenderam apenas alguns hábitos espíritas. Ouviram aulas inócuas de catecismo igrejeiro, tornaram-se, às vezes, ardorosos na adolescência e na juventude (porque o Espiritismo é oposição a tudo quanto de envelhecido e caduco existe no mundo), mas ao se defrontarem com a cultura universitária incluíram a doutrina no rol das coisas peremptas por não terem a menor visão da sua grandeza.
Pais ignorantes e filhos ignorantes, na sucessão das encarnações inúteis, nada mais fizeram do que transformar a grande doutrina numa seita de papalvos. Duras são e têm de ser as palavras, porque ineptas e criminosos foram as ações condenadas.
A preguiça mental de ler e pensar, a pretensão de saber tudo por intuição, de receber dos guias a verdade feita, o brilhareco inútil e vaidoso dos tribunos, as mistificações aceitas de mão beijada como bênçãos divinas e assim por diante, num rol infindável de tolices e burrices fizeram do movimento doutrinário um charco de crendices que impediu a volta prevista de Kardec para continuar seu trabalho.
Em compensação, surgiram os reformadores e adulterados, as mistificações deslumbrantes e vazias e até mesmo as séries ridículas de reencarnações do mestre por contraditores incultos de suas mais valiosas afirmações doutrinárias.
Este amargo panorama afastou do meio espírita muitas criaturas dotadas de excelentes condições para ajudarem o movimento a se organizar num plano superior de cultura. Isso é tanto mais grave quanto o nosso tempo que não justifica o que aconteceu com o Cristianismo deformado totalmente num tempo de ignorância e atraso cultural.
Pelo contrário, o Espiritismo surgiu numa fase de acelerado desenvolvimento cultural e espiritual, em que os espíritas contaram e contam com os maiores recursos de conhecimento e progresso de que a humanidade terrena já dispôs.
Todos os grandes esforços culturais em favor da doutrina foram negligenciados e continuam a sê-lo pela grande maioria dos espíritas de caramujo, que se encolhem em suas carapaças e em seus redutos fantásticos.
Falta o amor pela doutrina, de que falava Urbano de Assis Xavier: falta o amor pelos companheiros que se dedicam é seara com abnegação de si mesmos e de suas próprias condições profissionais e intelectuais; falta o amor pelo povo faminto de esclarecimentos precisos e seguros; falta o amor pela Verdade, que continua sufocada pelas mentiras das trevas.
Os médiuns de grandes possibilidades se vêem cercados de multidões interesseiras, que os levam quase sempre ao fracasso ou ao esgotamento precoce. Só os interessados os procuram: os que pretendem aproveitar suas produções em proveito próprio; os que desejam apenas dizer-se íntimos do médium; os que procuram consolação passageira em sua presença; os que buscam sugar-lhes os benefícios fluídicos e assim por diante. Os próprios médiuns acabam muitas vezes entregando-se ao desânimo e desviando-se para outros campos de atividade onde, pelo menos, poderio gozar de convivências menos penosas.
A exploração inconsciente e consciente dos médiuns pelos próprios adeptos da doutrina é um dos fatores mais negativos para o desenvolvimento do Espiritismo em nosso país e no mundo. A contribuição que eles poderiam dar para a execução das metas doutrinárias perde-se na miudalha das consultas pessoais e nas mensagens cotidianas de sentido religioso-confessional, mais tocadas de emoção embaladora do que de raciocínio e esclarecimento.
E isso o que todos pedem, como crianças choramingas acostumadas a dormir ao embalo das cantigas de ninar. Até mesmo um médium como Arigó, dotado de temperamento agressivo como João Batista e assistido por uma entidade positiva como Fritz, acabou envolvido numa rede de interesses contraditórios que o envolveram através de manobras que o aturdiram, misturadas a calúnias e campanhas difamatórias que o levaram, na sua ignorância do roceiro inculto, a precipitar-se, sem querer, na sua destruição precoce.
As grandes teses da Doutrina Espírita não foram suficientes para mobilizar os espíritas em favor do médium, resguardando-o e facilitando, pelo menos, a investigação dos cientistas norte-americanos, de diversas Universidades e da NASA, que tentaram desesperadamente colocar o problema em termos de equação científica.
O que devia ter sido uma vitória da Verdade em plano universal, reverteu-se em mesquinho episódio de disputas profissionais acirradas por clérigos e médicos de visão rasteira. E tudo isso por que estranho motivo. Porque os espíritas não foram capazes de sair de suas tocas, empunhando as armas poderosas da doutrina, para enfrentar o conluio miserável das ambições absorventes e vorazes?
Cada espírita, ao aceitar e compreender a grandeza da causa doutrinária e sua finalidade suprema — que é a transformação moral, social, cultural e espiritual do nosso mundo — assume um grave compromisso com a sua própria consciência. O aparecimento de um médium como Chico Xavier ou Arigó não tem mais o sentido restrito do aparecimento de uma pitonisa ou um oráculo no passado, mas o do aparecimento de um João Batista ou de um Cristo na fase crítica da queda do mundo clássico greco-romano, da trágica agonia da civilização mitológica.
Mas após um século da semeadura evangélica, na hora certa e precisa da colheita, vemos de novo o povo eleito enrolado em intrigas na Porta do Monturo, enquanto os romanos crucificam entre ladrões os que se imolaram em reencarnações providenciais.
Essa mentalidade de corujas agoureiras, e troianos que não ouvem Cassandra, decorre do egoísmo (essa lepra do coração humano, segundo a expressão Kardeciana) do comodismo e da preguiça mental. A falta de estudo sério e sistemático da doutrina, que permite a infiltração de elementos estranhos no corpo doutrinário, causando-lhe deformações rebarbativas e fantasiada de novidades, avilta a consciência espírita com a marca de Caim nos grupos de traidores.
Esses traidores não traem apenas a doutrina, ao Cristo e a Kardec, mas também à Humanidade e ao Futuro. Onde fica o principio do Amor em tudo isso? Quem revelou amor à Verdade? Quem provou amar e respeitar a doutrina? Quem mostrou amar ao seu semelhante e por isso querer realmente ajudá-lo, orientá-lo, esclarecê-lo?
A esse fim superior sobrepõe-se o interesse falso e mesquinho de fazer bonito aos olhos que necessitam de luz, bancar saberetas para os que nada sabem, impor a criaturas ingênuas a sua maneira mentirosa de ver o ensino puro e claro de Kardec.
O amor não está nos que se acumpliciam, se comprometem reciprocamente na trapaça, enleando-se na solidariedade da profanação consciente ou inconsciente. O amor está nos que repelem a farsa e condenam o gesto egoísta dos escamoteadores da verdade em proveito próprio, levando multidões ingênuas e desprevenidas à deturpação da doutrina esclarecedora.
O amor, nesse caso, pode parecer impiedade, mas é piedade, pode assemelhar-se à injúria e agressão, mas é socorro e salvação. As condenações violentas de Jesus a escribas e fariseus não foram ditadas pelo ódio, mas pela indignação justa, necessária, indispensável do Mestre, que sacudia aquelas almas impuras para livrá-las da impureza com que aviltavam o simples.
Quem não tiver condições para compreender isso deve ter pelo menos a humildade de André Luiz, o médico lançado às zonas umbralinas, de contentar-se com trabalhos de limpeza e lavagem nos hospitais dos planos superiores para aprender a grandeza da humildade, a nobreza dos pequeninos, ao invés de rebelar-se contra as leis divinas da busca da Verdade.
Nosso movimento espírita, como todo o negro panorama religioso da Terra, está cheio de ignorantes revestidos ou não de graus universitários, que se julgam mestres iluminados e são apenas os cegos do Evangelho que levam outros cegos ao barranco. Impedi-los de cometer esse crime de vaidade afrontosa é o dever dos que sabem realmente amar e servir. "Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas!" advertiu Jesus, não para condená-los ao fogo do inferno, mas para salvá-los do inferno de si mesmos.

2 — O TRABALHO é exigência do princípio de transcendência. O homem trabalha por necessidade, como querem os teóricos da Dialética Materialista, mas não apenas para suprir as suas necessidades físicas de subsistência e sobrevivência. Não só, como querem os teóricos da vontade de potência, para adquirir poder.
E nem só, também, como pretendem Bentham e os teóricos da ambição, para acumular posses que representam poder. A busca das causas, nesse campo, morreria no plano das causas secundárias.
Mas a Filosofia Existencial, em nosso tempo, descobrindo o conceito de existência e definindo o homem como o existente (aquele ser que existe, sabe que existe e luta para existir cada vez mais e melhor), mostrou e provou que a natureza humana é subjetiva e não objetiva (extrema e material) e que a mola do mundo não está nos braços e nas mãos, mas na consciência.
Confirmou-se assim, no plano geral da Cultura, o tantas vezes rejeitado e ridicularizado conceito espírita do trabalho. No Livro dos Espíritos temos a afirmação de que tudo trabalha na Natureza. Essa tese espírita antecipou a tese de John Dewey sobre a natureza universal da experiência.
Em todo o Universo há forças em ação, inteligentemente dirigidas segundo planos determinados. Nada se fez ao acaso. Em termos atuais de eletrônica podemos dizer que o universo que é uma programação gigantesca de computadores em incessante atividade rigorosamente controlada.
De um grão de areia a uma constelação estelar, de um fio de cabelo e de um vírus isolado até às maiores aglomerações humanas dos grandes parques industriais do mundo, tudo trabalha. O próprio repouso é uma forma de diversificação do trabalho para recuperações e reajustes nos organismos materiais e nas estruturas psicomentais do homem.
As criaturas humanas que só trabalham para si mesmas ainda não superaram a condição animal. Vivem e trabalham, mas não existem. Porque existir é uma forma superior de viver, que inclui em seu conceito plena consciência das atividades desenvolvidas com finalidade transcendentes.
No próprio desenvolvimento da Civilização o trabalho individual se abre, progressivamente, nos processos de distribuição, para o plano superior do trabalho coletivo. Por isso, é no trabalho e através do trabalho que o homem se realiza como ser, desenvolvendo suas potencialidades.
A extrema especialização da Era Tecnológica nasceu nas selvas, quando dos primeiros dás o homem se incumbiu da guerra, da caça e da pesca, e a mulher da criação, alimentação e orientação dos filhos. A Revolução Industrial na Inglaterra marcou um momento decisivo da evolução humana para a consciência da solidariedade.
É no esforço comum e conjugado das relações de trabalho que se desenvolve o senso da comunidade, provando a necessidade do principio espírita de solidariedade e tolerância para o maior rendimento, maior estimulo e maior aperfeiçoamento das técnicas de produção.
A concorrência de mercado, que estimula a ganância e a voracidade dos indivíduos e dos grupos, das empresas e dos sistemas de produção, opõe-se a conjugação das consciências, na solidariedade do trabalho comum, com vistas ao bem-estar de todos.
Os teóricos que condenam as comunidades de trabalho voltadas para o interesse da maioria reduzem a finalidade superior do trabalho a interesses mesquinhos de enriquecimento individual e de grupos. A própria realidade os contesta com o espetáculo gigantesco do trabalho da Natureza, voltado para a grandeza do todo.
Remy Chauvin considera os insetos sociais como expressões de sistemas coletivos de trabalho e de vida em que o egoísmo individualista e grupal (sociocentrismo) não impediu o desenvolvimento normal da solidariedade. A Natureza inteira é um exemplo que o homem rejeita em nome de seu egoísmo, da sua vaidade e das suas ambições desmedidas.
Esses três elementos funcionaram na espécie humana como pontos hipnóticos que impediram o livre fluxo das energias livres do trabalho, condensando-as em formas institucionais absorventes. As tentativas de romper essas formas por métodos violentos representam uma reação instintiva que leva fatalmente, como o demonstra o panorama histórico atual, a novas formas de condensação.
Esse círculo vicioso só pode ser rompido por uma profunda e geral compreensão do verdadeiro sentido do trabalho, que não leva a lutas e dissensões, mas à conjugação e harmonização de todas as fontes e todos os recursos do trabalho, nos mais diferenciados setores de atividade.
A proposição espírita nesse sentido, como foi em seu tempo a proposição cristã original, encarna os mais altos ideais da espécie, voltados para o trabalho comunitário em ação e fins.
Hegel observou, em seus estudos de Estética, que a dialética do trabalho se revela nos remos da Natureza. O mineral é a matéria-prima das elaborações futuras, apresentando-se como concentração de energias que formam as reservas básicas; o vegetal é a doação em que as forças do mineral se abrem para a floração e os frutos da vida; o animal é a vida em expansão dinâmica, síntese das elaborações dos dois reinos anteriores, endereçando esses resultados ao futuro, à síntese superior do Homem, no qual as contradições se resolvem na harmonia psicofísica e espiritual da criatura humana, dotada de consciência.
Cabe agora a essa consciência elaborar a grandeza da Terra dos Homens (segundo a expressão de Saint-Exupéry). Por sinal que Exupéry, aviador, poeta e profeta, representa o arquétipo atual da evolução humana, na busca do Infinito. Por isso, Simone de Beauvoir considerou a Humanidade, não como a espécie a que nos referimos por alegoria com os planos inferiores, mas como um devir, um processo de mutações constantes na direção do futuro.
Hoje somos ainda projeções dos primatas obtusos e violentos, antropófagos (segundo Tagore) devoradores de si mesmos e dos semelhantes, escameadores e aviltadores da condição humana. Mas amanhã seremos homens, criaturas humanas que encarnarão as forças naturais sob o domínio da Razão e da Consciência. Teremos então a República dos Espíritos, formada pela solidariedade de consciências de que trata René Hubert em sua "Pedagogia Generale".
Como vemos através desses dados, a Doutrina Espírita não nos oferece uma visão utópica do amanhã, mas uma precognição do homem em sua condição espiritual, sem as deformações teológicas e religiosas da visão comum, calcada em superstições e idealizações rebarbativas.
Tendo penetrado objetivamente no mundo das causas, um século antes que as Ciências Materiais o fizessem, a Ciência Espírita, experimental e indutiva — e que tem agora todos os seus princípios fundamentais endossados por aquelas, em pesquisas de laboratório e tecnológicas — não formulou uma estrutura dogmática de pressupostos para figurar o homem de após a morte e o homem do futuro.
A imagem que nos deu do homem novo há um século está hoje plenamente confirmada pelos fatos. A controvertida questão da sobrevivência espiritual foi resolvida tecnologicamente de maneira positiva, comprovando a tese espírita.
Falta pouco para romper-se, nas mãos já trêmulas dos teólogos, a Túnica de Nessus da dogmática religiosa, que gerou por toda a parte angústias e desesperos. Estamos agora em condições de pensar tranqüilamente num futuro melhor para a Humanidade em fases melhores da sua evolução. Podemos agora nos integrar conscientemente na gigantesca oficina de trabalhos da Terra, preparando o caminho das gerações vindouras.
As revelações não nos chegam mais de mão beijada, pois, como ensina Kardec, brotam dos esforços conjugados do homem esclarecido com os espíritos conscientes. Os dois mundos em que nos movemos, o espiritual e o material, abriram as suas comportas para que as suas águas se encontrem no esplendor de uma nova aurora.
E o Sol que acende essa aurora não é mais uma chama solitária na escuridão total dos espaços vazios, mas apenas uma tocha olímpica entre milhões de tochas que balizam as conquistas futuras do homem na escalada sem fim.
Prometeu não será mais sacrificado por querer roubar o fogo celeste de Zeus, pois esse fogo é o mesmo que resplandece no corpo espiritual da ressurreição, que brilha na alma humana e define a sua natureza divina.
Basta-nos continuar em nossos trabalhos para termos a nossa parte assegurada na Herança de Deus, pois como ensinou o Apóstolo Paulo, somos herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo.
O conhecimento é a nossa fé, que não se funda em palavras, sacramentos e Ídolos mortos, mas na certeza das verificações positivas e nas conquistas do trabalho humano, gerador constante de novas formas de energia para a escalada humana da transcendência.

3 - A SOLIDARIEDADE ESPÍRITA se manifesta particularmente no campo da assistência à pobreza, aos doentes e desvalidos. O grande impulso nesse sentido foi dado1 desde o início do movimento doutrinário da França, pelo livro "O Evangelho Segundo o Espiritismo", de Allan Kardec, que trabalhou em silêncio na elaboração dessa obra, sem nada dizer a ninguém. Selecionou numerosas mensagens psicografadas, procedentes de diversos países em que o Espiritismo já florescia. Sua intenção era oferecer aos espíritas um roteiro para a prática religiosa, baseado no que ele chamava de essência do ensino moral do Cristo.
Conhecendo profundamente a História do Cristianismo e as dificuldades com que os originais do Evangelho haviam sido escritos, em épocas e locais diferentes, bem como o problema dos evangelhos apócrifos e das interferências mitológicas nos textos canônicos e as interpolações ocorridas nestes, afastou todos esses elementos espúrios para oferecer aos espíritas uma obra pura, despojada de todos os acessórios comprometedores.
Seu trabalho solitário e abnegado deu-nos uma obra-prima, que conta com milhões de exemplares incessantemente reeditados no mundo. Essa obra foi ameaçada com a tentativa de adulteração. Foi o maior atentado que a obra de Kardec já sofreu no mundo, pior que a queima de seus livros em Barcelona pela Inquisição Espanhola.
Muito pior, porque foi um atentado provindo dos próprios espíritas, através de uma instituição doutrinária que tem, por obrigação estatutária, defender, preservar e divulgar a Doutrina Espírita codificada por Kardec. A conseqüência mais grave desse fato lamentável foi a quebra da solidariedade espírita, a desconfiança e a mágoa provocadas entre velhos companheiros.
O ataque das Trevas à vaidade e à ignorância de alguns espíritas invigilantes produziu os efeitos necessários. Sirva o exemplo doloroso para todos os que assumem encargos doutrinários, julgando receber prebendas e consagração. A vaidade excitada leva monges de pedra a se julgarem poderosos na aridez e na solidão dos desertos.
A solidariedade espírita não é apenas interna, entre os adeptos e companheiros. Projeta-se pelo menos em três dimensões:
a) no plano social geral da comunidade espírita, além dos grupinhos domésticos e das instituições fechadas;
b) envolve todas as criaturas vivas, protegendo-as, amparando-as, estimulando-as em suas lutas pela transcendência, procurando ajudá-las sem nada pedir em troca, nem mesmo a simpatia doutrinária, pois quem ajuda não tem o direito de impor coisa alguma;
c) eleva-se aos planos superiores para ligar-se a Kardec e sua obra, a todos os espíritos esclarecidos que lutam pela propagação do Espiritismo no mundo e a Deus e a Jesus na Solidariedade cósmica dos mundos solidários.

Nessas três dimensões a Solidariedade Espírita realiza, como que apoiada em três poderosas alavancas, o esforço supremo de elevação do mundo, estimulando a transcendência humana.
As mentes que ainda não atingiram a compreensão desse processo podem fechar-se em grupos e instituições de tipo igrejeiro, isolando-se em seus ambientes de furna, onde os espíritos mistificadores e embusteiros se acoitam facilmente.
Mas na proporção em que os adeptos assim isolados, ou pelo menos alguns deles, procurarem realmente compreender a doutrina, a situação se modificará, despertando os indolentes para atividades maiores.
Todo trabalho espírita é exigente e penoso, porque faz parte de uma grande batalha — a da Redenção do Mundo, iniciada pelo jovem carpinteiro Jesus, filho de Maria e José.
Essa batalha não é a de Deus contra o Diabo, o estranho anjo de luz que se revoltou para fundar o inferno. Essa ingênua concepção das civilizações agrárias e pastoris teve o seu tempo e sua função, o seu efeito de controle em fases de barbárie, mas não passa de uma alegoria inadequada ao nosso tempo.
Tudo no Evangelho, como Kardec demonstrou, desde que afastado do clima mitológico, torna-se claro e demonstra a posição evidentemente racional do Cristo.
O jovem carpinteiro não pertencia à Era Mitológica e encerrou essa era com a sua passagem pela Terra e a propagado seu ensino. O mito vingou-se dele, pois o transformou também em mito. Por muito tempo, até aos nossos dias, a figura humana de Jesus figurou na nova mitologia, na fase romana do Renascimento Mitológico, em que se destacou a figura do Imperador Juliano, o Apóstata, que depois de aceitar o Cristianismo apostatou-se e empenhou-se na salvação dos seus deuses antigos.
Os resíduos da mentalidade mitológica das civilizações arcaicas, particularmente a Grega e a Romana, reagiram, como era natural, contra o racionalismo cristão. Dessa maneira, na mente das populações bárbaras do Império Romano decadente, Jesus foi transformado num mito da Era Agrária.
Os padres e bispos do Cristianismo nascente, todos impregnados pela carga mitológica de um longo passado de ignorância e superstições, não foram capazes de compreender o racionalismo das proposições cristãs. Pelo contrário, cheios de temor e de espanto, contribuíram para a deformação do Cristianismo.
Antes e depois da queda do Império, os cristãos fizeram concessões necessárias aos povos bárbaros para absorvê-los no seio da Religião Redentora. Onde quer que os cristãos se impusessem pela força do número e das armas, as igrejas pagãs eram transformadas em templos cristãos, conservando-se cautelosamente as tradições mitológicas mais arraigadas.
O exemplo clássico e mais conhecido dessa tática romana é a Catedral de Notre Dame, em Paris, que ainda guarda nos seus subterrâneos os restos do templo pagão da Deusa Lutécia. A Deusa pagã foi conservada no templo, mas com o nome de Nossa Senhora, para que o povo ingênuo aceitasse assim o culto cristão a Maria sob o prestigio secular da deusa pagã.
Navatsky lembra que a Deusa Céres, divindade da fecundação e em muitas regiões, mais especificamente, deusa dos cereais, forneceu ao Cristianismo nascente uma das mais conhecidas imagens de Nossa Senhora, em que ela é representada com o manto estrelado do Céu, em pé sobre o globo terreno: Céres cobrindo a Terra com seu manto celeste para fecundá-la.
Esse mesmo processo de transposição ocorre hoje no Sincretismo Religioso Afro-Brasileiro e nas formas de sincretismo de outros países da América, onde os ritos e as figuras dos deuses ou santos católicos são absorvidos pelas religiões africanas transplantadas pelo tráfico negreiro de escravos ao novo continente. Jesus virou Oxalá, Nossa Senhora virou Iemanjá, São Jorge virou Ogum (deus da guerra), São Sebastião virou Oxum (deus da caça, e assim por diante).
Basta lermos o Livro de Atos dos Apóstolos no Evangelho, e as epístolas de Paulo (anteriores aos Evangelhos) para termos a confirmação dessa verdade histórica. Na primeira epístola de Paulo ao Corintos, no tópico referente aos Dons Espirituais, temos uma descrição viva do chamado culto pneumático (do Grego: Pneuma, sopro, espírito), as sessões mediúnicas realizadas pelos primeiros cristãos e nas quais, segundo as pesquisas históricas modernas, que confirmam os dados da Tradição, manifestavam-se espíritos inferiores cheios de ódio a Cristo. Essas manifestações assustadoras foram consideradas como diabólicas, reforçando a imagem tradicional do Diabo na mente ingênua dos adeptos.
A luta entre o Bem e o Mal é simplesmente o processo dialético da evolução. O Mal é a ignorância, o atraso, a superstição. O Bem é o conhecimento, o progresso, a adequação da mente à realidade. Essa é a grande luta das coisas e dos seres, figurada na revolta absurda de Luzbel, o anjo de luz que se entregou à inveja e converteu-se em adversário de Deus. Esses símbolos de um passado bárbaro e longínquo ainda prevalecem na Terra como resíduos míticos que o tempo desgasta na proporção em que a Cultura se desenvolve.
A Ciência incumbiu-se de ajustar a mente humana à realidade terrena, mas os homens se envaideceram e negaram-se a si mesmos nas idéias materialistas, colocando-se abaixo de tudo quanto existe. Duro castigo que o orgulho humano ainda não reconheceu. A Ciência afirma que nada se perde na Natureza, tudo se transforma. O homem aprova isso com entusiasmo e sorri de si mesmo (sem perceber), pois só ele não subsiste, só ele é pó que reverte ao pó.
Essa é a verdadeira queda do homem, que se rebaixa ao pó num mundo em que tudo se eleva incessantemente na direção dos planos superiores. A tentação simbólica de Jesus no deserto assemelha-se à tentação de Buda na floresta. É a tentação dos homens pelas fascinações dos bens terrenos.
Quando o homem se apega à terra (com t minúsculo, porque a terra que pisamos e não o Globo Terreno), ele se nega evoluir e é castigado pelas forças da evolução, que o impelem a sair da sua toca de bicho para atingir a condição existencial da espécie. A lei da existência não é o pó, mas a transcendência.
Pode o homem andar de joelhos pelas ruas e as estradas, jejuar, mortificar-se, ciliciar-se quanto quiser, mas com isso não se tomará melhor. Voltará às reencarnações difíceis e dolorosas para aprender, no sofrimento e na decepção, que não se busca Deus rastejando, mas elevando-se no amor e na dedicação aos outros.
As práticas religiosas de purificação são egoístas, aumentam a miséria humana e o apego do homem a si mesmo. As tentações que sofremos não vêm do Diabo, mas de nós mesmos, da nossa ignorância e do nosso apego hipnótico aos bens perecíveis da vida terrena.
O Diabo é o Bicho-Papão dos adultos, o espantalho dos supersticiosos. Giovanni Papini, escritor católico italiano, contemporâneo, em seu livro IL DIA VOLO, escandalizou o Vaticano, pregando a conversão do Diabo. Não conseguia admitir esse mito impiedoso em sua teologia. O Padre Teilhard de Chardin, em seus estudos teológicos, negou a condenação eterna do Diabo.
O Espiritismo se limita a mostrar a natureza mitológica do Diabo e a demonstrar, prática e logicamente, a impossibilidade da queda do Anjo Luzbel. A evolução espiritual é irreversível. O espírito que se elevou ao plano angélico não pode regredir, não pode ter inveja e outros sentimentos humanos. O anjo-mau é uma contradição em si mesmo, pois a Angelitude é a condição divina que o espírito busca e atinge na existência.
A luta do homem para transformar o mundo é a luta do homem consigo mesmo, pois é ele quem faz o mundo, e o faz à sua imagem e semelhança. Deus criou a Terra e todos os mundos do espaço, mas deu cada mundo aos homens que os habitam, para que eles aprendam o seu ofício paterno de Criador, tentando criar o mundo humano que lhes compete.
É evidente que existe o mundo físico, material, em que nascemos, vivemos e morremos. E é também inegável que, sobre esse mundo físico e com os seus materiais, os homens construíram um mundo diferente, feito de artifícios humanos.
O mundo material e sua contraparte espiritual (que os cientistas começam a descobrir como antimatéria) constituem o mundo natural. Mas sobre ambas as partes desse mundo natural os homens constroem os seus mundos fictícios. Cada Civilização é um mundo imaginário que o homem constrói com o seu trabalho, modelando em argila e pedra os seus sonhos e as suas ilusões.
Esses mundos artificiais são o reflexo das ideações humanas na matéria Nós os criamos, alimentamos, desenvolvemos, dirigimos e matamos. Os mundos bárbaros criados na Terra eram ingênuos; os mundos civilizados apresentam uma gradação que reflete a evolução humana, indo das civilizações agrárias, fantasiosas e alegóricas, até às grandes civilizações orientais, massivas e arrogantes e às Civilizações Teocráticas, míticas e supersticiosas; chegando às Civilizações Científicas, politeístas e pretensiosas, que se transformam em Civilizações Tecnológicas, materialistas e conflitivas, que morrerão para dar lugar à Civilização do Espírito, na busca cultural da Transcendência. Segundo Toynbee, mais de vinte grandes civilizações já existiram na Terra.
Agora está surgindo aos nossos olhos e sob nossos pés uma Nova Civilização — a do Espírito —que podemos chamar de Cósmica ou Espiritual. E para preparar o advento dessa Civilização do Espírito que o Espiritismo surgiu. Não adianta querermos fazer do Espiritismo uma religião dogmática, carregada de misticismo tolo ou de materialismo alienante.
As novas gerações que se encarnam para realizá-la não temem a Deus nem ao Diabo, simplesmente confiam nos planos irreversíveis do Deus, que se executam segundo as leis da consciência humana em relação telepática permanente com as entidades angélicas a serviço de Deus.
O Espiritismo é a Plataforma de Deus, aprovada pelos Espíritos Superiores para a transformação e elevação da Terra.
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Autor: J. Herculano Pires
CURSO DINÂMICO DE ESPIRITISMO
(O Grande Desconhecido)
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