domingo, 10 de julho de 2011

Observador, Obeservação e Observado

O HOMEM INTEGRAL
JOANNA DE ÂNGELIS - ESPÍRITO
DIVALDO PEREIRA FRANCO - MÉDIUM

Anteriormente, pareciam existir três posturas na situação de um observador: a pessoa, o objeto e o ato.
Separados, a pessoa se abstraía do todo para observar; o objeto se apresentava a distância, sob observação; a atitude afastava o observador.
Esses limites tornavam-se dificuldades para um comportamento unitário, concorde com as circunstâncias, afastando sempre o indivíduo dos acontecimentos e, de certo modo, isentando-o das responsabilidades.
As complexidades do destino, da sorte, do berço e outras preponderavam como mecanismos de justificação do êxito ou do fracasso de cada um.
O homem se apresentava, então, dissociado da vida, afastado do universo, fora das ocorrências, como um ser à parte dos fatos.
A pouco e pouco, ele se deu conta de que a unidade se encontra presente no conjunto, que por sua vez se faz unitário, assim como a onda é o mar, embora o mar não seja a onda.
Permanecem, em tal postura, os critérios da individualidade pessoal, não obstante a sua integração no todo.
O olho que observa é, ao mesmo tempo, o olho observado, responsável pela observação.
A criatura já não se isola da harmonia geral ou do coletivo, a fim de observar, sem que, por sua vez, não seja observada.
A observação faz parte da vida que, de igual modo, depende do indivíduo observador.
Na inteireza da unidade, todos os agentes que a constituem são portadores do mesmo grau de responsabilidade, a benefício do conjunto. Não há como transferir-se para outrem a tarefa que lhe diz respeito.
O excesso de esforço em um, enfraquece-o, a favor, negativo, da ociosidade de outro, que se debilita por falta de movimentação.
Tal compreensão do mecanismo existencial deflui de uma capacidade maior de amadurecimento psicológico do homem, que já não se compadece da própria fraqueza, porém busca fortalecer-se; tampouco se considera inferior em relação aos demais, por saber-se detentor de energias equivalentes.
O seu é o mesmo campo de luta, no qual todos se encontram com idênticas responsabilidades, evitando marginalizar-se. Se o faz, tem consciência que está conspirando contra o equilíbrio geral e que ficará a sós, desde que o todo se refará mesmo sem ele, criando e assumindo nova forma.
Mergulhado na harmonia geral, o homem deve contribuir conscientemente para mantê-la, observando-a e com ela se identificando, observado e em sintonia, diante do conjunto que também o envolve no ato de observar.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Ter e Ser

O HOMEM INTEGRAL
JOANNA DE ÂNGELIS - ESPÍRITO
DIVALDO PEREIRA FRANCO - MÉDIUM

A psicologia sociológica do passado recomendava a posse como forma de segurança. A felicidade era medida em razão dos haveres acumulados, e a tranqüilidade se apresentava como sendo a falta de preocupação em relação ao presente como ao futuro.
Aguardar uma velhice descansada, sem problemas financeiros, impunha-se como a grande meta a conquistar.
A escala de valores mantinha como patamar mais elevado a fortuna endinheirada, como se a vida se restringisse a negócios, à compra e venda de coisas, de favores, de posições.
Mesmo as religiões, preconizando a renúncia ao mundo e aos bens terrenos, reverenciavam os poderosos, os ricos, enquanto se adornavam de requintes, e seus templos se transformavam em verdadeiros bazares, palácios e museus frios, nos quais a solidariedade e o amor passavam desconhecidos.
A felicidade se apresentava possível, desde que se pudesse comprá-la. Todos os programas traziam como impositivo prioritário o prestígio social decorrente da posse financeira ou do poder político.
Cunhou-se o conceito irônico de que o dinheiro não dá felicidade, porém ajuda a consegui-la. Ninguém o contesta; no entanto, ele não é tudo.
O imediatismo substituiu os valores legítimos da vida, e houve uma natural subestima pelos códigos éticos e morais, as conquistas intelectuais, as virtudes, por parecerem de somenos importância.
Não se excogitava, então, averiguar se as pessoas poderosas e possuidoras de coisas eram realmente felizes, ou se apenas fingiam sê-lo.
Não se indagava a respeito das reais ambições dos seres, e o quanto dariam para despojar-se de tudo, a fim de serem outrem ou fazerem o que lhes aprazia e não o que se lhes impunham.
Embora os avanços da Psicologia profunda, na atualidade, ainda permanecem alguns bolsões de imposição para que o homem tenha, sem a preocupação com o que ele seja.
O prolongamento da idade infantil, em mecanismos escapistas da personalidade, faz que a existência permaneça como um jogo, e os bens, como as pessoas, tornem-se brinquedos nas mãos dos seus possuidores.
Os homens, entretanto, não são marionetes de fácil manipulação. Cada indivíduo tem as suas próprias aspirações e metas, não podendo ser movido, pelo prazer insano ou com bons propósitos que sejam, por outras pessoas.
Esses atavismos infantis não absorvidos pela idade adulta, impedindo o amadurecimento psicológico encarregado do discernimento, são igualmente responsáveis pela inseguran¬ça que leva o indivíduo a amontoar coisas e a cuidar do ego, em detrimento da sua identidade integral. Sem que se dê conta, desumaniza-se e passa à categoria de semideus, desvelando os caprichos infantis, irresponsáveis, que se impõem, satisfazendo as frustrações.
O amadurecimento psicológico equipa o homem de resistências contra os fatores negativos da existência, as ciladas do relacionamento social, as dificuldades do cotidiano.
A vida são todas as ocorrências, agradáveis ou não, que trabalham pelo progresso, em cuja correnteza todos navegam na busca do porto da realização.
Importante, desse modo, é manter-se o equilíbrio entre ser e exteriorizar o que se é, sem conflito comportamental, eliminando os estados de tensão resultantes da insatisfação ou do comodismo, assim, realizando-se, interior e exteriormente.
Nesta luta entre o ego artificial, arquetípico, e o eu real, eterno e evolutivo, os conteúdos ético-morais da vida têm prevalência, devendo ser incorporados à conduta que os automatiza, não mais gerando áreas psicológicas resistentes à auto-realização, e liberando-as para um estado de plenitude relativa, naturalmente, em razão da transitoriedade da existência física.
É óbvio que não fazemos a apologia da escassez ou da miséria, na busca da realização pessoal. Tampouco, propomos o desdém à posse, levando a mente a ilhas onde se homiziam o despeito e a falsa auto-suficiência.
A posse é uma necessidade para atender objetivos próprios, que não são únicos nem exclusivos. Os recursos amoedados, o poder político ou social são mecanismos de progresso, de satisfação, enquanto conduzidos pelo homem, qual locomotiva a movimentar os canos que se lhe submetem. Quando se inverte a situação, o iminente desastre está à vista.
Os recursos são para o homem utilizá-los, ao invés deste se lhes tornar servil, arrastado pelos famanazes dos interesses subalternos que, de auxiliares da pessoa de destaque, passam à condição de controladores das circunstâncias, aprisionando nas suas hábeis manobras aquele que parece conduzi-las...
Não é a posse que o envilece. Ela faculta-lhe o desabrochar dos valores inatos à personalidade, e os recalques, os conflitos em predominância assomam, prevalecendo-lhe no comportamento.
Eis aí a importância do amadurecimento psicológico do indivíduo, que lhe proporciona os meios de gerir os recursos, sem se lhes submeter aos impositivos. Quando se tem a sabedoria de administrar os valores de qualquer natureza, a benefício da vida e da coletividade, não apenas se possui, sobretudo se se é livre, nunca possuído pelas enganosas engrenagens dos metais preciosos, dos títulos de negociação, dos documentos de consagração e propriedade, todos, afinal, perecíveis, que mudam de mão, que são fáceis de perder-se, destruir-se, queimar-se...
A integridade e a segurança defluem do que se é, jamais do que se tem.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

A Reconquista da Identidade

O HOMEM INTEGRAL
JOANNA DE ÂNGELIS - ESPÍRITO
DIVALDO PEREIRA FRANCO - MÉDIUM

A imaturidade psicológica do homem leva-o a anular a própria identidade, face aos receios em relação às lutas e ao mundo nas suas características agressivas. A timidez confunde-o, fazendo que os complexos de inferioridade lhe aflorem, afastando-o do grupo social ou propelindo-o à tomada de posições que lhe permitam impor-se aos demais. A violência latente se lhe desvela, disfarçando os medos que lhe são habituais.
Ocultando a identidade, mascara-se com personalidades temporárias que considera ideais — cada uma a seu turno — e que são copiadas dos comportamentos de pessoas que lhe parecem bem, que triunfaram, que são tidas como modelares, na ação positiva ou negativa, aquelas que quebraram a rotina e que, de alguma forma, fizeram-se amadas ou temidas.
Gestos e maneirismos, trajes e ideologias são copiados, assumindo-lhes o comportamento, no qual se exibe e consome, até passar a outros modelos em voga que lhe despertem o interesse.
Na superficialidade da encenação, asfixia-se, mais se conflitando em razão da postura insustentável que se vê obriga¬do a manter.
Como efeito do desequilíbrio, passa a fingir em outras áreas, evitando a atitude leal e aberta, mas, sempre sinuosa, que lhe constitui o artificialismo com que se reveste.
Vulnerável aos acontecimentos do cotidiano, sem identidade, é pessoa de difícil relacionamento, vez que tem a preocupação de agradar, não sendo coerente com a sua realidade interior e, mutilando-se psicologicamente, abandona, sem escrúpulos, os compromissos, as situações e as amizades que, de momento, lhe pareçam desinteressantes ou perturbadoras...
A falta de identidade cria o indivíduo sem face, dissimulador, com loquacidade que obscurece as suas reais impressões, sustentando condicionamentos cínicos para a sobrevivência da representação.
Cada criatura é a soma das próprias experiências culturais, sociais, intelectuais, morais e religiosas. O seu arquétipo é caracterizado pelas suas vivências, não sendo igual ao de outrem. A sua identidade é, portanto, a individualidade real, modeladora da sua vida, usufrutuária dos seus atos e realizações.
No variado caleidoscópio das individualidades, surge o grupo social das afinidades e interesses, das aspirações e trocas, da convivência compartilhada.
Os destaques são aquelas de temperamento mais vigoroso de que o grupo necessita, na condição de líderes naturais, de expressões mais elevadas, que servem de meta para os que se encontram na retaguarda. Nenhum contra-senso ou prejuízo em tal exceção.
A generalidade é o resultado dos biótipos de nível equivalente, sem que sejam pessoas iguais, que não as existem, porém, com uma boa média de realizações semelhantes.
Em razão do processo reencarnatório, alguns indivíduos recomeçam a existência física sob injunções conflitantes, que devem enfrentar, sem fugir aos objetivos que a Vida a todos destina.
Como cada um é a sua realidade, ninguém melhor ou pior, face à sua tipologia. Existem os mais e os menos dotados, com maior ou menor soma de títulos, de valores, porém, nenhum sem os equipamentos hábeis para o crescimento, para alcançar o ideal desafiador que luz à frente.
É um dever emocional assumir a sua identidade, conhecer-se e deixar-se conhecer.
Certamente, não nos referimos à necessidade de o indivíduo viver as suas deficiências, impondo-as ao grupo social no que se encontra... Porém, não escamotear os próprios limites e anseios ainda não logrados, mantendo falsas posturas de sustentação impossível, é o compromisso existencial que leva a um equilibrado amadurecimento emocional.
Afinal, todos os indivíduos se encontram, na Terra, em processo de evolução. Conseguida uma etapa, outra se lhe apresenta como o próximo passo. A satisfação, a parada no patamar conquistado leva ao tédio, ao cansaço da vida.
Aventurar-se, no bom e profundo sentido da palavra, é a estimulação de valores, revelação dos conteúdos íntimos, proposta de experiência nova. A ansiedade e a incerteza decorrentes do tentame fazem parte dos projetos da futura estabilidade psicológica, do armazenamento dos dados que cooperam para uma vida estável, realizadora e feliz.
Os insucessos e preocupações durante a empresa tornam-se inevitáveis e são eles que dão a verdadeira dimensão do que significa lutar, competir, estar vivo, ter uma identidade a sustentar.
Deste modo, o indivíduo tem o dever de enfrentar-se, de descobrir qual é a sua identidade e, acima de tudo, aceitar-se.
A aceitação faz parte do amadurecimento íntimo, no qual os inestimáveis bens da vida assomam à consciência, que passa a utilizá-los com sabedoria, engrandecendo-se na razão direta que os multiplica.
A sociedade é constituída por pessoas de gostos e ideais diferentes, de estruturas psicológicas diversas, que se harmonizam em favor do todo. Das aparentes divergências surge o equilíbrio possível para uma vida saudável em grupo, no qual uns aos outros se ajudam, favorecendo o progresso comunitário.
O descobrir-se que a própria identidade é única, especial, em decorrência de muitos fatores, favorece a manutenção do bem-estar íntimo, impedindo fugas atormentantes e inúteis.
Quem foge da sua realidade, neurotiza-se, padecendo estados oníricos de pesadelos, que passam à área da consciência, em forma de ameaças de desditas por acontecer, com o mundo mental povoado de fantasmas que não consegue diluir.
Aceitando-se como se é, possui-se estímulos para auto-aprimorar-se, superando os limites e desajustes por educação, disciplina e lutas empreendidas em favor de conquistas mais expressivas.
Somente através da aceitação da sua identidade, sem disfarces, o homem, por fim, adquire o amadurecimento psicológico que o capacita para uma existência ideal, libertadora.
A própria identidade é a vida manifestada em cada ser.

O Problema do Espaço

O HOMEM INTEGRAL
JOANNA DE ÂNGELIS - ESPÍRITO
DIVALDO PEREIRA FRANCO - MÉDIUM

O espaço é de vital importância para a movimentação dos seres, especialmente do homem.
Experiências de laboratório demonstram que, em uma área circunscrita, na qual convivem bem alguns exemplares de ratos, à medida que aumenta o seu número, neles se manifesta a agressividade, até o momento em que, tornando-se mínimo o espaço para a movimentação, os roedores lutam, dominados por violenta ferocidade que os leva a dizimar-se.
Graças a isto, nas cidades e lugares outros superpopulosos, o respeito pela criatura e à propriedade desaparece, aumentando, progressivamente, a violência e o crime, que se dão as mãos, em explosões de sandices inimagináveis.
A diminuição do espaço retira a liberdade, restringindo-a, na razão do volume daqueles que o ocupam, o que dá margem à promiscuidade no relacionamento das pessoas, com o conseqüente desrespeito entre elas mesmas.
Inconscientemente, a preservação do espaço se torna um direito de propriedade, que adquire valores crescentes em relação à sua escassez e localização.
O homem, como qualquer outro animal, luta com todas as forças e por todos os meios para a manutenção da sua posse, a dominação do espaço adquirido e, às vezes, pelo que gostaria de possuir, tombando nas ambições desmedidas, na ganância.
No relacionamento social, cada indivíduo é cioso dos seus direitos, do seu espaço físico e mental, da sua integridade, da sua intimidade, zelando pela independência de ação e conduta nestas áreas comportamentais.
Quando os sentimentos afetivos irrompem e ele deseja repartir a sua liberdade com a pessoa amada, naturalmente espera compartir dos valores que ela possui, numa substituição automática daquilo que irá ceder. Trata-se de uma concessão-recepção, gerando uma ação cooperativista.
A princípio, o encantamento ou a paixão substitui a razão, quebrando um hábito arraigado, sem chance de preenchê-lo por um novo, que exige um período de consciente adaptação para uma convivência agradável, emocionalmente retributiva. Apesar disso, ficam determinados bolsões que não podem ou não devem ser violados, constituindo os remanescentes da liberdade de cada um, o reino inconquistado pelo alienígena.
Nos relacionamentos das pessoas imaturas, os espaços são, de imediato, tomados e preenchidos, tornando a convivência asfixiante, insuportável, logo passam as explosões do desejo ou os artifícios da novidade.
Surgem, nesse período, as discussões por motivos fúteis, que escamoteiam as causas reais, nascendo as mágoas e rancores que separam os indivíduos e, às vezes, os arruínam.
Nas afeições das pessoas amadurecidas psicologicamente, não há predominância de uma vontade sobre a do outro, porém, um bom entrosamento que sugere a eleição da sugestão melhor, sem que ocorra a governança de uma por outra vida, que a submetendo aos seus caprichos comprime-a, estimulando as reações de malquerença silenciosa que explodirá, intempestivamente, em luta calamitosa.
Por isto mesmo, o afeto conquista sem se impor, deixando livres os espaços emocionais, que substituem os físicos cedidos, ampliando-se os limites da confiança, que permite o trânsito tranqüilo na sua e na área do ser amado, que lhe não obstaculiza o acesso, o que é, evidentemente, de natureza recíproca.
O homem ou a mulher de personalidade infantil deseja o espaço do outro, sem querer ceder aquele que acredita seu. Quando consegue, limita a movimentação do afeto, a quem deseja subjugar por hábeis maneiras diversas, escondendo a insegurança que é responsável pela ambição atormentada. Se não logra, parte para o jogo dos caprichos, que termina em incompatibilidade de temperamentos, disfarçando as suas reações neuróticas.
A vida feliz é um dar, um incessante receber.
Toda doação gratifica, e nela, embutida, está a satisfação da oferta, que é uma forma de gratulação. Aquele que se recusa a distribuição padece a hipertrofia da emoção retribuída e experimenta carência, mesmo estando na posse do excesso.
Somente doa, cede, quem tem e é livre, interiormente amadurecido, realizado. Assim, mesmo quando não recebe de volta e parece haver perdido o investimento, prossegue pleno, porqüanto, somente se perde o que não se tem, que é a posse da usura e não o valor que pode ser multiplicado.
A pessoa se deve acostumar com o seu espaço, liberando¬se da propriedade total sobre ele e adaptando-se, mentalmente, à idéia de repartilo com outrem, mantendo porém, integral, a sua liberdade íntima, cujos horizontes são ilimitados.
Ademais, deve considerar que os espaços físicos são transitórios, em razão da precariedade da própria vida material, que se interrompe com a morte, transferindo o ser para outra dimensão, na qual os limites tempo e espaço passam a ter outras significações.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Mecanismo de Evasão

O HOMEM INTEGRAL
JOANNA DE ÂNGELIS - ESPÍRITO
DIVALDO PEREIRA FRANCO - MÉDIUM

A larga infância psicológica das criaturas é dos mais graves problemas, na área do comportamento humano.
Habituada, a criança, a ter as suas necessidades e anseios resolvidos, imaturamente, pelos adultos — pais, educadores, familiares, amigos — ou atendidos pela violência do clã e da sociedade, nega-se a crescer, evitando as responsabilidades que enfrentará.
No primeiro caso, porque tudo lhe chega às mãos de forma fácil, dilata o período infantil, acreditando que a vida não passa de um joguete e o seu estágio egocêntrico deve permanecer, embora a mudança de identidade biológica, de que mal se dá conta.
Mimada, acomoda-se a exigir e ter, recusando-se o esforço bem dirigido para a construção de uma personalidade equilibrada, capaz de enfrentar os desafios da vida, que lhe chegam, a pouco e pouco.
Acreditando-se credora de todos os direitos, cria mecanismos inconscientes de evasão dos deveres, reagindo a eles pelas mais variadas como ridículas formas de atitude, nas quais demonstra a prevalência do período infantil.
No segundo caso, sentindo-se defraudada pelo que lhe foi oferecido com má vontade e azedume ou sistematicamente negado, a criança se transfere de uma para outra faixa etária, sem abandonar as seqüelas da sua castração, buscando realizar os desejos sufocados, mas, vivos, quando lhe surja a oportunidade.
Em ambos acontecimentos, o desenvolvimento emocional não corresponde ao físico e ao intelectual, que não são afetados pelos fenômenos psicológicos da imaturidade.
Excepcionalmente, pode suceder que o alargamento do período infantil, por privação dos sentimentos e pelas angústias, produza distúrbios na saúde física como na mental, gerando dilacerações profundas, difíceis de sanadas.
Na generalidade, porém, o que sucede são as apresentações de adulto susceptível, medroso, instável, ciumento, que não superou a crise da infância, nela permanecendo sob conflitos lastimáveis.
As figuras domésticas representadas pelo pai e pela mãe permanecem em atividade emocional, no inconsciente, resolvendo os problemas ou atemorizando o indivíduo, que se refugia em mecanismos desculpistas para não lutar, mantendo-se distante de tudo quanto possa gerar decisão, envolvimento responsável, enfrentamento.
Fugindo das situações que exigem definição, parte para as formulações e comportamentos parasitas, buscando nas pessoas que considera fortes e são elegidas como seus heróis ou seus superiores, porqüanto, tudo que elas empreendem se apresenta coroado de êxito.
Não se dá conta da luta que travam, das renúncias e sacrifícios que se impõem. Esta parte, não lhe interessa, ficando propositadamente ignorada.
Como efeito cresce-lhe a área dos conflitos da personalidade, com predominância da autocompaixão, num esforço egoísta de receber carinho e assistência, sem a consciência da necessidade de retribuição.
Não lhe amadurecendo os sentimentos da solidariedade e do dever, crê-se merecedor de tudo, em detrimento do esforço de ser útil ao próximo e à comunidade, esquecendo-se das falsas necessidades para tornar-se elemento de produção em favor do bem geral.
Instável emocionalmente, ama como fuga, buscando apoio, e transfere para a pessoa querida as responsabilidades e preocupações que lhe são pertinentes, tornando o vínculo afetivo insuportável para o eleito.
Outras vezes, a imaturidade psicológica reage pela forma de violência, de agressividade, decorrentes dos caprichos infantis que a vida, no relacionamento social, não pode atender.
Uma peculiar insensibilidade emocional domina o indivíduo, que se desloca, por evasão psicológica, do ambiente e das pessoas com quem convive, poupando-se a aflições e somente considerando os próprios problemas, que o como¬vem, ante a frieza que exterioriza quando em relação aos sofrimentos do próximo.
O homem nasceu para a auto-realização, e faz parte do grupo social no qual se encontra, a fim de promovê-lo crescendo com ele. Os problemas devem constituir-lhe meio de desenvolvimento, em razão de serem-lhe estímulos-desafios, sem os quais o tédio se lhe instalaria nos painéis da atividade, desmotivando-o para a luta.
Desse modo, são parte integrante da estruturação mental e emocional, responsáveis pelos esforços do próximo e do grupo em conjunto, para a sobrevivência de todos.
O solitário é prejuízo e dano na economia social, perturbando a coletividade.
Fatores que precedem ao berço, presentes na historiografia do homem, decorrentes das suas existências anteriores, situam-no, no curso dos renascimentos, em lares e junto aos pais de quem necessita, a fim de superar as dívidas, desenvolver os recursos que lhe são inerentes e lhe estão adormecidos, dando campo à fraternidade que deve viger em todos os seus atos.
Assim, cumpre-lhe libertar-se da infância psicológica, mediante as terapias competentes, que o desalgemam dos condicionamentos perniciosos, ao mesmo tempo trabalhando-lhe a vontade, para assumir as responsabilidades que fazem parte de cada período do desenvolvimento físico e intelectual da vida.
Partindo de decisões mais simples, o exercício de ações responsáveis, nas quais o insucesso faz parte dos empreendimentos, o homem deve evitar os mecanismos de evasão, assim como as justificativas sem sentido, tais: não tenho culpa, não estou acostumado, nada comigo dá certo, aí ocultando a sua realidade de aprendiz, para evitar as outras tentativas que certamente se farão coroar de êxitos.
A experiência do triunfo é lograda através de sucessivos feitos. O acerto, nos primeiros tentames, não significa a segurança de continuados resultados positivos.
Em todas as áreas do comportamento estão presentes a glória e o fracasso, como expressões do mesmo empreendimento.
A fixação de qualquer aprendizagem dá-se mediante as tentativas frustradas ou não. Assim, vencer o desafio é esforço que resulta da perseverança, da repetição, sem enfado nem cansaço.
Toda fuga psicológica contribui para a manutenção do medo da realidade, não levando a lugar algum. Mediante sua usança, aumentam os receios de luta, complicam-se os mecanismos de subestima pessoal e desconsideração pelos próprios valores.
O homem, no entanto, possui recursos inesgotáveis que estão ao alcance do esforço pessoal.
Aquele que se demora somente na contemplação do que deve fazer, porém, não se anima a realizá-lo, perde excelente oportunidade de desvendar-se, desenvolvendo as capacidades adormecidas que o podem brindar com segurança e realização interior.
Todo o esforço a ser envidado, em favor da libertação dos mecanismos de fuga, contribui para apressar o equilíbrio emocional, o amadurecimento psicológico, de modo a assumir a sua humanidade, que é a característica definidora do indivíduo: sua memória, seus valores, seus atos, seu pensamento.
A fuga, portanto, consciente ou não, no comportamento psicológico, deve ser abolida, por incondizente com a lei do progresso, sob a qual todas as pessoas se encontram submetidas pela fatalidade da evolução.

O Homem Moderno

O HOMEM INTEGRAL
JOANNA DE ÂNGELIS - ESPÍRITO
DIVALDO PEREIRA FRANCO - MÉDIUM

Buscando enganar a sua realidade mediante a própria fantasia, o homem moderno procura a projeção da imagem sem o apoio da consciência. Evita a reflexão esclarecedora, que pode desalgemar dos problemas, e permanece em contínuas tentativas de negar-se, mascarando a sua individualidade. O ego exerce predominância no seu comportamento e estereotipa fantasias que projeta no espelho da imaginação.
Irrealizado, porque fugindo do enfrentamento com o seu eu, transfere-se de aspirações e cuidados a cada novidade que depara pelo caminho. Não dispõe de decisão para desmascarar o ego, por temer petrificar-se de horror, qual se aquele fosse uma nova Medusa, que Perseu, e apenas ele, venceu, somente porque a fez contemplar-se no escudo espelhado que lhe dera Atena...
Obviamente, esse espelho representa a consciência lúcida, que descobre e separa objetivamente o que é real daquilo que apenas parece. Nesse sentido, o ego que vive e reincide nos conteúdos inconscientes, necessita de conscientizar-se, desidentificando-se dos seus resíduos emergentes.
O homem vive na área das percepções concretas e, ao mesmo tempo, das abstratas.
A cultura da arte faz que ele se porte, ora como observador, ora como observado e ainda o observador que se observa, a fim de poder transformar os complexos ou conflitos inconscientes em conhecimentos que possa conduzir, senhor da sua realidade, dos seus atos.
Sua meta é poder sair da agitação, na qual se desgoverna, para observar-se, a distância, evitando o sofrimento macerador.
A este ato chamaremos a separação necessária entre o sujeito e o objeto, através da qual se observam os acontecimentos sem os sofrer de forma dilacerante, modificando o estado de ânimo angustiante para uma simples expressão do conhecimento, mediante a transferência da realidade que jaz no espírito para o exterior das formas e da emoção.
A reflexão constitui um admirável instrumento para o logro, apoiando-se na cultura e na realização artística, social, solidária, que desvela os mananciais de sentimento e de consciência humanas.
Jogado em um mundo exterior agressivo, no qual predominam a luta pela sobrevivência do corpo e a manutenção do status, o homem acumula conteúdos psíquicos não descartáveis nem digeríveis, avançando, apressado, para o stress, as neuroses, as alienações.
Acumula coisas e valores que não pode usar e teme perder, ampliando o campo do querer, mais pelo receio de possuir de forma insuficiente, sem dar-se conta da necessidade de viver bem consigo mesmo, com a família e os amigos, participando das maravilhosas concessões da vida que lhe estão ao alcance.
A mensagem de Jesus é uma oportuna advertência para essa busca insana, quando Ele recomenda que “não se ande, pois, ansioso pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã a si mesmo trará seu cuidado; ao dia bastam os seus próprios males.”(*)

(*) Mateus: capítulo 6, versículo 34 - Nota da Autora espiritual.

Comedir-se, agir com sensatez e tranqüilidade, confiar nos próprios valores e nas possibilidades latentes são regras que vão ficando esquecidas, a prejuízo da harmonia pessoal dos indivíduos.
Os interesses competitivos postos em jogo, a aflição por vencer os outros, o sobrepor-se às demais pessoas desarticularam as propostas da vitória do homem sobre si mesmo, da sua realização interior, da sua harmonia diante dos problemas que enfrenta. As linhas do comportamento alteradas, induzindo ao exterior, devem agora ser revisadas, sugerindo a conduta para o conhecimento dos valores reais, a redescoberta do sentido ético da existência, a busca da sua imortalidade.
Quando o homem moderno passar a considerar a própria imortalidade em face da experiência fugaz do soma, empreenderá a viagem plenificadora de trabalhar pelos projetos duradouros em detrimento das ilusões temporárias, observando o futuro e vivendo-o desde já, empenhado no programa da sua conscientização espiritual. Nele se insculpirá , então, o modelo da realização em um ser integral, destituído do medo da vida e da morte, da sombra e da luz, do transitório e do permanente, da aparência e da realidade.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

A Tragédia do Cotidiano

O HOMEM INTEGRAL
JOANNA DE ANGELIS - ESPÍRITO
DIVALDO PEREIRA FRANCO - MÉDIUM

Os conteúdos psicológicos do homem hodierno são de aturdimento, instabilidade emocional, insegurança pessoal, levando-o à perda do senso trágico.
Desestruturados pelos choques comportamentais e esmagados pelo volume das informações impossíveis de serem digeridas, as massas eliminam arquétipos ou os transferem para indivíduos imaturos portadores de fragilidade psicológica, aterrando-os, soterrando-os, na avalanche das necessidades mescladas com os conflitos existenciais.
Simultaneamente, desaparecem os mitos ancestrais individuais e a cultura devoradora investe contra os outros, os coletivos, deixando as criaturas desprotegidas das suas crenças, dos seus apoios psicológicos.
A fé cega substituída pela ditadura da razão, destruiu ou substituiu os mitos nos quais se sustentavam os homens, apresentando outros, igualmente frágeis, que novamente sofrem a agressão dos valores contemporâneos.
A consciência coletiva, herdeira do choque dos opostos, do ser e do não ser, da coragem e do medo, do homem e da mulher, não sobrevive sem a segurança mítica.
Os seus arquétipos, multimilenarmente estruturados na convicção mitológica, alternam a forma de sobrevivência, transferindo-se os mitos deificados, porém sobreviventes, na sua profundidade psicológica, a todos os golpes mortais que lhe foram desferidos através dos tempos.
Ressuscitam, não obstante, disfarçados em novos modelos, porém, ainda dominadores, prometendo glórias e castigos, prazeres e frustrações aos seus apaniguados, conforme o culto que deles recebam.
Assim, ao lado da violência que se espraia dominadora, vicejam religiões apressadas, salvadoras, na sua ingenuidade mítica, arrastando multidões desprevenidas e sem esclarecimento que, fracassadas, no contubérnio social, ali se refugiam, cultuando o paraíso eterno que lhes está reservado como prêmio ao sofrimento e ao desprezo de que se sentem objeto pela cultura consumista e desalmada.
A auto-realização pelo fanatismo mantém os bolsões da miséria sócioeconômica, por não trabalhar o idealismo latente no homem, a fim de que transforme os processos geradores da desgraça atual em realização pessoal e felicidade, na Terra, mesmo.
De certa maneira, o arrebanhar das multidões para as crenças salvadoras diminui, de alguma forma, o volume da violência, que irrompe, paralelamente, porqüanto, sem o mito da salvação pela fé, toda essa potencialidade seria canalizada na direção da agressividade destruidora.
A agressividade salvacionista a que dá lugar, embora os prejuízos éticos e sociais que engendra, acalma os conteúdos psicológicos desviando os sujeitos dos crimes que poderiam cometer.
O mito da violência, por sua vez, nascido nos porões do submundo da miséria sócioeconômico-moral e graças à eclosão das drogas em uso abusivo, engendra o símbolo da força, do poder, do estrelismo, no campeonato da aventura e da bravata, exibindo as heranças atávicas da animalidade primitiva ainda predominante no homem.
Toma-se pela força o que deveria ser dado pela fraternidade, através do equilíbrio da justiça social e dos deveres humanos, em solidário empenho pela promoção dos indivíduos, dignos de todos os direitos à vida que apenas alguns desfrutam.
A tragédia do cotidiano se apresenta nas mil faces da violência que se mescla ao comportamento geral, muitas vezes disfarçando-se até em formas de submissão rebelde e humildade-humilhante, que descarregam suas frustrações adquiridas ao lado dos mais fortes, no dorso desprotegido dos mais fracos.
Os conteúdos psicológicos, mantenedores do equilíbrio, fragmentam-se ao choque do cotidiano agitado e desestruturam o homem que se asselvaja, ou foge para a furna sombria da alienação, considerando-se incapaz de enfrentar a convivência difícil do grupo social, igualmente superficial, interesseiro, despreparado para a conjuntura vigente.
Graças a isso, os indivíduos fracassam ou enfermam, atritam ou debandam enquanto os crédulos ressuscitam os mitos das velhas crendices de males feitos, de perseguições da inveja, do ciúme e do despeito, ou arregimentam argumentos destituídos de lógica para explicarem as ocorrências malsucedidas, danosas...
Certamente, sucedem tais perseguições; busca-se o mal¬fazer; campeiam as paixões inferiores que são pertinentes ao homem, ainda em estágio infantil da sua evolução, sem que seja mau.
A sua aparente maldade resulta dos instintos agressivos ainda não superados, que lhe predominam em a natureza animal, em detrimento da sua natureza espiritual.
Em toda e qualquer tragédia do cotidiano, ressaltam os componentes psicológicos encarregados da desestruturação do homem, nesse processo de individuação para adquirir uma consciência equilibrada, capaz de proporcionar-lhe paz, saúde, realização interior, gerando, no grupo social, o equilíbrio entre os contrários e a satisfação real da convivência não competitiva, no entanto cooperativa.