quarta-feira, 9 de junho de 2010

É Possível Evolução Sem Educação?


Carlos Augusto Parchen

Recentemente fizemos uma palestra sobre o tema "Evolução", onde colocavamos uma série de condições e premissas necessárias a evolução.

Em e-mail, um Irmão, a esse respeito, nos perguntou : "é possível evolução sem educação?".

Claro que a pergunta não se refere a educação no sentido de "ensino", de educação escolar, mas sim no sentido de "educação para a vida".

Vamos clarear isso um pouco mais : educar-se pode ser traduzido como aquisição de conhecimentos e sua transformação em habilidade, aptidões e atitudes.

Colocamos "educar-se" e não "educar", pois a educação é fundamentalmente um processo de aprendizagem e não de ensino.

Modernamente, o papel de educador é o de facilitador do processo de aprendizagem, e não mais o do "professor que ensina", mas isso é um outro assunto.

Podemos dividir a educação em dois grandes campos : o de educação formal e o da auto-educação.

Na educação formal, o indivíduo adquire conhecimentos organizados nas diversas áreas do conhecimento humano. Na auto-educação, o indivíduo acha os conhecimentos necessários ao seu convívio com seu semelhante e com a natureza.

Nos dois campos, a educação só ocorre quando "aprendemos" (com dois "es") o conhecimento (intelectualização) e o transformamos em habilidade, aptidões e atitudes, que são obtidas através das vivências e experiências pessoais.

Aliás, mais um parênteses : é necessário que os professores percebam que na escola, assim como na vida, os conhecimentos só são transformados em habilidade e aptidões se "processadas" através de experiências e vivências.

Colocamos isso para destacar alguns aspectos importantes. Primeiro, se o indivíduo não consegue transformar determinado conhecimento, seja de que origem for, em habilidade, aptidões e atitudes para uso em sua vida e/ou em sua profissão, ele não aprendeu e em conseqüência, não "educou-se" naquela área específica. Em segundo, é necessário que o indivíduo realmente "processe" o conhecimento através da vivência e da experiência pessoal, ou seja, que internalize pela relação com a vivência e prática pessoal, pois em caso contrário não conseguirá "aprender" aquele conhecimento.

Relacionemos agora com a "evolução". Evoluir é crescer e mudar para um patamar superior de conhecimento e comportamento e melhorar em relação a um estágio anterior. Energeticamente, evoluir é passar a vibrar em patamar mais elevado e sutil que o anterior.

Quando a pergunta foi feita, evoluir, evidentemente, foi colocado no sentido de evoluir "espiritualmente", ou se quiser "ética e moralmente".

Daí, voltemos a questão : evolução e educação têm relação direta?

Afirmamos que sim, de uma forma clara. Para evoluir, mudar de patamar, elevar-se, o indivíduo necessita trilhar a vida em consonância com a Lei Natural. A Lei Natural é universal e perfeita e permeia todo o universo, regendo todo o seu funcionamento, nos aspectos físicos (matéria e energia) e espirituais (ética e moral). As Leis Morais fazem parte indissolúvel da Lei Natural.

Para evoluir, o indivíduo necessita "respeitar" ou harmonizar-se com a Lei Natural. E isso só é possível se "educar-se" a esse respeito, ou seja, ter habilidade, aptidões, e atitudes que o façam transitar sem confronto com a Lei Natural.

E isso tem que ocorrer no dia-a-dia do indivíduo, em toda a sua relação com o seu semelhante e com a natureza. Mesmo nas menores coisas, pois as Leis Naturais não diferenciam "coisas mais importantes" e "coisas menos importantes". Mal comparado, com quem rouba 1.000 reais ou 100.000 reais, são atingidos igualmente pelo Código Penal.

Por isso, se o indivíduo não educar-se para a vida, com habilidades, aptidões e atitudes correspondentes, não conseguirá evoluir, pois entra em confronto com a Lei Natural.

Tomemos um exemplo bem material e corriqueiro : muitas pessoas levam seu cão para passear (e fazer outras coisas) na areia do mar. Muitas vezes fazem isso na calada da noite. Essas pessoas tem educação? Claro que não, pois as conseqüências disso serão terríveis para outras pessoas, em especial para as crianças (já vimos algumas com mais de 20% da área da pele de seu corpo com o "bicho geográfico").

As pessoas que fazem isso, estão evoluindo? É evidente que não, pois não desenvolveram habilidade, aptidão e atitude coerente com a Lei Natural, ou seja, não souberam vivenciar e experienciar os conhecimentos necessários a se respeitar o semelhante, não educando-se para amar o próximo. Podem até ter grande conhecimento intelectual, mas não estão "educadas".

Objetivamente, para evoluir é necessário ter educação, sem sombra de dúvida. Queríamos dizer mais : é impossível evolução sem educação.

Talvez o grande problema para a humanidade / sociedade seja esse : como educar. Gastou-se muito tempo em tentar "ensinar", mas com isso só se tem conseguido "intelectualização", o que não é sinônimo de educação.

Cada um pode fazer a sua parte, buscando e construindo a auto-educação. Primeiro, buscando o conhecimento; em segundo, aplicando esse conhecimento as vivências e experiências pessoais; em terceiro, transformando isso tudo em habilidade, aptidões e atitudes de relacionamento com os semelhantes e com a natureza.

Assim evoluiremos e pelo exemplo, estaremos motivando outras pessoas a evoluírem.

Pensamentos Positivos


Pensamento Positivo

Carlos Augusto Parchen

Embora a ciência oficial ainda não lhe de o devido crédito, o fator energético é de fundamental importância para a vida de cada um.

Cada ser traz em si um forte componente energético, resultante de interações entre o espírito e o corpo físico, o que é propiciado pelo perispírito ou corpo espiritual, intermediário e catalisador da ligação corpo-espírito.

O componente energético é gerenciado pela mente, que o comanda de duas formas: uma automática ou não consciente, e outra consciente, impulsionada pela vontade. Quanto mais evoluído é o espírito, maior é o comando consciente; quanto menos evoluído, maior é o comando automático. De qualquer maneira, ambos os comandos sempre existem.

O componente energético do ser humano é decorrente do funcionamento conjunto e unitário do corpo e espírito, refletindo o "estado" do complexo humano, ou seja, é decorrente do equilíbrio maior ou menor do corpo e do espírito simultaneamente.

O "estado" de equilíbrio do corpo e do espírito determina a "qualidade" do componente energético. E essa "qualidade" é que condiciona que tipos de energias que o indivíduo afiniza e assimila , pois o componente energético é constantemente renovado pela "metabolização" de energias existentes no ambiente. E as energias que absorvemos são aquelas que afinizamos, ou seja, as que correspondem ao "padrão" do nosso componente energético.

Quanto à parte de nosso corpo físico, para que este segmento contribua com uma energização positiva, é necessário que esteja em equilíbrio, ou seja, com saúde, bem cuidado. É por isso, como exemplo, que o médium passista necessita estar em boa saúde e equilíbrio físico, sem ter vícios, para que seu corpo possa contribuir com boas energias para o passe.

Já o componente espírito, também deve estar em equilíbrio para poder contribuir com a energização positiva do componente energético. Para ter a mente equilibrada, temos que estar transitando em equilíbrio com a Lei Divina ou Natural, ou seja, orientarmos nossa vida de relação com os semelhantes e com a natureza de acordo com a Lei de Amor. Claro que ainda somos imperfeitos e muitas vezes infringimos as leis naturais. Daí a necessidade constante de vigilância, para que erremos menos, e quando errarmos, rapidamente corrigirmos os erros e redirecionarmos a nossa mente e pensamentos para o bem e o amor.

O componente energético tem, portanto, uma grande interação nos dois sentidos (ida e volta) com o corpo físico e com o espírito, um afetando o outro.

Fica fácil entender que para termos saúde física e mental/espiritual, temos que ter energias equilibradas e vice-versa.

Um antigo ditado greco-latino já nos dizia: "mente sã em corpo são". Isso exprime uma verdade, pelas interações já explicitadas. Por isso, devemos nos preocupar sempre com o equilíbrio de todo o ser, mental e fisicamente. Isso também nos alerta para que, quando estamos com problemas físicos, doentes, temos que reforçar o padrão espiritual, ou seja, buscarmos a compensação energética global por uma maior elevação do padrão espiritual, para não "decairmos" energeticamente. Isso auxiliará mesmo a que o corpo tenda a readquirir o equilíbrio, ou seja, se torne saudável.

Quem se "entrega" à doença, ou seja, não a compensa com um maior equilíbrio espiritual, desequilibra-se energeticamente, o que agrava a doença física e desequilibra ainda mais o espírito. Este fato é fácil de constatar-se observando como as pessoas enfrentam as doenças e dores físicas e os resultados da atitude mental e espiritual de cada um.

Dentro do sistema automático de gerenciamento do componente energético do complexo humano, um dos fatores que mais o influencia é o pensamento, a atitude mental.

Para onde vai o pensamento, liga-se nosso componente energético. Se o nosso pensamento está equilibrado, ligamo-nos, absorvemos e metabolizamos boas energias. O contrário também é verdadeiro. Pensamentos em desequilíbrio nos ligam a energias desequilibradas, as quais assimilamos e metabolizamos, incorporando-as ao nosso componente energético, com as conseqüências disso advindas.

Nossos pensamentos refletem nossa atitude mental, nossa verdade interior. Se nossa atitude mental é equilibrada, nossos pensamentos serão equilibrados, sendo o contrário também verdadeiro.

Quem tem atitude mental positiva, tem comportamento positivo nas atitudes da vida, do dia-a-dia.

Para estar sempre em contato com boas energias, necessitamos estar emitindo sempre pensamentos positivos, equilibrados. Portanto, para nossa segurança e equilíbrio físico e espiritual (saúde) temos que estar emitindo pensamentos positivos.

No entanto, para emitir pensamentos positivos, temos que ter atitude mental positiva, e isso não pode prescindir de atitudes práticas (comportamento e relação) positivas (vontade ao bem e ao amor).

Podemos resumir afirmando que só se tem pensamentos positivos quando nossa atitude mental e, portanto, nossa prática (atitude) diária for positiva, ou seja, se traduza efetivamente na prática do bem e do amor.

Percebe-se portanto, que a prática efetiva do bem e do amor não é necessidade "religiosa" ou "esotérica" ou ainda "mística". É uma necessidade prática de segurança e equilíbrio energético, físico e espiritual. Só se tem atitude positiva assim. Só desta maneira teremos pensamentos verdadeiramente positivos. Só tendo pensamentos positivos nos ligamos com energias positivas. Só nos ligando com energias positivas, equilibramos nosso componente energético. E isso é fundamental para a saúde física, mental e espiritual.
Busquemos.

Evolução e Mudanda




Carlos Augusto Parchen


Allan Kardec, o magnífico Educador e Codificador da Doutrina Espírita, sob a égide de elevados amigos espirituais que lhe presidiram os trabalhos, nos alertava para alguns pontos fundamentais no desenvolvimento da Doutrina Espírita:

* a evolução é o único determinismo do Universo, e ela (a evolução) ocorrerá mesmo a nossa revelia, sem que nada possamos fazer. Tudo no Universo está sujeito a evolução, que gera aprendizado, o que por sua vez serve como alicerce para o processo evolutivo;
* as revelações que os espíritos nos trazem, são sempre compatíveis com a época em que ocorrem, pois os Espíritos Elevados respeitam nossas limitações, atuam dentro de nosso nível de conhecimento e consciência e não violam jamais o nosso livre arbítrio, nem nosso livre aprendizado. Seus ensinos são sempre para consolidar um nível de conhecimento que já está permeando a humanidade, porém sem induzir rumos ou "pular etapas" de aprendizado e desenvolvimento;
* as explicações dos espíritos sobre muitos pontos da Doutrina, estão muitas vezes limitadas pela ainda parca evolução intelectual da humanidade, pela pobreza de nosso vocabulário e pela inexistência de referenciais que lhes permitam exemplificar corretamente o ensino;
* assim como a Doutrina Espírita veio a seu tempo lançar luz e clarear muitos pontos obscuros do Evangelho, a evolução do conhecimento humano e das ciências possibilitará que vários pontos do Espiritismo sejam clareados, provados, discutidos e aprofundados;
* a razão, a análise lógica, o raciocínio coerente e a comprovação científica, segundo Kardec, deveriam ser suficientes para que a Doutrina viesse a agregar novos conhecimentos e alterar conceitos errôneos e incompletos de seu conhecimento e de seu ensino, devendo ser imediatamente incorporados a Filosofia, Ciência e Moral Espírita como parte de sua evolução;
* as obras da Codificação Espírita constituem-se no alicerce, na fundação, na base do Espiritismo, base esta sobre a qual se erguerá o Edifício da Doutrina. Esse edifício está sendo construído a partir da evolução do conhecimento e da ciência, junto com os novos ensinos trazidos pelos Espíritos Elevados. A Codificação não é a obra acabada, mas sim seus alicerces.

Trazemos estes pontos à reflexão, pois muitos Espíritas estão se esquecendo dessas colocações, e estão passando a considerar as Obras Básicas da Codificação como verdadeiros "Livros Sagrados", que contém a "verdade" da Doutrina, sendo "intocáveis" e "inquestionáveis" sobre tudo o que se refere ao Espiritismo.

Para essas pessoas, qualquer ponto que não possa ser rigorosamente "achado" nas Obras Básicas, é colocado sob suspeição e até sumariamente rejeitado, independente de toda a lógica, de toda a razão e de toda a comprovação científica que possa trazer embutido, atitude essa que contraria frontalmente o que Kardec colocava como normal e necessário para a própria sobrevivência da Doutrina.

É evidente que a época em que as Obras da Codificação foram escritas, o nível de conhecimento e as limitações da linguagem, impediam o aprofundamento de muitos pontos cruciais da Doutrina, e dificultam sobremaneira o entendimento da "verdade completa" sobre muitos tópicos e itens. Hoje, com novos conhecimentos científicos, culturais e uma linguagem mais avançada e flexível, certas explicações aparecem, lógicas, coerentes e até mesmo provadas, mas que são rejeitadas por "....irem contra Kardec....", por "...contrariarem Kardec....".

Mas o Codificador já previa isso. Não pretendia ele ser o "Dono da Verdade". Nem ele, nem os Espíritos Superiores. Sabiam que a "verdade" é relativa, apenas representa o conhecimento cultural e científico daquele momento específico. Por exemplo, até poucos anos atrás, os estados da matéria eram três (sólido, líquido e gasoso). Quantos de nós sabem quais são os estados da matéria hoje? Já são aceitos pelo menos seis, e alguns estudos começam a provar a existência de outros. Se admite hoje a possibilidade de 14 estados diferentes da matéria. Os cientistas da década passada estavam errados? Não, eles detinham apenas "parte da verdade". E os de hoje apenas detêm uma parte um pouco maior dessa "verdade".

Kardec era infalível? Essa pergunta dói. E como incomoda. Alguns Espíritas simplesmente se recusam a refletir sobre isso. Mas sabemos todos que a resposta é não. Kardec era falível, os médiuns que trabalharam com ele eram falíveis. Além disso, existia um conhecimento científico e cultural limitado na época. Os Espíritos Elevados estavam limitados em sua atuação e em seus ensinos por essa realidade.

As obras básicas são infalíveis? Claro que não, pelo mesmos motivos expostos no parágrafo anterior. Mas os Espíritos Superiores não revisaram todo o trabalho da Codificação? Não corrigiram todos os erros? Não completaram todas as lacunas? E a resposta é novamente não, pelo motivo que o próprio Kardec nos colocava, orientado pelos Espíritos Superiores: "...o livre arbítrio é absolutamente inviolável...".

Não podemos tornar as obras da Codificação, nem mesmo o Livro dos Espíritos, nem o Evangelho Segundo o Espiritismo, nem o Livro dos Médiuns, nenhum deles, na "Bíblia Sagrada" dos Espíritas. Kardec não queria isso e nos alertou sobre isso.

Temos que nos lembrar que muitos dos conceitos mais modernos da Doutrina Espírita, já assimilados e incorporados pela prática espírita, em âmbito até mundial, nos foram trazidos pela mediunidade de Francisco C. Xavier, psicografando André Luiz, cujos ensinos "revolucionaram" a Doutrina Espírita. No que se refere ao perispírito, ao passe, as energias e a muitos outro itens, grande parte do ensino de André Luiz não é encontrado nas Obras Básicas. Mas os conhecimentos e ensinos trazidos estão certos. E são aceitos pela maioria das Casas Espíritas, paradoxalmente, mesmo sem muita análise e reflexão.

Hoje temos novos autores, Pesquisadores de Nível Universitário, Mestres , Doutores e Pós-Doutores, Filósofos, Médicos, Físicos, Cientistas enfim, que vêm trazendo novos e profundos conhecimentos para o Espiritismo. Simplesmente rejeitar esses novos conhecimentos científicos e culturais, sob a alegação de que "...não estão em Kardec...", ou porque "...vai contra o que colocou Kardec..." é no mínimo negar tudo o que disse e pensou o nosso Mestre Lionês.

Temos ainda que nos lembrar que hoje, não existe quem possa fazer o trabalho que Kardec fazia, de compilar, analisar e sistematizar todo o conhecimento espírita do mundo. Não temos e não teremos. As Federações não podem cumprir esse papel, pois não têm caráter normativo (e nem devem ter mesmo), estando sujeitas, como qualquer grupamento humano, a "correntes ideológicas" (inclusive não kardecistas) e as inefáveis paixões humanas, que as inviabilizam para tal papel. Cabe aos Espíritas abrirem mente e coração, inteligência e razão, análise e reflexão para o estudo de cada uma das novas obras, das novas proposições, dos novos paradigmas propostos, passando-as pelo "crivo" a que se referia Allan Kardec, analisando as provas, as evidências, a lógica e a razão e concluindo a respeito.

O que não se pode é simplesmente "negar", por não se achar que não está "de acordo" com as obras básicas. Não se pode tentar defender posições dogmáticas e excludentes, porque "...não está em Kardec...". Fazer isso é tomar a mesma atitude que levou a estagnação e fracasso da Religiões Tradicionais.

Negar a evolução, negar o avanço, negar as mudanças, negar a agregação de novos conhecimentos é, por si só, ir contra o que nos trouxe e deixou Allan Kardec. Essa atitude é a que realmente não encontra amparo nas Obras Básicas.

Para encerrar, fica aqui a recomendação para um estudo detalhado e minucioso da Introdução e dos Prolegômenos do Livro dos Espíritos, que infelizmente muitos "pulam" e se descuidam.

Evolução e Mudança andam juntas. Graças a Deus na própria Doutrina Espírita.

Ninguém Morre Antes da Hora?



Muitas vezes nos referimos a morte de uma pessoa como "tendo chegado a hora", ou ainda "ninguém morre antes da hora".

Daí a pergunta que muitos fazem: temos pré-determinada a hora de nossa morte? Ninguém morre antes da hora determinada?

Dentro da visão espírita, temos que analisar dois aspectos importantes quando do nascimento (reencarnação) de um ser humano.

O primeiro aspecto é o potencial genético do corpo formado, resultante da fusão de óvulo e espermatozóide, que determinam a formação de um corpo com determinados potenciais e determinadas limitações.

O segundo aspecto é o potencial energético do perispírito, pois este último promove a ligação do espírito com o corpo físico, arrastando para esse corpo energias positivas e/ou negativas, de acordo com as suas características evolutivas específicas. Essas energias provocam alterações nos potenciais genéticos e de funcionamento do corpo físico.

Da interação entre esses dois aspectos no complexo humano (corpo+perispírito+espírito), temos, teoricamente, estabelecido um potencial de vitalidade ou de energia vital que, em tese, determina um potencial máximo de vida para aquele organismo, ou se quiser simplificar, um tempo máximo de vida orgânica.

Colocamos e destacamos "em tese", pois o exercício do livre arbítrio leva ao perispírito possibilidades de alterar suas características energéticas, com energias positivas ou negativas, o que, por sua vez, altera o potencial de energia vital do complexo humano. Essa alteração pode melhorar ou piorar o potencial de energias vitais.

Da mesma forma, o nosso livre arbítrio também nos leva a utilizar o nosso patrimônio físico, com maior ou menor cuidado com suas necessidades específicas, o que pode gerar um "gasto correto" (econômico) ou um "gasto excessivo" de nossa vitalidade orgânica ou energia vital.

Para melhor explicar isso, vamos exemplificar com o tabagismo (vício de fumar). Estudos e pesquisas internacionais, já muito conhecidas (e reconhecidas), provaram que o consumo de um único cigarro "custa" ao organismo físico o desgaste orgânico equivalente a cerca de 12 a 14 minutos de vida. Isso significa que cada 5 cigarros fumados eqüivalem a "diminuição" de 1 (uma) hora de vida. O que falar então do uso de drogas (tóxicos) e do alcoolismo? Ou ainda da alimentação inadequada, excessiva? Quanto desgaste isso tudo gera ao potencial orgânico?

Fica fácil de entender que a pessoa pode "danificar" seu corpo físico, encurtando seu tempo de vida orgânica em relação ao seu "potencial de vitalidade". Só isso já poria por terra a teoria de que "ninguém morre antes da hora". Quem não cuidar das suas energias no perispírito ( o que está ligado ao equilíbrio espiritual) e do seu corpo físico, diminui seu tempo de vida orgânica, ou seja, "morre antes da hora". Com isso, adquire débito energético, ou seja, necessidade de "resgate" desse "débito" em outra(s) encanação(ões).

Analisando de um ângulo externo ao próprio complexo humano, temos que nos lembrar que todos estamos numa vida de relação, com outros indivíduos e com a natureza. E sofremos as conseqüências disso.

Vamos exemplificar de forma bem direta: uma determinada pessoa resolve ir a uma festa, ingere muita bebida alcoólica, embriaga-se. De forma imprudente, vai voltar para casa dirigindo seu veículo. Em excesso de velocidade, perde o controle do carro, atingindo um ponto de ônibus, onde atropela e mata 3 pessoas, sendo uma criança, um jovem e um adulto.

Essas três pessoas atropeladas estavam na "sua hora de morrer"? Suas mortes estavam "programadas"? Estava escrito? Estava "previsto" na reencarnação de cada um?

É evidente que não, pois em caso contrário não existiria o livre arbítrio, e tudo no mundo seria determinístico, nos tornando meros "robôs" na passagem terrena.

Aquele motorista embriagado ceifou a vida de pessoas que tinham diferentes potenciais de vida, de alguns anos (o adulto) a várias décadas (criança e jovem), e que ainda poderiam viver muito com seu corpo orgânico. As três pessoas "morreram antes da hora".

Não existe uma "programação de morte". Existe um potencial de vida, que pode mesmo ser "estendido" pelo equilíbrio espiritual e respeito e cuidado com o corpo físico, ou ainda, encurtado pelo próprio indivíduo ou por terceiros, que responderão por isso nesta e em outras vidas.

Se as mortes estivessem programadas, cada movimento em todo o mundo estaria programado. Se uma pessoa morre atropelada numa rua, na hora do "pico" do movimento, em São Paulo, por exemplo, e isso estivesse "programado", o atropelador já nasceria com essa "missão", e para ajustar a sincronia entre atropelador e atropelado, todo o trânsito de São Paulo deveria estar "programado", para que todos os envolvidos se encontrassem naquele exato instante.

Cremos que com esses argumentos, evidencia-se que não existe "hora de morte programada".

O que os espíritas devem cuidar é para não se tornarem crentes do determinismo, acreditando numa "programação absoluta da reencarnação", pois isso fere uma verdade basilar – a do livre arbítrio - , sob a qual reside grande parte da filosofia e doutrina espírita.

É preciso estudar um pouco mais a Lei de Causa e Efeito, relacionando isso com o estudo do registro energético do perispírito, de modo a entendermos o correto mecanismo do "resgate e expiação.

Pensamento e Atitude


Carlos Augusto P. Parchen


Para que possamos refletir sobre nossas responsabilidades individuais e sobre os caminhos que deveremos trilhar, apresentamos a seguir uma reflexão sobre pensamento e atitude mental.

A mecânica quântica, a física quântica, ramo da ciência moderna que tem evoluído enormemente, em suas teorias e postulados, tem desenvolvido análises e pesquisas que levam os cientistas à suposição de, que a realidade imediata da matéria só existe porque pensamos.

Nessa linha de raciocínio, a matéria tem, fisicamente, apenas tendência a existir. A ação do pensamento efetivamente a materializa e lhe dá existência real.

Isso quer significar que tudo o que existe na realidade palpável, é fruto do que pensamos, do que acreditamos. Notem que isso não é esoterismo, misticismo. É Ciência! A energia do pensamento, da atitude mental, plasma, molda a matéria, cria a realidade em que vivemos, com suas nuances, suas cores, suas formas, seus relacionamentos.

Como existimos coletivamente, nossa realidade global é fruto do pensamento coletivo. Como somos ainda, enquanto coletividade, egoístas, desequilibrados e sem solidariedade, isso se reflete na situação social, econômica e cultural conturbada, injusta, desumana e insustentável que existe hoje.

Também ainda, enquanto como coletividade, não temos respeito pela natureza; alteramos os seus delicados equilíbrios, criamos os grandes desastres naturais, liberamos novos agentes patogênicos, até então confinados em pequenos nichos naturais, mantidos antes sob controle pelo equilíbrio biológico, que nossas atitudes e ações rompem.

Como fazemos parte da coletividade humana, nossa parcela individual de pensamento, de atitudes mentais, pode contribuir para piorar, manter ou melhorar essa situação.

Só esse fato já serviria para nos alertar quanto a nossa responsabilidade social individual, no que se refere ao que pensamos, ao que acreditamos verdadeiramente, ao que adotamos como atitude mental, aquela que norteia verdadeiramente nossa ação e nossa intervenção na sociedade e na natureza.

Mas é preciso também inferir, notar que, se a realidade social é fruto do pensamento coletivo, a realidade individual, o nosso caminho, a nossa trilha, é conseqüência imediata de nossa individualidade, manifesta pela nossa atitude mental.

Isso que dizer que o caminho que trilhamos, o que encontraremos ao longo desse caminho, como ele se apresentará para nós, é fruto daquilo que acreditarmos verdadeiramente, daquilo que manifestarmos em nossas atitudes mentais e, portanto, em nossas ações.

Claro que sofreremos a influência do pensamento coletivo, mas nosso caminho continuará sendo aquele que estabelecermos pelos nossos pensamentos e atitudes.

Sem sombra de dúvida, nosso sucesso é função direta daquilo que programamos mentalmente para nós, que mentalizamos, que estabelecemos como meta, que ousarmos sonhar, pensar e agir.

Como responsabilidade e contribuição individual, devemos tentar mudar e melhorar o mundo, a sociedade.

No entanto, para que o bem impere, é necessário que se pense o bem, que se aja no bem.

A ética deve ser o guia seguro da nossa atitude mental e da materialização de nossas ações. Devemos ser pessoas “do bem”, pois as vibrações do bem e do amor costumam aplainar os caminhos e iluminar as sendas mais escuras que talvez tenhamos que atravessar. Assim, efetivamente, estaremos fazendo a nossa parte para melhorar o mundo.

Aliás, já disse o poeta(1): “...quem sabe faz a hora, não espera acontecer...”.

Para deixar uma outra imagem poética dessas constatações científicas (e filosóficas), ouso, mais uma vez, tomar uma parte de um verdadeiro poema, utilizado como letra de uma música, escrito por Renato Teixeira(2):

“...penso que cumprir a vida / seja simplesmente / compreender a marcha / ir tocando em frente./ Como um velho boiadeiro / levando a boiada / eu vou tocando os dias / pela longa estrada eu vou / estrada eu sou...”

Sejamos os boiadeiros de nossas boiadas, que são as preocupações, as dificuldades, as lutas, os fracassos, as frustrações, as vitórias, as conquistas, as realizações, a família, o emprego, o salário, etc.

Vamos tocar os dias pela longa estrada da construção de nossa existência, mas não nos esqueçamos jamais que “...estrada eu sou...”, que o caminho, como ele será, somente a nós pertence.

No mesmo poema a que me referi, o autor coloca, em outro trecho, talvez uma das mais belas frases poéticas já escritas, que contém uma grande verdade da vida:

“...cada um de nós / compõe a própria história / cada ser em si carrega / o dom de ser capaz / de ser feliz....”

Devemos desejar a felicidade, persistir no pensamento da felicidade, mentalizar o melhor dos caminhos, ser pessoas “do bem”. Devemos compor a melhor das histórias. Todos temos o dom Divino de sermos capazes de “...ser feliz...”.

Jesus



Frederico Menezes e Antonio Carlos


A Mensagem do Cristo

Em dezembro de 1945, alguns felás (beduínos egípcios) deslocavam-se com seus camelos por perto de um rochedo chamado Jabal al-Tarif, que margeia o rio Nilo, no Alto Egito, não muito longe da moderna cidade de Nag Hammadi. Eles estavam procurando um tipo de fertilizante natural na área, chamado sabaque.

No sopé do Jabal al-Tarif começaram a cavar em torno de uma pedra que caíra no talude, e, sem esperarem, encontraram um jarro de armazenagem com um recipiente selado na parte superior. Um dos felás, chamado Muhammad Ali Samman, quebrou o jarro com uma picareta na esperança de encontrar algo valioso, talvez um pequeno tesouro. Deve ter ficado um tanto quanto decepcionado ao ver que ao invés de ouro ou algum tipo de objeto de igual valor, no jarro só havia fragmentos de papiros.

Muhammad Ali Samman, sem querer ou se dar conta, havia descoberto treze livros de papiro (códices), a que hoje chamamos de a biblioteca copta de Nag Hammadi, dois anos antes de outra descoberta famosa, a dos Manuscritos do Mar Morto, conjunto de documentos encontrados na Palestina e que haviam pertencido a uma comunidade judaica que professavam uma forma ascética diferente de judaísmo, conhecido como essênios. Porém, apesar destes últimos manuscritos terem tido maior divulgação, serem mais famosos e terem sido alvos de debates, os primeiros possuem, todavia, caráter muito mais revolucionário, em especial por estarem ligados diretamente ao cristianismo.

Além de outras obras valiosas, entre estes papiros estava algo muito interessante: o chamado Evangelho de Tomé, que é uma coletânea de sentenças de Jesus que teriam sido compiladas, segundo a primeira frase deste Evangelho, por Judas Tomé, O Gêmeo.

Antes desta descoberta excepcional, os estudiosos dos evangelhos já tinham algumas referências dos pais da Igreja referentes a um documento denominado Evangelho de Tomé (ou de Tomás). Porém, o conteúdo deste documento punha em xeque alguns posicionamentos dogmáticos da Igreja. Cirilo de Jerusalém, em suas Catequeses 6.31 afirmava que o Tomé que escreveu este Evangelho não era um seguidor de Jesus, mas um maniqueu - um maniqueísta, portanto, seguidor gnóstico e místico de Mani, mestre herético do século III. Só que, atualmente, é quase consenso de que o texto de Nag Hammadi foi bem escrito antes do movimento maniqueísta ter vindo à lume e, ainda mais, tudo indica que a cópia copta deste evangelho se baseia em um texto ainda mais antigo, provavelmente escrito em grego e/ou aramaico, a língua falada por Cristo. Além dos testemunhos dos chamados padres da Igreja, temos fragmentos de três papiros gregos - encontrados num monte de lixo em Oxirronco, atual Behnesa, no Egito -, publicados em 1897, e que contêm sentenças de Jesus quase idênticas aos encontrados no Evangelho de Tomé de Nag Hammadi, escrito em língua copta. Estes fragmentos de papiros eram, portanto, representantes ou cópias de edições em grego do Evangelho de Tomé.

Ao contrário dos outros evangelhos conhecidos, quer sejam canônicos ou apócrifos, o Evangelho de Tomé não expõe em nada narrativas sobre a vida de Jesus de Nazaré, mas atém-se especificamente às sentenças que teriam sido proferidas por Jesus a seus discípulos. Entre elas, destaco as que se seguem:

Jesus disse: "Se seus líderes vos dizem: 'Vejam, o Reino está no céu', então saibam que os pássaros do céu os precederão, pois já vivem no céu. Se lhes disserem: 'Está no mar, então o peixe os precederá pelo mesmo motivo. Antes, descubram que o Reino está dentro de vocês, e também fora de vocês. Apenas quando vocês se conhecerem, poderão ser conhecidos, e então compreenderão que todos vocês são filhos do Pai vivo. Mas se vocês não se conhecerem a si mesmos, então vocês vivem na pobreza e são a pobreza".


Evangelho de Tomé, logion 3.

Perguntaram-lhe os discípulos: "Quando virá o Reino?" Jesus respondeu: "Não é pelo fato de alguém estar à sua espera que o verá chegar. Nem será possível dizer: Está ali, ou está aqui. O Reino do Pai está espalhado por toda a terra e os homens não o vêem".


Evangelho de Tomé, logion 113

Jesus disse: "Eu sou como a luz que está sobre todos. Eu sou o Todo: o Todo saiu de mim e o Todo retornou a mim. Rachem um pedaço de madeira: lá estou eu; levantem a pedra e me encontrarão ali".


Evangelho de Tomé, logion 77.

Passagens semelhantes a estas, ao menos no conteúdo que expressam, podem ser encontradas nos Evangelhos Canônicos, ou seja, nos Evangelhos reconhecidos pela Igreja, apesar do grande número de manipulações, enxertos e cortes pelos quais estes textos reconhecidamente passaram para se adaptar aos interesses que a Igreja, como instituição, passou a compor desde que Constantino a reconheceu como Instituição Oficial. Podemos encontrar exemplos, como em Lucas 19,20, e que expressam a idéia de Reino de Deus não como um evento ou local espacial ou temporalmente determinado, mas uma conquista do espírito ou mesmo uma tomada de consciência de que, sem que se perceba, o Reino já existe dentro do homem, não sendo extrinsecamente necessário a presença de intermediários institucionais, ou doutores teológicos, que se arvorem na presunção de fazer a ligação entre Deus e o homem, ou a dizer onde está a entrada para um exo-Paraíso que as Igrejas fizeram cada vez mais longe do homem:

Havendo-lhe perguntado os fariseus quando chegaria o Reino de Deus, lhes respondeu Jesus: "- O Reino de Deus vem sem se deixar sentir. E não dirão: '- Vede-o aqui ou ali, porque o Reino de Deus já está dentro de vós' "

É notável a semelhança entre o conteúdo destas sentença de Jesus com a máxima adotada por Sócrates, e que foi emprestada do pórtico do Templo de Apolo, em Delfos: "Homem, conhece-te a ti mesmo e conhecerás o universo". De igual forma, outro grande mestre do espírito humano, Buda, dizia que só o conhecimento de si levava à iluminação, do mesmo modo que Láo-Tsé dizia que apenas o conhecimento da ordem dentro de si levava à compreensão do Tao, do aspecto transcendente que a tudo engloba e vivifica. Da mesma forma, os órficos falavam do processo evolutivo como uma tomada de consciência de que somos deuses por sermos filhos de Deus. Apenas não temos nem a percepção, nem a consciência disto.

Segundo Stephen Mitchell, cujo livro "O Evangelho Segundo Jesus" recomendo, quando Jesus falava do Reino de Deus, ele de fato não estava dizendo ou profetizando um evento que acontecerá de repente e nem uma perfeição fácil e livre de perigos, como interpretaram ao seu bel-prazer alguns doutores da teologia, ou como ainda o fazem alguns líderes de religiões institucionalizadas, retirando a ênfase no presente e pondo-a num futuro sempre mais ou menos distante. Ele estava falando de um estado de espírito que, ao se fazer presente, muda o modo como o homem se comporta com seu semelhante, como fica bem demonstrado em muitas de suas parábolas, como, por exemplo, a da mulher que perde uma moeda e revira a casa inteira em sua busca e, quando a acha, sai a correr chamando os vizinhos e dizendo: alegrem-se comigo, pois achei a moeda que havia perdido. Ela encontrou algo aparentemente muito simples, algo que sempre esteve bem perto dela...

Este estado de espírito pode ser tão simples e poético quanto a revoada de pássaros no céu ou os lírios no campo. Ele não está fora, mas fora e dentro de nós. Tudo está ligado a tudo. O homem é um ser que depende da natureza e de outros homens para sobreviver. Tudo é um e temos de passar por várias etapas para adquirir a consciência disto:"Na casa de meu Pai há muitas moradas". Enfim, o Reino é o reconhecimento no coração de que todos somos filhos de um mesmo Pai, portanto, irmãos e irmãs, cada um refletindo o próprio Deus, portanto, a maior alegria é conviver com Deus que se reflete na presença do irmão. Jesus demonstrava isso na prática de várias formas, em especial durante as refeições, já que ele fazia questão de unir na mesma mesa tanto os sábios e Doutores da Lei, quanto gente simples, publicanos, pecadores e pessoas socialmente consideradas impuras.

Todos nascemos, porém com grau variável de pessoa para pessoa, com um pouco da percepção feliz deste Reino e a mantemos enquanto a cultura - o meio - não ajuda o retirar de nós a natural tendência à afetividade, corrompendo-nos. "Se vos fizerdes como uma criança, entrarás no Reino dos Céus". Os que se envolvem em demasia com as preocupações materiais têm certa dificuldade em entrar neste estado de espírito, pois são possuídos por suas posses que exigem um esforço considerável para serem mantidas e estão tão encarcerados em seus poderes e em sua fantasia social, que, para eles, é quase impossível desapegarem-se delas e terem a liberdade de SEREM longe do peso de demonstrar APARENTAR O TER.

"Não que seja fácil para qualquer um de nós." Escreve Stephen Mitchell. "Mas, se precisarmos avivar a memória, sempre poderemos nos sentar ao pé de nossas criancinhas. Elas, como ainda não desenvolveram uma noção muito firme do passado e do futuro, sabem aceitar de peito aberto e com plena confiança a infinita abundância do presente". Para elas, o tempo corre de forma diferente que para o adulto.

Nossa realidade é moldada pelas nossas crenças. Normalmente vemos aquilo que esperamos ver e outras coisas escapam simplesmente ao nosso olhar por não levarmos outras possibilidades em consideração. Se tememos ao relógio, se nos apegamos ao passado e se nos apavoramos com o futuro, nunca poderemos viver o presente. De certa forma, entrar no Reino de Deus significa sentir que existe algo que cuida de nós a cada instante, da mesma forma como alimenta as aves do céu e veste os lírios do campo, com infinito amor. Algo que Jesus chamava de Abba - Papai. Um pai bem diferente do patriarcal e vingativo Deus dos Exércitos do Antigo Testamento, ainda muito presente em algumas das igrejas cristãs atuais. Talvez Abba seja uma maneira carinhosa de Jesus de se referir a um Deus Pai-Mãe... "Qual de vós, se vosso filho vos pedir pão, lhe dará uma serpente, ou um escorpião se vos pedir peixe? Pois se vós, que sois imperfeitos sabeis o que dar de bom para vossos filhos, quanto mas vosso Pai, que está nos céus!"

Todos os Mestres da humanidade, em todas as épocas e lugares, sempre apontaram para a necessidade de voltarmos a viver o presente como única realidade concreta da alma no mundo: "Não vos preocupeis com o dia de amanhã, pois a cada dia basta a sua própria preocupação....", disse Jesus.

As passagens do Evangelho em que Jesus fala de um Reino dos Céus no futuro não podem ser autênticas transcrições do pensamento do Cristo, e sim interpretações de pessoas ainda muito ligadas ao pensamento judaico da época, a não ser, como fala Stephen Mitchell, que Jesus tivesse dupla personalidade, como se fossem torneiras de água quente e fria. O problema é que Jesus usava uma linguagem figurada freqüentemente composta por imagens fortes, mais propícias a impressionar a mente simples do povo igualmente simples que o ouvia, fazendo-os refletir seus atos de cada dia. Estas palavras, contudo, podiam ser interpretadas de modo tão diferente quanto o número de ouvidos que as ouviam.

O que chegou à nós, em formas de textos evangélicos, não são mais do que interpretações sobre os dizeres do Cristo feito por discípulos. Algumas passagens são tão opostas à doce doutrina de amor e compreensão de Jesus que dificilmente não nos deixam de chocar. Estas estão muito impregnadas de um espírito de vingança e de uma agressividade apocalíptica de mesmo aspecto como encontrado nos textos dos profetas do Antigo Testamento, e cabem muito bem aos judeus que vivenciaram os terríveis acontecimentos da Revolta Judaica do ano 66 d. C. que terminaria com a destruição de Jerusalém pelos romanos e com a dispersão dos judeus por todo o mundo. Cristo desejava mudanças sociais sim, mas a partir da mudança íntima das pessoas que encontrasse a intuição em si de que são filhos de Deus e, portanto, que todas as demais criaturas são irmãos e irmãs que merecem respeito. Estas passagens de um reino externo por vir, muito provavelmente, poderiam ter sido inseridas no Evangelho por discípulos que interpretaram os acontecimentos como um início da materialização do Reino que Jesus pregava, sem atinarem que este Reino é de uma profundidade maior do eles pensavam. Eles viveram estes acontecimentos e tentaram ver neles uma concretização da mudança social que Jesus aspirava a implantar na Terra, ou ainda, por interpretações feitas por discípulos de discípulos. Já que Jesus não deixou nada escrito, tudo o que dele sabemos é de segunda ou terceira mão, sendo o primeiro evangelho sinótico, o de Marcos, sido escrito provavelmente por volta do ano 60, ainda que baseado - segundo experts - em um texto anterior, chamado de quelle - fonte, em alemão, e que muitos pensam estar contido em grande parte no Evangelho de Tomé. Fora isso, a distância ajudou a acomodar os ensinos de Cristo ao que viviam seus seguidores (veja a Home Page O Cristianismo depois de Jesus).

Estes discípulos ainda estavam cheios da tradição judaica. Passagens que falam do Reino de Deus como algo que virá no futuro existem aos borbotões nos profetas e nos escritos apocalípticos judaicos redigidos sob o jugo romano dos primeiros séculos de nossa era, bem como na maioria dos textos geralmente muito patriarcais atribuídos a Paulo pela Igreja primitiva. Elas são repletas de uma esperança passional, exclusivista, e, como apontou Nietzsche, de um amargurado ressentimento contra "eles" (os poderosos políticos e econômicos, os ímpios). Mas tudo isso é fruto de uma interpretação intelectual e passional das reformas sociais propostas por Jesus, que, em toda a sua vida, aboliu todo tipo de distinção de castas e de origens, devido à sua consciência de irmandade entre todos. Os discípulos dos discípulos tiveram uma noção apenas intelectual disto e não da vivência do estado de espírito ou da consciência cósmica vivenciada por Jesus. Uma vivência que foi plenamente vivida por um Francisco de Assis ou por um Mahatman Gandhi, e que é profundamente revolucionária.

Stephen Mitchell fala, com muita propriedade, que o Reino de Deus "não é algo que irá acontecer, porque não é algo que, temporalmente falando, possa acontecer. Não pode surgir num mundo" como se fosse uma invasão externa - "O meu Reino não é deste mundo" - "é uma condição que não tem plural, mas apenas infinitos singulares. Jesus falava das pessoas 'entrando' no Reino, e que as crianças já estavam nele (...). Se pararmos de olhar para frente e para trás, foi o que ele nos disse, poderemos nos dedicar a buscar o Reino que está bem debaixo de nosso pés, bem diante de nosso nariz; e, quando o encontrarmos, alimentos, roupas e outras coisas necessárias também nos serão dados, tal como o são às aves e aos lírios. (...) Este reino é como um tesouro enterrado num campo que é nossa alma; é como uma pérola de grande valor; é como voltar para casa. Quando o encontramos, a nós mesmos, tornamo-nos donos de uma riqueza infinita (...)", é por isto que todos os místicos falam em perderem-se em Deus. "Eu e o Pai somo um", pois nossa personalidade é apenas uma máscara mutável, mas o self, como diria Jung, é a parte mais próxima do divino, em nós. Vivenciando o Deus que há em nós, poderemos reconhecer o Deus que há no outro e, assim, poderemos viver, naturalmente, devido à nosso grau de consciência, a Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade.

O verdadeiro Jesus é o Jesus do Sermão da Montanha, o Jesus entre as crianças, o Jesus que admitia mulheres, publicanos e leprosos entre seus seguidores, um homem que se esvaziou dos desejos mundanos comuns, esvaziou-se de doutrinas e regras - todos os inúteis aparatos intelectuais - e se deixou preencher pela vida, como o demonstram as suas parábolas, onde o reino é o campo, é a festa de núpcias, é a rede lançada ao mar... Porque se desapegou de tudo o que é egóico e passou a sentir o TODO - o Tao, como diria Lao-Tsé -, ele deixou de ser meramente alguém, para ser também todos, todo o mundo: "Tudo isso que fizeres a um destes pequeninos, fareis a mim". Porque admitiu Deus em si, sua personalidade é como um ímã que atrai a todos. Quanto mais se aproximam dele, mais sentem a pureza de seu coração. Um coração que é como um quarto claro e espaçoso: "Vinde a mim todos vós que estais aflitos e sobrecarregados, e eu vos aliviarei". As pessoas ou as possibilidades abrem a porta e entram. O quarto recebe a todas o tempo que quiserem, sem impor regras além da do amor. É bem diferente de um coração cheio de pertences, de crenças e de certezas, cujo dono senta-se atrás da porta trancada com uma arma em punho, como o fazem as Igrejas de todas as denominações.

Jesus também reconhecia as verdades espirituais que foram ditas pelos outros Grandes Mestres da humanidade, em todas as épocas. É assim que se explica as grandes similaridades entre seus ensinamentos e os de Buda, por exemplo, que nasceu mais de 500 anos antes de Cristo.

Jesus enfatizava a importância da evolução e da transformação pessoal: "Não te maravilhes de eu ter dito: Necessário vos é nascer de novo (João, 3. 3-7)". Reconhecia a imortalidade da alma: "De fato, Elias há de vir e restabelecer todas as coisas. Eu porém vos digo: Elias já veio e fizeram dele o que quiseram! E os discípulos compreenderam que era de João Batista de quem ele falava" (Mateus, 17, 11-13; Marcos, 9, 11-13). Bem, como Elias não voltou numa carruagem celeste ao tempo de Jesus, e como "os discípulos compreenderam que era de João Batista de quem ele lhes falava", Elias e João têm de ser a mesma pessoa... Ora, todos conheciam a história do nascimento de João - aliás, o anjo que aparece a Zacarias diz que o menino "irá adiante do Senhor no espírito e no poder de Elias (Lucas, 1. 17)".

Sendo assim, a única possibilidade real de Elias ter retornado à terra como João era a de que ele reencarnou como João, conhecido como O Batista, primo de Jesus... Esta idéia na reencarnação, conhecida ao tempo e na região de Jesus com o nome confuso de ressurreição (Mateus, 16.13-15), era familiar a inúmeros sistemas filosóficos da era helenística, e é encontrado em Pitágoras, Sócrates e Platão, sendo retomado por Amônio Sacas e por seu discípulo Plotino e, já na era cristã, por Orígenes de Alexandria, um dos pais da Igreja. Esta crença permaneceu mais ou menos atuante durante os primeiros séculos do cristianismo até que os interesses temporais e políticos a tornaram numa crença herética. Cristo também solapou a proibição de Moisés de não invocar os mortos, pois sabemos de seu encontro visível com dois mortos (Mateus, 17. 14-21; Lucas 9. 37-43) - o próprio Moisés, e Elias (João já havia sido degolado a esta época) -, no fenômeno da transfiguração, isso sem falar nas aparições póstumas durante os quarenta dias após a crucificação, já que Cristo podia aparecer e desaparecer de repente, tanto em Emaús ("então se lhes abriram os olhos, e o reconheceram; mas ele desapareceu da presença deles." Lucas, 24, 31), como em Jerusalém "estando as portas fechadas" ("Ao cair da tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando trancadas as portas da casa onde estavam os discípulos com medo dos judeus, veio Jesus, pôs-se no meio e disse-lhes: Paz seja convosco! João, 20, 19; "Finalmente apareceu Jesus aos onze, quando estavam em casa..." Marcos, 16,14). Tal fenômeno se explica perfeitamente pelo processo da materialização do nobre e poderoso espírito de Jesus. É interessante notar, nesse ponto, o comportamento de algumas seitas de base fundamentalista que aceitam tudo ao pé da letra que está escrito na Bíblia mas, quando chegam nestas partes dos Evangelhos, INTERPRETAM o que está escrito da forma que mais lhes convenha para negar a realidade destes fatos, isso quando não invocam o suposto ser que acaba por se transformar em seu maior aliado em questões que os embaraçam, ou seja, o "demônio", para dizer que estão errados os outros, os que aceitam a reencarnação ou a vida após a morte e que estão possuídos do espírito do mal, e não eles, detentores de todo o saber sobre o absoluto.... "Ai de vós, doutores da lei..." pois estão plenos de orgulho, e são como "Cegos a guiar outros cegos".

Enfim, ainda citando Mitchell, Jesus foi o maior exemplo de quão longe pode o homem chegar. Ele soube viver plenamente entre os dois mundos: o material e o espiritual. Soube dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. Ele foi uma árvore. Como fala Mitchell, a árvore não tenta arrancar da terra as suas raízes e plantar-se no céu, nem tampouco estende suas folhas para baixo, junto à lama. Ela precisa tanto do solo quanto da luz, e sabe a direção de cada coisa. Exatamente porque enterra as suas raízes na terra escura, é que pode sustentar suas folhas no alto para receber a luz do sol... É pena que Jesus de Nazaré seja freqüentemente incompreendido pelos Cristãos.

A Força do Amor

Amilcar Del Chiaro Filho


Vida com qualidade é impossível sem amor. O amor é uma energia formidável que impulsiona as galáxias, que move os mundos, que dá brilho às estrelas, que suaviza a vida, que faz a mãe acalentar o filhinho nos braços, beijá-lo ternamente, e dizer, meu filho! minha vida! Mesmo que o filho seja deficiente mental, de olhar inexpressivo, e fisionomia torturada.

É o amor que faz com que aquilo que pareça impossível, aconteça. Só amor pode dar forças ao homem para superar barreiras e vencer. Gandhi teve um profundo amor pela Índia, e no sacrifício por amor encontrou forças para libertá-la do jugo de outra nação mais poderosa. Madre Teresa de Calcutá, por força do seu amor aos miseráveis, encontrou coragem para esmolar por eles, e lhes dar alguma dignidade.

Os caminhos do mundo foram pisados pelas patas dos elefantes de Aníbal, dos cavalos das legiões romanas, das hordas bárbaras, ( dizem que onde o cavalo de Átila pisava não nascia mais grama), e pelas botas militares de muitos guerreiros, mas, somente os pés descalços ou as sandálias simples dos missionários da paz, são capazes de deixar pelo caminho poeira de estrelas.

Quantos avatares, verdadeiros missionários, cruzaram os caminhos do mundo impulsionando os homens pela força do amor, para transformar a vida?

Por isso, continuamos convidando-os a cerrarem fileiras conosco para batalharmos pela paz. É por isso, que neste início de um novo milênio precisamos acreditar em nossa capacidade, saber que podemos vencer, que podemos construir um novo destino, que podemos construir um mundo melhor, onde a paz, a harmonia, e a justiça social estejam presentes.

(Artigo reproduzido com a autorização do autor)