segunda-feira, 4 de julho de 2011

Doenças Físicas e Mentais

O HOMEM INTEGRAL
JOANNA DE ÂNGELIS-ESPÍRITO
DIVALDO PEREIRA FRANCO - MÉDIUM

A expressiva soma de atividades físicas e mentais atesta que o homem é um ser inacabado. A sua estrutura orgânica aprimorada nos milênios da evolução antropológica, ainda padece a fragilidade dos elementos que a constituem.
Vulnerável a transformações degenerativas, é tecido que reveste o psiquismo e que através dos seus neurônios cerebrais se exterioriza, afirmando-lhe a preexistência consciencial, independente das moléculas que constituem a aparelhagem material.
A consciência, na sua realidade, é fator extrafísico, não produzido pelo cérebro, pois que possui os elementos que se consubstanciam na forma que lhe torna necessária à exteriorização.
Essa energia pensante, preexistente e sobrevivente ao corpo, envolve através das experiências reencarnacionistas, que lhe constituem processo de aquisição de conhecimentos e sentimentos, até lograr a sabedoria. Como conseqüência, faz-se herdeira de si mesma, utilizando-se dos recursos que amealha e deve investir para mais avançados logros, etapa a etapa.
Em razão disso, podemos repetir que somente “há doenças, porque há doentes”, isto é, a doença é um efeito de distúrbios profundos no campo da energia pensante ou Espírito.
As suas resistências ou carências orgânicas resultam dos processos da organização molecular dos equipamentos de que se serve, produzidos pela ação da necessidade pensante.
O psicossoma organiza o soma necessário à viagem, breve no tempo, para a individualidade espiritual.
As doenças orgânicas se instalam em decorrência das necessidades cármicas que lhe são inerentes, convocando o ser a reflexões e reformulações morais proporcionadoras do reequilíbrio.
Nas patologias congênitas, o psicossoma impõe os fatores cármicos modeladores necessários à evolução, sob impositivos que impedem, pelos limites de injunções difíceis, a reincidência no fracasso moral.
Assim considerando, à medida que a Ciência se equipa e soluciona patologias graves, criando terapias preventivas e proporcionando recursos curativos de valor, surgem novas doenças, que passam a constituir-se tremendos desafios. Isto se dá, porque, à evolução tecnológica e científica da sociedade não se apresenta, em igual correspondência, o mecanismo de conquistas morais.
O homem conquista o exterior e perde-se interiormente. Avança na horizontal do progresso técnico sem o logro da vertical ética. No inevitável conflito que se estabelece — comodidade e prazer, sem harmonia interna nem plenitude —desconecta os centros de equilíbrio e abre-se favoravelmente a agentes agressores novos, aos quais dá vida e que lhe desorganizam os arquipélagos celulares.
Outrossim, as tensões, frustrações, vícios, ansiedades, fobias facultam as distonias psíquicas que são somatizadas aos problemas orgânicos ou estes e suas sequelas dão surgimento aos tormentos mentais e emocionais.
Todo equipamento para funcionar em harmonia com ajustamento, para as finalidades a que se destina, exige perfeita eficiência de todas as peças que o compõem.
Da mesma forma, a maquinaria orgânica depende dos fluxos e refluxos da energia psíquica e esta, por sua vez, das respostas das diversas peças que aciona. Nessa interdependência, a vibração mental do homem é-lhe propiciadora de equilíbrio ou distonia, conscientemente ou não.
Sabendo canalizar-lhe a corrente vibratória, organiza e submete os implementos físicos ao seu comando, produzindo efeitos de saúde, por largo período, não indefinidamente, face à precariedade dos elementos construídos para o uso transitório.
As doenças contemporâneas, substituindo algumas antigas e somando-se a outras não debeladas ainda, enquadram-se no esquema do comportamento evolutivo do ser, no seu processo de harmonização interior, de deificação.
Na sua essência, a energia pensante possui os recursos divinos que deve exteriorizar. Para tanto, à semelhança de uma semente, somente quando submetida à germinação faculta a eclosão dos seus extraordinários elementos, até então adormecidos ou mortos. A morte da forma desata-lhe a vida latente.
A mente equilibrada comandará o corpo em harmonia e, nesse intercâmbio, surgirá a saúde ideal.

domingo, 3 de julho de 2011

Os Comportamentos Neuróticos

O HOMEM INTEGRAL
JOANNA DE ÂNGELIS - ESPÍRITO
DIVALDO PEREIRA FRANCO - MÉDIUM

Produtos do inconsciente profundo, a se manifestarem como comportamentos neuróticos, os fatores psicogênicos têm suas raízes na conduta do próprio paciente em reencarnações passadas, nas quais se desarmonizou interiormente. Fosse mediante conflitos de consciência ou resultados de ações ignóbeis, os mecanismos propiciadores de reabilitação íntima imprimem no inconsciente atual as matrizes que se exteriorizam como dissociações e fragmentações da personalidade, alucinações, neuroses e psicoses.
Ínsitas no indivíduo, essas causas endógenas se associam às outras, de natureza exógena, tornando-se desagregadoras da individualidade vitimada pelas pressões que experimenta.
As pressões de qualquer natureza são decisivas para estabelecer o clima comportamental da criatura.
Por formação antropológica, em luta renhida contra os fatores compressivos e adversários, o homem aspira pela liberdade. Todos os seus esforços convergem para uma atitude, uma atuação, um movimento, livres de empeços, de detenções, de aprisionamento.
As pressões que lhe limitam os espaços emocionais e físicos aturdem-no, dando margem a evasões, agressividade, disfarces e violências, através dos quais tenta escamotear o seu estado real. Isto, quando não tomba na depressão, no pessimismo.
Vivendo sob estímulos, faculta-os à sociedade, que progride e age conforme as energias que os constituem.
Quando estes estímulos são emuladores à felicidade, eis o homem atuante e encorajado, trabalhando pelo progresso próprio e geral, mediante um comportamento otimista. No sentido oposto, quase nunca se motiva à reação, para ascender aos sentimentos ideais que promovem a vida, libertando-se das constrições naturalmente transitórias.
Equivocado quanto aos referenciais da existência, deixa-se imbuir pelas sensações da posse, do prazer fugidio, caindo em depressões, seja pela constituição psicológica fragmentaria ou porque estabelece como condição de triunfo a aquisição das coisas que se podem amealhar e perdem o valor, quando se não possui o essencial, que é a capacidade de administrá-las, não se lhes submetendo ao julgo enganoso.
Assim, apresentam-se os que se crêem infelizes porque não têm e os que se fazem desditosos porque tendo, não se contentam face à ausência da plenitude interior.
O mito da ambição do rei Midas, que tudo quanto tocava se convertia em ouro, causa da sua felicidade e desgraça, tem atualidade no comportamento neurótico dos possuidores-possuídos.
A experiência, no entanto, fazendo a pessoa aprofundar-se na consciência dos valores, altera-lhe o campo de compreensão, favorecendo o entesouramento do equilíbrio. Todavia, tal ocorrência é resultado da luta que deve ser travada sem cessar.
Assim, a saúde psicológica decorre da autoconsciência, da libertação íntima e da visão correta que se deve manter a respeito da vida, das suas necessidades éticas, emocionais e humanas.
O comportamento neurótico, assustador e predominante na sociedade consumista, procura esconder o desajuste e as fobias do homem contemporâneo, que se afunda em mecanismos patológicos.
Receando ser ele mesmo, torna-se pessoa-espelho a refletir as conveniências dos outros, ou homem-parede a reagir contra todas as vibrações que lhe são dirigidas, antes de as examinar.
“Agredir antes, evitando ser agredido” é a filosotia dos fracos, fechando-se no círculo apertado dos receios e da não aceitação dos outros, forma neurótica de ocultar a não aceitação de si mesmo.
São raros aqueles que preferem ser homens-pontes, colocados entre extremos para ajudarem, facilitarem o trânsito, socorrerem nos abismos existenciais...
O espírito de competição neurotizante vigente e estabelecido como fomentador das riquezas, deve ceder lugar ao de cooperação, responsável pela solidariedade e pela paz, humanizando a sociedade e tornando a pessoa bem identificada.
Competir não é negativo, desde que tenha por meta progredir, e não vencer os outros; porém, superar-se cada vez mais, desenvolvendo capacidades latentes e novas na individualidade.
Competir, todavia, para derrubar quem está à frente, em cima, é atitude neurótica, inconformista, invejosa, que abre brecha àquele que vem atrás e repetirá a façanha em relação ao aparente vencedor atual. Tal atitude responde pela insegurança que domina em todas as áreas do relacionamento social.
Da mesma forma, deixar-se viver sem aventurar-se, no bom sentido do termo, como se transitasse em um sonho cujos acontecimentos inevitáveis se dão sem qualquer ingerência da pessoa, é uma atitude patológica, irracional, em se considerando a capacidade de discernimento e a de realização que caracteriza a criatura humana.
O homem-ação de equilíbrio gera os fatores do próprio desenvolvimento, abandonando o conformismo neurótico, a fim de comandar o destino sempre maleável a injunções novas e motivadoras.
Os seres humanos têm as suas matrizes em a natureza, com a qual devem manter um relacionamento saudável, ao invés de evitá-la. Sendo partes integrantes da mesma, não se devem alienar, antes buscar-lhe a cooperação e auxiliá-la num intercâmbio de energias vigorosas, com o que sairão da gaiola particular onde se ocultam e se acautelam.
Há personalidades neuróticas que a temem, receosas de serem absorvidas pela sua grandiosidade e dando às suas expressões — céus, montanhas, mares, florestas, etc. — determinados tipos de projeções humanas, poderosas e devoradoras. Assim, anulam-na, matando-a no seu consciente através da negação da sua necessidade.
Os comportamentos neuróticos são desgastantes, extrapolando os limites das resistências orgânicas, que passam a somatizá-los, abrindo campo para várias enfermidades que poderiam ser evitadas.

O Conceito de Saúde

O HOMEM INTEGRAL
JOANNA DE ÂNGELIS - ESPÍRITO
DIVALDO PEREIRA FRANCO - MÉDIUM

Lexicamente, “saúde é o estado do que é são, do que tem as funções orgânicas regulares.”
A Organização Mundial de Saúde elucida que a falta de doença não significa necessariamente um estado de saúde, antes, porém, esta resulta da harmonia de três fatores essenciais, a saber: bem-estar psicológico, equilíbrio orgânico e satisfação econômica, assim contribuindo para uma situação saudável do indivíduo.
Num período de transição e mudança brusca da escala dos valores convencionais, com a inevitável irrupção dos excessos geradores da anarquia, a saúde tende a ceder espaço a conflitos emocionais, desordens orgãnicas e dificuldades econômicas, propiciando o surgimento de patologias complexas no homem.
A sociedade enferma perturba-o, e este, desajustado, piora o estado geral do grupo.
O sentido de dignidade pessoal, nesta situação, é substituído pela astúcia e pelo prazer, proporcionando distonias emocionais que facultam a instalação de enfermidades orgânicas de variada procedência.
Abstraindo-se destas últimas, aquelas que são originadas por germes, bacilos, vírus e traumatismos, multiplicam-se as de ordem psicológica, que se avolumam nos dias atuais.
O homem teima por ignorar-se. Assume atitudes contraditórias, vivendo comportamentos estranhos. Prefere deixar que os acontecimentos tenham curso, às vezes, desastroso, a conduzi-los de forma consciente.
Os dias se sucedem, sem que ele dê-se conta das suas responsabilidades ou frua dos seus benefícios em uma atitude lúcida, perfeitamente compatível com as conquistas contemporâneas.
Surpreendido, no entanto, pela doença e pela morte, desperta assustado, sem haver vivido, estranhando-se a si mesmo e descobrindo tardiamente que não se conhecia. Foi um estranho, durante toda a existência, inclusive, a ele próprio.
A saúde, entretanto, fá-lo participativo, membro atuante do grupo social, desperto e responsável na luta com que se enriquece de beleza e alegria, assumindo posições de vigor e segurança íntima, que lhe constituem prêmio ao esforço desenvolvido.
A falta de saúde, que se generaliza, conduz a mente lúcida a um diagnóstico pessimista, o que não significa ser desesperador.
Em tal situação, por falta de outra alternativa, o homem enfrenta a dificuldade, por ser pensante, e altera o quadro, impulsionado ao avanço, a aceitar os desafios.
Deixa de fugir da sua realidade, descobre-se e trabalha para alcançar etapas mais lúcidas no seu desenvolvimento emocional, pessoal.
Quem se resolve, porém, pela submissão autodestrutiva, não merece o envolvimento respeitoso de que todos são credores diante dos combatentes, porqüanto, deixando de investir esforços, abandona a sua dignidade de ser humano e prefere o esfacelamento das suas possibilidades como sendo o seu agradável estado de saúde, certamente patológico.
A saúde produz para o bem e para o progresso da sociedade, sem compaixão pelos mecanismos de evasão e pieguismos comportamentais vigentes.
Realizadora, propele a vida para as suas cumeadas e vitórias, sem parada nas baixadas desanimadoras.

O Primeiro Lugar e o Homem Indispensável

O HOMEM INTEGRAL
JOANNA DE ÂNGELIS - ESPÍRITO
DIVALDO PEREIRA FRANCO - MÉDIUM

Na área dos conflitos psicológicos a competição surge, quase sempre, como estímulo, a fim de fortalecer a combalida personalidade do indivíduo que, carente de criatividade, apega-se às experiências exitosas que outros realizaram, para impor-se e, assim, enfrentar as próprias dificuldades, escamoteando-as com o esforço que se aplica na conquista do que considera meta de triunfo.
Ambicionando a realização pessoal e temendo o insucesso que, afinal, é um desafio à resistência moral e à sua perseverança no ideal, prefere disputar as funções e cargos à frente, sem qualquer escrúpulo, em luta titânica, na qual se desgasta, esperando compensações externas, monetárias e de promoção social, assim massageando o ego, ambicioso e frágil.
O homem que age desta forma, está sempre um passo atrás da sua vítima provável, que de nada suspeita e ajuda-o, estimula-o até padecer-lhe a injunção ousada quão lamentável.
Por sua vez, o triunfador não se apercebe que. no degrau deixado vago, já alguém assoma utilizando-se dos mesmos artifícios ou mascarando-os com os olhos postos no seu trono passageiro.
A competição saudável, em forma de concorrência, fomenta o progresso, multiplica as opções, abre espaços para todos que, criativos, propõem variações do mesmo produto, novidades, idéias originais, renovação de mercado.
De outra forma, as personalidades conflituosas, arquitetando planos de segurança, apegam-se ao trabalho que realizam, às empresas onde laboram, crendo-se indispensáveis, responsáveis pelo primeiro lugar que conseguiram com sacrifício, e transferem-se, psicologicamente, para a sua Entidade. Somente se sentem felizes e compensadas quando discutem o seu trabalho, a sua execução, a sua importância. O lar, a família, o repouso, as férias se descobrem, porque não preenchem as falsas necessidades do ego exacerbado. Respiram o clima de preocupação do trabalho em toda parte e vivem em função dele.
Sentem o triunfo após os anos de lutas exaustivas, e informam que, a sua saída seria uma tragédia, um caos para a organização, já que são pessoas-chaves, molas-mestras, sem as quais nada funciona, ou se tal se dá é precariamente.
Não percebem que o tempo escoa na ampulheta das horas, os métodos de ação se renovam, o cansaço os vence, a vitalidade diminui e, no degrau, imediatamente inferior, já está o competidor, jovem ambicioso aguardando, disputando, aprendendo a sua técnica e mais bem equipado do que ele, em condições de substituí-lo com vantagens. A sua cegueira não lhes permite enxergar.
Quando o observam, deprimem-se, revoltam-se contra os limites orgânicos inexoráveis, utilizando-se de artifícios para prosseguirem.
Dão-se conta que passaram a ser constrangimento no trabalho, que pensavam pertencer-lhes, lamentando-se, queixando “que deram a vida e agora colhem ingratidão”. Certamente, os homens indispensáveis doaram a vida como fuga de si mesmos e ofereceram-na a um ser sem alma, sem coração, que apenas objetiva lucros, portanto, insensível, impessoal... Ali, os filhos substituem os pais, expulsam-nos, jovialmente, sob a alegação de que estes merecem o justo repouso, as viagens de férias que nunca tiveram; aposentam-nos. Livram a Empresa deles, de sua dominação, não mais condizente com os tempos modernos. Eles foram bons e úteis no começo, não mais agora, quando começam a emperrar a máquina do progresso, a impedirem, por inadaptação óbvia, o curso do crescimento e desenvolvimento da entidade...
Assim, chega o momento da realidade para o homem que ocupa o primeiro lugar, o indispensável. É convidado a solicitar a aposentadoria, quando não é jubilado sem maior consideração.
Surpreso, diz-se em condições de prosseguir. Afirma que ainda é jovem; quer trabalhar; dispõe de saúde... O silêncio constrangedor adverte-o que não há mais outra alternativa. Ele foi usado como peça de engrenagem empresarial que, desgastada, deve ser substituída de imediato a benefício geral. Oportunamente, a benefício da organização, ele tomara a mesma atitude em relação a outros funcionários, que foram afastados.
A amargura domina-o, o ressentimento enfurece-o e a frustração, longamente adiada, assoma e o conduz à depressão.
As interrogações sucedem-se. “E agora? Que fazer da vida, do tempo?”
Como não cultivou outros valores, outros interesses, arroja-se ao fosso da autodestruição, egoisticamente, esquecido dos familiares e amigos, afinal, aos quais nunca deu maior importância nem valorização. Afasta-se mais do convívio social e, não raro, suicida-se, direta ou indiretamente.
A empresa não lhe sente a falta, prossegue em funcionamento.
Somente quem realizou uma boa estrutura de personalidade, enfrenta com razoável tranqüilidade o choque de tal natureza, para o qual se preparou, antevendo o futuro e programando-se para enfrentá-lo, transferindo-se de uma ação para outra, de uma empresa para um ideal, de uma máquina para um grupamento humano respirável, emotivo, pensante.
Ninguém é indispensável em lugar nenhum. O primeiro de agora será dispensável amanhã, assim como o último de hoje, possívelmente, estará no comando no futuro. A morte, a cada momento, demonstra-o.
A polivalência das aspirações é reflexo de normalidade, de equilíbrio comportamental, de harmonia da personalidade, convidando o homem a buscar sempre e mais.
A desincumbência do dever reflete-lhe o valor moral e a nobreza da sua consciência. Segurar as rédeas da dominação em suas mãos fortes, denota insegurança íntima, crise de conduta.
O homem tem o dever de abraçar ideais de enobrecimento pessoal e grupal, participar, envolver-se emocionalmente, fazer-se presente na comunidade, como complemento da sua conduta existencial.
A criatura terrena está em viagem pela Terra, e todo trânsito, por mais demorado, sempre termina. Ninguém se engane e não engane a outros.
Uma auto-análise cuidadosa, uma reflexão periódica a respeito dos valores reais e aparentes, a meditação sobre os objetivos da vida concedem pautas e medidas para a harmonia, para o êxito real do ser.
A finalidade da existência corporal é a conquista dos valores eternos, e o êxito consiste em lograr o equilíbrio entre o que se pensa ter e o que se é realmente, adquirindo a estabilidade emocional para permanecer o mesmo, na alegria como na tristeza, na saúde conforme na enfermidade, no triunfo qual sucede no fracasso.
Quem consiga a ponderação para discernir o caminho, e o percorra com tranqüilidade, terá começado a busca do êxito que, logo mais, culminará com alegria.

Conflitos Degenerativos da Sociedade

O HOMEM INTEGRAL
JOANNA DE ÂNGELIS - ESPÍRITO
DIVALDO PEREIRA FRANCO - MÉDIUM

A crise de credibilidade, de confiança, de amor instaura o estado conflitivo da personalidade que perde o roteiro, incapaz de definir o que é correto ou não, qual a forma de comportamento mais compatível com a época e, ao mesmo tempo, favorável ao seu bem-estar, anquilosando pessoas refratárias ao progresso nas idéias superadas ou produzindo grupos rebeldes fadados à destruição, que se entregam à desordem, à contra-cultura, buscando sempre chocar, agredir.
Os grupos opostos se afastam, se armam e se agridem.
O homem ainda não aprendeu a ser solidário quando não concorda, preferindo ser solitário, ser opositor.
Certamente, a renovação é lei da vida.
A poda faculta o ressurgimento do vegetal.
O fogo purifica os metais, permitindo-lhes a moldagem.
A argila submete-se ao oleiro.
A vida social é resultado das alterações sofridas pelo homem, seu elemento essencial.
É necessário, portanto, que se dê a transformação, a evolução dos conceitos, o engrandecimento dos valores. Para tal fim, às vezes, é preciso que ocorra a demolição das estratificações, do arcaico, do ultrapassado. Lamentavelmente, porém, nesta ação demolidora, a revolta contra o passado, pretendendo apagar os vestígios do antigo, vai-lhe até as raízes, buscando extirpá-las.
O homem e a sociedade, sem raízes não sobrevivem.
No começo, o paganismo greco-romano era uma bela doutrina, rica de símbolos e significados, caracterizando o processo psicológico da evolução histórica do homem. O abuso, mais tarde, fê-lo degenerar e a Doutrina cristã se apresentou na forma de um corretivo eficaz, oportuno. A dosagem exagerada, porém, terminou por causar danos inesperados, no largo período da noite medieval, da qual algumas religiões contemporâneas ainda padecem os efeitos negativos.
O mesmo vem acontecendo com a sociedade que, para livrar-se das teias da hipocrisia, da hediondez, dos preconceitos, da vilania, da prepotência, elaborou os códigos da liberdade, da igualdade, da fraternidade, em lutas sangrentas, ainda não considerados além das formulações teóricas e referências bombásticas, sem repercussão real no organismo das comunidades humanas em sofrimento.
As recentes reações culturais contra a autenticidade da conduta têm produzido mais males que resultados positivos.
Em nome da evolução, sucedem-se as revoluções destrutivas que não oferecem nada capaz de preencher os espaços vazios que causam.
A insatisfação do indivíduo fustiga e perturba o grupo no qual ele se localiza, sendo expulso pela reação geral ou tornando-se um câncer em processo metastático. Facilmente o pessimista e o colérico contaminam os desalentos, passando-lhes o morbo do desânimo ou o fogo da irritação, a prejuízo geral.
Armam-se querelas desnecessárias, altera-se a filosofia dos partidos existentes, que se transferem para a agressividade, as acusações descabidas, sem trabalho à vista para a retificação dos erros, a reabilitação moral dos caídos, para o bem-estar coletivo.
Cada pequeno grupo dentro do grupo maior, sem consenso, busca atrapalhar a ação do adversário, mesmo quando benéfica, porque deseja demonstrar-lhe a falência, movido pelos interesses personalistas, em detrimento do processo de estabilidade e crescimento de todos.
O personalismo se agiganta, as paixões servis se revelam, o idealismo cede lugar à vileza moral.
A predominância do egoísmo em a natureza humana faz-se responsável pelo caos em volta, no qual os conflitos degenerativos da sociedade campeiam.
Surgem as plataformas frágeis em favor do grupo desde que sob o comando e a alternativa única do ególatra, que alicia outros semelhantes, que se lhe acercam, igualmente ansiosos por sucessos que não merecem, mas que pleiteiam. Inseguros, incapazes de competir a céu aberto, honestamente, aguardam na furna da própria pequenez, por motivos verdadeiros ou não, para incendiarem o campo de ação alheia, longe dos objetivos nobres, porém reflexos dos seus estados íntimos conflituosos.
Não se tornam adversários leais, porque a inveja, antes, os fizera inimigos ocultos que aguardavam ensejo para desvelarem-se.
Face às distonias pessoais de que são portadores, decantam a necessidade do progresso da sociedade e bloqueiam-no com a astúcia, a desarticulação de programas eficientes, antes de testados, atacando-os vilmente e aos seus portadores, a quem ferem pessoalmente, pela total impossibilidade de permanecerem no campo ideológico, já que não possuem idealismo.
Estimulam a dissensão, porque os seus conflitos não os auxiliam a cooperar, entretanto, os motivam a competir. Não podem trabalhar a favor, porque os seus estímulos somente funcionam quando se opõem.
Em razão da insegurança pessoal desconfiam dos sentimentos alheios e provocam distúrbios que se originam em suspeitas injustificáveis, a soldo do prazer mórbido que os assinala.
O conflito íntimo é matriz cancerígena no organismo humano em constante ameaça ao grupo social.
Cabe ao homem em conflito revestir-se de coragem, resolvendo-se pelo trabalho de identificação das possibilidades que dispõe, ora soterradas nos porões da personalidade assustada.
Sentindo-se incapaz de enfrentar-se, a busca de alguém capacitado a apontar-lhe o rumo e ajudá-lo a percorrê-lo é tão urgente quão indispensável. Inúmeras terapias estão ao seu alcance, entre os técnicos da área especializada, assim como as da Psicologia Transpessoal apresentando-lhe a intercorrência de fatores paranormais e da Psicologia Espírita, aclarando-o com as luzes defluentes dos fenômenos obsessivos geradores dos problemas degenerativos no indivíduo e na sociedade.
O conglomerado social, por sua vez, tem o dever de auxiliar o homem em conflito, de ajudá-lo a administrar as suas fobias, ansiedades, traumas, e mesmo o de socorrê-lo nas expressões avançadas quando padecendo psicopatologias diversas, em ética de sobrevivência do grupo, pois que, do contrário, através do alijamento de cada membro, quando vier a ocorrência se desarticulará o mecanismo de sustentação da grei.
A sociedade deve responder pelos elementos que a constituem, pelos conflitos que produz, assim como assume as glórias e conquistas dos felizardos que a compõem.
Os conflitos degenerativos da sociedade tendem a desaparecer, especialmente quando o homem, em se encontrando consigo mesmo, harmonize o seu cosmo individual (micro), colaborando para o equilíbrio do universo social (macro), no qual se movimenta.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Insegurança e Crises

O HOMEM INTEGRAL
JOANNA DE ÂNGELIS-ESPÍRITO
DIVALDO PEREIRA FRANCO-MÉDIUM

Esboroam-se, sob os camartelos das revoluções hodiernas, os edifícios da tradição ultramontana, cedendo lugar às apressadas construções do desequilíbrio, sem memória ancestral, sem alicerce cultural.
Ruem, diante dos abalos da ciência tecnológica, o empirismo passadista e as obras da arbitrária dominação totalitária, substituídos pelo alucinar das novas maquinações de aventureiros desalmados, perseguindo suas ambições imediatistas a prejuízo da sociedade, do indivíduo.
A política desgovernada exibe os seus corifeus, que se fazem triunfadores de um dia, logo passando ao anonimato, repletos de gozos e valores perecíveis, a intoxicar-se nos vapores dos vícios e das perversões em que falecem os últimos ideais que ainda possuíam.
Os direitos humanos decantados em toda parte sofrem o vilipêndio daqueles que os deveriam defender, em razão do desrespeito que apresentam diante das leis por eles mesmos elaboradas, em desprezo flagrante às Instituições que se comprometeram socorrer, por descrédito de si próprios.
A anarquia substitui a ordem e as transformações sociais apressadas não têm tempo de ser assimiladas, porque substituídas pelos modismos que se multiplicam em velocidade ciclópica.
Velhos dogmas, nascidos e cultivados no caldo da ignorância, são esquecidos e nascem as idéias liberais revolucionárias, que instigam o homem fraco contra o seu irmão mais forte gerando ódios, quando deveriam amansar o lobo ameaçador, a fim de que, pacificado, pudesse beber na mesma fonte com o cordeiro sedento, que lhe receberia proteção dignificadora.
As circunstâncias externas do inter-relacionamento das criaturas, fenômeno conseqüente ao desequilíbrio do indivíduo, engendram no contexto hodierno a insegurança, que fomenta as crises.
Sucedem-se, desse modo, as crises de autoridade, de respeito, de honradez, de valores ético-morais, e a desumanização da criatura assoma nos painéis do comportamento, insensibilizando-a pelo amolentamento emocional ou exacerbação, na volúpia do prazer e da violência conduzidos pelas ambições desmedidas.
As crises respondem pela desconfiança das pessoas, umas em relação às outras, pelo rearmamento belicoso de uns indivíduos contra os outros, pela agressividade automática e atrevida.
A queda do respeito que todos se devem, respeito este sem castração nem temor, estimula a indisciplina que começa na educação das gerações novas, relegadas a plano secundário, em que se cuidam de oferecer coisas, em mecanismos sórdidos de chantagem emocional, evitando-se dar amor, presença, companheirismo e orientação saudável.
A crise de autoridade responde pela corrupção em todas as áreas, sob a cobertura daqueles que deveriam zelar pelos bens públicos e administrá-los em favor da comunidade, pois que, para tal se candidataram aos postos de comando, sendo remunerados pelos contribuintes para este fim.
Como efeito, os maus exemplos favorecem a desonestidade, discreta e pública, dos membros esfacelados do organismo social enfermo, preparando os bolsões de miséria econômica, moral, com todos os ingredientes para a rebelião criminosa, o assalto a mão armada, o apropriamento indébito dos bens alheios, a insegurança geral. O que se nega em compromisso de direito, é tomado em mancomunação da força com o ódio.
Mesmo os valores espirituais do homem se apresentam em crise de pastores, e amigos, capazes de exercerem o ministério da fé religiosa com serenidade, sem separativismo, com amor, sem discórdia na lei, com fraternidade, sem disputas da primazia, sem estrelismo.
Nas várias escolas de fé espocam a rebelião, as disputas lamentáveis, a maledicência ácida ou o distanciamento formando quistos perigosos no corpo comunitário.
O homem apresenta-se doente, e a sociedade, que lhe é o corpo grupal, encontra-se desestruturada em padecimento total.
As crises gerais, que procedem da insegurança individual, são, por sua vez, responsáveis por mais altas e expressivas somas de desconforto, insatisfação, instabilidade emocional do homem, formando um círculo vicioso que se repete, sem aparente possibilidade de arrebentar as cadeias fortes que o constituem.
Vitimado por sucessivos choques desde o momento do parto, quando o ser é expulso do claustro materno, onde se encontrava em segurança, este enfrenta, desequipado, inumeráveis desafios que não logra superar. Chegando a idade adulta, ei-lo receoso, desestruturado para enfrentar a maquinaria insensível dos dias contemporâneos, em que a eletrônica e a robótica são conduzidas, porém, avançam, tomando o controle da situação e, lentamente, reduzindo-o a observador das respostas e imposições digitadas, apertando ou desligando controles e submetendo-se aos resultados pré-estabelecidos, sem emoção, sem participação pessoal nos dados recolhidos.
Noutras circunstâncias, ou em estado fetal, experimenta os choques geradores de insegurança, no comportamento da gestante revoltada diante da maternidade não desejada e até mesmo odiada.
O jogo de reações nervosas, as vibrações deletérias da revolta contra o ser em formação, atingem-lhe os delicados mecanismos psíquicos, desarmonizando os núcleos geradores do futuro equilíbrio, sob as chuvas de raios destruidores, que os afetam irreversívelmente.
O que o amor poderia realizar posteriormente e a educa¬ção lograr em forma de psicoterapia, ficam, à margem, sob os cuidados de pessoas remuneradas, sem envolvimento emocional ou interesse pessoal, produzindo marcas profundas de abandono e solidão, que ressurgirão como traumas danosos no desenvolvimento da personalidade.
A par dos fatores sóciomesológicos, outras razões são preponderantes na área do comportamento inseguro, que são aquelas que procedem das reencarnações anteriores, malogradas ou assinaladas pelos golpes violentos que foram aplicados pelo Espírito em desconcerto moral, ou que os padeceu nas rudes pugnas existenciais.
Assinalando com rigor a manifestação da afetividade tranqüila ou desconfiada, aquelas impressões são arquivadas no inconsciente profundo, graças aos mecanismos sutis do perispírito. O homem é um ser inacabado, que a atual existên¬cia deverá colaborar para o aperfeiçoamento a que se encontra destinado. Faltando-lhe os recursos favoráveis ao ajustamento, torna-se uma peça mal colocada ou inadaptada na complexidade da vida social, somando à sua a insegurança dos outros membros, assim favorecendo as crises individuais e coletivas.
Por desinformação ou fruto de um contexto imediatista¬consumista, elaborou-se a tese de que a segurança pessoal é o resultado do ter, que se manifesta pelo poder e recebe a resposta na forma de parecer. Todos os mecanismos responsáveis pelo homem e sua sobrevivencia se estribam nessas propostas falsas, formando uma sociedade de forma, sem profundidade, de apresentação, sem estrutura psicológica nem equilíbrio moral.
Trabalhando somente no exterior, relega-se, a plano secundário ou a nenhum, o sentido ético do ser humano, da sua realidade intrínseca, das suas possibilidades futuras, jacentes nele mesmo.
O homem deve ser educado para conviver consigo próprio, com a sua solidão, com os seus momentâneos limites e ansiedades, administrando-os em proveito pessoal, de modo a poder compartir emoções e reparti-las, distribuir conquistas, ceder espaços, quando convidado à participação em outras vidas, ou pessoas outras vierem envolver-se na sua área emocional.
Desacostumado à convivência psíquica consciente com os seus problemas, mascara-se com as fantasias da aparência e da posse, fracassando nos momentos em que se deve enfrentar, refletido em outrem que o observa com os mesmos conflitos e inseguranças. As uniões fraternais então se desarticulam, as afetivas se convertem em guerras surdas, o matrimônio naufraga, o relacionamento social sucumbe disfarçado nos encontros da balbúrdia, da extravagância, dos exageros alcoólicos, tóxicos, orgíacos, em mecanismos de fuga da realidade de cada um.
A educação, a psicoterapia, a metodologia da convivência humana devem estruturar-se em uma consciência de ser, antes de ter; de ser, ao invés de poder, de ser, embora sem a preocupação de parecer
Os valores externos são incapazes de resolver as crises internas, aliás, não poucas vezes, desencadeando-as.
O que o homem é, suas realizações íntimas, sua capacida¬de de compreender-se, às pessoas e ao mundo, sua riqueza emocional e idealística, estruturam-no para os embates, que fazem parte do seu modus vivendi e operandi, neste processo incessante de crescimento e cristificação.
A coragem para os enfrentamentos, sem violência ou recuos, capacita-o para os logros transformadores do ambiente social, que deslocará para o passado a ocorrência das crises de comportamento, iniciando-se a era de construção ideal e de reconstrução ética, jamais vivida antes na sua legitimida¬de.
Os conceitos do poder e da força estão presentes na sistemática governança dos povos.
Sempre os militares governaram mais do que os filosóficos, e o poder sempre esteve por mais tempo nas mãos dos violentos do que na sabedoria dos pacíficos, gerando as guerras exteriores, porque os seus apaniguados viviam em constantes guerras íntimas, inseguros, aguardando a traição dos fracos que, bajuladores, os rodeavam, e a audácia dos mais fortes, que lhes ambicionavam o poderio, terminando, quase todos, vítimas das suas nefastas urdiduras.
A segurança íntima conseguida mediante o autodescobrimento, a humanização e a finalidade nobre que se deve imprimir à vida são fatores decisivos para a eliminação das crises, porqüanto, afinal, a descrença que campeia e o desconcerto que se generaliza são defluentes do homem moderno que se encontra em crise momentânea, vitimado pela insegurança que o aturde.

Religião e Religiosidade

O HOMEM INTEGRAL
JOANNA DE ÂNGELIS-ESPÍRITO
DIVALDO PEREIRA FRANCO-MÉDIUM

No caleidoscópio do comportamento humano há, quase sempre, uma grande preocupação por mais parecer do que ser, dando origem aos homens-espelhos, aqueles que, não tendo identidade própria, refletem os modismos, as imposições, as opiniões alheias. Eles se tornam o que agrada às pessoas com quem convivem, o ambiente que no seu comportamento neurótico se instala. Adota-se uma fórmula religiosa sem que se viva de forma equânime dentro dos cânones da religião. É a experiência da religião sem religiosidade, da aparência social sem o correspondente emocional que trabalha em favor da auto-realização, O conceito de Deus se perde na complexidade das fórmulas vazias do culto externo, e a manifesta¬ção da fé íntima desaparece diante das expressões ruidosas, destituídas dos componentes espirituais da meditação, da reflexão, da entrega. Disso resulta uma vida esvaziada de esperança, sem convicção de profundidade, sem madureza espiritual.
A religião se destina ao conforto moral e à preservação dos valores espirituais do homem, demitizando a morte e abrindo-lhe as portas aparentemente indevassáveis à percepção humana.
Desvelar os segredos da vida de ultratumba, demonstrar-lhe o prosseguimento das aspirações e valores humanos, ora noutra dimensão dentro da mesma realidade da vida, é a finalidade precípua da religião. Ao invés da proibição castradora e do dogmatismo irracional, agressivo à liberdade de pensamento e de opção, a religião deve favorecer a investigação em torno dos fundamentos existenciais, das origens do ser e do destino humano, ao lado dos equipamentos da ciência, igualmente interessada em aprofundar as sondas das pesquisas sobre o mundo, o homem e a vida.
A fim de que esse objetivo seja alcançado, faz-se indispensável a coragem de romper com a tradição — rebelar-se contra a mãe religião — libertando-se das fórmulas, para encontrar a forma da mais perfeita identificação com a própria consciência geradora de paz. Tornar-se autêntico é uma decisão definidora que precede a resolução de crescer para dar-se. O desafio consiste na coragem da análise de conteúdo da religião, assim como da lógica, da racionalidade das suas teses e propostas. Somente, desta forma, haverá um relacionamento criativo entre o crente e a fé, a religiosidade emocional e a religião. Essa busca preserva a liberdade íntima do homem perante a vida, facultando-lhe um incessante crescimento, que lhe dará a capacidade para distinguir o em que acredita e por que em tal crê, sustentando as próprias forças na imensa satisfação dos seus descobrimentos e nas possibilidades que lhe surgem de ampliar essas conquistas.
Já não se torna, então, importante a religião, formal e circunspecta, fechada e sombria, mas a religiosidade interior que aproxima o indivíduo de Deus em toda a Sua plenitude: no homem, no animal, no vegetal, em a natureza, nas formas viventes ou não, através de um interrelacionamento integrador que o plenifica e o liberta da ansiedade, da solidão, do medo. As suas aspirações não se fazem atormentadoras; não mais surge a solidão como abandono e desamor, e dilui-se o medo ante uma religiosidade que impregna a vida com esperança, alegria e fé. O germe divino cresce no interior do homem e expande-se, permitindo que se compreenda o conceito paulino, que ele já não vivia, “mas o Cristo” nele vivia.
A personalidade conflitante no jogo dos interesses da sociedade cede lugar à individualidade eterna e tranqüila, não mais em disputa primária de ambições e sim em realizações nas quais se movimenta. Os outros camuflam a sua realidade e vivem conforme os padrões, às vezes detestados, que lhes são apresentados ou impostos pela sua sociedade. O grupo social, porém, rejeita-os, por sabê-los inautênticos, no entanto os aplaude, porque eles não incomodam os seus membros, fazendo-os mesmistas, iguais, despersonalizados, desestruturados. Por falta de uma consciência objetiva — conhecimento dos seus valores pessoais, controle das várias funções do seu organismo físico e emocional, definição positiva de atitudes perante a vida —, não têm a coragem ética de ser autênticos, padecendo conflitos a respeito do senso de responsabilidade e de liberdade, característico do amadurecimento, que se poderá denominar como uma virtude de longo curso. Não se trata da coragem de arrostar conseqüências pela própria temeridade, mas do valor para enfrentar-se a si mesmo, gerando um relacionamento saudável com as demais pessoas, repetindo com entusiasmo a experiência mal sucedida, sem ataduras de remorso ou lamentação pelo fracasso. E saber retirar do insucesso os resultados positivos, que se podem transformar em alavancas para futuros empreendimentos, nos quais a decisão de insistir e realizar assumem altos níveis éticos, que se tornam desafios no curso do processo evolutivo.
Para que o ânimo robusto possa conduzir às lutas exteriores, faz-se necessária a autoconquista, que torna o indivíduo justo, equilibrado, sem a característica ansiedade neurótica, reveladora do medo do futuro, da solidão, das dificuldades que surgem.
É preciso que o homem se arrisque, se aventure, mesmo que esta decisão o faça ansioso quanto ao seu desempenho, aos resultados. Ninguém pode superar a ansiedade natural, que faz parte da realidade humana, desde que não extrapole os limites, passando a conflito neurótico.
Por atavismo ancestral o homem nasce vinculado a uma crença religiosa, cujas raízes se fixam no comportamento dos primitivos habitantes da Terra. Do medo decorrente das forças desorganizadas das eras primeiras da vida, surgiram as diferentes formas de apaziguar a fúria dos seus responsáveis, mediante os cultos que se transformariam em religiões com as suas variadas cerimônias, cada vez mais complexas e sofisticadas. Das manifestações primárias com sacrifícios humanos, até as expressões metafísicas, toda uma herança psicológica e sociológica se transferiu através das gerações, produzindo um natural sentimento religioso que permanece em a natureza humana.
Ao lado disso, considerando-se a origem espiritual do indivíduo e a Força Criadora do Universo, nele permanece o germe de religiosidade aguardando campo fecundo para desabrochar.
Expressa-se, esse conteúdo intelecto-moral, em forma de culto à arte, à ciência, à filosofia, à religião, numa busca de afirmação-integração da sua na Consciência Cósmica. A força primitiva e criadora, nele existente como uma fagulha, possui o potencial de uma estrela que se expandirá com as possibilidades que lhe sejam facultadas. Bem direcionada, sua luz vencerá toda a sombra e se transformará na energia vitalizadora para o crescimento dos seus valores intrínsecos, no desdobramento da sua fatalidade, que são a vitória sobre si mesmo, a relativa perfeição que ainda não tem capacidade de apreender.
Na execução do programa religioso, a maioria das pessoas age por convencionalismo e conveniência, sem a coragem de assumir as suas convicções, receosas da rejeição do grupo.
Adotam fórmulas do agrado geral, que foram úteis em determinados períodos do processo histórico e evolutivo da sociedade e, não obstante descubram novas expressões de fé e consolação, receiam ser consideradas alienadas, caso assumam as propostas novas que lhes parecem corretas, mas não usuais, e sim de profundidade.
Afirmou um monge medieval que todo aquele que vive morrendo, quando morre não morre”, porque o desapego, o despojar das paixões em cada morrer diário, liberta-o, desde já, até que, quando lhe advém a morte, ele se encontra perfeitamente livre, portanto, não morto, equivalente a vivo.
A religiosidade é uma conquista que ultrapassa a adoção de uma religião; uma realização interior lúcida, que independe do formalismo, mas que apenas se consegue através da coragem de o homem emergir da rotina e encontrar a própria identidade.