quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Ano Novo - Novo Ano

Jura Rodrigues - O Reformador

Ao término de cada ano, damos guarida à idéia de que o novo ano será melhor, mais luminoso, mais profícuo. Novo Ano tivemos ontem, têmo-lo agora, têmo-lo-emos amanhã e depois, depois e sempre.

Novo Ano diz respeito à seqüência natural da vida, ocasião de nos reorganizarmos, raciocinarmos sobre novas e atuais posições, como, por exemplo, melhor aproveitamento do tempo - esse mercado de oportunidades que nos foi concedido para a construção do bem, ótimo ensejo de semearmos o que iremos colher num futuro próximo. A hora que passa é preciosa demais para que lhe percamos a grandeza. Elaboremos, pois, o nosso calendário e aproveitemos os dias, as horas e os minutos para fazermos o máximo que nos for possível na sementeira do bem. O tempo é irreversível, não volta mais. Talvez, por isso mesmo, nos mundos felizes ou nos espaços siderais o tempo seja inexistente e os Espíritos vivam num eterno presente.

O tempo diz respeito a quem está em marcha e percebe que as coisas não são fixas ou permanentes. Eis porque no ser inteligente há ânsia, há busca, há desejo de refazer, recomeçar, repensar, esclarecer dúvidas ou incertezas. Vive-se ao sabor das surpresas do caminho. Somos felizes ou infelizes, até o instante em que percebemos a insatisfação ou por ela somos surpreendidos, ou despertamos para a realidade do que efetivamente somos.

Julgamos então ser nosso o equívoco quanto à felicidade que pensávamos haver alcançado, ou concluímos que não éramos tão infelizes quanto supúnhamos, e, nesse sentido, quanto mais imperfeito é o indivíduo, maior é a soma de suas insatisfações e menos estável é a sua felicidade, que é algo que construímos dentro de nós e que nada tem a ver com os bens materiais que são passageiros. A perfeição que buscamos alcançar pelo exercício diuturno do Evangelho conduz-nos direta e ininterruptamente aos gozos eternos e inconspurcáveis do Espírito. Perder tempo é, pois, obstacular a caminhada no roteiro da Luz.

Ano Novo significa mais um trecho que temos a percorrer em nossa caminhada na Crosta Planetária, uma ótima oportunidade para um balanço total de nossa vida. Isso sugere a idéia de viagem... Quando pensamos viajar, cogitamos logo de preparar a bagagem, pondo tudo em ordem, separando as coisas necessárias para levar. Prevenimos o numerário suficiente para as despesas, enfim, tomamos todas as medidas cabíveis para nos assegurar uma ida e uma volta isentas de embaraços. O Espiritismo, quando penetra em nossa intimidade, convida-nos a realizar duas grandes viagens:

· a primeira, para dentro de nós mesmos, em busca do autodescobrimento, através do qual conheceremos os equívocos a serem corrigidos e as conquistas salutares a serem ampliadas;

· a segunda, para fora de nós, em busca do outro, dos carentes e necessitados de nosso amor e compreensão que surgem com campo propício para a semeadura das descobertas anteriores.

Diante do ano que findou e de um que se inicia deve ser o bem, o amor a nossa meta. A transformação moral definitiva começa no desejo íntimo e concretiza-se na ação renovadora. Ninguém espere encontrar na vida um mar de rosas; necessário se faz aprendermos a lidar com as nossas emoções e sentimentos.

O desafio, porém, precisa ser enfrentado, mesmo à custa de lágrimas. A “boa luta”, a que Jesus se referiu, começa na coragem de mergulharmos no imo de nós mesmos, para alcançarmos o nosso propósito: vencer do princípio ao fim, do primeiro ao último dia do Ano Novo, observando uma conduta reta e a mais elevada possível, pensando tão-somente no Bem que elegeremos para luz de nosso caminho. O que importa, em essência, não é propriamente a passagem de um ano para outro, coisa que sempre se deu e se dará à nossa revelia, e sim as condições da bagagem espiritual com que entramos no Ano Novo: para que ele seja realmente bom como o concebemos, precisamos renovar-nos.

Muita paz e um Ano Novo repleto de realizações.

Centenário de Chico Xavier no Ano Novo

Antonio Cesar Perri de Carvalho
Diretor da Federação Espírita Brasileira e Coordenador do Projeto Centenário de Chico Xavier

A passagem de ano gera ambientes de novidades, expectativas e esperanças.

Para os espíritas, o ano de 2010 terá uma especial motivação – as comemorações do Centenário de Francisco Cândido Xavier, coordenadas pela Federação Espírita Brasileira (FEB).

Esse destacado personagem de nosso país - escolhido mediante votações como o “Mineiro do Século” (Século XX) e uma das cinco personalidades ilustres do Brasil -, teve uma longa vida de muito trabalho na área espiritual e de amorosa dedicação ao próximo.

A abertura das comemorações do Centenário de Chico Xavier ocorre nos dias 1o e 2 de janeiro, na sua terra natal, Pedro Leopoldo. Nesta cidade Chico Xavier viveu até 1958, consolidou sua atuação mediúnica e humanitária, e, mesmo residindo em Uberaba, ali voltava para passar as festas de final de ano. O presidente da FEB Nestor João Masotti faz palestra e o presidente da União Espírita Mineira tem atuação no evento, no Centro Espírita Luiz Gonzaga, que teve Chico Xavier como um dos fundadores, e, em outros locais onde o médium atuou.

Entre várias ações do “Projeto Centenário de Chico Xavier”, coordenado pela Federação Espírita Brasileira, destaca-se o 3o Congresso Espírita Brasileiro, programado para os dias 16 a 18 de abril de 2010, em Brasília. O tema central deste evento sintetiza as linhas mestras de ação do homenageado: “Chico Xavier: Mediunidade e Caridade com Jesus e Kardec”. Ao longo do ano ocorrerão lançamentos de livros e de filmes.

A trajetória de vida de Chico Xavier é ilustração de que muito se pode fazer em benefício do próximo, a partir de gestos simples de apoio e carinho. O conforto espiritual integra uma das necessidades básicas do homem. Mesmo o aparato tecnológico e as facilidades do mundo moderno não dispensam o contato humano e a certeza da vida imortal, que se traduzem por solidariedade e fraternidade.

O dia 1o de janeiro – considerado de confraternização universal -, é excelente oportunidade para reflexões, pensando-se no planejamento de um ano que contribua para a conquista de maiores parcelas de felicidade e a paz, individualmente, e para a coletividade.

A propósito, transcrevemos o singelo poema “Carta de Ano Bom”, do Espírito Casimiro Cunha, psicografado por Chico Xavier:

Carta de Ano Bom

Entre um ano que se vai
E outro que se inicia,
Há sempre nova esperança,
Promessas de Novo Dia...

Considera, meu amigo,
Nesse pequeno intervalo,
Todo o tempo que perdeste
Sem saber aproveitá-lo.

Se o ano que se passou
Foi de amargura sombria,
Nosso Pai Nunca está pobre
Do pão de luz da alegria.

Pensa que o céu não esquece
A mais ínfima criatura,
E espera resignado
O teu quinhão de ventura.

Considera, sobretudo
Que precisas, doravante,
Encher de luz todo o tempo
Da bênção de cada instante.

Sê na oficina do mundo
O mais perfeito aprendiz,
Pois somente no trabalho
Teu ano será feliz.

Não esperes recompensas
Dos bens da vida terrestre,
Mas, volve toda a esperança
A paz do Divino Mestre.

Nas lutas, nunca te esqueças
Deste conceito profundo:
O reino da luz de Cristo
Não reside neste mundo.

Não olhes faltas alheias,
Não julgues o teu irmão,
Vive apenas no trabalho
De tua renovação.

Quem se esforça de verdade
Sabe a prática do bem,
Conhece os próprios deveres
Sem censurar a ninguém.

Ano Novo!... Pede ao Céu
Que te proteja o trabalho,
Que te conceda na fé
O mais sublime agasalho.

Ano Bom!... Deus te abençoe
No esforço que te conduz
Das sombras tristes da Terra
Para as bênçãos de Jesus.

Carta de Ano Novo

Ano Novo é também renovação de nossa oportunidade de aprender, trabalhar e servir.


O tempo, como paternal amigo, como que se reencarna no corpo do calendário, descerrando-nos horizontes mais claros para a necessária ascensão.


Lembra-te de que o ano em retorno é novo dia a convocar-te para execução de velhas promessas, que ainda não tiveste a coragem de cumprir.


Se tens inimigo, faze das horas renascer-te o caminho da reconciliação.


Se foste ofendido, perdoa, a fim de que o amor te clareie a estrada para frente.


Se descansaste em demasia, volve ao arado de tuas obrigações e planta o bem com destemor para a colheita do porvir.


Se a tristeza te requisita, esquece-a e procura a alegria serena da consciência feliz no dever bem cumprido.


Novo Ano! Novo Dia!


Sorri para os que te feriram e busca harmonia com aqueles que te não entenderam até agora.


Recorda que há mais ignorância que maldade, em torno de teu destino.


Não maldigas, nem condenes.


Auxilia a acender alguma luz para quem passa ao teu lado, na inquietude da escuridão.


Não te desanimes, nem te desconsoles.


Cultiva o bom ânimo com os que te visitam, dominados pelo frio do desencanto ou da indiferença.


Não te esqueças de que Jesus jamais se desespera conosco e, como que oculto ao nosso lado, paciente e bondoso, repete-nos de hora a hora:


- Ama e auxilia sempre.


Ajuda aos outros, amparando a ti mesmo, porque se o dia volta amanhã, eu estou contigo, esperando pela doce alegria da porta aberta de teu coração.


Emmanuel

Vida e Caminho - Francisco Cândido Xavier

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Lembrança do Natal

Espírito: AUTA DE SOUZA.

Natal! ... Reina a Celeste Barcarola!...

Enquanto te refazes na alegria,

muita gente padece a noite fria

ao rigor da aflição que desconsola.



Desce à escura tristeza que te espia

do cárcere de angústia em que se isola...

E espalha o bem por sacrossanta esmola

do teu farnel de luz e de harmonia!





Abre teu coração!... Ajuda e abraça

o sofrimento ou a sombra de quem passa

em desespero rígido e infecundo!...



E o Cristo, renascendo no teu peito,

será, contigo, o amor puro e perfeito,

tecendo a paz e a redenção do mundo.

Sugestão do Natal

Maria Dolores

Escuta, alma querida!

Você que chora tanto,

Lembrando, no Natal, os seus queridos,

E o carinho do lar, nos tempos idos,

Vem partilhar conosco a festa diferente,

Na qual Jesus nos encaminha tanta gente,

De coração cansado e olhos em pranto,

Para que lhe doemos, em seu nome,

Algo que diminua a prova que a consome...



Desce da tua dor, tão alta, como dizes,

E vem conosco ao chão onde enxameia

O sofrimento da ansiedade alheia

E as duras privações dos irmãos infelizes.

Por amor a Jesus, desdobra-te em desvelos,

E se tens algo para dividir,

Traze o que possas para socorrê-los,

Fazendo alguma lágrima sorrir.



Tudo serve à penúria em desconsolo,

A xícara de leite à criança doente,

A fatia de pão, o pedaço de um bolo

E o lume do fogão que renove o ambiente...

Não te percas, chorando em saudade vazia,

Vem trabalhar conosco e acender nova luz!...

Esquece a própria dor. Natal é novo dia

De buscar a esperança e servir com Jesus.

Petição de Natal

Maria Dolores


Senhor Jesus!...

Ante o Natal, agradecemos

A enorme evolução que nos permites.

Iluminaste a inteligência humana

Para vitórias quase sem limites.



Nunca subimos tanto!... Num minuto,

Nações se comunicam, pólo a pólo...

O homem revolve a Terra, em toda parte,

Desde as grimpas do Espaço ás entranhas do Solo.



Entretanto, Senhor,

Enquanto o carro do progresso avança,

Atropelando as multidões do mundo,

Surge a dor na carência de esperança.



Pela força dos Céus, tão alto nos elevas,

E lutamos ainda em conflitos extremos...

Concede-nos, no amor com que nos guardas,

A proteção da paz que ainda não temos.



Natal!... Ouve, Jesus, as trompas de ouro

Que te exaltam na Terra os dons divinos!...

Com o amparo de Deus, tão grandes nos fizeste!

Ensina-nos, Senhor, como ser pequeninos!...

Hora do Natal

Maria Dolores



Glória a Deus! Paz na Terra e bondade entre os homens!... Natal!... Brilha Natal em júbilo divino!... Luzes, vozes e mãos, enlaçando-se em prece, cânticos de afeição, renovando o destino!...



Mas ouve, coração... Enquanto a mesa farta lembra extenso jardim que te acena e sorri, enquanto a fé te envolve o teto em reconforto, não digas que Jesus não precisa de ti.



O Excelso Benfeitor, cujo amparo louvamos, ilumina-te o passo e aguarda-te, inda agora, para estender no mundo as fontes da alegria, para lenir a dor da multidão que chora!...



Escuta!... Rente a nós, lá fora, há muita gente, em plena solidão, entregue à ventania, há quem contemple o céu, mendigando consolo, quem suporte a penúria exposta à noite fria..

Quantos rogam debalde o afeto que perderam, quantos gritam na estrada em desespero vão!... Orfandade, viuvez, desalento, amargura, rebeldia, abandono, angústia, privação...



Alguém te bate à porta e te repete o nome!... Desce, para ajudar, da altura a que elevas... Como outrora, Jesus vem buscar-te a bondade e te pede socorro aos que vagam nas trevas.



Traze aos irmãos em sombra o apoio e a simpatia, que os arranquem do fel e soergam do pó... O sorriso, uma flor, um bolo, o braço amigo, um gesto de ternura, uma palavra só...



Quantos possas, esparze a bênção da esperança, que suprima a tristeza e a revolta na Terra... Sê a força do bem que enalteça o caminho, o auxílio de quem sofre, o perdão a quem erra...



Natal!... Em meio à festa, as emoções te afligem, sentes fome de luz, anseias regressar à pureza da infância, às promessas da escola, às primeiras canções no refúgio do lar!... É a verdade mostrando a própria singeleza, nas trilhas de ascensão em celeste esplendor!... É a paz do Céu que nos abraça a vida, a presença do Criador e a vitória do amor!...

Notas do Natal

Nas horas de sofrimento

Guarda calma e silencia

A lágrima, quase sempre,

É o anuncio de alegria.

Luciano Reis



Todo mal que se comete

É dívida a certo prazo;

Por isso nas leis de Deus,

Ninguém sofre por acaso.

Jésus Gonçalves



Coração nobre é aquele

Que cumpre o próprio dever,

Seja qual for o caminho,

Suceda o que suceder.

Casimiro Cunha



A crise que te procura

Furtando-te os dons da paz

É a benção que Deus te envia

Para saber como estás.

Couto e Silva



Alma repleta de dores

Que tudo faz por vencê-las,

Por fim traz no coração

Todo esmaltado de estrela.

Maria Dolores



Abraça o irmão do caminho

Ainda que não te agrade,

Uma face sorridente

É um gesto de caridade.

Jovino Guedes



De todos os sofrimentos,

O que não pude transpor,

É o suplício da saudade

De quem chora por amor.

Edvar Santana



Toda festa de Natal

É de alegria e de luz,

Revelando-nos a fé

Na proteção de Jesus.

Auta de Souza

Mensagem do Natal

Maria Dolores


Desejava, Jesus, ter as palavras certas

Para exaltar-Te o Luminoso Dia!...

Do pouso humilde às mansões opulentas,

Tudo é festa de Paz e de Alegria.



Recordamos Belém, na noite em que surgiste.

A Estrela...O vento frio...As casas às escuras

E as vozes cristalinas que cantavam:

- “O Enviado nasceu!... Glória a Deus nas Alturas!...”.



Entretanto, depois de Teus ensinos,

Veio o dragão do ódio, armando a guerra,

E separou, em fúria, os grupos e as nações,

Marcando a sangue e pranto os caminhos na Terra...



Passam conquistadores inclementes,

Reclamando o poder, no ouro que os seduz;

Matam, furtam, mas morrem esquecidos

E a multidão prossegue: “Ampara-nos Jesus!...”.



É por isso que hoje repetimos,

Enquanto vinte séculos se vão:

- “Fica, Jesus, guardando-nos a vida,

Celeste Amor de nosso coração!...”“.

Natal do Vencedor

Maria Dolores


O Homem plantou Ódio, tenda em tenda;

O Ódio fez um conflito em graves crises,

Exterminando aldeias infelizes,

Sem ninguém que as preserve ou que as defenda.



Chegam conquistadores...Nova senda:

Ódio e Guerra por todos os países...

Vem a Morte e lhes quebra as diretrizes,

Pondo, um a um, sob as cinzas da lenda...



Natal!... Promessa e luz de longas eras!...

È Jesus renovando as primaveras

Do amor puro, na Terra jamais visto...



Há um só vencedor, ao nosso lado,

Tão vivo agora, como no passado,

O alto Herói, Nosso Senhor Jesus Cristo.

Carta de Natal

Maria Dolores


Ninguém te esquecerá, Jesus, o berço pobre,

A noite, o frio, a palha, a estrebaria,

A estrela que surgiu no firmamento

E os pastores cantando de alegria!...



“Glória a Deus nas Alturas, Paz aos Homens

e toda a Terra!...” Temos na lembrança

A voz dos anjos que te acompanhavam

A mensagem de amor e de esperança...



Quantos conquistadores já passaram!...

Senhores do poder, altivos e aguerridos...

E quanto mais brilharam sobre os povos,

Mais desceram, por fim, aos museus esquecidos!...



Hoje, o Progresso atinge culminâncias;

É o cérebro a fulgir em triunfos supremos;

Mas quando a provação nos procura e domina

É sempre a Ti, Senhor, que recorremos.



Natal!... Os homens cantam separados...

Perdoa-nos, Senhor, os erros tais quais são.

Não nos deixes a sós, Amado Amigo,

Fica, Jesus, em nosso coração!...

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

A Jornada Espiritual do Homem

A leitura do livro Boa Nova, mais que interpretação histórica, enseja uma análise psicológica. Isso porque o autor espiritual utiliza-se de passagens da vida de Jesus para inserir lições cotidianas, visando o homem moderno.
No capítulo 27 do livro, intitulado A Oração do Horto, o autor espiritual descreve os últimos momentos de Jesus com os apóstolos, quando,
então, o Mestre se retira para orar, na companhia de Pedro, João e Tiago. É a culminância da história de Jesus, momentos que antecedem a crucificação e o posterior reencontro com o Pai. Representa os momentos culminantes de nossa vida.
Reencontro com o Pai tem o sentido pleno da palavra religião, quando
destacamos o sentido latino original, religare, ou religação com o criador.
Mais que religação, reencontro significa conquista. Podemos dizer com Rudolf Otto, filósofo das Religiões, que o reencontro é o estado numinoso, ou a transcendência ante a divindade.
Reencontro, religação, implica, inicialmente, um estado original de
ligação, uma distinção do estado original, e o retorno dos elementos
iniciais a uma nova relação. É ilustrado pela alegoria do Éden.
Após a criação da Terra e dos céus, Deus criou o homem, do limo da terra, e chamou-o Adão. Para lhe fazer companhia, extraiu uma costela de Adão e criou a mulher, Eva. Viviam num Jardim, que lhes supria todas as necessidades. Podiam ir para onde quisessem, apenas estavam proibdos de provar do fruto da árvore que dá o conhecimento do Bem e do Mal. Iahweh mostrava sua face, partilhava das delícias do Jardim e era por suas criaturas reconhecido.
Eis que o par humano é convidado, pela serpente, a provar do fruto da
árvore que dá o conhecimento do Bem e do Mal. Nesse instante, vencidos pela tentação de provarem o fruto, tudo se modifica. O estado original se desfaz e eles se reconhecem nus. Cobrem seus sexos e se escondem. Já não vêem o Criador, apenas ouvem sua voz ameaçadora, que os expulsa do Paraíso. Iahweh, nesse instante, diz que, agora que o homem se assemelhou a Deus, tendo o conhecimento do Bem e do Mal, deve colher o fruto da árvore da vida e viver para sempre.
O estado original é descrito, pelo narrador da Gênese, como total
indistinção. Homem e mulher não se reconhecem como tal, a harmonia com os animais se dá pela semelhança e não por amor. A face de Iahweh era visível, mas não se distinguia dos outros. O que modifica o estado primevo é o surgir da serpente. Ser que se arrasta, terreno, representa a inteligência e o perigo, aquela que guarda um segredo, mas também a morte. A serpente é o elemento feminino, capaz de gerar vida, a Mãe Maior. Iahweh, elemento masculino, criador, representado também pelo vento, sopra o Espírito pelas narinas de Adão. Iahweh e a Serpente se tornaram pares opostos para impulsionarem a jornada do homem, foi o que o contador dessa bela história percebeu. Pela tensão entre a ordem de Iahweh e o convite da Serpente, quebraram a indistinção. Naquele instante perceberam-se homem e mulher, masculino e feminino, já não mais podiam ver a face de Iahweh, apenas escutar a sua voz, que lhes oferece a árvore da vida. Árvore da Vida é o Zohar, que a Kabbalah adota como símbolo da jornada espiritual do homem.
Nela estava enrolada a Serpente, porque a árvore também é fruto da terra, mas dirige seus galhos às alturas. Representa o Espírito, que desce dos céus às profundezas da terra, mas também a seiva que sobe das profundidades à amplidão do céu. A árvore da vida é a realização da religação, da redenção do homem.
Neste aspecto, que se torna crucial para a compreensão de Deus, o
Espiritismo se coloca frontalmente em oposição à Teologia ortodoxa. Segundo a visão mais conservadora do Cristianismo tradicional, o homem parte de um estado de consciência. A Gênese seria interpretada não como alegoria, mas descrição de uma realidade fundamental. Segundo a Teologia, Adão e Eva assumem atitude consciente e essa rebeldia é comparada à rebeldia luciférica, representada pela serpente.
Sendo a Gênese interpretada da forma teológica, a evolução do homem deve se dar pelo suplício e abominação da Natureza (causa da queda), o que justifica a devastação do planeta nos países cristãos, a abominação da mulher pelas tradições de tronco judaico. O homem, herdeiro de Adão, já nasce marcado pelo pecado original e seus impulsos fisiológicos devem ser reprimidos e suprimidos, como oriundos do pecado original.
A repressão e a supressão não eliminam os impulsos, apenas os torna
inconscientes. Continuando a existir, porém sem se manifestarem, geram uma vida psíquica oculta, que passa a pressionar a consciência, cada vez mais, sendo causa de incontáveis neuroses de variada ordem. Os aspectos reprimidos da personalidade geram a Sombra, termo usado pela psicologia junguiana para descrever esse complexo psicológico inconsciente.
O lado sombrio do homem foi brilhantemente percebido por Robert Stevenson, em seu livro Dr Jeckill and Mr Hyde. O Dr. Jeckill era médico da corte inglesa, respeitado por toda a sociedade de sua época e tido como modelo.
Enquanto o médico fazia carreira nos corredores da sociedade londrina, os subúrbios, parte baixa e escura da cidade, conheciam a atuação de um monstro, um ser repugnante, grosseiro, que frequentava bares e prostíbulos, assassinando cruelmente prostitutas, envolvendo-se em brigas com seus pares.
Paralelamente ao crescimento social de Dr. Jeckill, cresciam as barbaridades de Mr. Hyde. Eis que, finalmente a polícia descobre o monstro e qual não foi a surpresa em constatar que ele nada mais era senão o brilhante médico, que, facilitado pelo uso de solução psicoativa liberadora, transformava-se, dava vazão ao seu aspecto obscuro. Percebamos que, em inglês, hide significa oculto, tendo ocorrido um trocadilho com o nome do monstro.
A sombra é gerada pela repressão de aspectos da personalidade. A não manifestação de certos instintos psicológicos permite o convívio em sociedade, mas a repressão o faz tornarem-se inconscientes.
A sombra não é o todo da personalidade inconsciente: representa
qualidades e atributos desconhecidos ou pouco conhecidos do ego_ aspectos que pertencem sobretudo à esfera pessoal e que poderiam também ser conscientes. Sob certos ângulos a sombra pode, igualmente, consistir de fatores coletivos que brotam de uma fonte situada fora da vida pessoal do indivíduo. (Marie-Louise Von Franz, em O Homem e Seus Símbolos).
Percebemos nossa sombra mais facilmente no outro, em críticas azedas de aspectos que não nos agradam, e tomamos conhecimento dela nos momentos em que nos flagramos em pequenos delito, que nos perdoamos por serem essas faltas também presentes nos outros.
Tornarmos conscientes da sombra de nossa personalidade, é um trabalho hercúleo, mas ponto-chave para o autoconhecimento. Nossa jornada espiritual, na medida em que já fortalecemos nosso ego, exige que reconheçamos nossa sombra e a integremos em nossa personalidade.
O reconhecimento da sombra é processo importante para que não nos
entreguemos aos seus impulsos e nem alimentemos a Sombra coletiva que se forma pelo convívio social. Os Espíritos dizem, na questão 893 de O Livro dos espíritos, que há virtude sempre que há resistência voluntária ao arrastamento das tendências. O que são essas tendências senão impulsos inconscientes que ressaltam o mal que ainda alimentamos? Numa linguagem junguiana, diríamos que há virtude sempre que há conscientização de aspectos da sombra pessoal.
O Espiritismo nos possibilita postular que a sombra é formada desde a nossa origem, quando ela assume características coletivas. O momento é o de superarmos a sombra acumulada também em encarnações anteriores e essa é a característica das provas a que somos expostos. O que é o desejo criminoso que trata a questão 393, decorrente de faltas em vida pretérita, senão um impulso inconsciente, manifestação da sombra?
Aí, novamente, a solução que a Teologia nos oferece é, novamente, a
repressão desses impulsos, a supressão das tendências e, decorrente disso, a alimentação da sombra, a criação de um monstro. A sombra partilhada pela coletividade, que são impulsos inconscientes, tomou forma, na sociedade européia, na figura de Hitler, que foi a concretização da sombra do povo germânico.
A Teologia é insuficiente ao homem moderno, porque criou uma cisão entre o homem e Deus. Tornando Deus exterior ao homem, separou o Criador de sua criação, teve necessidade da figura de Satanás como opositor a Deus na luta pela redenção do homem, separou o espírito da matéria e encarou sua ligação como fonte do pecado.
Agora conheçamos a interpretação espírita da alegoria do Éden.
A visão de que a Gênese mosaica relata jornada de evolução do homem é partilhada pelos Espíritos, que, na questão 115 de O Livro dos Espíritos, descrevem essa rota ascensional: ³Deus criou todos os Espíritos simples e ignorantes, isto é, sem saber. A cada um deu determinada missão, com o fim de esclarecê-los e de os fazer chegar progressivamente à perfeição, pelo conhecimento da verdade, para aproximá-los de si. Nesta perfeição é que eles encontram a pura e eterna felicidade. Passando pelas provas que Deus lhes impõe é que os Espíritos adquirem aquele conhecimento. Uns aceitam submissos
essas provas e chegam mais depressa à meta que lhes foi assinada. Outros sóa suportam murmurando e, pela falta em que desse modo incorrem, permanecem afastados da perfeição e da prometida felicidade.
Para os Espíritos, o homem parte da Inconsciência à Consciência. Na
inconsciência original, recebe de Deus uma missão, o que mostra que o Criador percebe a criatura, que tem o Criador dentro de si, como imagem inconsciente. Deus não é o Outro, não se manifesta de fora para dentro, mas a partir, através e além do homem.
O visão de Deus presente na criatura desfaz a necessidade de um agente do mal e corrige a distorção de que o mal é próprio do homem como oposição a Deus. Compreendemos, com os Espíritos, que o Mal é uma opção exercida por cada um, que o atrasa, mas não o deserda. O Mal não é o outro, ou o que vem de fora. São as aptidões a se exercerem, como impulsos inconscientes, é um dos aspectos da sombra da personalidade.
Compreendemos isso quando refletimos que cada um de nós parte da
Inconsciência com uma missão a cumprir. Essa missão que impulsiona o espírito ao progresso, deve manifestar-se, inicialmente, na forma de impulsos psíquicos, ou instintos psicológicos.
Os impulsos psíquicos, como impulsos inconscientes, não têm forma ou juízo moral. O juízo moral e a forma são dadas pela interação com o meio, nas provas a que o espírito é submetido, formando a vontade, que cederá às influências exteriores, boas ou más, numa atitude de livre-arbítrio (ou vontade livre). É o que nos diz a questão 122 : O livre-arbítrio se desenvolve à medida que o Espírito adquire a consciência de si mesmo. Já não haveria liberdade, desde que a escolha fosse determinada por uma causa independente da vontade do Espírito. A causa não está nele, está fora dele, nas influências a que cede em virtude da sua livre vontade. É o que se contém na grande figura emblemática da queda do homem e do pecado original:
uns cederam à tentação, outros resistiram.
A realidade do Mal é inegável, mas é um dos aspectos da jornada espiritual, livre opção do homem, todavia, os que optaram por esse caminho, nele não permanecerão eternamente, como nos ensina a questão 125: Os Espíritos que enveredaram pela senda do mal poderão chegar ao mesmo grau de superioridade que os outros?
Sim; mas as eternidades lhes serão mais longas.
O mal reprimido pelo ego, torna-se inconsciente e alimenta a sombra. Ao contrário, o mal trazido à consciência do ego, pode ser trabalhado como tendência a ser resistida.
Seria o Espiritismo gerador de sombra, nas dimensões do cristianismo
tradicional? Inicialmente, o Espiritismo veio ao mundo na fase de renovação antevista pelo Cristo. Allan Kardec enxergava no Espiritismo e no Magnetismo duas ciências complementares.
O Magnetismo evoluiu ao Hipnotismo, deste para a Psicanálise e, daí à
Psicologia Analítica Junguiana, tronco-mãe da Psicologia Transpessoal. A descoberta da dinâmica do inconsciente pessoal, por Freud, e o trabalho de Jung, ampliando o conceito, chegando ao inconsciente coletivo, é uma das conquistas do homem moderno. Os conceitos freudianos e, mais recentemente, os de Jung, uma vez aplicados à educação, liberam o peso da repressão, através da compreensão dos impulsos e de suas origens, do que significam e
como devem ser trabalhados.
O Espiritismo reconhece a sombra como tendências, oriundas de experiências anteriores. Reconhece que existem forças psicológicas instintivas, que devem ser trazidas à consciência. Não tem Deus como Outro, e o tem dentro de si.
Assim, Deus não é o juiz exterior, mas a própria consciência.
Allan Kardec, comentando a questão 127 de O Livro dos Espíritos, afirma: Os espíritos que desde o princípio seguem o caminho do bem nem por isso são Espíritos perfeitos. Não têm, é certo, maus pendores, mas precisam adquirir a experiência e os conhecimentos indispensáveis para alcançar a perfeição.
O que entender por seguir o caminho do bem desde o princípio não ser suficiente para alcançar perfeição?
Novamente recorremos à questão 115, que nos fala da necessidade de provas para a aquisição de conhecimento para chegarmos à perfeição. Bem e mal são opções evolutivas, que aceleram ou atrasam a chegada à meta. A punição pelo atraso foi o que os Espíritos chamara de eternidades mais longas.
O Espiritismo oferece fundamentos psicológicos para a compreensão e integração da sombra à consciência. Sua ética transcendente une o homem a Deus e oferece a jornada espiritual de reencontro.
Poderiam, nesse instante, nos perguntar se a não repressão significa dar vazão, e, com isso, gerar situações incontroláveis, incompatíveis com a virtude?
A não repressão significa tornar consciente e integrar essa energia à
consciência. Esse é um conselho cristão!
Jesus, disse também àquele que o convidara: Quando derdes um jantar ou uma ceia, não convideis nem os vossos amigos, nem os vossos irmãos, nem os vossos parentes, nem os vossos vizinhos que forem ricos, para que em seguida não vos convidem a seu turno e assim retribuam o que de vós receberam.
Quando derdes um festim, convidai para ele os pobres, os estropiados, os coxos e os cegos. - E sereis ditosos por não terem eles meios de vo-lo retribuir, pois isso será retribuído na ressurreição dos justos. Um dos que se achavam à mesa, ouvindo essas palavras, disse-lhe: Feliz do que comer do pão no reino de Deus! (S. LUCAS, cap. XIV, vv. 12 a 15.)
Essa passagem é usada por Kardec como exemplificação de caridade aos fracos e é inspiradora de trabalhos assistenciais nobilíssimos. Mas permito-me uma interpretação psicológica, para ilustrar o que vimos tratando. Para Platão, o sentido de banquete não é apenas o de alimentar-se, o saborear alimentos nobres. O banquete constituía de um simpósio, onde os integrantes trocavam idéias e se conheciam, encerrando esse acontecimento através da alimentação, que podemos tomar como sagração do conhecimento adquirido. Pobres, coxos,
mendigos, estropiados, aparecem nos sonhos como símbolos inconscientes da sombra. Após conhecermos a sombra, extraimos dela e reintegramos à consciência, a energia que se perdia no inconsciente.
Somente poderemos resistir ao arrastamento de uma tendência que conhecemos.
A virtude é para poucos, ainda. A repressão como fuga do pecado, que é uma pregação teológica, afasta o homem da virtude, porque o atrai
irresistivelmente à sua sombra.
A questão 919-A traz um exercício prático e eficaz de percepção da própria sombra, que é a análise diária das ações, com o recurso psicológico de se colocar na posição do outro. Assim, permite reconhecer a sombra projetada no outro.
A eliminação da projeção da sombra inconsciente, tornada agora consciente, permite o reconhecimento das tendências e a resistência ao arrastamento por elas exercido, mas não é o completar do processo evolutivo.
A necessidade de evoluirmos do amor Eros ao amor Cáritas passa a ser a ocupação espírito, a par da integração da Sombra, em sua jornada ascensional.
Amor Eros é o amor que une os pares opostos, fundamento da energia criativa da mente humana. A busca de seu par de opostos é representada pela alegoria contada por Platão dos seres arredondados, com dois pares de membros, duas cabeças, distintos uns dos outros, porém formadores de uma unidade, que Zeus
dividiu ao meio com sua espada e os espalhou pela Terra. Desde então, uma metade busca a outra, para formarem novamente o par de opostos perfeito.
Eros também acende o fogo da paixão, se acentua doentemente na
sensualidade, é o ativador dos rompantes criativos e também destrutivos, em nome do amor, da religião, da pátria, do Estado.
O amor Cáritas conhecemos a partir do Cristo, que é o reconhecimento do outro, o amor transcendente que parte do Deus que vive em nós. Amor Cáritas não se opõe ao amor Eros, o transforma, alimenta, impulsiona; mas não se prende a ele, encaminha o homem às realizações permanentes e modelares da humanidade.
O amor Cáritas pode ser representado pela mensagem do espírito Cáritas, em O Evangelho Segundo o Espiritismo: Chamo-me Caridade; sigo o caminho principal que conduz a Deus.
Acompanhai-me, pois conheço a meta a que deveis todos visar. Com o coração túmido de compaixão, eu, que nada tenho, me fiz mendiga para eles e vou, por toda a parte, estimular a beneficência, inspirar bons pensamentos aos corações generosos e compassivos. Por isso é que aqui venho, meus amigos, e vos digo: Há por aí desgraçados, em cujas choupanas falta o pão, os fogões se acham sem lume e os leitos sem cobertas. Não vos digo o que deveis fazer; deixo aos vossos bons corações a iniciativa. Se eu vos ditasse o proceder,
nenhum mérito vos traria a vossa boa ação. Digo-vos apenas: Sou a caridade e vos estendo as mãos pelos vossos irmãos que sofrem.
Mas, se peço, também dou e dou muito. Convido-vos para um grande banquete e forneço a árvore onde todos vos saciareis! Vede quanto é bela, como está carregada de flores e de frutos! Ide, ide, colhei, apanhai todos os frutos dessa magnificente árvore que se chama a beneficência. No lugar dos ramos que lhe tirardes, atarei todas as boas ações que praticardes e levarei a árvore a Deus, que a carregará de novo, porquanto a beneficência é inexaurível. Acompanhai-me, pois, meus amigos, a fim de que eu vos conte entre os que se arrolam sob a minha bandeira. Nada temais; eu vos conduzirei pelo caminho da salvação, porque sou - a Caridade. - Cárita, martirizada em Roma. (Lião, 1861.)
Cáritas e Eros em harmonia no Espírito humano propiciam o surgir do
Si-Mesmo. Esse termo foi usado por Jung para designar o fulcro que impele o homem ao progresso. A teoria junguiana não trabalhou com o conceito de reencarnação, que foi julgado como improbabilidade científica na época, por isso trata da conquista da consciência pelo Si-Mesmo como fenômeno elitista, por poucos alcançado. Essa afirmativa é uma realidade parcial, pois ainda são poucos os que conquistam, tomando por base a população. Todavia, na
medida em que todos chegaremos à perfeição, uns mais depressa, outros mais lentamente, essa conquista será de cada um, sem exceção.
As Leis de Deus estão escritas na consciência (q 621). Sendo elas
necessárias e bastantes à felicidade do homem, sendo o homem infeliz quando delas se afasta (q 614), constituem, no homem, o fulcro diretor da evolução humana. Enquanto inconscientes, atuam na forma de impulsos psicológicos e o conjunto dessas leis gera a totalidade almejada pelo homem. Consciência e Si-Mesmo são conceitos que aproximam a psicologia do Espiritismo.
Quando o Si-Mesmo passa a ser o centro da consciência, ocorre uma
dissolução do ego, que se transforma. É o fenômeno percebido por Paulo, como morte do homem velho e nascimento do homem novo.
O momento de dissolução do ego foi percebido pela Mitologia como travessia noturna. O nome travessia indica o sentido passageiro, transitório, o deslocar de um ponto a outro. É noturno porque ocorre pela solidão e abandono ao inconsciente. O nascer do dia, que traz o homem novo, ocorre após a amargura da noite fria. Recorrendo mais uma vez à simbologia, a noite é regida pela lua, elemento feminino como a Terra e a Serpente, como a árvore da vida. A travessia noturna é a culminância do retorno às origens, o retorno ao Jardim. A serpente guarda um tesouro, que será revelado com o nascer do dia, as raízes estreitas extraem da Terra a seiva, mas causam a dor da capilaridade a ser vencida. Novamente com a serpente, na ausência de Deus, que ainda não se revelou. Novamente diante de si, que retorna à Terra
que o gerou.
O amanhecer traz o sol fulgurante, elemento masculino, fertilizador, que é conseqüente à noite. A radiância do sol marca o reencontro com Deus. Esse instante transcendente só é possível após a travessia na noite escura, após o retorno à Mãe Terra, é o segredo que a serpente guarda e é revelado ao nascer do sol.
Existem casos em que a travessia noturna se estende pela noite sem fim, onde a solidão e a angústia são alimentadas pelo desejo de retorno ao mundo espiritual. Espíritos em missão podem experimentar tal desejo, que é amplificado pela falsa percepção de abandono.
A própria reencarnação pode ser comparada à travessia noturna, quando o Espírito, imerso na densidade grosseira da matéria, submetido às necessidades do corpo, experimenta a noite do corpo sonhando com os dias venturosos do espírito. São percepções que se afiguram perigosas, na medida em que, não corrigidas, pela auscuta ao Si-Mesmo, às Leis de Deus gravadas na Consciência, podem conduzir a quadros depressivos mais sérios. Nesses casos, é necessária a
proteção ao ego, pois sua dissolução acarretaria transtornos mentais que atrasariam a jornada.
Essas travessias que se dão sem o amadurecimento do Espírito, experimentam a alma e geram conhecimento, todavia, trazem os riscos que reportamos.
O momento de Jesus no Horto é um exemplo de travessia noturna. A solidão e o abandono são premissas da glorificação. Humberto de Campos, ao descrever a cena do Horto, retira a lição como exemplificação a todos nós. Percebeu o autor espiritual que todos nós passamos por várias travessias noturnas, que nem todas levam ao reencontro com o Pai, mas são situações muito importantes para os que a vivenciam.
Naquele instante do Horto, cada um dos apóstolos estava vivendo sua
travessia noturna. Pedro, imerso em conflitos, apenas chegaria ao término da travessia na manhã do Petencostes. João a encerraria nos instantes da crucificação, estando nos braços de Maria, qual criança que, naquele momento se tornaria adulto. Tiago, após o Petencostes, encerraria sua travessia com as flechas sacrificiais que dilacerariam seu coração.
Bartimeu era cego desde há muito tempo. Rezava a tradição que as doenças da alma deveriam ser curada no Templo e, certamente, já passara por vários sacerdotes. Continuava cego e vivia da mendicância. Era um homem medíocre e sem qualquer virtude. Mas percebe movimentação a sua volta. É possuído por um sentimento de glorificação, como se seu Espírito enxergasse. Levanta do chão sujo, enfrenta a multidão com os cotovelos, gritando, repetidamente: Jesus, filho de David, tende piedade!. Insiste, gritando mais e mais alto,
até que um dos discípulos o busque e o leve à presença do Mestre. Bartimeu, que queres que eu te faça?. Que eu veja, Senhor!. Naquele instante, o sol clareou novamente os olhos de Bartimeu, que voltou a enxergar. Terminava ali a travessia noturna de Bartimeu, que reencontrara a luz de sua alma, que guiaria seus passos para o reencontro com o Pai que nunca nos abandonou, nunca esteve fora de nós.
O filho pródigo foi recebido com festa, porque sua fuga não rompeu os laços com o pai.
Jamais tivemos a oportunidade tão plena de percebermos que Deus vive em nós. Rompendo as amarras da teologia sufocante, o Espiritismo permite que libertemos o Deus aprisionado em nossa alma, sufocado por atribuirmos sua presença como Ser distante e fora de nós.
Sois deuses, disse o salmista e repetiu Jesus. Que o deus que habita em mim possa se manifestar sempre, através do deus que habita o coração de cada um.

- Jorge Cecílio Daher Júnior (GO)

Frases de Chico Xavier

"Frases de Chico Xavier"

Frase de Chico Xavier:O bem que praticares, em algum lugar, é teu advogado em toda parte.´

Frase de Chico Xavier: Lembra-te sempre : cada dia nasce de um novo amanhecer.

Frase de Chico Xavier: Não exijas dos outros qualidades que ainda não possuem. A árvore nascente aguarda-te a bondade e a tolerância para que te possa ofertar os próprios frutos em tempo certo´

Frase de Chico Xavier: Lembra-te de que falando ou silenciando, sempre é possível fazer algum bem´.

Frase de Chico Xavier: Deixe algum sinal de alegria, onde passes...

Frase de Chico Xavier:Hoje auxiliamos, amanhã seremos os necessitados de auxilio´.

Frase de Chico Xavier: ´Ninguém quer saber o que fomos, o que possuíamos, que cargo ocupávamos no mundo; o que conta é a luz que cada um já tenha conseguido fazer brilhar em si mesmo´.

Frase de Chico Xavier: Agradeço todas as dificuldades que enfrentei; não fosse por elas, eu não teria saído do lugar. As facilidades nos impedem de caminhar. Mesmo as críticas nos auxiliam muito

Frase de Chico Xavier: Se as críticas dirigidas a você são verdadeiras, não reclame; se não são, não ligue para elas.

Frase de Chico Xavier: ´Não cobres tributos de gratidão´.

Frase de Chico Xavier: ´A desilusão de agora será benção depois´.

Frase de Chico Xavier: Uma das mais belas lições que tenho aprendido com o sofrimento: Não julgar, definitivamente não julgar a quem quer que seja

Frase de Chico Xavier: ´Nenhuma atividade no bem é insignificante. As mais altas árvores são oriundas de minúsculas sementes´.

Frase de Chico Xavier: ´Nem Jesus Cristo, quando veio à Terra, se propôs resolver o problema particular de alguém. Ele se limitou a nos ensinar o caminho, que necessitamos palmilhar por nós mesmos´.

Frase de Chico Xavier: ´Se Allan Kardec tivesse escrito que ´fora do Espiritismo não há salvação´, eu teria ido por outro caminho. Graças a Deus ele escreveu ´Fora da Caridade´, ou seja, fora do Amor não há salvação´.

Frase de Chico Xavier: ´A omissão de quem pode e não auxilia o povo, é comparável a um crime que se pratica contra a comunidade inteira. Tenho visto muitos espíritos dos que foram homens públicos na Terra em lastimável situação na Vida Espiritual´.

Frase de Chico Xavier: ´O desespero é uma doença. E um povo desesperado,lesado por dificuldades enormes, pode enlouquecer, como qualquer indivíduo. Ele pode perder o seu próprio discernimento. Isso é lamentável, mas pode-se dizer que tudo decorre da ausência de educação, principalmente de formação religiosa´

Missão dos Espíritas

É verdade.

A missão dos espiritas é também iluminar a mente de seus irmãos.

A missão dos espiritas é iluminar o espirito sobre a sua destinação.


A missão dos espiritas é implantar o reino de Deus em todos os corações.

A missão dos espiritas é difundir o evangelho de Jesus Cristo.

A missão dos espiritas é auxiliar e passar.

A missão dos espiritas é ampliar em si e em torno de si,

os ensinamentos crísticos.


Todos podemos fazer isso.

Em qualquer parte do globo terrestre.


Auxiliar.

Socorrer.

Instruir.


Espiritas.

Façamos a nossa parte.


Afinal, temos como lema:

Fora da caridade não há salvação.


E você

tem duvidas sobre isso?

Muita Luz e paz.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Natal e Espiritismo

Sérgio Biagi Gregório

1. INTRODUÇÃO

De onde vem o termo Natal? Por que 25 de dezembro? Desde quando se comemora nesta data? Qual o espírito do Natal? Qual o significado dos presentes, das árvores e do Papai Noel? Tencionamos desenvolver este assunto analisando o nascimento de Cristo, o espírito natalício e os subsídios oferecidos pelo Espiritismo, para uma melhor interpretação da sua simbologia.

2. CONCEITO

Natal - Do latim natale significa nascimento. Dia em que se comemora o nascimento de Cristo (25 de dezembro).

3. HISTÓRICO

As Igrejas orientais, desde o século IV, celebravam a Epifania (“aparição” ou “manifestação”), em 6 de janeiro, cujo simbolismo referia-se ao mistério da vinda ao mundo do Verbo Divino feito homem. Em Roma, desde o tempo do Imperador Aureliano (274), o dia 25 de dezembro (solstício de Inverno, no calendário Juliano) era consagrado ao Natalis Solis Invicti, festa mitríaca do “renascimento” do Sol. A Igreja romana não tardou em contrapor-lhe a festa cristã do Natale de Cristo, o verdadeiro “sol de justiça”. Esta festa pronto se estendeu por todo o Ocidente, não tardando também em ser adotada por todas as igrejas orientais. (Enciclopédia luso-Brasileira de Cultura)

O nascimento de Cristo sempre esteve envolvido em controvérsias. Para uns, seria 1.º de janeiro; para outros, 6 de janeiro, 25 de março e 20 de maio. Pelas observações dos chineses, o Natal seria em março, que foi quando um cometa, tal qual a estrela de Belém, reluziu na noite asiática no ano 5 d.C. Como data festiva, é um arranjo inventado pela Igreja e enriquecida através dos tempos pela incorporação de hábitos e costumes de várias culturas: a árvore natalina é contribuição alemã (século VIII); o Papai Noel (vulgo São Nicolau) nasceu na Turquia (século IV); os cartões de natal surgiram na Inglaterra, em meados do século XIX. (Estado de São Paulo, p. D3)

4. NASCIMENTO DE JESUS

4.1. A MANJEDOURA

Conta-se que Jesus nascera numa manjedoura, rodeado de animais. Um monge diz que isso não é verdade, pois como a casa de José era pequena para abrigar toda a sua família, o novo rebento deu-se no estábulo. Em termos simbólicos, a manjedoura revela o caráter humilde e simples daquele que seria o maior revolucionário de todos os tempos, sem que precisasse escrever uma única palavra. Os exemplos de sua simplicidade devem nortear os nossos passos nos dias que correm. De nada adianta dizermo-nos adeptos de Cristo e agirmos de modo contrário aos seus ensinamentos.

4.2. ANÚNCIO PROFÉTICO

O nascimento de Jesus fora anunciado pelos profetas da antiguidade, nos seguintes termos: “Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e ele será chamado pelo nome de Emanuel (que quer dizer: Deus convosco)”. Na época predita veio ao mundo o arauto, o Salvador, aquele que tiraria os “pecados” do mundo. Os judeus, contudo, não entenderam a grande mensagem do Salvador: esperavam-no na condição de rei, de governador. Ele, porém, dizia ser rei, mas não deste mundo. Enaltecendo a continuidade desta vida, vislumbrava-nos a expectativa da vida futura, muito mais proveitosa e sem as dificuldades materiais da vida presente.

4.3. UMA NOVA LUZ

O nascimento de Jesus coincide com a percepção de uma nova luz para a humanidade sofredora. Os ensinamentos de Jesus devem servir para transformar não apenas um homem, mas toda a Humanidade. Numa simples visão de conjunto, observamos o que era planeta antes e no que se transformou depois de sua vinda. O Espírito Emmanuel, em Roteiro, diz-nos que antes de Cristo, a educação demorava-se em lamentável pobreza, o cativeiro era consagrado por lei, a mulher aviltada qual alimária, os pais podiam vender os filhos etc. Com Jesus, entretanto, começa uma era nova para o sentimento. Iluminados pela Divina influência, os discípulos do Mestre consagram-se ao serviço dos semelhantes; Simão Pedro e os companheiros dedicam-se aos doentes e infortunados; instituem-se casas de socorro para os necessitados e escolas de evangelização para o espírito popular etc. (Xavier, 1980, cap. 21)

5. A SIMBOLOGIA DO NATAL

5.1. PAPAI NOEL

Papai Noel, símbolo do Natal, é usado pelos comerciantes, a fim de incrementar as vendas dos seus produtos no final de cada ano. O espírito do natal, segundo a propaganda, está relacionado com a fartura da mesa, a quantidade de brinquedos e outros produtos que o consumidor possa ter em seu lar. À semelhança dos reflexos condicionados, estudados por Pavlov, há repetição, intensidade e clareza dos estímulos à compra, dando-nos a entender que estamos comemorando o renascimento de Cristo. Se não prestarmos atenção, cairemos na armadilha do consumismo exacerbado, dificultando a meditação e a reflexão durante esta data tão especial para a Humanidade.

5.2. O ESPÍRITO DO NATAL

O espírito do Natal deve ser entendido como a revivescência dos ensinos de Cristo em cada uma de nossas ações. Não há necessidade de esperarmos o ano todo para comemorá-lo. Se em nosso dia-a-dia estivermos estendendo simpatia para com todos e distribuindo os excessos de que somos portadores, estaremos aplicando eficazmente a “Boa-Nova” trazida pelo mestre Jesus. “Não se pode servir a Deus e a Mamon”. A perfeição moral exige distinção entre espírito e matéria. A riqueza existe para auxiliar o homem no seu aperfeiçoamento espiritual. Se lhe dermos demasiado valor, poderemos obscurecer nossa iluminação interior. Útil se torna, assim, conscientizarmo-nos de que somos usufrutuários e não proprietários dos bens terrenos.

5.3. NUMA VÉSPERA DE NATAL

Conta-nos o Espírito Irmão X que Emiliano Jardim, cujas noções materialistas estragavam-lhe os pensamentos, viera a sofrer uma dor de paternidade, ao ver o seu filho arrebatado pela morte. Abatido pela dor, começa a se interessar pelo Catolicismo. Porém, repelia veemente todos os que pensavam de forma diferente a respeito do Cristo. Do Catolicismo passa para o Protestantismo, mas sem que o Mestre penetrasse no seu interior. Depois de longa luta, Emiliano sente-se insatisfeito e ingressa nos arraiais espiritistas. Emiliano, como acontece à maioria dos crentes, vislumbra a verdade dos ensinamentos de Jesus, anseia por vê-lo nos outros homens, antes de senti-lo em si mesmo.

Com o passar do tempo, teve outros revezes.

Numa véspera de Natal, em que o ambiente festivo lhe falava da ventura destruída do coração, Emiliano quis por termo à própria vida.

Na hora amargurada em que o mísero se dispunha a agravar as próprias angústias, uma voz se fez ouvir no recôndito de seu espírito:

“— Emiliano, há quanto tempo eu buscava encontrar-te; mas sempre me chamavas através dos outros, sem jamais me procurar em ti mesmo! Dá-me tua dor, reclina a cabeça cansada sobre o meu coração!... Muitas vezes, o meu poder opera na fraqueza humana. Raramente meus discípulos gozam o encontro divino, fora das câmeras do sofrimento. Quase sempre é necessário que percam tudo, a fim de me acharem em si mesmos”.

Emiliano estava inebriado. E a voz continuou:

“— Volta ao esforço diário e não esqueças que estarei com os meus discípulos sinceros até ao fim dos séculos! Acaso poderias admitir que permaneço em beatitude inerte, quando meus amigos se dilaceram pela vitória de minha causa? Não posso estacionar em vãs disputas, nem nas estéreis lamentações, porque necessitamos cuidar do amoroso esclarecimento das almas. É por isso que estou, mais freqüentemente, onde estejam os corações quebrantados e os que já tenham compreendido a grandeza do espírito de serviço. Não te rebeles contra o sofrimento que purifica, aprende a deixar os bonecos a quantos ainda não puderam atravessar as fronteiras da infância. Não analises nunca, sem amar. Lembra-te de que quando criticares teu irmão, também eu sou criticado. Ainda não terminei minha obra terrestre, Emiliano! Ajuda-me, compreendendo a grandeza do seu objetivo e entendendo a fragilidade dos teus irmãos”. (Xavier, 1982, p. 40)

6. A MENSAGEM DO CRISTO ATRAVÉS DO ESPIRITISMO

6.1. UM CONQUISTADOR DIFERENTE

A história está repleta de conquistadores: Sesóstris, em seu carro triunfal, pisando escravos e vencidos, em nome do Egito sábio; Nabucodonosor, arrasando Nínive e atacando Jerusalém; Alexandre, à maneira de privilegiado, passa esmagando cidades e multidões; Napoleão Bonaparte, atacando os povos vizinhos. A maioria desses homens fizeram as suas conquistas à custa de punhal e veneno, perseguição e força, usando exército e prisões, assassínio e tortura.

“Tu, entretanto, perdoando e amando, levantando e curando, modificaste a obra de todos os déspotas e legisladores que procediam do Egito e da Assíria, da Judéia e da Fenícia, da Grécia e de Roma, renovando o mundo inteiro. Não mobilizaste soldados, mas ensinaste a um punhado de homens valorosos a luminosa ciência do sacrifício e do amor. Não argumentaste com os reis e com os filósofos; entretanto, conversaste fraternalmente com algumas crianças e mulheres humildes, semeando a compreensão superior da vida no coração popular”. (Xavier, 1978, cap. 49, p. 261)

6.2. O ESPIRITISMO COMO REVIVESCÊNCIA DO CRISTIANISMO

De acordo com os princípios doutrinários do Espiritismo, Jesus foi o personificador da segunda revelação da lei de deus, pois a primeira viera com Moisés, no monte Sinai, onde recebera a tábua dos Dez Mandamentos. Como Moisés misturou a lei humana com a lei divina, Jesus veio para retificar o que de errado havia, como é o caso de transformar a lei do “olho por olho” e a do “dente por dente” na lei do amor e do perdão. A sua pregação da boa nova veio ensinar ao homem a lei de causa e efeito e da justiça divina, quer seja nesta ou na outra vida, ou seja, a vida futura. Allan Kardec, com o auxílio dos Espíritos superiores, deu continuidade a esta grande obra de elucidação dos caminhos da evolução.

6.3. FESTA DE NATAL PARA OS ESPÍRITAS

Na noite em que o mundo cristão festeja a Natividade do Menino Jesus, os espíritas devem se lembrar de comemorar o nascimento da Doutrina Espírita, entendida como a terceira revelação, um novo marco no desenvolvimento espiritual da humanidade, em que todos os problemas, todas as dúvidas, todas as dores serão explicadas à luz da razão e do bom senso. Dentro deste contexto, a lei da reencarnação é um dos princípios fundamentais para o perfeito entendimento do sofrimento e da dor. De acordo com a reencarnação ou a diversidade das vidas sucessivas, temos condições de melhor vislumbrar o nosso futuro, que nada mais é do que uma continuidade daquilo que estivermos fazendo nesta vida. Optando pela prática do bem, teremos uma vida futura feliz; escolhendo o mal, teremos que sofrer as suas conseqüências, no sentido de nos adaptarmos à lei do progresso, que é inexorável.

7. CONCLUSÃO

Jesus, através de seus emissários, está sempre falando conosco, no sentido de nos incentivar a amar cada vez mais o nosso próximo, independentemente de como este esteja nos tratando. Pergunta-se: que vantagem há em amarmos os que nos amam?

sábado, 11 de dezembro de 2010

Não Esqueça no Natal, Lembrar do Aniversariante

Prezados Irmãos!

Está chegando o momento transcedental da manjedoura de Belém.
Momento este que ficou marcado na história da humanidade, com o nascimento do Messias, que veio dissipar as trevas, confundir os orgulhosos e Glorificar os justos.
O grande som das trombetas vieram anunciar de forma humilde a chegada do maior exemplo para a humanidade.
Natal, esta data tão sublime, onde muitas pessoas associam a Papai Noel, quando na realidade, esquecem do verdadeiro sentido do Natal, que é a confraternização entre os povos, não só nesse dia, mas sempre! Quando o Mestre dos Mestres se prontificou a vir a terra e dar os ensinamentos para que a humanidade progredisse, passou pela ingratidão, humilhação e todo o tipo de afronta que os homens moralmente falidos o fizeram passar. Ainda depois disso tudo, mostrou a grandeza do seu amor que é infinito, quando disse:Pai, perdoai-os porque não sabem o que fazem. Com Isso Jesus veio concretizar a ignorância moral da maioria das pessoas que habitavam o planeta terra, onde era primordial a sua lição imortal que deixou nos corações dos homens de boa vontade.
Quando chegar o Natal, não se esqueça de lembrar do aniversariante, pois muitas vezes esquecemos nos comes e bebes a lição maior que o Mestre nos deixou: AMAR A DEUS SOBRE TODAS AS COISAS E AO PRÓXIMO COMO A SI MESMO! Então quem ama o próximo ama a Deus e diante dessa verdade vamos buscar o auxílio aos mais necessitados, pois fazendo por eles é o maior presente que podemos dar ao aniversariante.
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

Por: Antonio Carlos Laranjeira Miranda

Terra: Planeta em Transição

No Evangelho Segundo Mateus, capítulo 13, versículos 24 a 43, vemos Jesus narrar e interpretar a famosa Parábola do Joio e do Trigo. Demonstra o Mestre que estava para chegar uma época em que teríamos que fazer a separação do joio e do trigo, sendo este último a matéria-prima para a fabricação do pão, elemento fundamental na alimentação da humanidade desde a Antigüidade, sem nos esquecermos de que o próprio Jesus asseverou que “Eu sou o pão da vida” (João 6:35). Desta forma podemos entender que o trigo representa o que temos de bom em nós, as conquistas, as virtudes, enfim, os valores crísticos que já fazem parte de nosso patrimônio espiritual, os quais temos o dever de potencializá-los ainda mais, principalmente expandindo-os no relacionamento com o próximo.

E o joio? Trata-se de uma planta que apresenta grande semelhança com o trigo, pois é também uma graminácea e frutifica em espigas, embora menores e mais magras que as do trigo. É um cereal venenoso, com efeitos de náuseas e embriaguez por causa de um cogumelo microscópico que vive em simbiose com o grão logo que ele se forma. Quando se formam as espigas, torna-se fácil distingui-lo do trigo, mas com ele se confunde durante todo o crescimento. Assim sendo, o joio representa as dificuldades que ainda trazemos em nosso mundo íntimo. São as nossas mazelas e vícios que precisam ser vencidos através da efetivação do bom combate.

As oportunidades para vencermos a nós mesmos, fazendo com que o trigo cresça e o joio diminua, são concedidas por Deus através de nossas sucessivas encarnações, pois como assevera o Espírito Emmanuel: “Cada encarnação é como se fosse um atalho nas estradas da ascensão. Por este motivo o ser humano deve amar a sua existência de lutas e de amarguras temporárias, porquanto ela significa uma bênção divina, quase um perdão de Deus”.

A Doutrina Espírita nos ensina que temos quantas encarnações forem necessárias ao nosso aprendizado. Entretanto, soa no relógio cósmico o momento em que o planeta deve ascender na hierarquia dos mundos. Não é novidade para nenhum de nós que, conforme ensinamentos dos Espíritos Superiores, a nossa abençoada escola chamada Terra está passando por um período de transição. O planeta está saindo de sua situação como mundo de provas e expiações e já está vivenciando o prenúncio de seu novo estado evolutivo: mundo de regeneração. É bom salientarmos que em tais mundos ainda há a presença do mal, mas a diferença, com relação aos mundos de provas e expiações, é que nos mundos regenerados o bem supera o mal, pois a quantidade de Espíritos com maior propensão à prática do amor é muito maior.

Na parábola citada anteriormente, Jesus nos mostra que a separação do joio e do trigo ocorrerá no final do mundo. Precisamos agora ampliar nossa interpretação do ensinamento. Trigo, simbolizando as virtudes já conquistadas pelo Espírito, pode ser entendido aqui como aquelas pessoas que, apesar de suas inúmeras dificuldades, já se encontram no caminho do bem e da luz, demonstrando grande esforço e perseverança. São criaturas que, embora imperfeitas, já têm consciência de que apenas a prática do bem e do amor ao próximo constituem a sua garantia de felicidade espiritual no seio do Criador. Neste sentido, o joio dos vícios que permeiam nossa individualidade espiritual, representa as pessoas que ainda se comprazem com a prática do mal e que se enveredam, conscientemente, por caminhos menos felizes, os quais resultarão em dores físicas ou morais no porvir.

De acordo com o ensinamento evangélico, o Mestre nos ensina que estes tipos de Espíritos serão separados no temível fim do mundo. Cabe ressaltar que no original em grego encontramos a palavra eon, que foi traduzida erroneamente como mundo. Eon significa ciclo ou etapa, e não mundo. Portanto, Jesus nos diz que a separação entre maus e bons, joio e trigo, ocorrerá no final de um ciclo ou, em outras palavras, ao término de uma etapa evolutiva da humanidade. E nós, querido leitor, estamos vivendo este momento ímpar em nossa evolução espiritual. Estamos reencarnados vivenciando a fase de transição de mundo de provas e expiações para mundo de regeneração. É o momento em que precisamos rever nossa vida e nos definirmos como joio ou como trigo.
“Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra”, ensinou Jesus (Mateus 5:5). Tal afirmativa nos faz lembrar novamente do Espírito Emmanuel, desta vez em seu livro A Caminho da Luz, psicografado pelo saudoso médium Francisco Cândido Xavier. Conta-nos o benfeitor espiritual que há milênios um planeta da estrela Capela, pertencente à constelação do Cocheiro, passava por um momento em seu ciclo evolutivo muito semelhante ao que estamos vivendo na Terra. Tal planeta também estava deixando de ser um mundo de provas e expiações e começava a galgar os degraus da regeneração.

Entretanto, existiam naquele mundo alguns milhões de Espíritos rebeldes que dificultavam a consolidação das conquistas daqueles povos piedosos e cheios de virtude. Em função disso, os diretores espirituais do Cosmo efetuaram um grande trabalho de saneamento geral naquele orbe e decidiram localizar aquelas entidades infelizes aqui na Terra onde, através da dor e dos trabalhos difíceis, ajudariam seus irmãos inferiores e encontrariam o ambiente propício para sedimentarem os valores que lhes permitiriam, um dia, retornar ao seu planeta em Capela. Porém, esta história é muito longa e voltaremos a ela em outro artigo. Nossa intenção agora, leitor amigo, é fazê-lo refletir quanto à importância desta nossa encarnação e, para isso, utilizaremos algumas informações levantadas pelo escritor e orador espírita Alkíndar de Oliveira.

No livro Atitudes de Amor, o Espírito Bezerra de Menezes nos informa que o Espiritismo foi planejado pelos mentores espirituais para ser implantado na Terra em três períodos de setenta anos: o primeiro vai de 1857 a 1927 e define-se como a fase de consolidação da Doutrina Espírita. O segundo estende-se de 1927 a 1997, é a fase de proliferação dos núcleos espíritas e de difusão do conhecimento doutrinário. O último período vai de 1997 a 2067 e é chamado de Período das Atitudes, momento em que devemos fazer com o que o conhecimento adquirido se transforme, efetivamente, em boas obras.

Na questão 798 de O Livro dos Espíritos, Allan Kardec comenta que o Espiritismo demoraria cerca de duas a três gerações para se tornar crença comum (perceba que o Codificador fala em crença e não em religião, o que é bem diferente). Considerando as informações da época, estimamos cada geração em 70 anos. Assim, o período assinalado por Kardec compreende os anos entre 1997 e 2067, tendo em a vista a publicação de O Livro dos Espíritos no ano de 1857. Reparem que é o terceiro período assinalado por Bezerra de Menezes.

No livro Plantão de Respostas II o Espírito Emmanuel, através da mediunidade de Chico Xavier, nos informa que a Terra será um mundo de regeneração por volta do ano 2057, dentro do período previsto por Kardec e Bezerra. Além disso, encontramos informações dos Espíritos Ermance Dufaux e Maria Modesto Cravo, respectivamente nos livros Reforma Íntima Sem Martírio e Momentos de Harmonia, que há alguns anos espíritos mais nobres estão reencarnando em nosso planeta. Não obstante, durante uma palestra em 1999 o querido médium e orador Divaldo Pereira Franco, divulgou a informação de que no ano 2025 cerca de duzentos mil espíritos altamente evoluídos reencarnarão na Terra.

Na revista Reformador edição de janeiro/2005, órgão de divulgação da Federação Espírita Brasileira, nos deparamos com uma mensagem psicofônica do Espírito Bezerra de Menezes, através de Divaldo Pereira Franco, onde ele assim se expressa: “Não podemos negar que este é o grande momento de transição do Mundo de Provas e de Expiações para o Mundo de Regeneração”.

Diante de todas essas informações, façamos um exercício de imaginação: como estará a Terra por volta do ano 2060? Os Espíritos nobres que estão reencarnando há alguns anos estarão com mais de 70 anos de idade. Aqueles altamente evoluídos, mencionados por Divaldo, estarão com 35 anos e os atuais líderes mundiais estarão desencarnados.

E nós, onde estaremos? Ou ainda estaremos aqui na Terra ajudando na construção de um mundo melhor, praticando os ensinamentos espíritas que temos recebido, ou estaremos já no plano espiritual. Se estivermos na outra dimensão da vida, como estaremos? Felizes e contribuindo para a implantação do mundo de regeneração ou estaremos, como os Capelinos, nos preparando para reencarnações educativas e menos fáceis em mundos compatíveis com a nossa evolução espiritual? Estaremos entre os regenerados ou entre os rebeldes aos ditames do Senhor da Vida?

Diante dos fatos e deste momento singular pelo qual passa o nosso planeta, torna-se necessário conscientizarmo-nos de que esta é a nossa mais importante encarnação de todos os tempos, pois estamos tendo a derradeira oportunidade de nos redimirmos e nos transformarmos naqueles bem-aventurados que herdarão a Terra regenerada. Se não aproveitarmos o momento, o Pai nos concederá outras oportunidades misericordiosas de elevação espiritual, porém não mais no nosso mundo, pois não teremos condições morais e vibratórias para habitá-lo.

Precisamos valorizar e agradecer a Deus e aos bons Espíritos que endossaram a nossa encarnação neste momento importantíssimo tanto para nós quanto para nosso abençoado planeta-escola. E não há dúvida de que a melhor forma de fazermos isso é vivenciando tudo aquilo que temos aprendido no Espiritismo, principalmente os ensinamentos daquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida.


Valdir Pedrosa

Mundo de Regeneração

1. HUMANIDADE CÓSMICA - Aquilo que há cem anos parecia uma simples utopia, ou alucinação de um visionário, hoje já se tornou admitido até mesmo pelos mais fortes redutos da tradição terrena. A evolução acelerou-se de tal forma, no transcorrer deste século, a partir da publicação de O Livro dos Espíritos, que o sonho de uma humanidade cósmica parece preste a mostrar-nos a sua face real, através das conquistas da ciência. Nossos primeiros vôos nas vastidões espaciais alargaram as perspectivas da vida humana, ao mesmo tempo que as investigações do cosmo modificaram a posição dos cientistas e dos próprios setores religiosos mais tradicionais. Admite-se a existência de mundos habitados, em nosso sistema e fora dele, e a possibilidade do estabelecimento de um próximo intercâmbio entre as esferas celestes.

O Livro dos Espíritos já afirmava, desde meados do século dezenove, que o cosmos está povoado de humanidades. E Kardec inaugurou as relações interplanetárias conscientes, através das comunicações mediúnicas, obtendo informações da vida em outros globos do nosso próprio sistema solar. Na secção "Palestras Familiares de Além-Túmulo", da "Reveu Spirite", Kardec publicou numerosas conversações com habitantes de outros planetas, alguns deles, como Mozart e Pallissy, emigrados da Terra para mundos melhores. Todo o capítulo terceiro da primeira parte de O Livro dos Espíritos refere-se ao problema da criação e da formação dos mundos, contendo, do item 55 ao 58, os períodos anunciadores da "Pluralidade dos Mundos".

Os Espíritos afirmaram a Kardec que todos os mundos são habitados. A audácia da tese parece temerária, e está ainda muito longe de ser admitida. Mas é evidente que em parte já está sendo aceita por todo o mundo civilizado. Por outro lado, a condição fundamental para a sua aceitação já foi também admitida: a de que as formas de vida variam ao infinito, de mundo para mundo, uma vez que a constituição dos próprios globos é também a mais variada possível. Hoje, nos países cientificamente mais adiantados, como os Estados Unidos e a Rússia, fazem-se experiências de laboratório para o estudo da astrobiologia. As sondas espaciais, por sua vez, demonstraram a existência de vida microscópica nas mais distantes regiões do espaço, e o exame de aerólitos vem demonstrando que as pedras estelares trazem para a terra restos de fósseis desconhecidos.

Concomitantemente com esses progressos, na própria Terra as investigações científicas se ampliaram, revelando através da Física, da Biologia e da Psicologia, novas dimensões da vida. A Física Nuclear, a Biônica, a Cibernética e a Parapsicologia modificam a nossa posição diante dos problemas do mundo e da vida. Os parapsicólogos demostram a existência de um substrato extrafísico na mente humana, e portanto na constituição do homem, ao mesmo tempo que os físicos nucleares revelam a natureza energética da matéria. Nossas concepções vão sendo impulsionadas irresistivelmente além do domínio físico, em todos os sentidos. A humanidade múltipla, de natureza cósmica, habitando dimensões desconhecidas, já não parece mais uma utopia ou uma simples alucinação.

No item 55 de O Livro dos Espíritos encontramos esta afirmação, em resposta à pergunta de Kardec sobre a habitabilidade de todos os mundos; "Sim, e o homem terreno está bem longe de ser, como acredita, o primeiro em inteligência, bondade e perfeição. Há, entretanto, homens que se julgam espíritos fortes e imaginam que este pequeno globo tem o privilégio de ser habitado por seres racionais. Orgulho e vaidade! Crêem que Deus criou o Universo somente para eles". No item 56 vemos esta antecipação: "a constituição dos diferentes mundos não se assemelha." E no item 57, a explicação de que os mundos mais distantes do sol tem outras fontes de luz e calor, que ainda não conhecemos.

A tese da pluralidade dos mundos habitados leva-nos imediatamente ao conceito de solidariedade cósmica. No item 176 encontramos a afirmação de que: "todos os mundos são solidários". Esta solidariedade se traduz pelo intercâmbio reencarnatório. Os espíritos mudam de globos, de acordo com as necessidade ou conveniência de seu processo evolutivo. Essas migrações, entretanto, não são feitas ao acaso, mas segundo as leis universais da evolução. Cada mundo se encontra num determinado grau de aperfeiçoamento. Suas portas serão franqueadas aos espíritos, na proporção em que estes vão, por sua vez, atingindo graus superiores em sua evolução pessoal. Como os homens nas relações internacionais, espíritos superiores podem reencarnar-se em mundos inferiores, cumprindo missões civilizadoras. Da mesma maneira, espíritos, de mundos inferiores podem estagiar em mundos superiores se estiverem em condições para isso, e voltar aos seus globos, para ajudá-los a melhorar.

A humanidade cósmica é solidária, e a civilização cósmica é infinitamente superior ao nosso pobre estágio terreno, de que tanto nos vangloriamos. Há mundos de densidade física fora do alcance dos nossos sentidos, habitados por humanidades que nos pareceriam fluídicas, e que não obstante são, no plano em que se encontram, concretas e definidas. Humanidades felizes, que se utilizam de corpos leves e habitam regiões paradisíacas, numa estrutura social em que prevalecem o bem, o amor, a paz, o perfeito entendimento entre as criaturas. Humanidades livres da escravidão dos instintos animais e dos corrosivos morais do egoísmo e do orgulho, que infelicitam os mundos inferiores.

"A vida dos Espíritos, no seu conjunto, segue as mesmas fases da vida corpórea", ensina Kardec, no comentário que faz no item 191 de O Livro dos Espíritos. Os espíritos passam gradativamente "do estado de embrião ao de infância, para chegarem, por uma sucessão de períodos, ao estado de adulto, que é o da perfeição, com a diferença de que nesta não existe o declínio nem a decrepitude da vida corpórea". Assim, as concepções geocênctricas de céu e inferno, como prêmio ou castigo eternos de uma curta existência num pequeno mundo inferior, são substituídas pela compreensão copérnica da vida universal e do progresso infinito para todas as criaturas. Bastaria esta rápida visão da humanidade cósmica para nos mostrar como ainda estamos, infelizmente, distantes de uma assimilação perfeita da Doutrina Espírita. Quando conseguirmos compreender integralmente esta cosmo-sociologia e suas imensas conseqüências, estaremos à altura do Espiritismo.

2. DESTINAÇÃO DA TERRA - Os Espíritos explicam, no capítulo terceiro da primeira parte de O Evangelho Segundo o Espiritismo: "A qualificação de mundos inferiores e mundos superiores é antes relativa que absoluta. Um mundo é inferior ou superior em relação ao que esta abaixo ou acima dele, na escala progressiva". A medida cósmica é a evolução. "Embaixo" e "em cima" são expressões graduais, e não locais. A Terra já foi um mundo inferior, quando habitado pela humanidade primitiva que nela se desenvolveu. O seu progresso foi ainda incentivado por migrações de espíritos, realizadas em massa, no momento em que um mundo distante conseguiu subir na escala, dos mundos. Seus "resíduos evolutivos" foram então transferidos para o nosso planeta. Criaturas superiores aos habitantes terrenos, exilados na Terra, deram-lhe extraordinário impulso evolutivo. Assim, ela passou de mundo primitivo para a categoria de mundo de expiações e provas.

Essa é a condição atual da Terra. Mas é, também, a condição que ela está preste a deixar, a fim de elevar-se à categoria de mundo de regeneração. Vejamos, porém, como explicar o nosso estágio atual. Ensina O Evangelho Segundo o Espiritismo, no capítulo citado: "A superioridade da inteligência de um grande número de habitantes indica que ela não é um mundo primitivo destinados à encarnação de Espíritos ainda saídos das mãos do Criador. As qualidades inatas que eles revelam são a prova de que já viveram, e de que realizaram algum progresso. Mas também os numerosos vícios a que se inclinam são o índice de uma grande imperfeição moral. Eis porque Deus os colocou numa terra ingrata, para ai expiarem as sua faltas, através de um trabalho penoso e das misérias da vida, até que mereçam passar para um mundo mais feliz".

Ao mesmo tempo, Espíritos ainda na infância evolutiva, e Espíritos de um grau intermediário, mesclam-se às coletividades em expiação. Representamos uma mistura de exilados e população aborígine. Os antigos habitantes do mundo primitivo convivem com os imigrantes civilizadores. Mas estes mesmos civilizadores ainda são bastante imperfeitos, e realizam a sua missão expiando as faltas cometidas em outros mundos. A explicação prossegue: "A terra nos oferece, portanto, um dos tipos de mundos expiatórios, de que as variações são infinitas mas que tem por caracter comum o de servirem de lugar de exílio para os Espíritos rebeldes à lei de Deus. Nesses mundos, os Espíritos têm de lutar ao mesmo tempo com a perversidade dos homens e contra a inclemência da natureza, duplo e penoso trabalho, que desenvolve simultaneamente as qualidades do coração e as da inteligência. É assim que Deus, na sua bondade, transforma o próprio castigo em proveito do progresso do Espírito".

Esta bela comunicação é assinada por Santo Agostinho, que usa o título de santo para fins de identificação. A seguir, com a mesma assinatura, temos uma mensagem sobre a condição do mundo em que o nosso planeta se transformará: o mundo de regeneração. Este mundo, explica o Espírito: "serve de transição entre os mundos de expiação e os mundos felizes". São, portanto, simplesmente escala de aperfeiçoamento na cadeia universal dos mundos. Prossegue a informação espiritual: "Nesses mundos, sem dúvida o homem está ainda sujeito às leis que regem a matéria. A humanidade experimenta as vossas sensações e os vossos desejos, mas livres das paixões desordenadas que vos escravizam." Estas frases traduzem uma bem-aventurança com que há muito sonhamos: "A palavra amor está gravada em todas as frontes; uma perfeita eqüidade regula as relações sociais" .

Não estamos diante de uma humanidade perfeita, mas apenas de um grau de evolução superior ao nosso. O homem ainda é falível, sujeito a se deixar levar por resíduos do passado, arriscando-se a cair de novo em mundo expiatários para enfrentar provas terríveis. Quem não verifica o realismo desta descrição, comparando o nosso desenvolvimento atual com o nosso passado, e verificando as diretrizes do progresso terreno? Os Espíritos não anunciam uma transição miraculosa, mas uma transformação progressiva do mundo, que já esta em plena realização. Nosso mundo de regeneração será mais ou menos feliz, segundo a nossa capacidade de construí-lo. O homem terreno atingiu o grau evolutivo que lhe permite responder plenamennte pelas suas ações. Deus respeita o seu livre-arbítrio, para que ele possa aumentar a sua responsabilidade.

No mesmo capítulo citado, e com a mesma assinatura espiritual encontramos ainda estes esclarecimentos. "Acompanhando o progresso moral dos seres vivos, os mundos por eles habitados progridem materialmente. Quem pudesse seguir um mundo em suas diversas fases, desde o instante em que se aglomeraram os primeiros átomos da sua constituição, vê-lo-ia percorrer uma escala incessantemente progressiva, mas através de graus insensíveis para cada geração, e oferecer aos seus habitantes uma morada mais agradável, à medida que eles mesmos avançam na via do progresso. Assim marcham paralelamente o progresso do homem, o dos animais seus auxiliares, dos vegetais e das habitações, porque nada é estacionário na natureza. Quanto esta idéia é grande e digna do Criador! E quanto, ao contrário, é pequena e indigna de seu poder, a que concentra a sua solicitude e a sua providência sobre o imperceptível grão de areia da Terra e restringe a humanidade aos poucos homens que a habitam!"

Esta concepção cósmica não é grandiosa apenas no seu aspecto exterior, mas também e principalmente no seu sentido subjetivo, e, portanto, profundo. O que mais se afirma, em toda a sua extensão, é o princípio de liberdade e de responsabilidade humana. Os Espíritos, que são as criaturas humanas, encarnadas ou não, aparecem como os artífices do se próprio destino pessoal e coletivo, e como os demiurgos platônicos que modelam os mundos. Deus lhes oferece a matéria-prima das construções, mas são eles os que constroem, com inteira liberdade - dentro das limitações naturais das condições de vida em cada plano - cometendo crimes ou praticando atos de justiça, bondade e heroísmo para colherem os resultados de suas próprias ações.

O sentido ético dessa concepção é revolucionário. Deus não está, diante dela, em nenhuma das duas posições clássicas do pensamento filosófico e religioso: nem como o Ato Puro de Aristóteles, indiferente ao Mundo, nem como o Jeová humaníssimo da Bíblia, comandando exércitos e dirigindo as ações humanas. Só mesmo a síntese cristã do Deus-Pai, velando paternalmente pelos filhos, corresponde à sua grandeza. E é justamente essa síntese que se corporifica na idéia de Deus da concepção espírita. Mas, como até hoje, o Deus-Pai do Cristianismo não se efetivou entre os homens, o Espiritismo o apresenta em novas dimensões, promovendo a sua revolução ética no mundo em transição.

3. ORDEM MORAL - É precisamente a revolução ética do Espiritismo que estabelecerá a ordem moral do mundo de regeneração. Aquilo que hoje chamamos ordem social, porque baseada nas relações de sociedades que implicam transações utilitárias, será de tal maneira modificada, que poderemos mudar a sua designação. A humanidade regenerada, embora ainda não tenha atingido a perfeição relativa dos mundos felizes viverá numa estrutura de relações de tipo moral. Os valores pragmáticos serão substituídos naturalmente pelos valores morais, porque o homem não mais valerá pelo que possui, em dinheiro, propriedades ou poder político, mas pelo que revela em capacidade intelectual e aprimoramento espiritual.

A dinâmica social da caridade, que o Espiritismo hoje desenvolve ativamente, em nosso mundo de provas e expiações, tem por finalidade romper o egocentrismo social dos indivíduos atuais, para em seu lugar fazer desabrochar o altruísmo moral que caracterizará o cidadão do futuro. Mesmo no meio espírita, muitas pessoas não compreendem o sentido da filantropia espírita, entendendo que ela se confunde com os remendos de consciência das esmolas dos ricos. A verdade, porém, é que a caridade é o único antídoto eficaz do egoísmo, esse corrosivo psíquico, que envenena os espíritos e toda a sociedade. A prática da caridade é o aprendizado necessário do altruísmo, é o treinamento moral das criaturas em expiação e prova, com vistas ao mundo de regeneração.

Vemos no item 913 de O Livro dos Espíritos essa colocação precisa do problema: "Estudai todos os vícios, e vereis que no fundo de todos existe o egoísmo. Por mais que lutais contra eles, não chegareis a extirpá-las, enquanto não os atacardes pela raiz, enquanto não lhes houverdes destruído a causa. Que todos os vossos esforços tendam para esse fim, porque nele se encontra a verdadeira chaga da sociedade. Quem nesta vida quiser se aproximar da perfeição moral, deve extirpar do seu coração todo sentimento de egoísmo, porque, o egoísmo é incompatível com a justiça, o amor e a caridade; ele neutraliza todas as outras qualidades."

Mas a prática da caridade não pode limitar-se à criação de serviços de assistência. A caridade espírita não é paternalista, mas fraterna. Não pode traduzir-se em protecionismo, mas em ajuda mútua: a mão que distribui não socorre apenas, porque também recebe. Só há uma paternidade: a de Deus. Sob ela, desenvolve-se a fraternidade humana, com deveres e direitos recíprocos. No capítulo XV de O Evangelho Segundo o Espiritismo, item 5, encontramos esta exposição do problema: "caridade e humanidade são as únicas vias de salvação; egoísmo e orgulho, as de perdição". Este princípio é formulado em termos precisos nas seguintes frases: "Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu entendimento, e ao teu próximo, como a ti mesmo: toda a lei e os profetas se resumem nesses dois mandamentos." E para que não houvesse equívoco na interpretação do amor de Deus e do próximo, acrescenta-se: "E eis o segundo mandamento semelhante ao primeiro," Quer dizer que não se pode verdadeiramente amar a Deus sem amar ao próximo, nem amar ao próximo sem amar a Deus, de maneira que tudo o que se faz contra o próximo, contra Deus se faz. Não podendo amar a Deus sem praticar a caridade com o próximo, todos os deveres do homem se resumem nesta máxima: "Fora da caridade não há salvação."

O Livro dos Espíritos, em seu item 917, dá-nos a chave dessa relação, explicando: "De todas as imperfeições humanas, a mais difícil de desenraizar é o egoísmo, porque se liga à influência da matéria, da qual o homem ainda muito próximo da sua origem, não pode libertar-se. Tudo concorre para entreter essa influência: suas leis, sua organização social, sua educação. O egoísmo se enfraquecerá com a predominância da vida moral sobre a material, e sobretudo com a compreensão que o Espiritismo vos dá, quanto ao vosso estado futuro real, não desfigurado pelas ficções alegóricas. O Espiritismo bem compreendido, quando estiver identificado com os costumes e as crenças, transformará os hábito, as usanças e as relações sociais. O egoísmo se funda na importância da personalidade. Ora, o Espiritismo bem compreendido, repito-o, faz ver as coisas de tão alto que o sentimento da personalidade desaparece de alguma forma, perante a imensidade. Ao destruir essa importância, ou pelo menos ao fazer ver a personalidade naquilo que de fato ela é, ele combate necessariamente o egoísmo."

O amor do próximo não pode existir sem o amor de Deus, e vice-versa, porque o apego ao mundo, aos bens materiais, aos valores transitórios da Terra, aguça o egoísmo. A "importância da personalidade", por sua vez, é incentivada pela ordem social utilitária, baseada no jogo de interesses imediatistas. A compreensão espírita do mundo e do destino do homem modificará a ordem social. A certeza da sobrevivência e o conhecimento da lei de evolução arrancarão o homem das garras do imediatismo: ele pensará no futuro. Assim fazendo, verá as coisas de mais alto e aprenderá que o valor supremo e o supremo bem estão nas leis de Deus, que são a justiça, o amor e a caridade. Compreender isso é amar a Deus, amar a Deus é praticar as suas leis. Sem o amor de Deus, o homem alimenta o amor de si mesmo, o egoísmo, que o liga estreitamente ao mundo e aos seus bens transitórios e falsos.

A referência às instituições egocêntricas, à legislação humana contrária às leis de Deus, à organização social e injusta e à educação deformante, mostram-nos o que acima acentuamos, ou seja, que a caridade não se limita à assistência. De que vale amparar apenas os pobres, os necessitados, e entregar à loucura e à embriagues do dinheiro e do poder os ricos do mundo? Espiritualmente os dois são necessitados, pois o rico voltará na pobreza, a fim de corrigir-se pela reencarnação. Cumpre, por isso mesmo, lutar pela transformação social, pela modificação da ordem egoísta que incentiva e perpetua o egoísmo, no círculo das reencarnações dolorosas.

Qual, porém, a maneira de lutarmos por essa transformação? O item 914 a aponta: a educação. E Kardec, no comentário final sobre o item 917, a reafirma: "A cura poderá ser prolongada, porque as causas são numerosas, mas não é impossível. A educação, se for bem compreendida, será a chave do progresso moral. Quando se conhecer a arte de manejar os caracteres, como se conhece a de manejar as inteligências, poder-se-ão endireita-los, da mesma maneira como se endireitam as plantas novas". As respostas dadas a Kardec eram de Fénelon, um educador. O próprio Kardec, pedagogo, estava à altura de compreender, e prontamente endossou a opinião do Espírito.

As pessoas pouco afeitas ao estudo dos problemas políticos e sociais estranharão o caminho indicado. Não obstante, se foi Platão o primeiro a tentar a reforma do mundo pela educação, com a sua "República", foi Rousseau o primeiro a obter resultados positivos nesse sentido. Ambos eram utópicos, mas exerceram poderosa, influência no mundo. E depois deles, compreendeu-se, principalmente a partir da Revolução Francesa, que nenhuma transformação podia efetuar-se e manter-se, sem apoiar-se na educação. As próprias formas de transformação violenta, como a Revolução Comunista e as Revoluções Nazistas e Fascistas, na Alemanha e na Itália, apoiaram-se imediatamente na educação. Porque educação é a orientação das novas gerações e a transmissão às mesmas de todo o acervo cultural da civilização: é a criação do futuro, a sua elaboração.

Educar, entretanto, não é apenas lecionar, ensinar nas escolas. A educação abrange todos os setores das atividades humanas e todas as idades e condições do homem. Daí a conclusão de Kardec, no mesmo comentário citado: "O egoísmo é a fonte de todos os vícios, como a caridade é a fonte de todas as virtudes. Destruir um e desenvolver a outra, deve ser o alvo de todos os esforços do homem, se ele deseja assegurar a sua felicidade neste mundo, tanto quanto no futuro." A educação espírita deve ser feita em todos os sentidos, através da palavra e do exemplo, numa luta incessantes contra o egoísmo e em favor da caridade.

Nos capítulos sobre a lei de igualdade e a lei de justiça, amor e caridade, Kardec e os Espíritos apontam os rumos dessa batalha pela transformação do mundo. O próprio Espiritismo é um gigantesco esforço de educação do mundo, para que a humanidade regenerada de amanhã possa substituir o quanto antes à humanidade expiatória de hoje. Mas é necessário que os espíritas se eduquem no conhecimennto e na prática da doutrina, para que possam educar o mundo nos princípios de renovação, que receberam do Consolador.

4. IMPÉRIO DA JUSTIÇA - A ordem moral será o império da justiça. O mundo de regeneração não poderá efetivar-se, portanto, enquanto não criarmos na Terra uma estrutura social baseada na justiça. Já vimos que a tarefa é nossa, pois o mundo nos foi dado como campo de experiência. Submetidos a expiações e provas aprendemos que o egoísmo é nefasto e que devemos lutar pelo altruísmo, a começar de nós mesmo. Mas como fazê-lo? Qual o critério a seguir, para que a educação espírita do mundo se converta em realidade, produzindo os frutos necessários?

Kardec nos explica, ao comentar o item 876: "O critério da verdadeira justiça é de fato o de se querer para os outros aquilo que se queria para si mesmo, e não de querer para si o que se desejaria para os outros, o que não é a mesma coisa. Como não é natural que se queira o próprio mal, tomando o desejo pessoal por norma ou ponto de partida, pode-se estar certo de jamais desejar para o próximo senão o bem. Desde todos os tempos, e em todas as crenças, o homem procurou sempre fazer prevalecer o seu direito pessoal. O sublime da religião cristã foi tomar o direito pessoal por base do direito do próximo."

O critério apontado, como vemos, é o da caridade. O império da justiça começará pelo reconhecimento recíproco dos direitos do próximo. A lei de igualdade regerá esse processo, Kardec declara ao comentar o item 803: "Todos os homens são submetidos às mesmas leis naturais; todos nascem com a mesma fragilidade, estão sujeitos às mesmas dores, e o corpo do rico se destrói como o pobre. Deus não concedeu, portanto, a nenhum homem, a superioridade natural, nem pelo nascimento, nem pela morte. Todos são iguais diante dele".

Liberdade, igualdade e fraternidade, são os rumos da civilização. Em Obras Póstumas aparece um trabalho de Kardec sobre esses três princípios, tantas vezes deturpados, mas que deverão predominar, no mundo de justiça. Escreveu o codificador: "Estas três palavras constituem, por si sós, o programa de toda uma ordem social que realizaria o mais absoluto progresso da humanidade, se os princípios que elas exprimem pudessem receber integral aplicação." A seguir, Kardec coloca a fraternidade como princípio básico, apontando a igualdade e a liberdade como seus corolários.

A igualdade absoluta não é possível, dizem os contraditores dos ideais igualitário, alguns mesmo alegando que a desigualdade é lei da natureza. Citam, em favor dessa tese, o fenômeno da individualidade, bem como a diversidade de aptidões. Lembram que os próprios minerais, vegetais e animais se diversificam ao infinito. Mas esquecem-se de que a lei natural não e' a desigualdade, mas a igualdade na diversidade. Vimos como Kardec define a igualdade dos homens perante Deus. Vejamos também a sua explicação das desigualdades no plano social, que é precisamente o plano material da fragmentação e da especificação.

Escreveu Kardec, no comentário ao item 805: "Assim a diversidade das aptidões do homem não se relaciona com a natureza íntima de sua criação, mas com o grau de aperfeiçoamento a que ele tenha chegado, como Espírito. Deus não criou, portanto, a desigualdade das faculdades, mas permitiu que os diferentes graus de desenvolvimento se mantivessem em contato, a fim de que os mais adiantados pudessem ajudar os mais atrasados a progredir, e também a fim de que os homens, necessitando uns dos outros, compreendam a lei da caridade, que os deve unir!"

Nada existe como absoluto em nosso mundo, que é naturalmente relativo. A fraternidade, a igualdade e a liberdade são conceitos relativos, que tendem, porém, para a efetivação absoluta, através da evolução. No mundo de regeneração esses conceitos encontrarão maiores possibilidades de se efetivarem, porque a evolução moral terá levado os homens a se aproximarem dos arquétipos ideais. O Espiritismo nos convida à superação do relativismo material, para a compreensão dos planos superiores a que nos destinamos, como indivíduos e como coletividade. Nossa marcha evolutiva está precisamente traçada entre o relativo e o absoluto.

O império da justiça, no mundo de regeneração, marcará o início da libertação dos Espíritos que permanecerem na Terra. Mas esse mesmo fato representará a continuidade da escravidão, para os que forem obrigados a retirar-se para mundos inferiores. A desigualdade se manifesta na separação das duas coletividade espirituais, mas apenas como uma condição temporária da evolução pelas próprias exigências da igualdade fundamental das criaturas. Essa igualdade fundamental, que se define como origem, natureza e essência, - origem, pela criação divina, comum a todos os espíritos; natureza, pela mesma qualidade, que é a individualização do princípio inteligente; essência, pela mesma constituição espiritual e potencialidade consciencial; - desenvolve-se através da existência, nas fases sucessivas da evolução, que constituem as formas temporárias de desigualdade, para voltar à igualdade no plano superior da perfeição. Trata-se de um processo dialético de desenvolvimento do ser. Podemos figurá-lo assim: os espíritos partem da igualdade originária, passam pela desigualdades existenciais, e atingem finalmente a igualdade essencial.

A justiça de Deus é absoluta, e por isso mesmo escapa às nossas mentes relativas. Mas na proporção em que formos evoluindo, alargaremos as nossas perspectivas mentais, para atingir a compreensão das coisas que hoje nos escapam. O Espiritismo é doutrina do futuro, que age no presente como impulso, levando-nos em direção aos planos superiores. É natural que muitos adeptos não o compreendam imediatamente, na inteireza de seus princípios e de seus objetivos. Mas é dever de todos procurar compreendê-lo, pelo estudo atento e humilde, pois sem a humildade necessária, arriscamo-nos à incompreensão orgulhosa e arrogante.

A maneira do Reino do Céu, pregado pelo Cristo, e das leis do Reino, que ele ensinou aos seus discípulos, o Espiritismo prepara o império da justiça na Terra. Não pode fazê-lo senão pela prática imediata da justiça através dos princípios que nos oferece, convidando-nos à aplicação pessoal dos mesmos em nossas vidas individuais, e sua natural extensão, pelo ensino e o exemplo, ao meio em que vivemos. A transformação espírita do mundo começa no coração de cada criatura que a deseja. Por isso ensinava o Cristo que o Reino de Deus está dentro de nós, e que não começa por sinais exteriores.

J. Herculano Pires