quarta-feira, 9 de junho de 2010

Pensamento e Atitude


Carlos Augusto P. Parchen


Para que possamos refletir sobre nossas responsabilidades individuais e sobre os caminhos que deveremos trilhar, apresentamos a seguir uma reflexão sobre pensamento e atitude mental.

A mecânica quântica, a física quântica, ramo da ciência moderna que tem evoluído enormemente, em suas teorias e postulados, tem desenvolvido análises e pesquisas que levam os cientistas à suposição de, que a realidade imediata da matéria só existe porque pensamos.

Nessa linha de raciocínio, a matéria tem, fisicamente, apenas tendência a existir. A ação do pensamento efetivamente a materializa e lhe dá existência real.

Isso quer significar que tudo o que existe na realidade palpável, é fruto do que pensamos, do que acreditamos. Notem que isso não é esoterismo, misticismo. É Ciência! A energia do pensamento, da atitude mental, plasma, molda a matéria, cria a realidade em que vivemos, com suas nuances, suas cores, suas formas, seus relacionamentos.

Como existimos coletivamente, nossa realidade global é fruto do pensamento coletivo. Como somos ainda, enquanto coletividade, egoístas, desequilibrados e sem solidariedade, isso se reflete na situação social, econômica e cultural conturbada, injusta, desumana e insustentável que existe hoje.

Também ainda, enquanto como coletividade, não temos respeito pela natureza; alteramos os seus delicados equilíbrios, criamos os grandes desastres naturais, liberamos novos agentes patogênicos, até então confinados em pequenos nichos naturais, mantidos antes sob controle pelo equilíbrio biológico, que nossas atitudes e ações rompem.

Como fazemos parte da coletividade humana, nossa parcela individual de pensamento, de atitudes mentais, pode contribuir para piorar, manter ou melhorar essa situação.

Só esse fato já serviria para nos alertar quanto a nossa responsabilidade social individual, no que se refere ao que pensamos, ao que acreditamos verdadeiramente, ao que adotamos como atitude mental, aquela que norteia verdadeiramente nossa ação e nossa intervenção na sociedade e na natureza.

Mas é preciso também inferir, notar que, se a realidade social é fruto do pensamento coletivo, a realidade individual, o nosso caminho, a nossa trilha, é conseqüência imediata de nossa individualidade, manifesta pela nossa atitude mental.

Isso que dizer que o caminho que trilhamos, o que encontraremos ao longo desse caminho, como ele se apresentará para nós, é fruto daquilo que acreditarmos verdadeiramente, daquilo que manifestarmos em nossas atitudes mentais e, portanto, em nossas ações.

Claro que sofreremos a influência do pensamento coletivo, mas nosso caminho continuará sendo aquele que estabelecermos pelos nossos pensamentos e atitudes.

Sem sombra de dúvida, nosso sucesso é função direta daquilo que programamos mentalmente para nós, que mentalizamos, que estabelecemos como meta, que ousarmos sonhar, pensar e agir.

Como responsabilidade e contribuição individual, devemos tentar mudar e melhorar o mundo, a sociedade.

No entanto, para que o bem impere, é necessário que se pense o bem, que se aja no bem.

A ética deve ser o guia seguro da nossa atitude mental e da materialização de nossas ações. Devemos ser pessoas “do bem”, pois as vibrações do bem e do amor costumam aplainar os caminhos e iluminar as sendas mais escuras que talvez tenhamos que atravessar. Assim, efetivamente, estaremos fazendo a nossa parte para melhorar o mundo.

Aliás, já disse o poeta(1): “...quem sabe faz a hora, não espera acontecer...”.

Para deixar uma outra imagem poética dessas constatações científicas (e filosóficas), ouso, mais uma vez, tomar uma parte de um verdadeiro poema, utilizado como letra de uma música, escrito por Renato Teixeira(2):

“...penso que cumprir a vida / seja simplesmente / compreender a marcha / ir tocando em frente./ Como um velho boiadeiro / levando a boiada / eu vou tocando os dias / pela longa estrada eu vou / estrada eu sou...”

Sejamos os boiadeiros de nossas boiadas, que são as preocupações, as dificuldades, as lutas, os fracassos, as frustrações, as vitórias, as conquistas, as realizações, a família, o emprego, o salário, etc.

Vamos tocar os dias pela longa estrada da construção de nossa existência, mas não nos esqueçamos jamais que “...estrada eu sou...”, que o caminho, como ele será, somente a nós pertence.

No mesmo poema a que me referi, o autor coloca, em outro trecho, talvez uma das mais belas frases poéticas já escritas, que contém uma grande verdade da vida:

“...cada um de nós / compõe a própria história / cada ser em si carrega / o dom de ser capaz / de ser feliz....”

Devemos desejar a felicidade, persistir no pensamento da felicidade, mentalizar o melhor dos caminhos, ser pessoas “do bem”. Devemos compor a melhor das histórias. Todos temos o dom Divino de sermos capazes de “...ser feliz...”.

Jesus



Frederico Menezes e Antonio Carlos


A Mensagem do Cristo

Em dezembro de 1945, alguns felás (beduínos egípcios) deslocavam-se com seus camelos por perto de um rochedo chamado Jabal al-Tarif, que margeia o rio Nilo, no Alto Egito, não muito longe da moderna cidade de Nag Hammadi. Eles estavam procurando um tipo de fertilizante natural na área, chamado sabaque.

No sopé do Jabal al-Tarif começaram a cavar em torno de uma pedra que caíra no talude, e, sem esperarem, encontraram um jarro de armazenagem com um recipiente selado na parte superior. Um dos felás, chamado Muhammad Ali Samman, quebrou o jarro com uma picareta na esperança de encontrar algo valioso, talvez um pequeno tesouro. Deve ter ficado um tanto quanto decepcionado ao ver que ao invés de ouro ou algum tipo de objeto de igual valor, no jarro só havia fragmentos de papiros.

Muhammad Ali Samman, sem querer ou se dar conta, havia descoberto treze livros de papiro (códices), a que hoje chamamos de a biblioteca copta de Nag Hammadi, dois anos antes de outra descoberta famosa, a dos Manuscritos do Mar Morto, conjunto de documentos encontrados na Palestina e que haviam pertencido a uma comunidade judaica que professavam uma forma ascética diferente de judaísmo, conhecido como essênios. Porém, apesar destes últimos manuscritos terem tido maior divulgação, serem mais famosos e terem sido alvos de debates, os primeiros possuem, todavia, caráter muito mais revolucionário, em especial por estarem ligados diretamente ao cristianismo.

Além de outras obras valiosas, entre estes papiros estava algo muito interessante: o chamado Evangelho de Tomé, que é uma coletânea de sentenças de Jesus que teriam sido compiladas, segundo a primeira frase deste Evangelho, por Judas Tomé, O Gêmeo.

Antes desta descoberta excepcional, os estudiosos dos evangelhos já tinham algumas referências dos pais da Igreja referentes a um documento denominado Evangelho de Tomé (ou de Tomás). Porém, o conteúdo deste documento punha em xeque alguns posicionamentos dogmáticos da Igreja. Cirilo de Jerusalém, em suas Catequeses 6.31 afirmava que o Tomé que escreveu este Evangelho não era um seguidor de Jesus, mas um maniqueu - um maniqueísta, portanto, seguidor gnóstico e místico de Mani, mestre herético do século III. Só que, atualmente, é quase consenso de que o texto de Nag Hammadi foi bem escrito antes do movimento maniqueísta ter vindo à lume e, ainda mais, tudo indica que a cópia copta deste evangelho se baseia em um texto ainda mais antigo, provavelmente escrito em grego e/ou aramaico, a língua falada por Cristo. Além dos testemunhos dos chamados padres da Igreja, temos fragmentos de três papiros gregos - encontrados num monte de lixo em Oxirronco, atual Behnesa, no Egito -, publicados em 1897, e que contêm sentenças de Jesus quase idênticas aos encontrados no Evangelho de Tomé de Nag Hammadi, escrito em língua copta. Estes fragmentos de papiros eram, portanto, representantes ou cópias de edições em grego do Evangelho de Tomé.

Ao contrário dos outros evangelhos conhecidos, quer sejam canônicos ou apócrifos, o Evangelho de Tomé não expõe em nada narrativas sobre a vida de Jesus de Nazaré, mas atém-se especificamente às sentenças que teriam sido proferidas por Jesus a seus discípulos. Entre elas, destaco as que se seguem:

Jesus disse: "Se seus líderes vos dizem: 'Vejam, o Reino está no céu', então saibam que os pássaros do céu os precederão, pois já vivem no céu. Se lhes disserem: 'Está no mar, então o peixe os precederá pelo mesmo motivo. Antes, descubram que o Reino está dentro de vocês, e também fora de vocês. Apenas quando vocês se conhecerem, poderão ser conhecidos, e então compreenderão que todos vocês são filhos do Pai vivo. Mas se vocês não se conhecerem a si mesmos, então vocês vivem na pobreza e são a pobreza".


Evangelho de Tomé, logion 3.

Perguntaram-lhe os discípulos: "Quando virá o Reino?" Jesus respondeu: "Não é pelo fato de alguém estar à sua espera que o verá chegar. Nem será possível dizer: Está ali, ou está aqui. O Reino do Pai está espalhado por toda a terra e os homens não o vêem".


Evangelho de Tomé, logion 113

Jesus disse: "Eu sou como a luz que está sobre todos. Eu sou o Todo: o Todo saiu de mim e o Todo retornou a mim. Rachem um pedaço de madeira: lá estou eu; levantem a pedra e me encontrarão ali".


Evangelho de Tomé, logion 77.

Passagens semelhantes a estas, ao menos no conteúdo que expressam, podem ser encontradas nos Evangelhos Canônicos, ou seja, nos Evangelhos reconhecidos pela Igreja, apesar do grande número de manipulações, enxertos e cortes pelos quais estes textos reconhecidamente passaram para se adaptar aos interesses que a Igreja, como instituição, passou a compor desde que Constantino a reconheceu como Instituição Oficial. Podemos encontrar exemplos, como em Lucas 19,20, e que expressam a idéia de Reino de Deus não como um evento ou local espacial ou temporalmente determinado, mas uma conquista do espírito ou mesmo uma tomada de consciência de que, sem que se perceba, o Reino já existe dentro do homem, não sendo extrinsecamente necessário a presença de intermediários institucionais, ou doutores teológicos, que se arvorem na presunção de fazer a ligação entre Deus e o homem, ou a dizer onde está a entrada para um exo-Paraíso que as Igrejas fizeram cada vez mais longe do homem:

Havendo-lhe perguntado os fariseus quando chegaria o Reino de Deus, lhes respondeu Jesus: "- O Reino de Deus vem sem se deixar sentir. E não dirão: '- Vede-o aqui ou ali, porque o Reino de Deus já está dentro de vós' "

É notável a semelhança entre o conteúdo destas sentença de Jesus com a máxima adotada por Sócrates, e que foi emprestada do pórtico do Templo de Apolo, em Delfos: "Homem, conhece-te a ti mesmo e conhecerás o universo". De igual forma, outro grande mestre do espírito humano, Buda, dizia que só o conhecimento de si levava à iluminação, do mesmo modo que Láo-Tsé dizia que apenas o conhecimento da ordem dentro de si levava à compreensão do Tao, do aspecto transcendente que a tudo engloba e vivifica. Da mesma forma, os órficos falavam do processo evolutivo como uma tomada de consciência de que somos deuses por sermos filhos de Deus. Apenas não temos nem a percepção, nem a consciência disto.

Segundo Stephen Mitchell, cujo livro "O Evangelho Segundo Jesus" recomendo, quando Jesus falava do Reino de Deus, ele de fato não estava dizendo ou profetizando um evento que acontecerá de repente e nem uma perfeição fácil e livre de perigos, como interpretaram ao seu bel-prazer alguns doutores da teologia, ou como ainda o fazem alguns líderes de religiões institucionalizadas, retirando a ênfase no presente e pondo-a num futuro sempre mais ou menos distante. Ele estava falando de um estado de espírito que, ao se fazer presente, muda o modo como o homem se comporta com seu semelhante, como fica bem demonstrado em muitas de suas parábolas, como, por exemplo, a da mulher que perde uma moeda e revira a casa inteira em sua busca e, quando a acha, sai a correr chamando os vizinhos e dizendo: alegrem-se comigo, pois achei a moeda que havia perdido. Ela encontrou algo aparentemente muito simples, algo que sempre esteve bem perto dela...

Este estado de espírito pode ser tão simples e poético quanto a revoada de pássaros no céu ou os lírios no campo. Ele não está fora, mas fora e dentro de nós. Tudo está ligado a tudo. O homem é um ser que depende da natureza e de outros homens para sobreviver. Tudo é um e temos de passar por várias etapas para adquirir a consciência disto:"Na casa de meu Pai há muitas moradas". Enfim, o Reino é o reconhecimento no coração de que todos somos filhos de um mesmo Pai, portanto, irmãos e irmãs, cada um refletindo o próprio Deus, portanto, a maior alegria é conviver com Deus que se reflete na presença do irmão. Jesus demonstrava isso na prática de várias formas, em especial durante as refeições, já que ele fazia questão de unir na mesma mesa tanto os sábios e Doutores da Lei, quanto gente simples, publicanos, pecadores e pessoas socialmente consideradas impuras.

Todos nascemos, porém com grau variável de pessoa para pessoa, com um pouco da percepção feliz deste Reino e a mantemos enquanto a cultura - o meio - não ajuda o retirar de nós a natural tendência à afetividade, corrompendo-nos. "Se vos fizerdes como uma criança, entrarás no Reino dos Céus". Os que se envolvem em demasia com as preocupações materiais têm certa dificuldade em entrar neste estado de espírito, pois são possuídos por suas posses que exigem um esforço considerável para serem mantidas e estão tão encarcerados em seus poderes e em sua fantasia social, que, para eles, é quase impossível desapegarem-se delas e terem a liberdade de SEREM longe do peso de demonstrar APARENTAR O TER.

"Não que seja fácil para qualquer um de nós." Escreve Stephen Mitchell. "Mas, se precisarmos avivar a memória, sempre poderemos nos sentar ao pé de nossas criancinhas. Elas, como ainda não desenvolveram uma noção muito firme do passado e do futuro, sabem aceitar de peito aberto e com plena confiança a infinita abundância do presente". Para elas, o tempo corre de forma diferente que para o adulto.

Nossa realidade é moldada pelas nossas crenças. Normalmente vemos aquilo que esperamos ver e outras coisas escapam simplesmente ao nosso olhar por não levarmos outras possibilidades em consideração. Se tememos ao relógio, se nos apegamos ao passado e se nos apavoramos com o futuro, nunca poderemos viver o presente. De certa forma, entrar no Reino de Deus significa sentir que existe algo que cuida de nós a cada instante, da mesma forma como alimenta as aves do céu e veste os lírios do campo, com infinito amor. Algo que Jesus chamava de Abba - Papai. Um pai bem diferente do patriarcal e vingativo Deus dos Exércitos do Antigo Testamento, ainda muito presente em algumas das igrejas cristãs atuais. Talvez Abba seja uma maneira carinhosa de Jesus de se referir a um Deus Pai-Mãe... "Qual de vós, se vosso filho vos pedir pão, lhe dará uma serpente, ou um escorpião se vos pedir peixe? Pois se vós, que sois imperfeitos sabeis o que dar de bom para vossos filhos, quanto mas vosso Pai, que está nos céus!"

Todos os Mestres da humanidade, em todas as épocas e lugares, sempre apontaram para a necessidade de voltarmos a viver o presente como única realidade concreta da alma no mundo: "Não vos preocupeis com o dia de amanhã, pois a cada dia basta a sua própria preocupação....", disse Jesus.

As passagens do Evangelho em que Jesus fala de um Reino dos Céus no futuro não podem ser autênticas transcrições do pensamento do Cristo, e sim interpretações de pessoas ainda muito ligadas ao pensamento judaico da época, a não ser, como fala Stephen Mitchell, que Jesus tivesse dupla personalidade, como se fossem torneiras de água quente e fria. O problema é que Jesus usava uma linguagem figurada freqüentemente composta por imagens fortes, mais propícias a impressionar a mente simples do povo igualmente simples que o ouvia, fazendo-os refletir seus atos de cada dia. Estas palavras, contudo, podiam ser interpretadas de modo tão diferente quanto o número de ouvidos que as ouviam.

O que chegou à nós, em formas de textos evangélicos, não são mais do que interpretações sobre os dizeres do Cristo feito por discípulos. Algumas passagens são tão opostas à doce doutrina de amor e compreensão de Jesus que dificilmente não nos deixam de chocar. Estas estão muito impregnadas de um espírito de vingança e de uma agressividade apocalíptica de mesmo aspecto como encontrado nos textos dos profetas do Antigo Testamento, e cabem muito bem aos judeus que vivenciaram os terríveis acontecimentos da Revolta Judaica do ano 66 d. C. que terminaria com a destruição de Jerusalém pelos romanos e com a dispersão dos judeus por todo o mundo. Cristo desejava mudanças sociais sim, mas a partir da mudança íntima das pessoas que encontrasse a intuição em si de que são filhos de Deus e, portanto, que todas as demais criaturas são irmãos e irmãs que merecem respeito. Estas passagens de um reino externo por vir, muito provavelmente, poderiam ter sido inseridas no Evangelho por discípulos que interpretaram os acontecimentos como um início da materialização do Reino que Jesus pregava, sem atinarem que este Reino é de uma profundidade maior do eles pensavam. Eles viveram estes acontecimentos e tentaram ver neles uma concretização da mudança social que Jesus aspirava a implantar na Terra, ou ainda, por interpretações feitas por discípulos de discípulos. Já que Jesus não deixou nada escrito, tudo o que dele sabemos é de segunda ou terceira mão, sendo o primeiro evangelho sinótico, o de Marcos, sido escrito provavelmente por volta do ano 60, ainda que baseado - segundo experts - em um texto anterior, chamado de quelle - fonte, em alemão, e que muitos pensam estar contido em grande parte no Evangelho de Tomé. Fora isso, a distância ajudou a acomodar os ensinos de Cristo ao que viviam seus seguidores (veja a Home Page O Cristianismo depois de Jesus).

Estes discípulos ainda estavam cheios da tradição judaica. Passagens que falam do Reino de Deus como algo que virá no futuro existem aos borbotões nos profetas e nos escritos apocalípticos judaicos redigidos sob o jugo romano dos primeiros séculos de nossa era, bem como na maioria dos textos geralmente muito patriarcais atribuídos a Paulo pela Igreja primitiva. Elas são repletas de uma esperança passional, exclusivista, e, como apontou Nietzsche, de um amargurado ressentimento contra "eles" (os poderosos políticos e econômicos, os ímpios). Mas tudo isso é fruto de uma interpretação intelectual e passional das reformas sociais propostas por Jesus, que, em toda a sua vida, aboliu todo tipo de distinção de castas e de origens, devido à sua consciência de irmandade entre todos. Os discípulos dos discípulos tiveram uma noção apenas intelectual disto e não da vivência do estado de espírito ou da consciência cósmica vivenciada por Jesus. Uma vivência que foi plenamente vivida por um Francisco de Assis ou por um Mahatman Gandhi, e que é profundamente revolucionária.

Stephen Mitchell fala, com muita propriedade, que o Reino de Deus "não é algo que irá acontecer, porque não é algo que, temporalmente falando, possa acontecer. Não pode surgir num mundo" como se fosse uma invasão externa - "O meu Reino não é deste mundo" - "é uma condição que não tem plural, mas apenas infinitos singulares. Jesus falava das pessoas 'entrando' no Reino, e que as crianças já estavam nele (...). Se pararmos de olhar para frente e para trás, foi o que ele nos disse, poderemos nos dedicar a buscar o Reino que está bem debaixo de nosso pés, bem diante de nosso nariz; e, quando o encontrarmos, alimentos, roupas e outras coisas necessárias também nos serão dados, tal como o são às aves e aos lírios. (...) Este reino é como um tesouro enterrado num campo que é nossa alma; é como uma pérola de grande valor; é como voltar para casa. Quando o encontramos, a nós mesmos, tornamo-nos donos de uma riqueza infinita (...)", é por isto que todos os místicos falam em perderem-se em Deus. "Eu e o Pai somo um", pois nossa personalidade é apenas uma máscara mutável, mas o self, como diria Jung, é a parte mais próxima do divino, em nós. Vivenciando o Deus que há em nós, poderemos reconhecer o Deus que há no outro e, assim, poderemos viver, naturalmente, devido à nosso grau de consciência, a Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade.

O verdadeiro Jesus é o Jesus do Sermão da Montanha, o Jesus entre as crianças, o Jesus que admitia mulheres, publicanos e leprosos entre seus seguidores, um homem que se esvaziou dos desejos mundanos comuns, esvaziou-se de doutrinas e regras - todos os inúteis aparatos intelectuais - e se deixou preencher pela vida, como o demonstram as suas parábolas, onde o reino é o campo, é a festa de núpcias, é a rede lançada ao mar... Porque se desapegou de tudo o que é egóico e passou a sentir o TODO - o Tao, como diria Lao-Tsé -, ele deixou de ser meramente alguém, para ser também todos, todo o mundo: "Tudo isso que fizeres a um destes pequeninos, fareis a mim". Porque admitiu Deus em si, sua personalidade é como um ímã que atrai a todos. Quanto mais se aproximam dele, mais sentem a pureza de seu coração. Um coração que é como um quarto claro e espaçoso: "Vinde a mim todos vós que estais aflitos e sobrecarregados, e eu vos aliviarei". As pessoas ou as possibilidades abrem a porta e entram. O quarto recebe a todas o tempo que quiserem, sem impor regras além da do amor. É bem diferente de um coração cheio de pertences, de crenças e de certezas, cujo dono senta-se atrás da porta trancada com uma arma em punho, como o fazem as Igrejas de todas as denominações.

Jesus também reconhecia as verdades espirituais que foram ditas pelos outros Grandes Mestres da humanidade, em todas as épocas. É assim que se explica as grandes similaridades entre seus ensinamentos e os de Buda, por exemplo, que nasceu mais de 500 anos antes de Cristo.

Jesus enfatizava a importância da evolução e da transformação pessoal: "Não te maravilhes de eu ter dito: Necessário vos é nascer de novo (João, 3. 3-7)". Reconhecia a imortalidade da alma: "De fato, Elias há de vir e restabelecer todas as coisas. Eu porém vos digo: Elias já veio e fizeram dele o que quiseram! E os discípulos compreenderam que era de João Batista de quem ele falava" (Mateus, 17, 11-13; Marcos, 9, 11-13). Bem, como Elias não voltou numa carruagem celeste ao tempo de Jesus, e como "os discípulos compreenderam que era de João Batista de quem ele lhes falava", Elias e João têm de ser a mesma pessoa... Ora, todos conheciam a história do nascimento de João - aliás, o anjo que aparece a Zacarias diz que o menino "irá adiante do Senhor no espírito e no poder de Elias (Lucas, 1. 17)".

Sendo assim, a única possibilidade real de Elias ter retornado à terra como João era a de que ele reencarnou como João, conhecido como O Batista, primo de Jesus... Esta idéia na reencarnação, conhecida ao tempo e na região de Jesus com o nome confuso de ressurreição (Mateus, 16.13-15), era familiar a inúmeros sistemas filosóficos da era helenística, e é encontrado em Pitágoras, Sócrates e Platão, sendo retomado por Amônio Sacas e por seu discípulo Plotino e, já na era cristã, por Orígenes de Alexandria, um dos pais da Igreja. Esta crença permaneceu mais ou menos atuante durante os primeiros séculos do cristianismo até que os interesses temporais e políticos a tornaram numa crença herética. Cristo também solapou a proibição de Moisés de não invocar os mortos, pois sabemos de seu encontro visível com dois mortos (Mateus, 17. 14-21; Lucas 9. 37-43) - o próprio Moisés, e Elias (João já havia sido degolado a esta época) -, no fenômeno da transfiguração, isso sem falar nas aparições póstumas durante os quarenta dias após a crucificação, já que Cristo podia aparecer e desaparecer de repente, tanto em Emaús ("então se lhes abriram os olhos, e o reconheceram; mas ele desapareceu da presença deles." Lucas, 24, 31), como em Jerusalém "estando as portas fechadas" ("Ao cair da tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando trancadas as portas da casa onde estavam os discípulos com medo dos judeus, veio Jesus, pôs-se no meio e disse-lhes: Paz seja convosco! João, 20, 19; "Finalmente apareceu Jesus aos onze, quando estavam em casa..." Marcos, 16,14). Tal fenômeno se explica perfeitamente pelo processo da materialização do nobre e poderoso espírito de Jesus. É interessante notar, nesse ponto, o comportamento de algumas seitas de base fundamentalista que aceitam tudo ao pé da letra que está escrito na Bíblia mas, quando chegam nestas partes dos Evangelhos, INTERPRETAM o que está escrito da forma que mais lhes convenha para negar a realidade destes fatos, isso quando não invocam o suposto ser que acaba por se transformar em seu maior aliado em questões que os embaraçam, ou seja, o "demônio", para dizer que estão errados os outros, os que aceitam a reencarnação ou a vida após a morte e que estão possuídos do espírito do mal, e não eles, detentores de todo o saber sobre o absoluto.... "Ai de vós, doutores da lei..." pois estão plenos de orgulho, e são como "Cegos a guiar outros cegos".

Enfim, ainda citando Mitchell, Jesus foi o maior exemplo de quão longe pode o homem chegar. Ele soube viver plenamente entre os dois mundos: o material e o espiritual. Soube dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. Ele foi uma árvore. Como fala Mitchell, a árvore não tenta arrancar da terra as suas raízes e plantar-se no céu, nem tampouco estende suas folhas para baixo, junto à lama. Ela precisa tanto do solo quanto da luz, e sabe a direção de cada coisa. Exatamente porque enterra as suas raízes na terra escura, é que pode sustentar suas folhas no alto para receber a luz do sol... É pena que Jesus de Nazaré seja freqüentemente incompreendido pelos Cristãos.

A Força do Amor

Amilcar Del Chiaro Filho


Vida com qualidade é impossível sem amor. O amor é uma energia formidável que impulsiona as galáxias, que move os mundos, que dá brilho às estrelas, que suaviza a vida, que faz a mãe acalentar o filhinho nos braços, beijá-lo ternamente, e dizer, meu filho! minha vida! Mesmo que o filho seja deficiente mental, de olhar inexpressivo, e fisionomia torturada.

É o amor que faz com que aquilo que pareça impossível, aconteça. Só amor pode dar forças ao homem para superar barreiras e vencer. Gandhi teve um profundo amor pela Índia, e no sacrifício por amor encontrou forças para libertá-la do jugo de outra nação mais poderosa. Madre Teresa de Calcutá, por força do seu amor aos miseráveis, encontrou coragem para esmolar por eles, e lhes dar alguma dignidade.

Os caminhos do mundo foram pisados pelas patas dos elefantes de Aníbal, dos cavalos das legiões romanas, das hordas bárbaras, ( dizem que onde o cavalo de Átila pisava não nascia mais grama), e pelas botas militares de muitos guerreiros, mas, somente os pés descalços ou as sandálias simples dos missionários da paz, são capazes de deixar pelo caminho poeira de estrelas.

Quantos avatares, verdadeiros missionários, cruzaram os caminhos do mundo impulsionando os homens pela força do amor, para transformar a vida?

Por isso, continuamos convidando-os a cerrarem fileiras conosco para batalharmos pela paz. É por isso, que neste início de um novo milênio precisamos acreditar em nossa capacidade, saber que podemos vencer, que podemos construir um novo destino, que podemos construir um mundo melhor, onde a paz, a harmonia, e a justiça social estejam presentes.

(Artigo reproduzido com a autorização do autor)

sexta-feira, 28 de maio de 2010

O Evangelho Segundo o Espíritismo



Poder da Fé

1 – E depois que veio para onde estava a gente, chegou a ele um homem que, posto de joelhos, lhe dizia: Senhor, tem compaixão de meu filho, que é lunático e padece muito; porque muitas vezes cai no fogo, e muitas na água. E tenho-o apresentado a teus discípulos, e eles o não puderam curar. E respondendo Jesus, disse: Ó geração incrédula e perversa, até quando hei de estar convosco, até quando vos hei de sofrer? Trazei-mo cá. E Jesus o abençoou, e saiu dele o demônio, e desde àquela hora ficou o moço curado. Então se chegarão os discípulos a Jesus em particular e lhe disseram: Por que não pudemos nós lançá-lo fora? Jesus lhes disse: Por causa da vossa pouca fé. Porque na verdade vos digo que, se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte: Passa daqui para acolá, e ele há de passar, e nada vos será impossível. (Mateus, XVII: 14-19).

2 – É certo que, no bom sentido, a confiança nas próprias forças torna-nos capazes de realizar coisas materiais que não podemos fazer quando duvidamos de nós mesmos. Mas, então, é somente no seu sentido moral que devemos entender estas palavras. As montanhas que a fé transporta são as dificuldades, as resistências, a má vontade, em uma palavra, que encontramos entre os homens, mesmo quando se trata das melhores coisas. Os preconceitos da rotina, o interesse material, o egoísmo, a cegueira do fanatismo, as paixões orgulhosas, são outras tantas montanhas que atravancam o caminho dos que trabalham para o progresso da humanidade. A fé robusta confere a perseverança, a energia e os recursos necessários para a vitória sobre os obstáculos, tanto nas pequenas quanto nas grandes coisas. A fé vacilante produz a incerteza, a hesitação, de que se aproveitam os adversários que devemos combater; ela nem sequer procura os meios de vencer, porque não crê na possibilidade de vitória.

3 – Noutra acepção, considera-se fé a confiança que se deposita na realização de determinada coisa, a certeza de atingir um objetivo. Nesse caso, ela confere uma espécie de lucidez, que faz antever pelo pensamento os fins que se têm em vista e os meios de atingi-los, de maneira que aquele que a possui avança, por assim dizer, infalivelmente. Num e outro caso, ela pode fazer que se realizem grandes coisas

A fé e verdadeira é sempre calma. Confere a paciência que sabe esperar, porque estando apoiada na inteligência e na compreensão das coisas, tem a certeza de chegar ao fim. A fé insegura sente a sua própria fraqueza, e quando estimulada pelo interesse torna-se furiosa e acredita poder suprir a força com a violência. A calma na luta é sempre um sinal de força e de confiança, enquanto a violência, pelo contrário, é prova de fraqueza e de falta de confiança em si mesmo.

4 – Necessário guardar-se de confundir a fé com a presunção. A verdadeira fé se alia à humildade. Aquele que a possui deposita a sua confiança em Deus, mais do quem em si mesmo, pois sabe que, simples instrumento da vontade de Deus, nada pode sem Ele. E por isso que os Bons Espíritos vêm em seu auxílio. A presunção é menos fé do que orgulho, e o orgulho é sempre castigado cedo ou tarde, pela decepção e os malogros que lhes são infligidos.

5 – O poder da fé tem aplicação direta e especial na ação magnética. Graças a ela, o homem age sobre o fluído, agente universal, modifica-lhe a qualidade e lhe dá impulso por assim dizer irresistível. Eis porque aquele que alia, a um grande poder fluídico normal, uma fé ardente, pode operar, unicamente pela sua vontade dirigida para o bem, esses estranhos fenômenos de cura e de outra natureza, que antigamente eram considerados prodígios, e que entretanto não passam de conseqüências de uma lei natural. Essa a razão porque Jesus disse aos seus apóstolos: Se não conseguistes curar, foi por causa de vossa pouca fé.

O Poder da Fé


A fé privilegiada pelo Cristo era muito diferente daquela contida e pregada pela religião "organizada" pelos homens, que deixou de possuir a qualidade de um poder que transporta montanhas, e passou a encaixar-se na aceitação de credos e seitas dominadoras da consciência do homem.
(Eduardo Carvalho Monteiro, em "Allan Kardec, o Druida Reencarnado")

Há muito tempo, as pessoas têm confundido os significados da palavra "fé" e da palavra "crença".

Crença é aquilo a que Eduardo C. Monteiro se refere no final do trecho acima, a aceitação de dogmas e de credos. Diante de um conjunto de princípios impostos, de informações sem possibilidade de comprovação, crer é simplesmente uma opção intelectual.

A outra opção é não crer. Não pode haver força nem sentimento verdadeiro na crença, pois não há fundamento sólido para tanto. A crença anda sempre acompanhada da dúvida, porque não é possível experimentá-la. De fato, só se tem necessidade de crer quando não é possível saber. Exemplo: Se eu sei que a Terra gira em torno do Sol, eu não necessito crer nisso.

A crença não se torna fé, a menos que possa ser testada e certificada através da experiência e da razão livre de preconceitos. A fé verdadeira não pode ser traduzida pelo crer, mas sim pelo saber.

E o maior mérito do Espiritismo bem compreendido, no meu entender, é fincar a fé sobre as bases da razão.

Ele nos possibilita saber o que antes só era aceitável como crença.

Isto é muito mais profundo e abrangente do que se supõe.

Em primeiro lugar, só a fé remove montanhas. Crenças, não. Crença, por mais forte que seja, é sempre uma hipótese. Fé é saber, é conhecimento disponível e aplicável.

Quando se sabe que Deus existe, pode-se realmente confiar-lhe poder sobre nossas vidas. Quando se crê, este poder é apenas presumido, e nunca nos entregamos totalmente a ele.

Quando se sabe da imortalidade, a morte muda de significado. Quando se crê apenas, o futuro permanece uma incógnita.

Quando se sabe da reencarnação, a importância do relacionamento humano cresce e nos conduz a decisões diferentes, com consciência dos compromissos assumidos. Quando se crê, as razões se enfraquecem.

Quando se sabe que um Espírito-protetor nos acompanha, pode-se pedir-lhe inspiração com a certeza de que ela virá. Quando se crê, mesmo que a inspiração venha, sempre duvidaremos dela.

Quando se sabe que a vida é só uma viagem, a importância de muitos acontecimentos e de muitas coisas muda totalmente. Quando não se sabe o que a vida é, nunca se sabe o que valorizar nela.

Quando se sabe que todos somos Espíritos criados iguais por Deus, para a evolução, desaparecem as diferenças sociais e raciais.

Todas estas certezas têm peso decisivo em nossas atitudes. Nosso modo de ser altera-se radicalmente a partir delas, porque só uma profunda compreensão, aliada a um forte sentimento, é capaz de modificar padrões estruturados de comportamento e levar à revisão de nossas posições navida. Só a fé tem este poder.

E mais: quando se sabe que é possível agir, pelo pensamento e vontade, sobre os fluídos que nos rodeiam e penetram, multiplicamos a eficácia da fé. Esta certeza mobiliza força para atuar positivamente sobre esta matéria imponderável, que se modifica ao influxo de nossos pensamentos, com efeitos incontestáveis sobre a saúde, sobre os Espíritos (encarnados e desencarnados) que nos cercam, e os acontecimentos.

A fé (saber, certeza) é tão fundamental, que Jesus disse a seus apóstolos: se não curastes, foi porque não tivestes fé.

Fé sólida, fé inabalável, convicção plena, certeza absoluta, como diz Kardec, é aquela que não exige que abdiquemos do raciocínio, nem insulta a nossa inteligência.

Só se pode transportar montanhas quando se sabe com certeza das faculdades imensas que Deus nos deu, as quais temos a responsabilidade de desenvolver. Só isto nos dá força de enfrentar obstáculos, oposições e ironias, de atravessar serenamente momentos difíceis em que a simples crença vacilaria e, quem sabe até, nos abandonaria pelo caminho.

RITA FOELKER

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Tabagismo, Números Que Impressionam


TABAGISMO, NÚMEROS QUE IMPRESSIONAM...

Relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS), do ano de 2000, considera o tabagismo a maior pandemia de todos os tempos. Para cada dólar arrecadado na indústria do tabaco, outros cincos são gastos para a cobertura das doenças relacionadas com o cigarro. O Brasil é o quarto maior produtor mundial de fumo, e o sexto maior mercado de cigarros do Planeta. Os números das indústrias no Brasil impressionam. Anualmente são produzidos quinhentos milhões de toneladas de fumo que se transformam em noventa e sete bilhões de unidades para a demanda comercial; isso equivale a mais de quarenta milhões de fumantes.

O Ministério da Saúde afirma que cada ano oitenta mil pessoas morrem com quadros patológicos vinculados ao tabagismo, o que corresponde a quase dez óbitos por hora. Existem no Brasil atualmente cerca de trinta milhões de consumidores de tabaco, que contribuem com a arrecadação de cerca de R$ cinco bilhões, correspondentes a 65% do faturamento da indústria do tabaco. O Sistema Único de Saúde (SUS), gasta cerca de R$ 3,6 bilhões ao ano com doenças relacionadas ao tabagismo, enquanto o Banco Mundial informa que cerca de US$ 200 bilhões ao ano são alocados para programas de saúde devido ao consumo de tabaco. 1

O número de fumantes no mundo é de cerca de um bilhão e cem milhões. Nos países em desenvolvimento, 48,5% dos homens e 7% das mulheres fumam. Nos países desenvolvidos, 42% dos homens e 24% das mulheres fumam. No Brasil, um terço da população adulta fuma: 11,2 milhões de mulheres e 16,7 milhões de homens. A maioria dos fumantes (90%) fica dependente da nicotina entre 15 e 19 anos de idade, sendo que existem cerca de 2,4 milhões de fumantes nesta faixa etária no Brasil. O fumo é responsável por 85% das mortes por doenças pulmonares obstrutivas, como o enfisema, e por 25% das mortes por doenças coronarianas, como o infarto, e das doenças cerebrovasculares, como o derrame. 2

Veja o que dizem alguns membros da indústria do cigarro: “A nicotina causa dependência. Nosso negócio, então, é a venda de uma droga”3 . “Para o principiante, fumar um cigarro é um ato simbólico. Eu não sou mais o filhinho da mamãe, eu sou durão, sou um aventureiro, não sou quadrado... À medida que o simbolismo psicológico perde a força, o efeito farmacológico assume o comando para manter o hábito...”4

Para Enio Cardilho, do Departamento de Bioquímica e Imunologia da UFMG, o fumante, além de suicida involuntário, é incendiário porque mais de 40% (quarenta por cento) dos incêndios no mundo são provocados por causa dos restos de cigarros acesos. Como se não bastasse, a ciência já catalogou mais de 1.200 (mil e duzentas) substâncias tóxicas do cigarro. Para quem já parou de fumar, um aviso essencial: uma simples tragadinha pode acabar com o esforço e abstinência de anos.

A explicação para isso, segundo estudiosos, é que a nicotina, de alguma forma ainda não compreendida pela medicina, abre certas “portas” no sistema nervoso, que ficam escancaradas para sempre. Um pouco de droga que volte a passar por elas e a dependência se reinstala. A explicação corrente é que a nicotina, para agir no cérebro e provocar sensação de “bem-estar” imita a ação da acetilcolina. Como moléculas usurpadoras, a nicotina se encaixa nos receptores cerebrais que estimulados produzem mais 1neurotransmissores (dopamina) que regulam a sensação de prazer. Quando o estímulo de produção dopamínica é interrompido por alguns instantes, o sistema nervoso central se desequilibra e o fumante acende o próximo cigarro e a nicotina se encaixa novamente nos receptores cerebrais, recomeçando o ciclo.

Esse fator é determinante para que as estatísticas mundiais apontem que anualmente menos de 3% (três por cento) dos fumantes derrotem o vício. Para o adepto do Espiritismo o hábito de fumar tem conseqüências mais sérias, sobretudo por causa das reiteradas advertências dos Benfeitores Espirituais, esclarecendo sobre os malefícios que causam à mediunidade. O médium viciado no fumo consubstancia-se integralmente em “cachimbo” ou “piteira” nas amarras dos inveterados fumantes do além, tornando-se alvo de obsessão. O vício de fumar açoita as condições de consciência evangélica, desarmoniza a estrutura fisiopsíquica e as bases funcionais do perispírito, que se impregna de toxinas. O fumo afeta os trilhões de células unicelulares saturadas de vitalidade que compõem o psicossoma, deixando manchas específicas, especialmente na região pulmonar.

O tabagismo atormenta os desencarnados viciados que se angustiam ante a vontade de fumar irresistivelmente potencializada. O complicador da questão é sistematizado na inexistência de indústrias de cigarros na Erraticidade para abastecer Espíritos fumantes. Em face disso, estes tabagistas do Além, para materializarem suas tragadinhas, tornam-se protagonistas da subjugação, transformando-se em artífices da vampirização sobre os encarnados tíbios de vontade, que ainda se locupletam nas deletérias baforadas do malcheiroso cigarro...

(*) Artigo publicado no Reformador de Novembro de 2002

Superstição


Imagine um gato preto, uma coruja no telhado, uma escada na calçada em seu caminho. Ou mesmo um galhinho de arruda atrás da orelha. Lembre-se ainda do levantar com o pé esquerdo, de entrar e sair de qualquer habitação pela mesma porta, ou do bater três vezes na madeira. Se quisermos avançar um pouco mais, ainda nos lembraremos da roupa branca na noite que altera o ano no calendário. Será possível ainda recordar a consulta diária ao horóscopo, o evitar ingerir certos líquidos ou alimentos em determinados dias do ano, e mesmo a vassoura atrás da porta ou a comigo ninguém pode. Meu Deus! Paremos por aqui!

Quanto absurdo junto! O próprio dicionário define a palavra superstição como sentimento religioso excessivo ou errôneo, crença errônea, temor absurdo de coisas imaginárias, entre outras bem claras definições. E como ainda temos coragem de manter essas idéias absurdas na cabeça numa época em que deve prevalecer o raciocínio diante de todas as situações?

Como imaginar que um simples gato preto ou a presença de uma inocente coruja no telhado possa significar males maiores? Como aceitar a idéia de que o pé que primeiro pisa no chão, de manhã, possa determinar as ocorrências do dia? E mais, como entender o absurdo de devemos sair pela mesma porta que entramos? E que tipo de influência a roupa branca pode causar na passagem de ano? Ou será mesmo que acreditamos que bater três vezes na madeira pode alterar o rumo das coisas? E tem algo a ver com a grandeza da vida o fato de ingerirmos certos alimentos em determinados dias, por imposição de medos imaginários?

Ora, convenhamos! Nossa felicidade ou nossa desdita estão determinadas pela postura e comportamento que adotamos. São as opções de vida que determinam os acontecimentos. Opções de caráter reto, digno, honesto, geram resultados de paz de consciência. Atos imorais geram aflições, intranqüilidade. Algum absurdo nisto?

São os pensamentos, a intenção e a vontade que atraem situações provocadoras de aflições ou sofrimentos. Pensando no mal, alimentando inveja e ciúme, rancor ou sentimento de vingança, atraímos exatamente essas ondas mentais que conviverão conosco e naturalmente facilitarão ocorrências desagradáveis. O inverso também é real: pensando no bem, nutrindo pensamentos de amor ao próximo, de confiança em Deus, estaremos sintonizados com o bem geral que governa o Universo, para desfrutar de paz e harmonia interior.

Gestos, roupas especiais, objetos materiais, acessórios místicos, atitudes impostas por padrões que escapam ao exame do raciocínio e da lógica, nenhuma influência possuem para nos proteger ou mudar o rumo dos acontecimentos. Estes são sim alterados pela nossa decisão e opção mental. Se achamos que o chamado “mal feito” vai nos atingir, estaremos entregues à prisão mental que nós mesmos criamos.

Já é hora de nos libertarmos de tais bobagens. Aprendamos a viver livres de superstições, tomando posse de nossa herança de filhos de Deus que devem buscar continuamente o próprio aperfeiçoamento, ao invés de nos prendermos a idéias impostas para criar medo e dependência. Esses condicionamentos só existem na mente de quem os aceita. E cada um de nós tem o dever de construir a sua e a felicidade alheia.

Afinal, vivemos para que? Satisfação egoística, medos condicionados ou felicidade construída dia-a-dia?

Artigo gentilmente cedido por Orson Peter Carrara