terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Temor a Deus

Saara Nousiainem

presidente da ADE-Ceará

Esse termo “temor a Deus” tem sido muito utilizado nos meios cristãos, sem muita preocupação com seu significado.

Entretanto, ele colide com a doutrina de Jesus, porque o Mestre ensinou que devemos amar Deus e não temê-lo. Por que temer Deus, se Ele não é mau, nem injusto; se é sábio, perfeito e bom?

Essas idéias de temor a Deus provêm do Antigo Testamento, escrito numa época e para pessoas bastante primitivas. Era necessário acenar com o medo para que obedecessem aos ditames das religiões.

Mas a história mostra que tudo está em permanente evolução.

Antigamente faziam-se sacrifícios humanos aos deuses. O povo israelita oferecia animais em holocausto a Jeová. Era a mentalidade da época.

Jesus trouxe novas luzes ensinando amor, perdão e mansidão e, aos poucos, tudo vai mudando com o lento progresso da humanidade, cedendo lugar a idéias mais civilizadas.

Também o bom senso e a razão ganham terreno com o avanço das ciências, abrindo espaço para inúmeros questionamentos, inclusive sobre temas tidos como tabus, como é o caso da sacralidade da Bíblia.

Desses conflitos todos surge, então, uma pergunta importantíssima: qual das religiões oriundas da Bíblia está com a verdade, já que todas possuem argumentos que entendem serem os mais fortes?

Vamos raciocinar um pouco:

Se você estiver elaborando seu orçamento doméstico e alguém afirmar que 5 mais 3 são 11, o que fará?

Vai simplesmente aceitar esses valores como certos, por que alguém em quem você acredita disse isto, ou irá fazer a conta para ver se a afirmação está correta?

Se aceitar simplesmente o que lhe dizem, sem questionamentos, você se arrisca a ter grandes problemas em sua vida

O mesmo ocorre com relação às religiões. Cada uma diz que está com a verdade, embora todas pensem diferentemente umas das outras.
Que fazer então, para encontrar a verdade religiosa?

O mesmo que você faria para encontrar os valores reais para o seu orçamento: analisar, questionar, usar a razão, o bom senso.

E nessa busca, certamente, a primeira questão, a mais importante, é a seguinte: será que nós, seres humanos atrasados e imperfeitos, temos acesso pleno à verdade?

Se a verdade plena está com Deus, por certo, nós só podemos ter dela apenas vislumbres... E é por isso que brigamos e até mesmo desencadeamos guerras sangrentas, porque cada qual entende ser seu dono exclusivo, quando realmente só lhe detêm alguns fragmentos.

Talvez você diga: “A verdade está na Bíblia”.
Mas será que tudo que a Bíblia diz pode ser aceito ou praticado no mundo moderno?

Você mandaria matar um filho, por ter-lhe faltado com o devido respeito? (Êxodo 21:17)

Alguma vez teve relações sexuais com outra pessoa que não o seu cônjuge? (Levítico 20:10)

Já fez sexo com mulher menstruada, ou estando menstruada? (Levítico 20:18)

Guarda o dia de sábado, não realizando nesse dia qualquer atividade? (Êxodo 20:8 a 11 e Levítico 23:3).

Pois, o Antigo Testamento determina pena de morte para todos estes itens e muitos outros, considerados como graves infrações contra a lei de Deus.

Vamos então analisar um pouco, pensar... apelar para o raciocínio.

Para que a verdade plena estivesse na Bíblia, esta teria de ser absolutamente coerente, sem contradições e de acordo com o bom senso, porque as contradições no corpo de uma doutrina tiram-lhe a credibilidade, a não ser que sejam vistas como contendo enfoques pessoais daqueles que a escreveram, assim como, também, refletirem a mentalidade e os conhecimentos peculiares à época em que foram registrados, ou seja, não poderia ser entendida “ao pé da letra”, mas dentro do contexto de época, condições, mentalidade, simbolismos etc.

Aí, você poderá dizer: “A Bíblia é a palavra de Deus e precisa ser obedecida e não compreendida”.

Mas foi Deus quem nos deu o raciocínio e um pouco de sabedoria, para que possamos discernir em nossa busca pela verdade. E lembramos que Jesus afirmou: “Conhecereis a Verdade e ela vos libertará”, deixando claro que Ele veio ensinar uma ética de vida, como realmente o fez, mas a Verdade viria mais tarde, quando o ser humano já estivesse suficientemente amadurecido para entendê-la e poder, assim, libertar-se dos condicionamentos milenares a que se vê manietado.

Além disso, quem nos garante que a Bíblia seja a palavra direta de Deus, e não um livro escrito por homens, embora sob inspiração superior?

Gostaria de analisar esta questão, sem preconceitos?

De princípio, queremos enfatizar nosso respeito pela Bíblia, pelo que ela representa. Mas nem por isso podemos ignorar as inúmeras contradições, incoerências e até mesmo “barbaridades“ que encontramos em seu corpo.

Vejamos em primeiro lugar algumas de suas contradições:

A primeira se encontra logo no primeiro capítulo de Gênesis, com a criação das noites e dias, a separação das águas, a produção de relva e árvores frutíferas que davam frutos e sementes, para só depois, no quarto dia, serem criados o sol, a lua e as estrelas. Como poderia haver noites e dias, plantas frutificando, sem o sol?
A humanidade inteira, durante milênios e até hoje, estaria pagando pelos pecados de Adão e Eva, embora Deus tenha afirmado em Ezeq. 18:20, Deut. 24:16, Jer. 31:29/30, que os filhos não pagam pelos pecados dos pais, nem o justo pelo pecador. E se o justo não paga pelo pecador, por que Jesus teria morrido na cruz para pagar pelos pecados da humanidade?
Em Êxodo 9:1 a 7 vemos Deus mandando uma praga que matou todos os animais dos egípcios, inclusive os seus cavalos, mas dias mais tarde a cavalaria egípcia é afogada no Mar Vermelho. Que cavalaria, se todos os cavalos tinham sido mortos com a praga?
Como conciliar (Ecles. 9:15): “Os vivos sabem que hão de morrer mas os mortos não sabem de cousa alguma”, com a parábola sobre o rico e Lázaro (Lucas 16:23); ou com a cena em que Moisés e Elias (mortos há séculos), conversaram com Jesus no monte, na presença de três apóstolos (Lucas 9:30), ou ainda, com a entrevista que teve Saul com o espírito de Samuel, já que este estava morto ( 1o Samuel 28:11/20)?
Em Oséas 6:6 Deus diz: “Misericórdia quero e não sacrifícios e o conhecimento de Deus mais do que holocaustos”. No entanto, Ele próprio ordena oferendas, holocaustos e sacrifícios pelos mais insignificantes delitos.

Mas no Novo Testamento também há inúmeras incoerências e contradições:

1 - João afirma: “Se dissermos que não temos pecado, não existe verdade em nós” (1o João, 1:8), mas no cap. 5:18 afirma que “quem é nascido de Deus não peca”.

2 - Não há como conciliar: “Jesus é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos mas ainda pelos pecados do mundo inteiro” (1o João 2:2), com: “Sabemos que somos de Deus, e que o mundo inteiro jaz no maligno” (1o João 5:19).

3 - Também os apóstolos nunca se entenderam quanto ao instrumento da salvação, se seria a graça, as obras ou a fé. E lembramos Jesus quando disse: “Não acabareis de percorrer as cidades de Israel, sem que venha o Filho do Homem (Mateus 10:23), “alguns dos que aqui estão não verão a morte sem que vejam o Filho do Homem no seu reino” (Mateus 16:28), e, falando sobre o que é interpretado como sua segunda vinda, afirmou que não passaria aquela geração sem que tudo se cumprisse.

É bom lembrar que os Evangelhos foram escritos muitos anos depois da morte de Jesus, sofreram inúmeras traduções, interpretações e até mesmo modificações e enxertos em seus textos, visando acomodá-los às idéias da Igreja Católica que precisava ser aceita pelo paganismo de Roma. Como exemplo podemos citar a guarda do sábado, que foi transferida para o domingo.

4 - Outra contradição bíblica, e das mais gritantes, podemos encontrar entre o Velho Testamento, os Evangelhos e as Epístolas. O conteúdo da mensagem de Jesus está integralmente calcado na mais perfeita justiça, na mansuetude, no perdão e no amor: “A cada um será dado de acordo com suas obras”, “Tudo que quiserdes que os homens vos façam, fazei-o também vós”, “Olhai as aves do céu...”, “Vinde a mim, vós que estais cansados e sobrecarregados, que eu vos aliviarei”, “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”, “Perdoa 70 vezes 7”...

Já o discurso de alguns dos fundadores do cristianismo difere essencialmente dos ensinamentos de Jesus. Por exemplo: o Mestre coloca o amor e a prática do bem, como condições únicas para se alcançar o reino de Deus: “Ama a Deus sobre todas as coisas... Ama o próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas” (Mat.22:37/40). Ainda em Mateus, cap. 25, fala sobre o grande julgamento, no qual apenas as atitudes e ações irão pesar na decisão final, e, em inúmeras outras ocasiões, como em Mat. 16:27, afirmou e reafirmou que a cada um Deus retribuirá segundo as suas obras.

Enquanto isso, Paulo afirma que a salvação vem apenas pela fé: “Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, independentemente das obras da lei” (Rom. 3: 28), ao passo que outros dos apóstolos ensinam que é pela graça e outros, pelas obras; não há consenso em seus ensinamentos.

Todos os ensinos de Jesus mostram Deus como o Pai justo e misericordioso, enquanto, em franca oposição, o discurso de Paulo é todo calcado na mentalidade judaica, cujo Deus é vingativo, parcial e injusto: “Logo, tem ele misericórdia de quem quer, e também endurece a quem lhe apraz” (Rom. 9:18), “Que diremos, pois, se Deus querendo mostrar sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita longanimidade os vasos de ira, preparados para a perdição, a fim de que também desse a conhecer os vasos de misericórdia, que para glória preparou de antemão, os quais somos nós, a quem também chamou, não só dentre os judeus mas também dentre os gentios?”

Essas palavras de Paulo enfocam Deus como um grande ditador que rejeita e faz sofrer a uns e beneficia a outros (dentre os seres criados por ele próprio), ao sabor de seus caprichos. Onde a justiça? Onde a misericórdia e o amor sempre presentes nas palavras de Jesus, quando se referia a Deus, chamando-o de Pai?

Por esta pequena amostra já se pode observar que a elaboração da doutrina cristã sofreu profunda influência da mentalidade judaica, desfigurando drasticamente a mensagem do Cristo.

Quanto ao Antigo Testamento, vibra, em inúmeros momentos, com a força do açoite, da espada e da vingança, mostrando um Deus contraditório, quase sempre irado, às vezes furioso, muitas vezes injusto, rancoroso, cruel, e sem saber exatamente o que faz.

Em Deut. 10:18 se diz que Deus “faz justiça ao órfão e à viúva, e ama o estrangeiro, dando-lhe pão e vestes”, concluindo: “Amai pois o estrangeiro, porque fostes estrangeiro na terra do Egito”. Entretanto, ainda em Deut. 20:16, orientando a forma como seu povo deveria invadir e exterminar seis nações para apossar-se de suas terras, Jeová manda matar tudo que tenha fôlego.

Em 1o Samuel 28:17/19, o espírito de Samuel, por intermédio da médium de Em-Dor, diz a Saul que Jeová o castigaria, a ele e a seus filhos, com a morte, e entregaria o povo de Israel nas mãos dos filisteus (o que aconteceu de fato), por ter ele desobedecido a ordem que o Senhor, no furor da sua ira, lhe dera contra Amaleque: Saul teria de matar tudo que tivesse fôlego, inclusive os bebês e até mesmo os animais. A desobediência estava no fato dele ter deixado de matar alguns animais que pretendia oferecer em holocausto a Jeová.

Como poderia ser analisada tal atitude da parte de Jeová?

Num momento de furor manda matar tudo e, porque Saul deixa com vida alguns animais para oferecer-lhe como holocausto, castiga-o com a morte, e não só a ele, mas a toda a sua família, entregando ainda o povo de Israel nas mãos dos filisteus.

E em Num. 31:17/18, Moisés, que comandava o povo sob orientação direta de Jeová, enfureceu-se com os oficiais do Exército porque, ao invadirem as terras dos midianitas, mataram apenas os homens, deixando vivas as mulheres e as crianças. Ordenou-lhes então que matassem todos os meninos e as mulheres, poupando apenas as virgens, para que servissem de diversão aos soldados.

Além das contradições encontradas nesses textos, podemos também observar, estarrecidos, até onde chegaram a injustiça, o machismo e a crueldade patentes nas orientações dadas por Jeová a Moisés.

E esses casos estão ao longo de vários livros do Antigo Testamento, como, por exemplo, em Jos.11:20, quando Israel invadia outros países, para tomar-lhes as terras: “Porque do Senhor vinha que seus corações se endurecessem para saírem à guerra contra Israel, a fim de que fossem totalmente destruídos e não lograssem piedade alguma, antes fossem de todo destruídos, como o Senhor tinha ordenado a Moisés”. E é bom lembrar que aqueles povos invadidos por Israel iam à guerra apenas para defenderem suas famílias, suas vidas, seus bens, seus países.

5 – Outra contradição entre o Velho e o Novo Testamento: “Deus nunca foi visto por ninguém” (João 1:18) e “Ninguém jamais viu a Deus” (1a João 4:12); o que foi confirmado por Paulo: “aquele a quem nenhum dos homens viu nem pode ver” (1a Timóteo 6:16), e pelo próprio Jesus: “não que algum homem tenha visto o Pai” (João 6:46).

Mas lemos no Velho Testamento: “Eu apareci a Abraão, Isaac e Jacó” (Ex. 6:3). Lemos também que Moisés, Arão, Nadib e Abiu e mais 70 anciãos viram Deus (Ex. 24:9-11). Além disso “Deus falava a Moisés face a face, como qualquer homem fala a seu amigo” (Ex. 33:11), e em Num. 12:18, afirma: “Eu falo com Moisés boca a boca e ele vê a forma do Senhor”, e ainda, em 1a Reis 11:9, “Deus, por duas vezes apareceu a Salomão”.

6 – Como entender que Moisés, ao descer do monte com as tábuas da Lei, de cujos mandamentos, um dizia: “Não matarás”, tivesse ordenado à tribo de Levi: “Assim diz o Senhor, o Deus de Israel: cada um cinja a espada sobre o lado; passai e tornai a passar pelo arraial de porta em porta, e mate cada um a seu irmão, cada um a seu amigo, e cada um a seu vizinho”.

Naquele dia (Êxodo 32:28) foram executadas, por seus irmãos da tribo de Levi, mais de três mil pessoas do povo de Israel. E o mais terrível é que em seguida Deus abençoou os assassinos por haverem obedecido àquela ordem tão monstruosa, quanto atroz.

7 – Em Deut. 24:16 Deus afirmou: “Os pais não morrerão pelos filhos e nem os filhos pelos pais, mas cada qual morrerá pelo seu pecado”. Mas, em 2o Samuel cap. 21:1/14, vamos encontrá-lo tão enfurecido contra o ex-rei Saul, a ponto de assolar seu povo com uma fome de três anos, só se aplacando sua ira quando Davi mandou executar, em oferta ao Senhor, sete netos de Saul.

Neste caso, além da contradição, há ainda uma demonstração de furor da parte de Jeová e o sacrifício de seres humanos, em sua intenção, o que lhe aplacou a ira.

Certamente não é essa a imagem que se deve fazer do Criador do universo e da vida, que, se não fosse justo e perfeito em tudo, sua obra seria o caos.

Mas também alguns líderes da nação israelita (considerada pelo Senhor como o povo santo) praticavam feitos desonrosos, pecaminosos e injustos (endossados e apoiados por Jeová) que o Antigo Testamento narra com a maior simplicidade.

Em Gen. 12:10/20, vamos encontrar Abraão, no Egito, enganando o Faraó, dizendo que Sara era sua irmã e não sua mulher. Com isso o Faraó tomou-a para si, recompensando Abraão com muitos bens. E por causa desta perfídia de Abraão, Jeová castigou o inocente Faraó e toda a sua casa com terríveis pragas.

Além disso, o patriarca da nação israelita era incestuoso, porque em Gen. 20:12 confessa que Sara, sua mulher, era também sua irmã por parte de pai, e ainda aceitou presentes riquíssimos que lhe foram dados pelo rei Abimeleque que se havia encantado pela beleza de Sara.

Na verdade, não há o que argumentar, ante o exposto, que, aliás, é uma mínima parcela das contradições que encontramos no corpo da Bíblia e, se há contradições, o bom senso nos diz que não se pode erguê-la como bandeira ou roteiro, muito menos como palavra de Deus. Isto sem falar nas inúmeras barbaridades cometidas por ordem de Jeová, como vimos em vários dos itens apresentados.

Mais adiante expomos algumas hipóteses que explicariam tantas divergências e enfoques contraditórios ao longo do corpo da Bíblia.
Mas há mais, muito mais...

Aquele Deus revelado por Jesus, e que a razão nos diz extrapolar toda a nossa capacidade de entendimento em sabedoria, justiça, amor e poder, não poderia jamais estar sujeito às paixões humanas. No entanto, o escritor e estudioso da Bíblia, Jaime Andrade, contou mais de 60 acessos de cólera atribuídos a Jeová, entre os livros Êxodo e 2o Reis.

A Bíblia, em vários momentos, nos ensina que Deus é justo e a razão assegura que Ele só pode ser perfeito em tudo o que faz, senão, tudo seria o caos. Mas, apesar disso, ao longo dos textos bíblicos a injustiça que lhe é atribuída fere até mesmo as almas mais rudes, como naquele episódio no Egito, em que Jeová endureceu o coração do Faraó para que não libertasse os israelitas e pudesse assim ter um pretexto para massacrar aquele povo inocente com 10 terríveis pragas, inclusive com a morte de todos os primogênitos (até mesmo dos animais) quando “nenhuma casa houve que não tivesse um morto” (Ex. 12:30).

Talvez aquele tipo de procedimento fosse até adequado àqueles povos rudes e primitivos... Mas acha que Deus seria capaz de ordenar tais atrocidades?

Fica, assim, suficientemente claro que o Jeová do Antigo Testamento tinha profundas afinidades e semelhanças com o povo israelita, apresentando, inclusive, os mesmos defeitos, paixões, ambições e idiossincrasias. Tanto isto é verdadeiro que, dentre todos os povos da Terra só cuidou, protegeu e comandou aquela raça, não com a sabedoria, justiça e amor do Criador de todas as coisas, mas com as características que poderia ter o chefe de uma nação, no comando do seu povo. Aliás, um dos títulos que lhe foram conferidos no Antigo Testamento é “Senhor dos Exércitos”.

Lemos em Gênesis 1:31 que Deus, depois da criação, foi examinar se tudo estava perfeito (o Criador do universo e da vida, inteligência suprema, jamais faria algo imperfeito);

Em Gen. 6:6, vamos encontrá-lo arrependido por ter criado o homem .

Será que Deus, a infinita perfeição, poderia arrepender-se de ter feito algo, como se não soubesse bem o que fazer e acabasse errando em seus atos?

Aliás, os arrependimentos de Jeová, estão ao longo da história bíblica, como, por exemplo, em Ex. 32:14, por haver ameaçado o povo de Israel; em 1o Sam. 15:11 e 35, por haver feito rei a Saul; em 2o Sam., por ter dizimado 70 mil pessoas do seu povo; em Jonas 3:10, arrependeu-se do mal que prometera fazer a Nínive, etc.

Entretanto, em 1o Samuel 15:29, este diz, referindo-se a Deus: “Também a Glória de Israel não mente nem se arrepende; porquanto não é homem para que se arrependa”.

Na verdade,tais feitos e tal mentalidade, conforme a que foi mostrada até aqui, são até compreensíveis e compatíveis com uma época como aquela, em que a barbárie predominava, mas jamais poderiam originar-se de Deus, inteligência suprema, causa primária de todas as coisas, perfeito em todos os seus atributos.

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Nossa humanidade pode ser comparada a uma criança. Quando pequena, os pais lhe ensinam várias regras de conduta: não pode bater no irmãozinho, não deve tirar nada dos outros, não deve quebrar as coisas, nem botar o dedo na tomada; não deve dizer nomes feios etc. Se não obedece, os pais a castigam, a fim de corrigi-la.

Ao crescer mais um pouco já começa a seguir aquelas regras para fugir aos castigos, ou para agradar aos pais; por amor a eles.

Ao se aproximar da idade adulta, porém, já passa a guiar-se pelas leis comuns, não mais por temer castigos ou para agradar aos pais, mas por compreender que esse é o seu dever; que as leis existem para resguardar seus próprios direitos e preservar os alheios.

Também na infância da humanidade vários líderes espirituais, sob inspiração divina, criaram religiões com suas leis e preceitos, cada qual adequada à sua época e ao tipo psicológico da raça.

O mesmo ocorreu com o povo israelita, cujo grande líder, Moisés, recebeu no monte Sinai os Dez Mandamentos e criou uma série de leis complementares, muito severas, próprias para educar aquele povo orgulhoso e indisciplinado.

Assim, com medo dos castigos divinos, os israelitas cuidavam de obedecer às leis e, dessa forma, iam acostumando-se à idéia de que não deviam matar nem roubar; que deviam respeitar as coisas sagradas, adorando apenas a um Deus; que precisavam respeitar e honrar a seus pais, não deviam mentir, nem prejudicar o próximo, e assim por diante.

Quando aquele povo já havia assimilado as idéias de justiça e disciplina veio Jesus, trazendo a lei do AMOR. E para que sua mensagem pudesse abrir caminho em meio à mentalidade vigente, iniciando uma nova era para a humanidade, sua passagem pela Terra foi marcada por fatos incomuns, culminando em seu sacrifício na cruz.

Esse sacrifício não teve o significado que lhe deram, o de resgatar com o seu sangue os pecados do mundo. Isto não faz sentido, mesmo porque, sendo Deus onipotente, o máximo poder do universo, autor das leis universais, poderia Ele simplesmente perdoar os pecados do ser humano, sem necessidade de sacrificar alguém, muito menos um inocente. Aliás, essa idéia de sacrificar alguém em nosso lugar é muito cômoda e injusta, partida do egoísmo e hipocrisia humanos.

Mas hoje, com a humanidade entrando numa fase que poderia ser comparada à sua adolescência espiritual, já começam a surgir novos conceitos em termos de religiosidade. Conceitos esses que vigoram como normas de conduta, praticadas livremente pela criatura, mediante sua conscientização como ser cósmico que é, necessitado de conduzir-se dentro de uma ética de vida superior.

São muitos os que já começam a entender que se pode buscar a verdade por vários caminhos; que não há uma religião verdadeira, mas inúmeras facetas da verdade representadas por religiões, e que elas devem caminhar de mãos dadas, trabalhando intensamente para que o homem melhore sua conduta, seus sentimentos, tornando assim o mundo melhor.

Mas, voltando à Bíblia, podemos observar que muitas das suas passagens espelham realmente orientações superiores, reflexos das leis de Deus, como por exemplo, nos dez mandamentos e em outros textos, tipo: “Misericórdia quero, e não sacrifícios”. Há também profunda beleza e elevados sentimentos de religiosidade ao longo de incontáveis dos seus textos, assim como também conselhos e provérbios da mais elevada sabedoria.

Já em outros momentos fica patente a influência de espíritos identificados com o povo israelita, ou seja, seus Guias ou Mentores.

Os 5 primeiros livros da Bíblia (Pentateuco), além de narrarem a gênese da Terra e da vida que nela há, conforme entendimento de seu autor, historiam a saga do povo israelita até chegar às portas de Canaã, a terra prometida, e contém as leis ditadas por Moisés, além dos 10 mandamentos que recebeu no Monte Sinai.

Os outros livros como Josué, Juízes, Samuel, Reis, Crônicas etc., são também históricos, narrando detalhadamente a história da raça ao longo das gerações, contendo também orientações dadas por Jeová, através dos profetas. O livro de Jô conta seu drama, suas lamentações e ilações filosóficas, podendo-se observar que ele acreditava na reencarnação, através de afirmações e indagações que fazia:

“Pergunta às gerações passadas e examina as memórias de nossos pais; pois somos de ontem e o ignoramos” (Jó 8:8 e 9).

“Morrendo um homem tornará a viver?” (Jó 14:14)

“Quantas vezes se apagará a luzerna dos ímpios e lhes sobrevirá a destruição?” (Jô 21:17). Essa luzerna refere-se à vida. As idéias sobre reencarnação, que são muito antigas, diziam que os maus teriam de reencarnar tantas vezes quantas fossem necessárias para tornarem-se bons ou puros.

O livro dos Salmos traz os cânticos de Davi, retratando a glória de Deus, sua justiça e a beleza da sua obra, além de lamentos e petições.

O livro dos Provérbios é do rei Salomão, assim como os Cantares que refletem o amor entre marido e mulher.

Depois vêm os profetas com suas exortações, visões, narrativas e sentenças.

Para os judeus, certamente o Antigo Testamento deve ser um livro sagrado, por conter toda a sua história e as bases de sua vida religiosa.

Mas para nós que somos de outras raças e além do mais, nesta época, como poderíamos entendê-lo?

Pelas citações feitas até agora, que representam uma ínfima parcela das incongruências e absurdos encontrados no Antigo Testamento, podemos levantar algumas hipóteses:

certamente Moisés, visando infundir respeito naquele povo rude e orgulhoso, atribuía à divindade todos aqueles rompantes de ira, ameaças e ordens cruéis de que o Antigo Testamento está repleto, assim como, também, de tantas outras leis e orientações, como as dos holocaustos, oferendas etc.;
é bem provável que os seres espirituais responsáveis pela evolução do povo israelita se fizessem representar por Jeová, uma deidade tribal, talvez até mais de uma, como se pode inferir pela leitura de Gen. 3:22: “Eis que o homem é como um de nós, sabendo o bem e o mal”;
o Protetor da nação israelita seria uma entidade mais ou menos identificada com a índole guerreira da raça, pois cada homem e cada povo tem um Guia espiritual compatível com seu próprio grau evolutivo; talvez fosse algum dos seus antepassados, dotado da autoridade necessária para impor-se e dominar.

Esta hipótese é confirmada em 2o Samuel 7:6, quando Jeová disse que habitava no tabernáculo, ou “de tenda em tenda” (1o Crôn. 17:5); em Números os capítulos 28 e 29 são dedicados às ofertas contínuas e às das festas solenes, ofertas essas constituídas de sacrifícios de bodes, cordeiros, novilhos, carneiros, além de manjares e bebidas alcoólicas. Em onze dessas orientações, quando se trata dos sacrifícios dos animais, há a referência ao aroma agradável ao Senhor, como no cap. 28, vers. 27: “Então oferecereis ao Senhor por holocausto, em aroma agradável, dois novilhos, um carneiro e sete cordeiros de um ano”.

Também havia bebidas alcoólicas, conforme se lê no cap. 28, vers. 7: “A sua libação será a quarta parte de um him para um cordeiro; no santuário oferecerás a libação de bebida forte ao Senhor”. No Dicionário Aurélio se lê: “Libação: 1. Ato de libar. 2. Entre os pagãos, ritual religioso que consistia em derramar um líquido de origem orgânica (vinho, leite, óleo etc.) como oferenda a qualquer divindade. 3. Ato de libar ou beber, mais por prazer que por necessidade.”

Pense um pouco no absurdo dessa idéia: o Criador e mantenedor do universo e da vida, habitando nas tendas dos judeus e recebendo prazerosamente oferendas de álcool e sangue?

Esse tipo de procedimento pode ser encontrado, hoje, embora em mínimas proporções, nos terreiros que praticam rituais com bebidas alcoólicas e sacrifício de animais. Esses rituais geralmente são destinados a fazer o mal a alguém, ou a desmanchar um mal que já fora feito em formato semelhante.

E muitos perguntam: como pode um espírito beneficiar-se com esse tipo de coisas?

Muitos espíritos menos evoluídos, cujos corpos espirituais são mais adensados, por sua maior proximidade com a matéria física, procuram nutrir-se com energias animalizadas, a fim de poderem dar continuidade às sensações materiais, como se ainda tivessem o corpo carnal. E eles sugam as energias do sangue que é derramado em sua intenção, assim como de outros elementos que lhes são oferecidos, encontrando nisso grande prazer.

Vemos assim, claramente, que a Bíblia realmente não pode ser a palavra de Deus, sagrada, intocável, inquestionável.

Esse enfoque de sacralidade, no entanto, tem sido usado ao longo dos séculos como recurso para alienar consciências, manietando-as aos ditames das religiões.

Por quê?

1 - Muitos acreditam honestamente nessa sacralidade;

2 - Há interesses em jogo;

Toda uma árvore hierárquica de membros atuantes tem nas religiões o seu meio de vida;
Há a busca do poder religioso, o mais extraordinário instrumento de domínio porque se apodera das consciências, do psiquismo das pessoas, invadindo-as pelos seus pontos mais fracos: o medo e as promessas de felicidade e até mesmo de bens materiais;
Há ainda a ganância, com a possibilidade de enriquecimento para muitos dos seus líderes.

As religiões prendem. A religiosidade liberta.

Mas é muito difícil libertar-se de condicionamentos milenares, por mais incoerentes que sejam.

Por isso estamos abordando estas questões com a coragem necessária, deixando cristalinamente claro que já é hora de se colocar cada coisa em seu devido lugar; despir a Bíblia dos véus de santidade e passar a vê-la em seus valores reais, aceitando o muito que tem de bom e ignorando o que esteja ultrapassado ou não sirva como alavanca para o nosso crescimento espiritual.

Nesse contexto e como resultado da mentalidade religiosa cristã em vigor, vamos encontrar o combate que muitos fazem ao Espiritismo, apegando-se a algumas passagens bíblicas, como é o caso de Deut. 18:10, em que se proíbe a consulta aos mortos.

Na verdade, os espíritas não consultam os mortos, mas realizam intercâmbio com espíritos, não para consultá-los mas para ajudar sofredores, tentar aplacar o ódio ou a sanha dos perseguidores e receber orientações e/ou mensagens dos espíritos superiores. Lembramos, a propósito, que o próprio Jesus conversou com os “mortos” Moisés e Elias, no episódio da transfiguração (Mateus 17:3).

Ainda, com relação à ordem de Moisés proibindo a consulta aos mortos, que diria se lhe apresentassem agora uma lei proibindo, sob pena de morte, pregar a independência do Brasil? Veria logo que ela teria sido promulgada no tempo em que o Brasil era colônia de Portugal. Seria ridículo alguém tentar cumpri-la, hoje. O mesmo ocorre com a maior parte das leis bíblicas.

Também é o caso de se perguntar: por que consideram apenas aquela proibição e não todas as demais? Dentre as centenas de determinações de Moisés, selecionaram apenas uma para servir de bandeira ao seu combate.

Os que pugnam pelo cumprimento dessa lei que proíbe consultar os “mortos”, teriam de cumprir também todas as demais, dentre as quais destacamos:

Quem não for circuncidado, será morto (Gen. 17:14).
Quem fizer qualquer trabalho no dia de sábado, será morto (Ex. 31:15).
O filho desobediente morrerá apedrejado (Deut. 21:18,21).
Quem se chegar a mulher casada, ambos morrerão (Deut. 22:22).
Mulher que se casa sem ser virgem, morrerá apedrejada (Deut. 22:20/21).

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O conhecimento espírita foi trazido por uma plêiade de espíritos superiores, sob orientação do Espírito da Verdade, aquele mesmo que foi prometido por Jesus, quando disse, em João 16:12: “Tenho ainda muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora, mas quando vier o Espírito da Verdade, ele vos guiará a toda a verdade”, e em João 14:26, complementa: “... Ele vos ensinará todas as cousas e vos fará lembrar de tudo que vos tenho dito”.

Que coisas eram aquelas que Jesus deixara de ensinar, porque “não poderiam suportar”?

É claro que naquela época Ele não poderia dar explicações mais diretas e claras sobre reencarnação, lei de causa e efeito, vida após a morte etc., porque não O entenderiam, mas prometeu enviar o Espírito da Verdade, no devido tempo, para dizer toda a verdade e relembrar ao mundo os seus ensinamentos

Dizem algumas religiões cristãs que o Consolador, o Espírito da Verdade, teria vindo no Pentecostes. Mas no Pentecostes não se justificava alguém vir dizer toda a verdade, posto que Jesus já havia dito tudo o que a humanidade daqueles tempos poderia suportar, conforme Ele próprio afirmou. Além disso, naquele episódio não houve qualquer revelação. Também não havia motivos para alguém vir relembrar os ensinamentos do Mestre, porque estes estavam ainda muito vivos nas mentes e corações dos seus seguidores.

Mas no século XIX esses ensinamentos já estavam muito esquecidos pelos cristãos quando o Espírito da Verdade veio, através da mediunidade, relembrá-los, trazendo ainda todas aquelas informações e explicações que Jesus não pudera dar naquela época, quando não poderiam entendê-Lo. Agora, porém, em outros níveis de conhecimento e depois de tantos séculos de cristianismo a humanidade já estava madura para receber mais esclarecimentos sobre a vida, os mecanismos da evolução, o mundo espiritual, a mediunidade etc.

Também o título, Consolador, ajusta-se como luva ao Espiritismo. Há consolo maior que saber que os nossos entes queridos que morreram, não estão mortos mas vivos, continuando sua evolução numa outra dimensão de vida e que, eventualmente, poderão até mesmo comunicar-se conosco através da mediunidade? Há consolo maior do que saber que ninguém irá para o inferno sofrer pela eternidade afora; que os nossos entes mais caros, que “não aceitaram Jesus” nesta vida, não estão perdidos por causa disso? E aos que carregam terríveis pesos na consciência só pode haver consolo se informados de que poderão um dia consertar o mal que fizeram, nem que seja numa futura encarnação.

Quanto à reencarnação e à lei de causa e efeito (carma), elas explicam uma infinidade de porquês, principalmente as diferenças existentes entre as pessoas, não só em termos de sofrimentos e oportunidades, mas também de temperamento, natureza, grau de inteligência etc.

Ora, se acreditamos que Deus é sábio, todo-poderoso, justo e bom, não dá para entender porque faria uns nascerem com boa índole, sentimentos de religiosidade, conduta firmada na ética etc., sendo candidatos naturais ao Céu, e outros com má índole, desonestos, agressivos, perversos... perfeitos candidatos ao Inferno.

Impossível entender como alguém justo e bom, possa criar seres imperfeitos, com tendências negativas, inclinações para o mal, para depois atirá-los a sofrimentos eternos; arrancar dos braços das mães seus filhos pecadores para lançá-los no Inferno. Como essas mães iriam sentir-se no céu, sabendo que aqueles a quem mais amam estão nos mais tenebrosos sofrimentos, sem direito sequer a uma nova chance... e tudo isto pela eternidade a fora? Se um pai terreno jamais faria tão inconcebível atrocidade, como se pode imaginar que Deus o fizesse?

Também é inconcebível acreditar que um Deus justo e bom pudesse criar seres, fazendo-os nascerem, uns em condições míseras, limitados pela cegueira, surdez, paralisias, deformações as mais diversas e outras tantas causas de sofrimentos atrozes, enquanto outros nascem com saúde perfeita e em situações em tudo benéficas e favoráveis.

Na verdade, sem a chave da reencarnação, nenhum arranjo teológico será jamais capaz de explicar satisfatoriamente tantas diferenças no trato do Criador com suas criaturas.

Mas o conhecimento da reencarnação nos permite entender que somos hoje o resultado do que fizemos em vidas passadas; que Deus não nos castiga por nossos erros, mas os mecanismos das suas leis nos levam, através de situações adequadas, ao resgate das nossas culpas e aos aprendizados de que estamos precisando.

É bom lembrar também que nossa consciência tem as leis divinas impressas em seus registros, e é por isso que o ser humano traz em sua intimidade o conhecimento do bem e do mal. Sendo assim, nenhum tipo de perdão poderá acalmar uma consciência pesada. Só mesmo o resgate poderá aliviá-la.

Uma consciência culpada, mesmo que essa culpa esteja arquivada no inconsciente, quando o fato gerador ocorreu em alguma vida passada, atua como um núcleo de energismo específico que atrai situações de resgate. Então podemos entender porque tantas pessoas são portadoras dos mais diversos problemas e sofrimentos, em muitos casos, desde o nascimento. Podemos igualmente entender as questões afetivas, assim como, também, os casos de ojerizas e ódios gratuitos entre pessoas próximas, até mesmo entre pais e filhos. São espíritos endividados uns com os outros, em reencarnações de reajuste. E mesmo que não se lembrem desses porquês, eles estão presentes em seus inconscientes, muitas vezes como fatores meramente intuitivos.

E quanto às diferenças entre os seres, cada qual está vivenciando a realidade das suas necessidades de resgate, ou apenas de crescimento interior.

Assim, podemos amar Deus pela grandiosidade da sua sabedoria, a justiça com que rege a vida, e o amor cuja presença podemos sentir vibrando, desde a intimidade dos nossos corações, até a vida animal, e até mesmo a vegetal.

Mas a reencarnação e a lei de causa e efeito também estão na Bíblia. Jesus deixou isto muito claro, em várias ocasiões:

No episódio da transfiguração, depois que conversou com Moisés e Elias na presença de Pedro, Tiago e João, estes lhe perguntaram: “Por que dizem os escribas ser necessário que Elias venha primeiro?”. Ao que respondeu dizendo que Elias já viera, mas não o reconheceram. Então os discípulos entenderam que Ele falava de João Batista. Claro, Elias reencarnara como João Batista, cumprira sua missão e retornara ao mundo Espiritual, apresentando-se naquela ocasião em sua antiga forma, quando fora profeta do Antigo Testamento.

“Se puderdes compreender, ele mesmo (João Batista) é Elias que devia vir (Mat.11:14)”. Está claríssimo, João Batista era Elias reencarnado, o que ficou confirmado também em outros textos:

“Mas eu vos declaro que Elias já veio e fizeram-lhe tudo o que quiseram. Então compreenderam os discípulos que era de João Batista que lhes falava” (Mat. 17: 12 e 13).

“E Jesus perguntou aos seus discípulos: Quem dizem os homens que eu sou? E responderam: uns, João Batista; outros, Elias; outros, Jeremias ou algum dos profetas” (Mat. 16:13 e 14).

Como poderia ser Jesus algum desses profetas do Antigo Testamento, a não ser pela reencarnação?

Já com Nicodemus, doutor da lei, o Mestre foi mais explícito:

“O que é nascido da carne, é carne; o que é nascido do espírito é espírito; não te admires de eu dizer: “Necessário vos é nascer de novo” (João 3:6).

Conforme Jaime Andrade, em seu livro O Espiritismo e as Igrejas Reformadas, também alguns “Pais da Igreja” acreditavam na reencarnação:

São Gerônimo afirmou que a “doutrina das transmigrações (reencarnações) era ensinada secretamente a um pequeno número, desde os tempos antigos, como uma verdade tradicional que não devia ser divulgada (Hyeron, Epístola ad Demeter).

Santo Agostinho escreveu: “Não teria eu vivido em outro corpo, ou em outra parte qualquer, antes de entrar para o ventre de minha mãe?” (Confissões, I, cap. VI).

Orígenes chegou a tecer judiciosas considerações sobre certos trechos da Escritura, que “atirariam o descrédito sobre a Justiça Divina, se não fossem justificadas pelos atos bons ou maus praticados em existências passadas”.

Também as pesquisas científicas sobre reencarnação têm avançado muito, deixando esses pesquisadores plenamente convencidos de que é ela, uma lei natural.

Poderíamos apresentar ainda centenas de argumentos dos mais fortes, para legitimar o conhecimento espírita, o que não caberia num trabalho como este. Mas podemos afirmar que essa Doutrina, mediante as informações sobre reencarnação e lei de causa e efeito, nos possibilita perder o temor a Deus, passando a amá-Lo conforme exortações de Jesus.

Assim, se pensarmos a questão religiosa com mais liberdade mental, sem preconceitos, podemos concluir que o futuro das religiões deverá estar na religiosidade e não nos formatos religiosos, mesmo porque está muito claro que não existe uma religião certa, verdadeira ou legítima, porque nas centenas de religiões existentes há sinceridade, há verdade, há Deus, mas com interpretações distintas. Não se pode então dizer que tal ou qual é a verdadeira. Todas representam parcelas da verdade e são de procedência divina, desde que sua meta seja a busca do divino e com ela, o crescimento interior do ser.

Essa diversidade de religiões é perfeitamente natural, porque atende a todos os gostos e a todos os tipos psicológicos.

A humanidade vai ganhar muito quando entender que a verdade está um pouco com todos e de forma plena, com ninguém, a não ser com o Criador.

Quanto ao Espiritismo, sem ser propriamente uma religião, tem as seguintes características:

representa um leque de informações e esclarecimentos que convergem para a religiosidade, já que, pelo conhecimento das leis naturais, indica Deus como a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas, e o que se possa entender como sendo a perfeição absoluta em todos os seus aspectos;

tem como modelo, Jesus, e suas atividades são inteiramente gratuitas e direcionadas exclusivamente ao Bem;
pugna pela ética e pelo amor posto em ação, ao entender que nesses valores estão os fundamentos da própria Vida e a ciência do bem-viver;

ensina que não estamos precisando nos salvar, porque ninguém está perdido, mas sim, evoluir, conforme o Mestre exortou: “Sede perfeitos como perfeito é o vosso Pai Celestial”, lembrando que essa perfeição será alcançada através das lutas, dores e alegrias, em incontáveis experiências ao longo das reencarnações;

informa que a pátria espiritual, para a qual retornamos pelas portas da morte, representa um universo em outra dimensão de vida, tão vivo e tão dinâmico quanto o mundo físico; que ali há zonas inferiores, de muitos sofrimentos, habitadas pelos espíritos mais atrasados ou mais endividados com as leis cósmicas; outras intermediárias e ainda outras mais elevadas, verdadeiros paraísos de paz e felicidade; que a estadia dos espíritos em zonas inferiores tem conotação purgativa, podendo os mesmos serem de lá resgatados, em função de arrependimento sincero, ou para retornarem à matéria em nova encarnação, e que ali também habitam espíritos francamente votados ao mal, seres endurecidos e perversos, mas que esses também, um dia, arrependidos, poderão retomar sua caminhada evolutiva, em direção à Luz;
é o Consolador prometido por Jesus, mostrando que nossos entes queridos não se extinguiram com a morte mas passaram para outra dimensão de vida e que podem, eventualmente, comunicar-se conosco através da mediunidade;
estuda e conhece a mediunidade, aplicando-a na ajuda a espíritos sofredores, a pessoas necessitadas e para receber orientações e esclarecimentos dos espíritos benfeitores;
não usa rituais, paramentos, nem materiais como velas, defumadores, imagens... por entender que o caminho para a Luz está em nossa vivência e não em atos exteriores;

não adota práticas divinatórias como “baralho”, “jogo de búzios” e assemelhados, informando que os espíritos superiores não se prestam a solucionar problemas do cotidiano, posto que não são nossos empregados nem babás, mas sábios educadores trabalhando pela nossa evolução;

também não realiza “trabalhos” como “desmanchas”, “abertura de caminhos” etc., mas ensina que a vivência no bem nos livra de inúmeros males;
foi codificado por Allan Kardec na metade do século passado, através de perguntas respondidas por espíritos superiores, e essas informações continuam sendo pesquisadas por inúmeras universidades, estudiosos e cientistas, assim como profissionais da saúde em vários pontos do planeta, que as vêm confirmando uma a uma.

Jesus ensinou o código de conduta adequada a toda a humanidade, e a Doutrina Espírita esclarece quanto aos mecanismos da vida e da evolução. É a ciência espiritual que se entrelaça com a material, tanto que, até hoje esta última, apesar de pesquisá-la, testá-la e experimentá-la há mais de um século, jamais conseguiu desmentir uma só das suas teses.

Não há hierarquias no Espiritismo. Para que haver intermediários entre a criatura e o Criador, intermediários esses tão imperfeitos quanto os demais seres humanos? Nos seus ensinos Jesus sempre colocou cada qual como o único responsável por si mesmo, não por graças de qualquer natureza, mas tão-somente pelas atitudes, omissões e ações vivenciadas no cotidiano. Observe-se que Ele nem mesmo criou qualquer religião, mas ensinou uma ética de vida e colocou a fraternidade, o amor posto em ação, como caminho único que leva o ser de retorno ao seio do Pai.

O Espiritismo é a doutrina da lógica e do bom senso, e através dos seus enfoques podemos verdadeiramente amar Deus, jamais temê-lo

Se você teme ou odeia o Espiritismo por causa das interpretações bíblicas que lhe foram inoculadas na mente, volte a ler a Bíblia sem preconceitos, sem medo de estar ofendendo Deus com suas dúvidas e questionamentos, pois Ele não se ofende com os nossos erros, muito menos com nossos esforços de crescimento.

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