sábado, 3 de outubro de 2009

Amizade

O homem é um ser gregário por natureza.

Ele sente necessidade de convívio e contato com os semelhantes.

Justamente por isso, estabelece vínculos ao longo de sua vida.

Muitos desses vínculos são praticamente automáticos, como os que decorrem da estrutura familiar.

Contudo, algumas ligações originam-se apenas de afinidade e simpatia.

A amizade é uma forma de afeto muito peculiar.

Habitualmente, afirma-se que os amigos são a família que se escolheu.

A nobreza da amizade foi revelada pelo próprio cristo.

Em determinada passagem do evangelho, o mestre afirmou que não mais chamava os apóstolos de servos.

Chamava-os de amigos, pois lhes havia dado a conhecer o que ouvira do pai.

Jesus ofertara aos Seus discípulos o que de melhor possuía: A luz de Seus ensinamentos e o calor de Seu afeto.

Isso é o que caracteriza a amizade: A partilha do melhor de nosso ser.

A amizade não envolve posse, exclusivismos ou busca de vantagens.

Nada obriga a manutenção dos laços de amizade. É a expressão mais fraterna dos sentimentos.

Procura-se estar próximo ao semelhante apenas pelo prazer de sua companhia.

Por ser tão precioso, esse vínculo deve ser bem cuidado.

Conquistar amigos pode ser mais fácil do que preservá-los.

Na aquisição de afetos, o carisma pessoal auxilia bastante. Mas a manutenção do vínculo exige dedicação. É necessário dispor-se a gastar algum tempo no cultivo do afeto que se granjeou. Entretanto, o comportamento nobre e leal também se faz imprescindível.

A manutenção dos amigos pouco tem a ver com lições de etiqueta ou boas maneiras.

Tais recursos muitas vezes apenas escondem o real caráter de quem aparenta afabilidade. Relevante mesmo é burilar o próprio modo de ser, desenvolvendo nobreza e cordialidade.

Considerando essa realidade, há inúmeras atitudes que se devem evitar no trato com os amigos.

A agressividade, em palavras ou gestos, surpreende negativamente nossos afetos.

A negligência, consistente em dar pouca importância à presença e à palavra dos companheiros, faz com que não mais nos procurem.

A irritação contínua torna nossa companhia enfadonha.

A lamentação constante também converte nossa presença em um fardo pesado.

É preciso considerar que os outros também têm problemas.

Importa, pois, cultivar a jovialidade.

Ocultar as próprias dores, para não afligir inutilmente os semelhantes, é uma forma de caridade.

Assim, reflita sobre a importância dos amigos em sua vida.

Pense como eles lhe trazem alegria e tornam seu viver mais leve.

Lembre-se do exemplo do Cristo, que deu o melhor de si aos companheiros que escolheu.

Não gaste os preciosos momentos que passa com seus amigos em futilidades, reclamações ou baixezas.

Dê-lhes o seu melhor.

Torne sua companhia uma fonte de equilíbrio, alegria e bem-estar.

Mostre-se confiável e disposto, quando necessitarem de você.

Ame-os, com pureza e desinteressadamente.

Afinal, amigos leais e calorosos são um dos maiores tesouros que se pode conquistar.

Equipe de Redação do Momento Espírita, com base no capítulo VII do livro “Leis morais da vida”, do Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco.

Amar a Deus

Qual o maior mandamento da Lei de Deus? Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Aí estão contidas toda a Lei e os profetas, nos disse Jesus.

Quando perguntado pelos Doutores da Lei qual o maior mandamento da Lei de Deus, Jesus foi firme ao afirmar o amor como maior mandamento. Acima de tudo, amar a Deus, de toda a alma e de todo o coração.

Mas como se pode amar a Deus? Sendo Deus imaterial, etéreo, parece tão distante de nós, que fica difícil entender como amá-Lo.

E ainda, o que Deus entende por amá-Lo? Deseja Ele alguma forma de adoração, de culto, de exteriorização desse amor?

Na verdade, torna-se muito mais fácil amar a Deus começando por amar aquilo que é Dele, que é obra de Sua criação.

Comecemos pelo nosso planeta. Você já se preocupou em cuidar do planeta? Como moradia transitória que nos foi emprestada, não nos pertence. Pertence a Deus. E o que fazemos dele?

Ao termos atitudes de cuidado com nosso planeta, não estamos amando a Deus? Por amá-lo, comecemos a mudar nossa relação com as coisas que nos cercam.

Por que não deixar de comprar coisas, muitas das vezes desnecessárias, e assim diminuir o descarte de objetos que viram lixo precocemente?

Quantas vezes trocamos o aparelho celular sem necessidade, o aparelho de TV, o computador, a máquina de fotografar, sem necessidade? E aí, quando compramos o novo, para onde vai o velho?

Permitimo-nos uma onda de consumismo, sem perceber o quanto comprar pode virar sinônimo de gerar lixo. E geramos um lixo sem nos preocupar o que fazer com ele.

Para onde vai a bateria do celular descartado? As pilhas que usamos? O computador sucateado precocemente?

Um mundo novo, com tanta tecnologia, exige reflexões novas de cada um de nós. Somos mais de 6 bilhões de Espíritos reencarnados nessa escola chamada Terra. E todos temos a necessidade de aqui estarmos para o aprendizado necessário.

Para que nosso planeta consiga servir de morada para todos nós, é necessário que cuidemos dele. E assim, que nossos hábitos e atitudes não sejam inconsequentes e levianos.

Se a temperatura do planeta aumenta, ameaçando vidas, o que está ao nosso alcance fazer? Se o volume de lixo gerado em nossa cidade é demasiado, o que podemos fazer?

São as pequenas atitudes de nossa parte que demonstram nosso respeito e amor a Deus.

Quando respeitamos flora e fauna, não permitindo tráfico de animais ou plantas, não consumindo madeira, plantas, sementes ou peixes em época ou local proibido, estamos respeitando o planeta.

O amor a Deus se mostra muito mais efetivo ao amarmos as obras de Sua criação do que amá-Lo em palavras que não se refletem em atitudes.

E ao respeitar o planeta, estamos dando provas inequívocas de amor ao Criador, Deus, nosso Pai.

Amar a Quem

Dia desses surpreendemos duas senhoras a conversar. E seu diálogo nos atraiu verdadeiramente a atenção.

Indagava uma à outra porque ela se envolvia tanto com campanhas para as crianças carentes assistidas por uma determinada entidade filantrópica.

Ora, respondeu a outra, porque disponho de tempo, porque as crianças precisam, porque gosto de me envolver com tarefa assistencial.

Mas, continuou a primeira, essa instituição não é da nossa religião.

A resposta da dama que se dedicava de corpo e alma ao trabalho de assistência foi rápida: Mas são nossos irmãos.

A primeira ainda prosseguiu com sua argumentação, enquanto nos afastávamos do local a pensar.

Estranha forma de nos dizermos cristãos. Transformando-nos em pessoas sectárias, fechadas.

Esquecidas de que o Mestre nos recomendou: Amai-vos uns aos outros.

Ele mesmo, durante sua estada entre os homens, teve oportunidade, por mais de uma vez, mostrar que não importava a nacionalidade, a doutrina política, a crença religiosa, o cargo e a cor da pele. Por isso mesmo, Ele tomou o samaritano como exemplo do homem bom que atende o caído na estrada, sem nada lhe indagar.

Fala à samaritana, no poço de Jacó, convidando-a à mudança de rumo e transformando-a numa disseminadora das luzes da Boa Nova.

Falando a respeito do centurião a quem cura o servo à distância, comenta: Jamais vi tamanha fé em Israel!

Convida Mateus, um coletor de impostos, para ser um dos Apóstolos. Visita Zaqueu, o publicano, e socorre a equivocada Maria de Magdala, amparando também a mulher adúltera.

Jesus viajou pelas terras da Judéia, da Galiléia e da Samaria. E afirmou: Nenhuma das ovelhas que o Pai me confiou se perderá.

Como podemos agir de forma diversa, estabelecendo limites no auxílio, condicionados à crença religiosa?

Então não somos todos filhos do mesmo Pai? Ele não nos criou crentes desta ou daquela doutrina. Criou-nos Seus filhos.

Todos partidos do mesmo ponto, da simplicidade e da ignorância, e com idêntico objetivo: a perfeição.

Não nos armemos uns contra os outros, mas nos amemos.

Façamos o bem a quem esteja próximo, sem distinção alguma.

E, se pudermos, estendamos a nossa ação a quem esteja distante, mesmo que não pertença à nossa raça, que tenha nascido em outro País, que habite outros Estados.

Meditemos que, quando as súplicas sinceras chegam ao bondoso Pai, Ele não pergunta como cremos, onde estamos.

Conforme nos ensinou Jesus, tudo o que pedirmos a Ele em Seu nome, nos será concedido.

Da mesma forma que recebemos tanto bem do Criador, saibamos distribuir igualmente a todos.

Mesmo porque as questões de cor, nacionalidade, credo político ou religioso são questões transitórias, que duram uma vida rápida, passageira, considerando-se o Espírito imortal.

* * *

O bem é tudo o que estimula a vida, produz para a vida, respeita e dá dignidade à vida.

Quando não puder fazer o bem, pense nele.

Valorize o bem que você possa fazer e faça-o quanto possa e onde esteja.

Alguém Precisa de Você

Você já se sentiu alguma vez como um zero à esquerda, ou seja, sem valor algum?

Você pode responder que não, mas outras tantas pessoas já tiveram o seu dia de baixa autoestima.

São aqueles dias em que a gente olha ao redor e não consegue ver nada em que possamos ser úteis.

No entanto, e por essas mesmas razões, há sempre alguém que precisa de você.

Há pessoas caladas que precisam de alguém para conversar.

Há pessoas tristes que precisam de alguém que as conforte.

Há pessoas tímidas que precisam de alguém que as ajude a vencer a timidez.

Há pessoas sozinhas que precisam de alguém para conversar.

Há pessoas com medo que precisam de alguém para lhes dar a mão.

Há pessoas fortes, mas que precisam de alguém que as faça pensar na melhor maneira de usar a sua força.

Há pessoas habilidosas que precisam que alguém as ajude a descobrir a melhor maneira de usar sua habilidade.

Há pessoas que julgam não saber fazer nada e que precisam de alguém que as ajude a descobrir o quanto podem fazer.

Há pessoas apressadas que precisam de alguém que lhes mostre tudo o que não têm tempo para ver.

Há pessoas impulsivas que precisam de alguém que as ajude a não magoar os outros.

Há pessoas que se sentem perdidas e precisam de alguém que lhes mostre o caminho.

Há pessoas que se julgam sem importância alguma e precisam de alguém que as ajude a descobrir como são valiosas.

E você, que muitas vezes pensa não ter nenhuma utilidade, pode ser justamente a pessoa que alguém está precisando agora...

É claro que você não precisa, nem pode ser a solução para todos os problemas, mas faça o melhor ao seu alcance.

Se não puder ser uma árvore frondosa no topo da colina, seja um arbusto no vale - mas seja o melhor arbusto do vale.

Se não puder ser um arbusto, seja um ramo - mas seja o ramo mais exuberante a enfeitar a paisagem.

E se não puder ser um ramo, seja um pequeno tapete de relva para dar alegria a algum caminhante...

Se deseja ser um lindo ramalhete de flores perfumadas, e não consegue, seja uma singela flor silvestre - mas seja a mais bela.

E nesse esforço de ser útil a alguém que precisa de você, irá cada vez se tornando mais forte e mais confiante.

E todos as alegrias que espalhar pelo caminho serão as mesmas alegrias que encontrará na própria estrada.

Por mais difícil que esteja a situação, nunca deixe de lembrar que alguém precisa de você. E o mais importante: você pode ajudar alguém.

* * *

A Terra é uma grande escola, onde o Criador nos matriculou para que aprendamos a ser felizes.

A grande maioria das pessoas que habita este planeta não é completamente feliz.

Somos todos caminheiros da estrada chamada evolução, e, num momento ou noutro pode ser que precisemos de alguém.

Assim sendo, como sempre estamos rodeados de pessoas, é importante que você fique alerta, pois ao seu lado pode estar alguém que precise de você, neste exato momento.

Amar É...

O que é o amor?

É sentimento. É estado d´alma?

E como buscá-lo, como vivê-lo. desde que todos os grandes Espíritos que vieram à Terra disseram ser ele o caminho seguro?

Os conceitos atribuídos ao amor são inúmeros. As discussões filosóficas tornam-se sem fim.

Porém, o que realmente precisamos conhecer é sua prática, sua vivência em nossos dias.

A compreensão maior virá como consequência, como se precisássemos estar em seu íntimo para finalmente descobri-lo.

O amor é o sacrifício pelo próximo que, aos olhos do mundo, é pesado, é difícil, mas para quem ama é leve, gratificante.

Amar é interessar-se pela vida do outro, é perguntar: Como foi seu dia? É questionar: Você está bem? E estar realmente atento para ouvir a resposta.

Amar é modificar nossa rotina para ouvir um amigo, fazer-lhe uma visita, levar notícias boas.

Amar é reunir a família, sem a necessidade de uma comemoração especial, apenas para celebrar a presença de todos, para fortalecer os laços.

Amar é adiar um sonho para atender as necessidades de um filho, de um pai, de uma mãe.

Amar é respeitar as opiniões dos outros, mesmo que elas sejam diferentes das nossas.

É abraçar os familiares, não apenas quando celebrem aniversários, ou conquistas, mas sempre que o coração lembrar do quanto se querem bem.

Amar é chorar junto. É sorrir junto. É sempre guardar a esperança de que tudo será melhor.

Amar é saber dizer sim. É saber dizer não. É saber ouvir um sim, saber ouvir um não.

Aqueles que amamos jamais serão um peso em nossas vidas. Pelo contrário, serão eles que nos farão mais leves. Serão eles os agentes que farão com que nossa consciência esteja satisfeita, que nosso íntimo receba energias revigorantes do Alto, fazendo-nos mais felizes.

O verdadeiro amor não está distante. Não está apenas nos romances literários, nos poemas inspirados, nas imagens dos sonhos. Ele está conosco nos pequenos gestos de carinho, nas gentilezas inesperadas, nas renúncias.

O verdadeiro amor não está distante. Ele aguarda apenas que as mãos fortes da vontade o alcancem, e concedam-lhe a chance de respirar os ares do mundo.

* * *

Os Espíritos Superiores nos ensinam que amar, no sentido profundo do termo, é o homem ser leal, probo, consciencioso, para fazer aos outros o que queira que estes lhe façam.

É procurar em torno de si o sentido íntimo de todas as dores que acabrunham seus irmãos, para suavizá-las.

É considerar como sua a grande família humana, porque essa família todos a encontraremos, dentro de certo período, em mundos mais adiantados, e os Espíritos que a compõem são, como nós, filhos de Deus, destinados a elevar-se ao infinito.

Redação do Momento Espírita, com base no cap. XI, item 10 de
O Evangelho segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, ed. Feb.

Amar é Uma Decisão

Um homem foi visitar um sábio conselheiro e disse-lhe que estava passando por muitas dificuldades em seu casamento. Falou-lhe que já não amava sua mulher e que pensava em separação...

O sábio escutou-o, olhou-o nos olhos e disse-lhe: ame-a!

Mas já não sinto nada por ela! Retrucou o homem.

Ame-a! Disse-lhe novamente o sábio.

Diante do desconcerto do homem, depois de um breve silêncio, o sábio lhe disse o seguinte: "amar é uma decisão; é dedicação e entrega; é ação...

Portanto, para amar é preciso apenas tomar uma decisão.

Quando você se decide a cultivar um jardim, você sabe que é necessário preparar o terreno, semear, regar, esperar a germinação e a floração.

Você sabe que haverá pragas, ervas daninhas, tempos de seca ou de excesso de chuva, mas se você está decidido a ter um belo jardim, jamais desistirá, por maiores que sejam as dificuldades.

Assim também acontece no campo do amor. É preciso dedicação, cuidado, espera.

Portanto, se quiser cultivar as flores da afeição, dedique-se. Ame seu par, aceite-o, valorize-o, respeite-o, dê afeto e ternura, admire-o e compreenda-o...

Isso é tudo...

Apenas ame!

***

O amor é lei da vida. Se não houvesse amor nada faria sentido.

Busquemos, então, meditar sobre o que temos e o que não temos, sobre quem somos e sobre quem não somos, a respeito do que fazemos e do que não fazemos, guardando a convicção de que sem a presença do amor naquilo que temos, no que fazemos e no que somos, estaremos imensamente pobres, profundamente carentes, desvitalizados.

A inteligência sem amor, nos faz perversos.

A justiça sem amor, nos faz insensíveis e vingativos.

A diplomacia sem amor, nos faz hipócritas.

O êxito sem amor, nos faz arrogantes.

A riqueza sem amor, nos faz avaros.

A pobreza sem amor, nos faz orgulhosos.

A beleza sem amor, nos faz ridículos.

A autoridade sem amor, nos faz tiranos.

O trabalho sem amor, nos faz escravos.

A simplicidade sem amor, nos deprecia.

A oração sem amor, nos faz calculistas.

A lei sem amor, nos escraviza.

A política sem amor, nos faz egoístas.

A fé sem amor nos torna fanáticos.

A cruz sem amor se converte em tortura.

A vida sem amor... Bem, sem amor a vida não tem sentido...

***

As flores que espalham aromas nos canteiros são mensageiras do amor de Deus falando nos jardins...

Os passarinhos que pipilam nos prados e cantam nos ramos são a presença do amor de Deus transparecendo nos ninhos...

As ondas gigantescas que se arrebentam nas praias, mostram o amor de Deus engrandecendo-se no mar, tanto quanto o filete transparente de águas cantantes, que beija a face da rocha, decanta o amor de Deus, jorrando suave pela fenda singela.

A fera que ruge na selva, quanto os astros que giram na amplidão, enaltecem o amor divino, enquanto falam dessa cadeia que une os seres e as coisas da casa de Deus.

A criança que sorri, feliz, quanto aquela que chora, no regaço materno ou num leito hospitalar, igualmente, refletem o amor distendendo esperança, conferindo oportunidades aos espíritos, como dádivas de Deus.

O homem sábio, pelos conhecimentos que lhe robustecem o cérebro, e aquele que se enobrece no trabalho do bem, pela luz que lhe emana do íntimo, apresentam o amor de Deus, alevantando a vida.

Essas e outras facetas do amor, é que fazem com que a vida tenha sentido...

Equipe de Redação do Momento Espírita, com base em história de autoria ignorada e no capítulo 22 do livro Rosângela, ed. Fráter Livros Espíritas.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Não Existe Desobsessão Sem Base de Renovação Moral

O Espiritismo explica que na loucura a causa do mal é interior e é preciso procurar restabelecer o organismo ao estado normal. Na obsessão, a causa do mal é exterior e é preciso desembaraçar o doente de um inimigo invisível opondo-lhe, não remédios, mas uma força moral superior à sua. “A experiência prova que, em semelhante caso, os exorcismos não produziram jamais nenhum resultado satisfatório, e que antes agravaram do que melhoraram a situação. Só o Espiritismo, indicando a verdadeira causa do mal, pode dar os meios de combatê-lo”.([1]) É preciso, de certa maneira, educar moralmente o Espírito obsessor; por conselhos inteligentes, pode-se fazê-lo melhor e determinar-lhe declinar espontaneamente ao tormento da vítima, e então esta se liberta.

Todavia, não se pode esquecer que os obsessores são hábeis e inteligentes, perfeitos estrategistas que planejam cada passo e acompanham as presas por algum tempo, observando suas tendências, seus relacionamentos, seus ideais. Identificam seus pontos vulneráveis (quase sempre ligados ao descaminhamento sexual) e os exploram pertinazes.

Para a escola psiquiátrica obsessão é um pensamento, ou impulso, persistente ou recorrente, indesejado e aflitivo, e que vem à mente involuntariamente, a despeito de tentativa de ignorá-lo ou de suprimi-lo. Psiquiatras que não admitem nada fora da matéria não podem entender uma causa oculta; mas quando a academia científica tiver saído da rotina materialista, ela reconhecerá na ação do mundo invisível que nos cerca e no meio do qual vivemos, uma força que reage sobre as coisas físicas, tanto quanto sobre as coisas morais. Esse será um novo caminho aberto ao progresso e a chave de uma multidão de fenômenos mal compreendidos do psiquismo humano.

Sob o enfoque espírita, obsessão é a ação persistente que um mau Espírito exerce sobre um indivíduo. Apresenta caracteres muito diferentes, que vai de uma simples influência moral sem sinais exteriores sensíveis até a perturbação completa do organismo e das faculdades mentais. Quanto à subjugação obsessiva([2]) representa um constrangimento físico sempre exercido por Espíritos bastante vingativos e que pode ir até à mortificação do livre arbítrio. Ela se limita, muitas vezes, a simples impressões incomodativas, mas resulta, muitas vezes, movimento psicomotores desordenado, atitudes incoerentes, crises, palavras inadequadas ou injuriosas, as quais aquele que dela é alvo tem consciência por vezes de todo o ridículo, mas da qual não pode se defender.

“Esse estado difere essencialmente da loucura patológica, com a qual se confunde erradamente, porque não há nenhuma lesão orgânica; as causas sendo diferente, os meios curativos devem ser outros. Aplicando-lhe o procedimento ordinário das duchas e dos tratamentos corporais, chega-se, muitas vezes, a determinar uma verdadeira loucura, aí onde não havia senão uma causa moral”.([3]) Esse desarranjo psicoespiritual deverá ser eliminado do Orbe, no instante em que o lídimo exemplo do amor for experimentado e disseminado em todas as direções, consoante Jesus consubstanciou e vivenciou até a agrura da morte, e prosseguindo desde dos tempos apostólicos até os dias atuais.

O Espiritismo, desvendando a intervenção dos Espíritos endurecidos no mal em nossas vidas, lança luzes sobre questões ainda desconsideradas pelas ciências materialistas como de causa psicopatológica. E, óbvio, não descartando a possibilidade da anomalia psicossomática a Doutrina Espírita faz conhecer outras fontes das misérias humanas, mantidas pela fragilidade moral dos seres.

Reconhecemos que o uso dos fármacos antidepressivos estabelece a harmonia química cerebral, melhorando o humor do paciente, no entanto, agem simplesmente no efeito, uma vez que os medicamentos não curam a obsessão em suas intrínsecas causas; apenas restabelecem o trânsito das mensagens neuroniais, corrigindo o funcionamento neuroquímico do SNC (sistema nervoso central). Sócrates já afirmava "se os médicos são malsucedidos, tratando da maior parte das moléstias, é que tratam do corpo, sem tratarem da alma. Ora, não se achando o todo em bom estado, impossível é que uma parte dele passe bem".([4])

Se diante dos nossos fracassos momentâneos costumamos olvidar, sistematicamente a paciência e equilíbrio, a oração e a vigília, então é urgente estabelecer o momento para introspecção, nos arcabouços da mente, a fim de que venhamos fazer em nós mesmos as correções prementes. Nessas situações cotidianas, costumamos entronizar a idéia de obsessão, possessão, subjugação supondo-nos “vítimas” ([5]) de entidades perseguidoras. A questão, no entanto, não se restringe só a influenciação espiritual dos inimigos que se nos embute na freqüência psíquica, mas, sobretudo, diz respeito a nós próprios.

A obsessão de vários graus se constitui de tratamento de longo curso, por muito delicado e complexo e o resultado ditoso depende da renovação espiritual do paciente, na razão em que desperte para a seriedade da conjuntura aflitiva em que se encontra. Simultaneamente, a solidariedade fraternal, envolvendo ambos enfermos em orações e compaixão, esclarecimentos e estímulos para o futuro saudável, conseguem romper o círculo vigoroso de energias destrutivas, abrindo espaço para a ação benéfica, o intercâmbio de esperança e de libertação.

Muitas vezes procurado pelos obsedados o Cristo penetrava psiquicamente nas causas da sua inquietude, e, usando de autoridade moral, libertava tanto os obsessores quanto os obsidiados, permitindo-lhes o despertar para a vida animada rumo a recuperação e à pacificação da própria consciência. Porém, é muito importante lembrar que Jesus não libertou os obsidiados sem lhes impor a intransferível necessidade de renovação íntima, nem expulsou os perseguidores inconscientes sem fornecer-lhes o endereço de Deus.

Em qualquer processo de ordem obsessiva a parte mais importante do tratamento está reservada ao paciente. Sua fixação em permanecer no desequilíbrio constitui entraves de difícil remoção na terapia do refazimento. A terapia espírita é a do convite ao enfermo para a responsabilidade, convocando-o a uma auto-análise honesta, de modo a que ele possa eliminar em definitivo suas incursões nas voragens dos desvios morais.

Esforcemo-nos, pois, pela vigília constante e orando para que nos libertemos da vergasta das obsessões, no firme propósito de modificação de hábitos e atitudes negativos, ingressando no seio dos valores enobrecedores da vida pela efetiva mudança de comportamento.

[1] Kardec, Allan. O Livro dos Médiuns, Rio de Janeiro: Editora FEB, 2001 e Revista Espírita, fevereiro, março e junho de 1864. A jovem obsedada de Marmande.,

[2] A subjugação obsessiva, o mais ordinariamente, é individual; mas, quando uma falange de Espíritos maus se abate sobre uma população, ela pode ter um caráter epidêmico. Foi um fenômeno desse gênero que ocorreu ao tempo do Cristo; só uma poderosa superioridade moral podia domar esses seres malfazejos, designados então sob o nome de demônios, e devolver a calma às suas vítimas. [Uma epidemia semelhante castigou por vários anos uma aldeia da Haute-Savoie, conforme relata a Revista Espírita, abril e dezembro de 1862; janeiro, fevereiro, abril e maio de 1863: Os possessos de Morzines]

[3] Kardec, Alan. O Que é o Espiritismo, Cap. II, Escolho dos Médiuns, Rio de Janeiro: Editora FEB, 2003

[4] Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, Resumo da doutrina de Sócrates e de Platão, item XIX, Rio de Janeiro: Editora FEB, 2001

[5] Os chamados obsessores, na maioria das vezes, são de fato nossas vítimas reais do passado.

Artigo gentilmente cedido por Jorge Luiz Hessen
Servidor público Federal, Expositor Espírita na região de Brasília e Goiás,
Articulista das Revistas "Reformador", "O Espírita" e "Brasília Espírita "