sexta-feira, 14 de agosto de 2009

O Espiritismo como Instrumento de Evolução em Tempos de Transição

“Naquele 18 de abril de 1857, com o Livro dos Espíritos, raiou a madrugada de uma Era Nova.”Bezerra de Menezes
“Se me amais, guardai os meus mandamentos, e eu rogarei a meu Pai, e Ele vos enviará outro consolador, para que fique eternamente convosco, o Espírito da Verdade, a quem o mundo não pode receber, porque não o vê, nem o conhece. Mas vós o conhecereis, porque ele ficará convosco e ficará entre vós. Mas o Consolador que é o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar tudo o que tenho dito.”(João, XIV: 15 a 17: 26)
Após a estada do Cristo entre nós, seguiu o homem a sua jornada de Espírito em evolução, disseminando dentro dos seus próprios critérios e pontos de vista e dentro da sua capacidade de compreensão, as lições deixadas por Jesus, fundando religiões, seitas e igrejas em seu nome. Cada uma a seu modo, justificando a vida e predestinando o homem a um juízo final, o qualificando para a felicidade ou para as penas eternas, em função da aceitação e cumprimento dos seus dogmas e rituais, ou da negação destes.
No séc. XIX, a civilização humana, especialmente na Europa, passa por um período de grande avanço em todos os aspectos – político-econômico, industrial-tecnológico, sócio-cultural e filosófico, e passa o homem deste século a questionar os dogmas religiosos que lhe eram impostos até então. Começa a buscar na ciência e na razão as respostas dos seus questionamentos mais íntimos. Esta fase da humanidade passa para a história como o Século das Luzes, ou ainda o Século da Razão.
É em meio a este contexto histórico que o Consolador prometido por Jesus é apresentado ao homem.
Inaugura-se para o homem a “madrugada da Era Nova” onde recebemos os princípios de uma doutrina que nos fala sobre:• A imortalidade da alma;• A natureza dos Espíritos e suas relações com os homens;• As leis morais;• A vida presente;• A vida futura;• O porvir da humanidade.
Essa doutrina nos chega completa tendo:• Aspecto religioso – nos liga a Deus – Inteligência suprema, causa primária de todas as coisas, Aquele que mantém a ordem do Universo através de leis que são a representação do Amor Supremo, e não um deus antropomórfico, vingativo ou punitivo;
• Aspecto Científico – pois que foi codificada metodologicamente, através de experiências que foram mostrando que o “sobrenatural é apenas o natural ainda não conhecido, provisoriamente não explicado”;
• Aspecto Filosófico – sem querer criar uma nova escola filosófica (no dizer de Kardec) mas respondendo a questionamentos íntimos do homem no que diz respeito a sua origem, sua natureza e destinação.
Questionado sobre qual dos três aspectos é o maior, Emmanuel responde: “Podemos tomar o espiritismo simbolizado deste modo, como um triangulo de forças espirituais. A ciência e a filosofia vinculam a Terra essa figura simbólica, porém a religião é o ângulo divino que a liga ao céu. No seu aspecto científico e filosófico, a doutrina será sempre um campo nobre de investigações humanas, como outros movimentos coletivos de natureza intelectual, que visam o aperfeiçoamento da humanidade. No espaço religioso todavia, repousa sua grandeza Divina, por constituir a restauração do Evangelho de Jesus Cristo, estabelecendo a renovação íntima do homem, para a grandeza do seu imenso futuro espiritual.”
***
No seu livro Libertação pelo Amor, Joanna de Angelis nos diz textualmente:“A Terra, generosa mãe, experimenta o clímax de sua transição de mundo de expiações e provas para mundo de regeneração.”
E no livro Jesus e Vida a autora espiritual nos afirma:“A melhor maneira de compartilhar conscientemente da grande transição é através da consciência de responsabilidade pessoal, realizando mudanças íntimas que se tornem próprias para a harmonia do conjunto.”
Então vemos que o homem precisa buscar a sua própria transformação, buscando harmonizar-se com a natureza e com o próximo para auxiliar e participar do processo de transição planetário.
Como a Doutrina Espírita pode auxiliar nesse processo?No cap. VI do E.S.E. o Espírito da Verdade nos recomenda: “Instruí-vos na preciosa doutrina que dissipa o erro das revoltas e vos ensina o objetivo sublime da prova humana.”
Ensina-nos o espiritismo que somos espíritos imortais, jornadeando por diversas encarnações, num processo evolutivo que nos traz da simplicidade e da ignorância e que nos levará a angelitude – condição de espíritos puros. Ensina-nos ainda que esse processo evolutivo é individual, mas que é fruto de nossas ações na nossa vida de relação.
Muitos hão de estranhar que o espiritismo não nos indique regras e diretrizes comportamentais rígidas, no dizer do Apóstolo Paulo:“Tudo me é lícito, mas nem tudo me convém.”
A compreensão do que nos convém ou não, faz parte do amadurecimento espiritual do ser, do aprendizado que vamos adquirindo com o resultado das nossas experiências vividas, onde construímos ou reformulamos nossos conceitos éticos que harmonizando-se com as leis divinas nos aproximam de Deus, levando-nos à nossa destinação mais rapidamente e com menos sofrimento ou se não harmonizam-se com as leis divinas, nos levam a experiências com resultados infelizes e dolorosos, soando como um alarme avisando que nos afastamos do caminho do Amor.
Conforme nos coloca Joanna de Angelis, é tempo de buscar a ESPIRITIZAÇÃO.
Espiritizar é buscar a interiorização do conhecimento espírita e a utilização desse conhecimento na nossa vida de relação.
A primeira lição que devemos aprender é que não basta identificarmos nossas imperfeições, mas que precisamos utilizar o conhecimento que adquirimos nos livros e mensagens que lemos, nas palestras e conferências que assistimos, nos estudos que participamos e nas informações que nos são trazidas pelos espíritos, para a nossa transformação moral, nossa reforma íntima. Principalmente que devemos utilizar todo esse conhecimento antes para nós mesmos que para os outros.
Perceber antes que seja tarde, a responsabilidade que já temos por termos a felicidade de conhecer um instrumento tão eficaz, tão esclarecedor e tão rico de informações, que tanto nos favorece.
Hoje em dia, os espíritas formam um grupo social de pressão, o conhecimento proporcionado pela Doutrina dos Espíritos esclarece de tal modo o porquê da vida, formatando um enfoque próprio e definido, que pessoas que professam outras crenças, ao observarem o comportamento de um indivíduo espírita, espera deste indivíduo um comportamento mais humanizado.
E é exatamente para isso que a doutrina espírita veio. Para instrumentalizar o homem para a sua reforma moral e auxiliá-lo nesse momento de transição, fortalecendo a sua identidade espiritual, revivendo os ensinamentos do Cristo, nos lembrando que seu Reino não é deste mundo, que estamos aqui numa curta passagem de tempo diante da eternidade que nos espera para visitarmos ainda outras moradas da casa do Pai.
Segundo Jaci Régis “Se não houver uma identificação capaz de dizer – esse é espírita, esse não é espírita – então o espiritismo não teria trazido contribuição alguma, e se diluiria, como uma seita a mais, uma forma particular de culto a fantasia religiosa.”
Não precisamos temer carregar a bandeira do espiritismo em nossas vidas, nos achando indignos dela, ou que ainda não somos capazes de vivenciar o Cristianismo Redivivo como a doutrina nos convoca a fazer. Lembremos que estamos todos em constante evolução e que a natureza não dá saltos. Temos a tendência de desejar transformações súbitas, nos esquecendo que para que uma semente germine e dê frutos é necessário primeiro limpar e arar o terreno, semear, cuidar da mudinha, cultivá-la para que possamos no tempo devido colher os seus frutos.
As sementes já nos foram ofertadas. As leis morais foram semeadas em nossa consciência desde o nosso princípio como Espíritos. Desde sempre temos a consciência de um ser supremo, criador de todas as coisas que sabemos não ser obra dos homens. Desde sempre também, nos foi plantado na consciência o conhecimento do bem e do mal. Há 2000 anos veio o Mestre Jesus plantar na Terra a árvore do seu Evangelho, e há 151 anos Kardec acolhe o Consolador prometido e planta na Terra a semente do Espiritismo para que nós, hoje, possamos nos beneficiar, alimentando nossos espíritos com um conhecimento tão sublime.
***
L. E. 918:Por que sinais se pode reconhecer num homem o progresso real que deve elevar seu espírito na hierarquia espiritual?O Espírito prova sua elevação quando todos os atos da sua vida corporal representam a prática da Lei de Deus e quando compreende antecipadamente a vida espiritual.
Tem o homem na Doutrina dos Espíritos toda instrumentalização tanto para reconhecer, relembrar, e internalizar o conhecimento da Lei de Deus, quanto para compreender antecipadamente a vida espiritual.
A Doutrina Espírita é a doutrina do livre-arbítrio, que conscientiza o homem que ele é o artífice do próprio destino, que não mais é do que o acúmulo de experiências no tempo e no espaço. Cabe ao homem da Terra a decisão de como deseja participar do processo de transição, pois a lei do progresso é inexorável e o progresso se dará “com os homens, sem os homens ou apesar dos homens”.
Abracemos o conhecimento espírita, busquemos através deste conhecimento melhor compreendermos e melhor vivenciarmos o Evangelho de Jesus que é todo Amor, e o Amor dispõe de recursos valiosos para enfrentarmos as situações penosas que agitam a Terra neste momento.
Convido a todos ao estudo da Doutrina Espírita, principalmente ao estudo das Leis Morais, parte terceira do L. E. a fim de que possamos ser agentes de transformação de nós mesmos e assim participarmos de modo consciente da grande transição que já se opera no globo terrestre nos levando a regeneração e construção do Reino do Céu, dentro e fora de nós.


Letícia Helena Silveira - O Mensageiro

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Não Perdoar

Bezerra de Menezes, já devotado à Doutrina Espírita, almoçava, certa feita, em casa de Quintino Bocaiúva, o grande republicano, e o assunto era o Espiritismo, pelo qual o distinto jornalista passara a interessar-se.
Em mio da conversa, aproxima-se um serviçal e comunica ao dono da casa:
- Doutor, o rapaz do acidente está aí com um policial.
Quintino, que fora surpreendido no gabinete de trabalho com um tiro de raspão, que, por pouco, não lhe atingiu a cabeça, estava indignado com o servidor que inadvertidamente fizera o disparo.
- Manda-o entrar – ordenou o político.
- Doutor – roga o moço preso, em lágrimas -, perdoe o meu erro! Sou pai de dois filhos... Compadeça-se! Não tinha qualquer má intenção... Se o senhor me processar, que será de mim? Sua desculpa me livrará! Prometo não mais brincar com armas de fogo! Mudarei de bairro, não incomodarei o senhor...
O notável político, cioso da própria tranqüilidade, respondeu:
- De modo algum. Mesmo que o seu ato tenha sido de mera imprudência, não ficará sem punição.
Percebendo que Bezerra se sentia mal, vendo-o assim encolerizado, considerou, à guisa de resposta indireta:
- Bezerra, eu não perdôo, definitivamente não perdôo...
Chamado nominalmente à questão, o amigo exclamou desapontado:
- Ah! você não perdoa!
Sentindo-se intimamente desaprovado, Quintino falou, irritado:
- Não perdôo erro. E você acha que estou fora do meu direito?
O Dr. Bezerra cruzou os braços com humildade e respondeu:
- Meu amigo, você tem plenamente o direito de não perdoar, contanto que você não erre...
A observação penetrou Quintino como um raio.
O grande político tomou um lenço, enxugou o suor que lhe caía em bagas, tornou à cor natural, e, após refletir alguns momentos, disse ao policial:
Solte o homem. O caso está liquidado.
E para o moço que mostrava profundo agradecimento:
- Volte ao serviço hoje mesmo, e ajude na copa.
Em seguida, lançou inteligente olhar para Bezerra, e continuou a conversação no ponto em que haviam ficado.
Chico Xavier e Waldo Vieira - Espírito Hilário Silva.

Seara de Ódio

- Não! Não te quero em meus braços! - dizia a jovem mãe, a quem a Lei do Senhor conferira a doce missão da maternidade, para o filho que lhe desabrochava do seio - não me furtarás a beleza! Significas trabalho, renúncia, sofrimento...
- Mãe, deixa-me viver!... Suplicava-lhe a criancinha no santuário da consciência - estamos juntos! Dá-me a bênção do corpo! Devo lutar e regenerar-me. Sorverei contigo a taça de suor e lágrimas, procurando redimir-me... Completar-nos-emos. Dá-me arrimo, dar-te-ei alegria. Serei o rebento de teu amor, tanto quanto serás para mim a árvore de luz, em cujos ramos tecerei o meu ninho de paz e de esperança...
- Não, não...
- Não me abandones!
- Expulsar-te-ei.
- Piedade mãe! Não vês que procedemos de longe, alma com alma, coração a coração?
- Que importa o passado? Vejo em ti tão-somente o intruso, cuja presença não pedi.
- Esqueces-te, mãe, de que Deus nos reúne? Não me cerres a porta!...
- Sou mulher e sou livre. Sufocar-te-ei antes do berço...
- Compadece-te de mim!...
- Não posso. Sou mocidade e prazer, és perturbação e obstáculo.
- Ajuda-me!
- Auxiliar-te seria cortar em minha própria carne. Disputo a minha felicidade e a minha leveza feminil...
- Mãe, ampara-me! Procuro o serviço de minha restauração...
Dia a dia, renovava-se o diálogo sem palavras, até que, quando a criança tentava vir à luz, disse-lhe a mãezinha cega e infortunada, constrangendo-a a beber o fel da frustração:
- Torna à sombra de onde vens! Morre! Morre!
- Mãe, mãe! Não me mates! Protege-me! Deixa-me viver...
- Nunca!
- Socorre-me!
- Não posso.
Duramente repelido, caiu o pobre filho nas trevas da revolta e, no anseio desesperado de preservar o corpo tenro, agarrou-se ao coração dela, que destrambelhou, à maneira de um relógio desconsertado...
Ambos, então, ao invés de continuarem na graça da vida, precipitaram-se no despenhadeiro da morte.
Desprovidos do invólucro carnal, projetaram-se no Espaço, gritando acusações recíprocas.
Achavam-se, porém, ligados um ao outro, pelas cadeias magnéticas de pesados compromissos, arrastando-se por muito tempo, detestando-se e recriminando-se mutuamente...
A sementeira de crueldade atraía a seara de ódio. E a seara de ódio lhes impunha nefasto desequilíbrio.
Anos e anos desdobraram-se, sombrios e inquietantes, para os dois, até que, um dia, caridoso Espírito de mulher recordou-se deles em preces de carinho e piedade, como a ofertar-lhes o próprio seio. Ambos responderam, famintos de consolo e renovação, aceitando o generoso abrigo...
Envolvidos pela caricia maternal, repousaram enfim.
Brando sono pacificou-lhes a mente dolorida.
Todavia, quando despertaram de novo na Terra, traziam o estigma do clamoroso débito em que se haviam reunido, reaparecendo, entre os homens, como duas almas apaixonadas pela carne, disputando o mesmo vaso físico, no triste fenômeno de um corpo único, sustentando duas cabeças.
Psicografia Chico Xavier - Espírito Irmão X

Resgate Pelo Exemplo

Queridos amigos! Muita pessoas procuram uma casa espírita para resolverem um problema particular, que vem afetando o seu dia a dia, atribuindo esses mesmos problemas aos espíritos.
Como pode uma pessoa obsediada pedir para amenizar seus sofrimentos, sem que Ela procure uma reforma íntima a qual vai servir de exemplo a quem a persegue? Não sabemos o que fizemos em vidas passadas, quer seja prejudicando nossos irmãos, ou até nesmo um grande número de pessoas. Se não procura-mos uma reforma íntima, vamos estar de acordo com a vibração do obsessor que vai continuar a nos atingir por causa da sintonia que materemos com Ele. Devemos compreender que a melhor maneira de educar é o exemplo.
A reforma íntima nos fará admitir erros pretéritos, orar pelos que nos persegue e a pedir perdão pelos nossos atos de ignorância cometidos tempos atrás. Dessa forma estamos contribuindo para que o obssessor também faça sua reforma íntima e passe a praticar a lei do amor.
Com isso estamos ganhando um amigo em vez de inimigo, pois a lei do amor é a que rege o mundo espiritual e o espírito em pauta deixará sua vingança para evoluir.
Finalizando, muitas pessoas obsediadas chegam ao centro espírita para que prenda o obssessor, afaste, faça qualquer coisa para se ver livre, mas na maioria das vezes quem deveria estar preso seria esta pessoa pelos seus erros pretéritos que não reconhece na vida presente.
Perdoar e reconhecer os erros é capaz de verdadeiros prodigios, resgata as pessoas de abismos e abre o seu coração para uma vida melhor, basta apenas tirar-mos o véu do orgulho do nosso coração, que nos leva sempre ao sofrimento e entender que a linguagem dos bem aventurados se chama: AMOR.
Muita Paz em Cristo!
Antonio Carlos Laranjeira Miranda 14.08.09

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

A Grande Escolha!

Prezados Irmãos em Cristo! Há momentos em nossas vidas que temos que tomar decisões para que não fiquemos em cima do muro,como diz velho ditado.Devemos buscar a Deus seguindo os ensinamentos de Jesus e fazer uma escolha coerente da nossa crença religiosa. O Espiritismo é a terceira revelação prometida por Jesus, que não podendo revelar tudo ao povo que não tinha maturidade para compreender na íntegra os seus ensinamentos,prometeu um consolador que viria lembrar e esclarecer tudo que Ele havia dito. Esse consolador se chamou Allan Kardec, este espírito de luz que veio trazer a mensagem através de vários estudos e pesquisas do espírito e verdade.
Hoje em dia, há pessoas movidas pela crença do temor, do castigo etc. Isto é uma prática que funciona como lavagem cerebral, que fazem as pessoas fecharem seus olhos para a lógica da fé raciocinada. Se raciocinamos, veremos que esse temor não tem fundamento, pois o Espiritismo busca sempre a verdade dos ensinamentos de Jesus, e Ele é amor, bondade, justiça,e não um carrasco ou torturador. Devemos temer sim,as nossas escolhas erradas, elas sim nos trarão consequencias e não um Pai de amor sublime e soberano como Jesus.
Esse temor que é religião do "satanás", é coisa de gente preconceituosa, que tem medo de encarar a realidade através de fé cega. Vamos raciocinar: Se o Espiritismo prega Fora da Caridade não há salvação, isto é amar a Deus sobre todas as coisa e ao próximo como a si mesmo, é sinal de que será preciso mudar o conceito de "satanás". Muitas vezes a falta de conhecimento leva as pessoas a cometerem atos impensados.
O segredo da felicidade é conhecer e praticar o evangelho de Jesus, que só assim alcançaremos nossa elevação espiritual.
Então prezados irmãos, vamos dar as mãos e trabalhar na seara do senhor com amor e coragem.
E tenhamos certeza que o grande reencontro se dará e um dia haveremos de habitar a casa dos bem aventurados. Louvado seja Jesus Cristo! Muita Paz,
Antonio Carlos Laranjeira Miranda 13.08.09.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

CÉLULAS TRONCO E O ESPIRITISMO

Plínio Mariano do Nascimento
A FECUNDAÇÃO
Uma criança é formada a partir da união de uma célula reprodutora da mãe (o óvulo) e uma célula reprodutora do pai (o espermatozóide). Quando um espermatozóide se une ao óvulo, forma-se a célula inicial de um novo ser. Esta célula é denominada ovo (ou zigoto) e se divide muitas vezes, originando outras células que, por fim, formam o embrião, e de seu desenvolvimento resulta o feto.
As células reprodutoras são formadas em órgãos especiais: os ovários, na mulher, e os testículos, no homem. Estas células reprodutoras, ao contrário das demais células do organismo, têm 23 cromossomas diferentes (um de cada par). Após a união do óvulo com o espermatozóide, a célula formada terá os 46 cromossomas da espécie humana.
Os cromossomas são longas seqüências de DNA (da sigla em inglês para o ácido desoxiribonucleico) que contém os genes. Estes últimos são os responsáveis pela transmissão das características físicas do indivíduo formado.
O óvulo (a célula reprodutora feminina) ao ser penetrado pelo espermatozóide (a célula reprodutora masculina) gera a célula denominada ovo e o processo é denominado fecundação ou fertilização. Na atualidade, a fecundação pode ser produzida em laboratório e a célula-ovo obtida pode ser implantada em um útero, com a finalidade de desenvolver a gravidez ou pode, simplesmente, ser congelada para uma eventual gravidez futura. Essas células -ovo ou os blastócitos gerados e congelados que os pesquisadores desejam utilizar, constituem as “sobras” que os casais em busca do auxílio da fertilização assistida, deixam nos laboratórios. Esses blastócitos, via de regra, não são utilizados e são destinados ao descarte.
O ovo constitui a primeira célula-tronco, ou seja, uma célula com capacidade de formar qualquer célula existente no ser completamente formado. Essa célula-tronco inicial se divide em duas, que se dividem em quatro, que se dividem em oito e assim sucessivamente até formar um conjunto de células que constitui o blastocisto. As células dos blastocistos são as células-tronco embrionárias, que tem motivado tanta discussão ultimamente, á luz da ética e dogmas religiosos.
CONSIDERAÇÕES DOUTRINÁRIAS
Não há referências ao uso experimental ou terapêutico das célulastronco nos textos e nas comunicações que se referem à Doutrina Espírita.
Desse modo, o exame do tema pelos seus adeptos, à luz dos ensinamentos doutrinários espíritas, apenas pode ser feito por analogias ou inferências. Essas, entretanto, são passíveis das interpretações imperfeitas a que estamos sujeitos, devido ao estágio de desenvolvimento em que nos encontramos. Nas obras que constituem os alicerces da Doutrina Espírita, O Livro dos Espíritos trata da vida, da reencarnação e das suas relações com a fecundação natural.
Examinando as questões 344, 358 e 880 de O Livro dos Espíritos, vemos que Kardec recebeu claros conceitos sobre a vida humana e suas origens:
Pergunta 344 (LE) - Em que momento a alma se une ao corpo?
R. “A união começa na concepção, mas só é completada por ocasião do nascimento. Desde o instante da concepção, o Espírito designado para habitar certo corpo a este se liga por um laço fluídico, que cada vez mais se vai apertando até o instante em que a criança vê a luz. O grito que o recém nascido solta anuncia que ela se conta no mundo dos vivos e servos de Deus”.
Pergunta 358 (LE) – Constitui crime a provocação do aborto, em qualquer período da gestação?
R. “Há crime sempre que transgredis a lei de Deus. A mãe, ou quem quer que seja, cometerá crime sempre que tirar a vida a uma criança antes do seu nascimento, por isso que impede uma alma de passar pelas provas a que serviria de instrumento o corpo que se estava formando”.
Pergunta 880 (LE) – Qual o primeiro de todos os direitos naturais do homem?
R. “O de viver. Por isso é que ninguém tem o direito de atentar contra a vida de seu semelhante, nem de fazer o que quer que possa comprometer-lhe a existência corporal”.
Ainda segundo a doutrina espírita, a paternidade e a maternidade são sempre decorrentes de vínculos pretéritos; o triângulo constituído por pai, mãe e filho resulta de uma continuidade necessária para todos os envolvidos na nova constelação familiar, onde, também, irmãos e parentes próximos são normalmente ligações de encarnações anteriores. A reencarnação é presidida por Espíritos Superiores que auxiliam o Espírito reencarnante nas escolhas dos pais e das eventuais provas a que deverá submeter-se ou das eventuais expiações que deverá sofrer.
A fecundação artificial, produzida pela fusão de um óvulo e um espermatozóide no ambiente de laboratório, com a finalidade imediata de congelamento e preservação, representa uma tecnologia nova, inexistente à época de Kardec. Esse fato permite supor que as perguntas formuladas em “O Livro dos Espíritos” referem-se especificamente à fecundação natural, única possível à época em que a Doutrina Espírita foi codificada.
Sabedores da intenção de imediato congelamento e preservação por tempo indeterminado da célula-ovo, é possível supor que os Espíritos Superiores não tenham contribuído para a programação reencarnatória em um blastocisto não destinado ao implante em um útero materno. Entretanto, esse argumento tem apenas um caráter especulativo.
Outros argumentos devem ser lembrados nessa discussão, como o desígnio de Deus, de que seus filhos permaneçam sadios e progridam em sua caminhada de aperfeiçoamento moral e espiritual, até alcançar o amor pleno e absoluto. Além disso, como os Espíritos Superiores nos tem asseverado, o conhecimento científico só é revelado ao Homem quando este se encontra em condições de compreendê-lo e utilizá-lo corretamente, em benefício da humanidade.
A convergência e a fusão entre a ciência e a doutrina espírita são inevitáveis e o processo teve início há bastante tempo. Entretanto, nas últimas décadas, tem acelerado seu ritmo inexorável. Não é improvável que o uso terapêutico das células tronco seja um dos pontos dessa convergência. As células (óvulo e espermatozóide) utilizadas para a fecundação artificial são produtos de doação e, sem dúvida, representam incomparáveis e sublimes gestos de amor ao próximo.
A ciência e a sociedade humana se defrontam com a necessidade de estabelecer se a fecundação ocorrida em um laboratório pela fusão de células reprodutoras doadas (óvulos e espermatozóides) para o congelamento da célula-ovo resultante, sob nossa ótica, representa o início de uma nova vida ou representa uma esperança de cura para doenças incapacitantes ou fatais.
Avaliado sob esse aspecto, talvez seja lícito considerar que o uso terapêutico das células-tronco destinadas ao descarte, após anos de criopreservação, pode ser analisado de um modo distinto e particular, não encontrando similitude em nenhuma forma de aborto.
Como tem ocorrido com os mais importantes progressos da ciência, Espíritos Superiores, através de médiuns de elevada reputação, oportunamente farão divulgar seus comentários que deverão ser entendidos como acréscimos doutrinários capazes de dirimir as dúvidas ainda existentes. Joanna de Angelis, em sua magistral obra “Dias Gloriosos” nos ensina: - Não obstante as incomparáveis realizações da ciência e da tecnologia, continuam desafiadores inumeráveis outros quesitos que aguardam solução nos laboratórios. ... Em outro trecho, Joanna refere: - “Lentamente, mesmo sem dar-se conta, os cientistas se tornam sacerdotes do Espírito e avançam corajosamente ao encontro de Deus e das Suas Leis, que vigem em toda parte.”
Esperamos que em um futuro não muito distante tenhamos soluções definitivas, capazes de atender a todos os interesses envolvidos, especialmente daqueles que, em suas cadeiras de rodas, anseiam por uma injeção de células capazes de devolver lhes os movimentos e a vida normal a que podem ter direito.
Somos favoráveis ao emprego das células-tronco adultas (removidas dos próprios pacientes) por não constituírem qualquer ofensa à moralidade, aos costumes, à lei ou à Doutrina Espírita. Somos também favoráveis ao uso científico das células-tronco dos blastocistos ou dos embriões criocongelados e abandonados pelos doadores, cujo destino final será o descarte e destruição. Não acreditamos que a espiritualidade superior, elevada a esse estado pelo sublime desenvolvimento do amor ao próximo, permita qualquer programação reencarnatória em um embrião destinado ao aprisionamento por anos, mediante os processos de congelamento e preservação artificiais, sem perspectivas de gerar um corpo físico.
Não se pretende criar a vida nos laboratórios. A ciência busca utilizar o conhecimento de algumas das forças criadoras de vida com o elevado intuito de amenizar o sofrimento de milhões de irmãos, cuja existência terrena é abalada pela presença de doenças graves e incuráveis. Além disso, o merecimento, apesar de todos os esforços que a ciência contemporânea possa empreender, jamais poderá ser modificado, porque faz parte da lei natural.
Fontes de Pesquisa:
Elias, Decio O. e Souza, Maria Helena L. As células-tronco e a bioética espírita
Luiz, André. Missionários da Luz, Psicografado por Francisco Cândido Xavier.
Zats, M. Clonagem e células-tronco. Estudos Avançados. 2004.
Zats, M. Biossegurança. Saiba mais sobre o assunto. Publicação do Senado Federal do Brasil, 2005.
Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos. Ed. Petit, Paris, 1857.
Kardec, Allan. A Gênese. Ed. Petit, Paris, 1868.
De Angelis, Joana. Dias Gloriosos. Psicografado por Divaldo Franco.

A AÇÃO ESPÍRITA NA TRANSFORMAÇÃO DO MUNDO

Três são os elementos fundamentais de que o Espiritismo se serve para transformar o nosso mundo num mundo melhor e mais belo:
a) Amor,
b) Trabalho,
c) Solidariedade.
1 - O AMOR abrange a compreensão e a tolerância, pois quem ama compreende o ser amado e sabe tolerá-lo em todas as circunstâncias. Abrange também a Verdade, pois quem ama sabe que o alvo supremo do Amor é a Verdade. Ninguém ama a mentira, pois mesmo os mentirosos apenas a suportam na falta da verdade.
O amor egoísta do homem por si mesmo expande-se no desenvolvimento psicobiológico como, segundo já vimos, em amor altruísta, amor pelos outros, a partir do núcleo familial até à Sociedade, à Pátria e à Humanidade.
Alguns espíritas dizem que os espíritas não têm pátria, pois sabem que todos podem renascer em várias nações. Isso é uma incongruência, pois então não poderíamos também amar pai e mãe, que variam nas encarnações sucessivas.
O Amor não tem limites, mas nós, os homens, somos criaturas limitadas e estamos condicionados, em cada existência, pelas limitações da condição humana. Amamos de maneira especial aqueles que estão ligados a nós nesta vida ou se ligaram a nós em vidas anteriores. Amamos a todos os seres e a todas as coisas na proporção do nosso alcance mental de compreensão da realidade.
E amamos a nossa Terra, o pedaço do mundo em que nascemos e vivemos e a parte populacional a que pertencemos, no recorte da população mundial que corresponde à população da nossa terra. E amamos os que estão além da Terra, nas zonas planetárias espirituais, como amamos, por intuição mental e afetiva, a todos os seres e coisas de todo o Universo.
O ilimitado do Amor se impõe aos limites temporários da nossa condição imediata. E é esse o nosso primeiro degrau para a transcendência espiritual. Na proporção em que a nossa capacidade infinita de amar se concretiza na realidade afetiva (nascida dos sentimentos profundos e verdadeiros do amor) sentimo-nos elevados a planos superiores de afetividade intelecto-moral, respeitando progressivamente todas as expressões da vida e da beleza em todo o Universo.
O Amor não é gosto, nem preferência, nem desejo — é afeição, ou seja, afetividade em ação, fluxo permanente de vibrações espirituais do ser que se expandem em todas as direções da realidade. Foi por isso que Francisco de Assis amou com a mesma ternura e o mesmo afeto, chamando-os de irmãos, aos minerais, aos vegetais, aos animais, aos homens e aos astros no Infinito.
As ondas do Amor atingem a todas as distâncias, elevações e profundidades, não podendo ser medidas, como fazemos com as ondas hertzianas do rádio. Depois de ultrapassar os limites possíveis da Criação, o Amor atinge o seu alvo principal, que é Deus, e Nele se transfunde.
O Espiritismo aprofunda o conhecimento da Realidade Universal e não pretende modificar o Mundo em que vivemos através de mudanças superficiais de estruturas. Essa é a posição dos homens diante dos desequilíbrios e injustiças sociais. Mas o homem-espírita vê mais longe e mais fundo, buscando as causas dos efeitos visíveis.
Se quisermos apagar uma lâmpada elétrica não adianta assoprá-la, é necessário apertar a chave que detém o fluxo de eletricidade. Se quisermos mudar a Sociedade, não adianta modificar a sua estrutura feita pelos homens, mas modificar os homens que modificam as estruturas sociais.
O homem egoísta produz o mundo egoísta, o homem altruísta produzirá o mundo generoso, bom e belo que todos desejamos. Não podemos fazer um bom plantio com más sementes. Temos de melhorar as sementes.
As relações humanas se baseiam na afetividade humana. Não há afetos entre corações insensíveis. Por isso a dor campeia no mundo, pois só ela pode abalar os corações de pedra. Mas o Espiritismo nos mostra que o coração de pedra é duro por falta de compreensão da realidade, de tradições negativas que o homem desenvolveu em tempos selvagens e brutais.
Essas relações se modificam quando oferecemos aos homens uma visão mais humana e mais lógica da Realidade universal. Essa visão não tem sido apresentada pelos espíritos que, na sua maioria, se deixem levar apenas pelo aspecto religioso da doutrina, assim mesmo deformado pela influência de formações religiosas anteriores.
Precisamos restabelecer a visão espírita em sua inteireza, afastando os resíduos de um passado de ilusões e mentiras prejudiciais. Se compreenderem a necessidade urgente de se aprofundarem no conhecimento da doutrina, de maneira a fornecerem uma sólida e esclarecida doutrina espírita, poderão realmente contribuir para a modificação do mundo em que vivemos.
Gerações e gerações de espíritas passaram pela Terra, de Kardec até hoje, sem terem obtido sequer um laivo de educação espírita, de formação doutrinária sistemática. Aprenderam apenas alguns hábitos espíritas. Ouviram aulas inócuas de catecismo igrejeiro, tornaram-se, às vezes, ardorosos na adolescência e na juventude (porque o Espiritismo é oposição a tudo quanto de envelhecido e caduco existe no mundo), mas ao se defrontarem com a cultura universitária incluíram a doutrina no rol das coisas peremptas por não terem a menor visão da sua grandeza.
Pais ignorantes e filhos ignorantes, na sucessão das encarnações inúteis, nada mais fizeram do que transformar a grande doutrina numa seita de papalvos. Duras são e têm de ser as palavras, porque ineptas e criminosos foram as ações condenadas.
A preguiça mental de ler e pensar, a pretensão de saber tudo por intuição, de receber dos guias a verdade feita, o brilhareco inútil e vaidoso dos tribunos, as mistificações aceitas de mão beijada como bênçãos divinas e assim por diante, num rol infindável de tolices e burrices fizeram do movimento doutrinário um charco de crendices que impediu a volta prevista de Kardec para continuar seu trabalho.
Em compensação, surgiram os reformadores e adulterados, as mistificações deslumbrantes e vazias e até mesmo as séries ridículas de reencarnações do mestre por contraditores incultos de suas mais valiosas afirmações doutrinárias.
Este amargo panorama afastou do meio espírita muitas criaturas dotadas de excelentes condições para ajudarem o movimento a se organizar num plano superior de cultura. Isso é tanto mais grave quanto o nosso tempo que não justifica o que aconteceu com o Cristianismo deformado totalmente num tempo de ignorância e atraso cultural.
Pelo contrário, o Espiritismo surgiu numa fase de acelerado desenvolvimento cultural e espiritual, em que os espíritas contaram e contam com os maiores recursos de conhecimento e progresso de que a humanidade terrena já dispôs.
Todos os grandes esforços culturais em favor da doutrina foram negligenciados e continuam a sê-lo pela grande maioria dos espíritas de caramujo, que se encolhem em suas carapaças e em seus redutos fantásticos.
Falta o amor pela doutrina, de que falava Urbano de Assis Xavier: falta o amor pelos companheiros que se dedicam é seara com abnegação de si mesmos e de suas próprias condições profissionais e intelectuais; falta o amor pelo povo faminto de esclarecimentos precisos e seguros; falta o amor pela Verdade, que continua sufocada pelas mentiras das trevas.
Os médiuns de grandes possibilidades se vêem cercados de multidões interesseiras, que os levam quase sempre ao fracasso ou ao esgotamento precoce. Só os interessados os procuram: os que pretendem aproveitar suas produções em proveito próprio; os que desejam apenas dizer-se íntimos do médium; os que procuram consolação passageira em sua presença; os que buscam sugar-lhes os benefícios fluídicos e assim por diante. Os próprios médiuns acabam muitas vezes entregando-se ao desânimo e desviando-se para outros campos de atividade onde, pelo menos, poderio gozar de convivências menos penosas.
A exploração inconsciente e consciente dos médiuns pelos próprios adeptos da doutrina é um dos fatores mais negativos para o desenvolvimento do Espiritismo em nosso país e no mundo. A contribuição que eles poderiam dar para a execução das metas doutrinárias perde-se na miudalha das consultas pessoais e nas mensagens cotidianas de sentido religioso-confessional, mais tocadas de emoção embaladora do que de raciocínio e esclarecimento.
E isso o que todos pedem, como crianças choramingas acostumadas a dormir ao embalo das cantigas de ninar. Até mesmo um médium como Arigó, dotado de temperamento agressivo como João Batista e assistido por uma entidade positiva como Fritz, acabou envolvido numa rede de interesses contraditórios que o envolveram através de manobras que o aturdiram, misturadas a calúnias e campanhas difamatórias que o levaram, na sua ignorância do roceiro inculto, a precipitar-se, sem querer, na sua destruição precoce.
As grandes teses da Doutrina Espírita não foram suficientes para mobilizar os espíritas em favor do médium, resguardando-o e facilitando, pelo menos, a investigação dos cientistas norte-americanos, de diversas Universidades e da NASA, que tentaram desesperadamente colocar o problema em termos de equação científica.
O que devia ter sido uma vitória da Verdade em plano universal, reverteu-se em mesquinho episódio de disputas profissionais acirradas por clérigos e médicos de visão rasteira. E tudo isso por que estranho motivo. Porque os espíritas não foram capazes de sair de suas tocas, empunhando as armas poderosas da doutrina, para enfrentar o conluio miserável das ambições absorventes e vorazes?
Cada espírita, ao aceitar e compreender a grandeza da causa doutrinária e sua finalidade suprema — que é a transformação moral, social, cultural e espiritual do nosso mundo — assume um grave compromisso com a sua própria consciência. O aparecimento de um médium como Chico Xavier ou Arigó não tem mais o sentido restrito do aparecimento de uma pitonisa ou um oráculo no passado, mas o do aparecimento de um João Batista ou de um Cristo na fase crítica da queda do mundo clássico greco-romano, da trágica agonia da civilização mitológica.
Mas após um século da semeadura evangélica, na hora certa e precisa da colheita, vemos de novo o povo eleito enrolado em intrigas na Porta do Monturo, enquanto os romanos crucificam entre ladrões os que se imolaram em reencarnações providenciais.
Essa mentalidade de corujas agoureiras, e troianos que não ouvem Cassandra, decorre do egoísmo (essa lepra do coração humano, segundo a expressão Kardeciana) do comodismo e da preguiça mental. A falta de estudo sério e sistemático da doutrina, que permite a infiltração de elementos estranhos no corpo doutrinário, causando-lhe deformações rebarbativas e fantasiada de novidades, avilta a consciência espírita com a marca de Caim nos grupos de traidores.
Esses traidores não traem apenas a doutrina, ao Cristo e a Kardec, mas também à Humanidade e ao Futuro. Onde fica o principio do Amor em tudo isso? Quem revelou amor à Verdade? Quem provou amar e respeitar a doutrina? Quem mostrou amar ao seu semelhante e por isso querer realmente ajudá-lo, orientá-lo, esclarecê-lo?
A esse fim superior sobrepõe-se o interesse falso e mesquinho de fazer bonito aos olhos que necessitam de luz, bancar saberetas para os que nada sabem, impor a criaturas ingênuas a sua maneira mentirosa de ver o ensino puro e claro de Kardec.
O amor não está nos que se acumpliciam, se comprometem reciprocamente na trapaça, enleando-se na solidariedade da profanação consciente ou inconsciente. O amor está nos que repelem a farsa e condenam o gesto egoísta dos escamoteadores da verdade em proveito próprio, levando multidões ingênuas e desprevenidas à deturpação da doutrina esclarecedora.
O amor, nesse caso, pode parecer impiedade, mas é piedade, pode assemelhar-se à injúria e agressão, mas é socorro e salvação. As condenações violentas de Jesus a escribas e fariseus não foram ditadas pelo ódio, mas pela indignação justa, necessária, indispensável do Mestre, que sacudia aquelas almas impuras para livrá-las da impureza com que aviltavam o simples.
Quem não tiver condições para compreender isso deve ter pelo menos a humildade de André Luiz, o médico lançado às zonas umbralinas, de contentar-se com trabalhos de limpeza e lavagem nos hospitais dos planos superiores para aprender a grandeza da humildade, a nobreza dos pequeninos, ao invés de rebelar-se contra as leis divinas da busca da Verdade.
Nosso movimento espírita, como todo o negro panorama religioso da Terra, está cheio de ignorantes revestidos ou não de graus universitários, que se julgam mestres iluminados e são apenas os cegos do Evangelho que levam outros cegos ao barranco. Impedi-los de cometer esse crime de vaidade afrontosa é o dever dos que sabem realmente amar e servir. "Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas!" advertiu Jesus, não para condená-los ao fogo do inferno, mas para salvá-los do inferno de si mesmos.

2 — O TRABALHO é exigência do princípio de transcendência. O homem trabalha por necessidade, como querem os teóricos da Dialética Materialista, mas não apenas para suprir as suas necessidades físicas de subsistência e sobrevivência. Não só, como querem os teóricos da vontade de potência, para adquirir poder.
E nem só, também, como pretendem Bentham e os teóricos da ambição, para acumular posses que representam poder. A busca das causas, nesse campo, morreria no plano das causas secundárias.
Mas a Filosofia Existencial, em nosso tempo, descobrindo o conceito de existência e definindo o homem como o existente (aquele ser que existe, sabe que existe e luta para existir cada vez mais e melhor), mostrou e provou que a natureza humana é subjetiva e não objetiva (extrema e material) e que a mola do mundo não está nos braços e nas mãos, mas na consciência.
Confirmou-se assim, no plano geral da Cultura, o tantas vezes rejeitado e ridicularizado conceito espírita do trabalho. No Livro dos Espíritos temos a afirmação de que tudo trabalha na Natureza. Essa tese espírita antecipou a tese de John Dewey sobre a natureza universal da experiência.
Em todo o Universo há forças em ação, inteligentemente dirigidas segundo planos determinados. Nada se fez ao acaso. Em termos atuais de eletrônica podemos dizer que o universo que é uma programação gigantesca de computadores em incessante atividade rigorosamente controlada.
De um grão de areia a uma constelação estelar, de um fio de cabelo e de um vírus isolado até às maiores aglomerações humanas dos grandes parques industriais do mundo, tudo trabalha. O próprio repouso é uma forma de diversificação do trabalho para recuperações e reajustes nos organismos materiais e nas estruturas psicomentais do homem.
As criaturas humanas que só trabalham para si mesmas ainda não superaram a condição animal. Vivem e trabalham, mas não existem. Porque existir é uma forma superior de viver, que inclui em seu conceito plena consciência das atividades desenvolvidas com finalidade transcendentes.
No próprio desenvolvimento da Civilização o trabalho individual se abre, progressivamente, nos processos de distribuição, para o plano superior do trabalho coletivo. Por isso, é no trabalho e através do trabalho que o homem se realiza como ser, desenvolvendo suas potencialidades.
A extrema especialização da Era Tecnológica nasceu nas selvas, quando dos primeiros dás o homem se incumbiu da guerra, da caça e da pesca, e a mulher da criação, alimentação e orientação dos filhos. A Revolução Industrial na Inglaterra marcou um momento decisivo da evolução humana para a consciência da solidariedade.
É no esforço comum e conjugado das relações de trabalho que se desenvolve o senso da comunidade, provando a necessidade do principio espírita de solidariedade e tolerância para o maior rendimento, maior estimulo e maior aperfeiçoamento das técnicas de produção.
A concorrência de mercado, que estimula a ganância e a voracidade dos indivíduos e dos grupos, das empresas e dos sistemas de produção, opõe-se a conjugação das consciências, na solidariedade do trabalho comum, com vistas ao bem-estar de todos.
Os teóricos que condenam as comunidades de trabalho voltadas para o interesse da maioria reduzem a finalidade superior do trabalho a interesses mesquinhos de enriquecimento individual e de grupos. A própria realidade os contesta com o espetáculo gigantesco do trabalho da Natureza, voltado para a grandeza do todo.
Remy Chauvin considera os insetos sociais como expressões de sistemas coletivos de trabalho e de vida em que o egoísmo individualista e grupal (sociocentrismo) não impediu o desenvolvimento normal da solidariedade. A Natureza inteira é um exemplo que o homem rejeita em nome de seu egoísmo, da sua vaidade e das suas ambições desmedidas.
Esses três elementos funcionaram na espécie humana como pontos hipnóticos que impediram o livre fluxo das energias livres do trabalho, condensando-as em formas institucionais absorventes. As tentativas de romper essas formas por métodos violentos representam uma reação instintiva que leva fatalmente, como o demonstra o panorama histórico atual, a novas formas de condensação.
Esse círculo vicioso só pode ser rompido por uma profunda e geral compreensão do verdadeiro sentido do trabalho, que não leva a lutas e dissensões, mas à conjugação e harmonização de todas as fontes e todos os recursos do trabalho, nos mais diferenciados setores de atividade.
A proposição espírita nesse sentido, como foi em seu tempo a proposição cristã original, encarna os mais altos ideais da espécie, voltados para o trabalho comunitário em ação e fins.
Hegel observou, em seus estudos de Estética, que a dialética do trabalho se revela nos remos da Natureza. O mineral é a matéria-prima das elaborações futuras, apresentando-se como concentração de energias que formam as reservas básicas; o vegetal é a doação em que as forças do mineral se abrem para a floração e os frutos da vida; o animal é a vida em expansão dinâmica, síntese das elaborações dos dois reinos anteriores, endereçando esses resultados ao futuro, à síntese superior do Homem, no qual as contradições se resolvem na harmonia psicofísica e espiritual da criatura humana, dotada de consciência.
Cabe agora a essa consciência elaborar a grandeza da Terra dos Homens (segundo a expressão de Saint-Exupéry). Por sinal que Exupéry, aviador, poeta e profeta, representa o arquétipo atual da evolução humana, na busca do Infinito. Por isso, Simone de Beauvoir considerou a Humanidade, não como a espécie a que nos referimos por alegoria com os planos inferiores, mas como um devir, um processo de mutações constantes na direção do futuro.
Hoje somos ainda projeções dos primatas obtusos e violentos, antropófagos (segundo Tagore) devoradores de si mesmos e dos semelhantes, escameadores e aviltadores da condição humana. Mas amanhã seremos homens, criaturas humanas que encarnarão as forças naturais sob o domínio da Razão e da Consciência. Teremos então a República dos Espíritos, formada pela solidariedade de consciências de que trata René Hubert em sua "Pedagogia Generale".
Como vemos através desses dados, a Doutrina Espírita não nos oferece uma visão utópica do amanhã, mas uma precognição do homem em sua condição espiritual, sem as deformações teológicas e religiosas da visão comum, calcada em superstições e idealizações rebarbativas.
Tendo penetrado objetivamente no mundo das causas, um século antes que as Ciências Materiais o fizessem, a Ciência Espírita, experimental e indutiva — e que tem agora todos os seus princípios fundamentais endossados por aquelas, em pesquisas de laboratório e tecnológicas — não formulou uma estrutura dogmática de pressupostos para figurar o homem de após a morte e o homem do futuro.
A imagem que nos deu do homem novo há um século está hoje plenamente confirmada pelos fatos. A controvertida questão da sobrevivência espiritual foi resolvida tecnologicamente de maneira positiva, comprovando a tese espírita.
Falta pouco para romper-se, nas mãos já trêmulas dos teólogos, a Túnica de Nessus da dogmática religiosa, que gerou por toda a parte angústias e desesperos. Estamos agora em condições de pensar tranqüilamente num futuro melhor para a Humanidade em fases melhores da sua evolução. Podemos agora nos integrar conscientemente na gigantesca oficina de trabalhos da Terra, preparando o caminho das gerações vindouras.
As revelações não nos chegam mais de mão beijada, pois, como ensina Kardec, brotam dos esforços conjugados do homem esclarecido com os espíritos conscientes. Os dois mundos em que nos movemos, o espiritual e o material, abriram as suas comportas para que as suas águas se encontrem no esplendor de uma nova aurora.
E o Sol que acende essa aurora não é mais uma chama solitária na escuridão total dos espaços vazios, mas apenas uma tocha olímpica entre milhões de tochas que balizam as conquistas futuras do homem na escalada sem fim.
Prometeu não será mais sacrificado por querer roubar o fogo celeste de Zeus, pois esse fogo é o mesmo que resplandece no corpo espiritual da ressurreição, que brilha na alma humana e define a sua natureza divina.
Basta-nos continuar em nossos trabalhos para termos a nossa parte assegurada na Herança de Deus, pois como ensinou o Apóstolo Paulo, somos herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo.
O conhecimento é a nossa fé, que não se funda em palavras, sacramentos e Ídolos mortos, mas na certeza das verificações positivas e nas conquistas do trabalho humano, gerador constante de novas formas de energia para a escalada humana da transcendência.

3 - A SOLIDARIEDADE ESPÍRITA se manifesta particularmente no campo da assistência à pobreza, aos doentes e desvalidos. O grande impulso nesse sentido foi dado1 desde o início do movimento doutrinário da França, pelo livro "O Evangelho Segundo o Espiritismo", de Allan Kardec, que trabalhou em silêncio na elaboração dessa obra, sem nada dizer a ninguém. Selecionou numerosas mensagens psicografadas, procedentes de diversos países em que o Espiritismo já florescia. Sua intenção era oferecer aos espíritas um roteiro para a prática religiosa, baseado no que ele chamava de essência do ensino moral do Cristo.
Conhecendo profundamente a História do Cristianismo e as dificuldades com que os originais do Evangelho haviam sido escritos, em épocas e locais diferentes, bem como o problema dos evangelhos apócrifos e das interferências mitológicas nos textos canônicos e as interpolações ocorridas nestes, afastou todos esses elementos espúrios para oferecer aos espíritas uma obra pura, despojada de todos os acessórios comprometedores.
Seu trabalho solitário e abnegado deu-nos uma obra-prima, que conta com milhões de exemplares incessantemente reeditados no mundo. Essa obra foi ameaçada com a tentativa de adulteração. Foi o maior atentado que a obra de Kardec já sofreu no mundo, pior que a queima de seus livros em Barcelona pela Inquisição Espanhola.
Muito pior, porque foi um atentado provindo dos próprios espíritas, através de uma instituição doutrinária que tem, por obrigação estatutária, defender, preservar e divulgar a Doutrina Espírita codificada por Kardec. A conseqüência mais grave desse fato lamentável foi a quebra da solidariedade espírita, a desconfiança e a mágoa provocadas entre velhos companheiros.
O ataque das Trevas à vaidade e à ignorância de alguns espíritas invigilantes produziu os efeitos necessários. Sirva o exemplo doloroso para todos os que assumem encargos doutrinários, julgando receber prebendas e consagração. A vaidade excitada leva monges de pedra a se julgarem poderosos na aridez e na solidão dos desertos.
A solidariedade espírita não é apenas interna, entre os adeptos e companheiros. Projeta-se pelo menos em três dimensões:
a) no plano social geral da comunidade espírita, além dos grupinhos domésticos e das instituições fechadas;
b) envolve todas as criaturas vivas, protegendo-as, amparando-as, estimulando-as em suas lutas pela transcendência, procurando ajudá-las sem nada pedir em troca, nem mesmo a simpatia doutrinária, pois quem ajuda não tem o direito de impor coisa alguma;
c) eleva-se aos planos superiores para ligar-se a Kardec e sua obra, a todos os espíritos esclarecidos que lutam pela propagação do Espiritismo no mundo e a Deus e a Jesus na Solidariedade cósmica dos mundos solidários.

Nessas três dimensões a Solidariedade Espírita realiza, como que apoiada em três poderosas alavancas, o esforço supremo de elevação do mundo, estimulando a transcendência humana.
As mentes que ainda não atingiram a compreensão desse processo podem fechar-se em grupos e instituições de tipo igrejeiro, isolando-se em seus ambientes de furna, onde os espíritos mistificadores e embusteiros se acoitam facilmente.
Mas na proporção em que os adeptos assim isolados, ou pelo menos alguns deles, procurarem realmente compreender a doutrina, a situação se modificará, despertando os indolentes para atividades maiores.
Todo trabalho espírita é exigente e penoso, porque faz parte de uma grande batalha — a da Redenção do Mundo, iniciada pelo jovem carpinteiro Jesus, filho de Maria e José.
Essa batalha não é a de Deus contra o Diabo, o estranho anjo de luz que se revoltou para fundar o inferno. Essa ingênua concepção das civilizações agrárias e pastoris teve o seu tempo e sua função, o seu efeito de controle em fases de barbárie, mas não passa de uma alegoria inadequada ao nosso tempo.
Tudo no Evangelho, como Kardec demonstrou, desde que afastado do clima mitológico, torna-se claro e demonstra a posição evidentemente racional do Cristo.
O jovem carpinteiro não pertencia à Era Mitológica e encerrou essa era com a sua passagem pela Terra e a propagado seu ensino. O mito vingou-se dele, pois o transformou também em mito. Por muito tempo, até aos nossos dias, a figura humana de Jesus figurou na nova mitologia, na fase romana do Renascimento Mitológico, em que se destacou a figura do Imperador Juliano, o Apóstata, que depois de aceitar o Cristianismo apostatou-se e empenhou-se na salvação dos seus deuses antigos.
Os resíduos da mentalidade mitológica das civilizações arcaicas, particularmente a Grega e a Romana, reagiram, como era natural, contra o racionalismo cristão. Dessa maneira, na mente das populações bárbaras do Império Romano decadente, Jesus foi transformado num mito da Era Agrária.
Os padres e bispos do Cristianismo nascente, todos impregnados pela carga mitológica de um longo passado de ignorância e superstições, não foram capazes de compreender o racionalismo das proposições cristãs. Pelo contrário, cheios de temor e de espanto, contribuíram para a deformação do Cristianismo.
Antes e depois da queda do Império, os cristãos fizeram concessões necessárias aos povos bárbaros para absorvê-los no seio da Religião Redentora. Onde quer que os cristãos se impusessem pela força do número e das armas, as igrejas pagãs eram transformadas em templos cristãos, conservando-se cautelosamente as tradições mitológicas mais arraigadas.
O exemplo clássico e mais conhecido dessa tática romana é a Catedral de Notre Dame, em Paris, que ainda guarda nos seus subterrâneos os restos do templo pagão da Deusa Lutécia. A Deusa pagã foi conservada no templo, mas com o nome de Nossa Senhora, para que o povo ingênuo aceitasse assim o culto cristão a Maria sob o prestigio secular da deusa pagã.
Navatsky lembra que a Deusa Céres, divindade da fecundação e em muitas regiões, mais especificamente, deusa dos cereais, forneceu ao Cristianismo nascente uma das mais conhecidas imagens de Nossa Senhora, em que ela é representada com o manto estrelado do Céu, em pé sobre o globo terreno: Céres cobrindo a Terra com seu manto celeste para fecundá-la.
Esse mesmo processo de transposição ocorre hoje no Sincretismo Religioso Afro-Brasileiro e nas formas de sincretismo de outros países da América, onde os ritos e as figuras dos deuses ou santos católicos são absorvidos pelas religiões africanas transplantadas pelo tráfico negreiro de escravos ao novo continente. Jesus virou Oxalá, Nossa Senhora virou Iemanjá, São Jorge virou Ogum (deus da guerra), São Sebastião virou Oxum (deus da caça, e assim por diante).
Basta lermos o Livro de Atos dos Apóstolos no Evangelho, e as epístolas de Paulo (anteriores aos Evangelhos) para termos a confirmação dessa verdade histórica. Na primeira epístola de Paulo ao Corintos, no tópico referente aos Dons Espirituais, temos uma descrição viva do chamado culto pneumático (do Grego: Pneuma, sopro, espírito), as sessões mediúnicas realizadas pelos primeiros cristãos e nas quais, segundo as pesquisas históricas modernas, que confirmam os dados da Tradição, manifestavam-se espíritos inferiores cheios de ódio a Cristo. Essas manifestações assustadoras foram consideradas como diabólicas, reforçando a imagem tradicional do Diabo na mente ingênua dos adeptos.
A luta entre o Bem e o Mal é simplesmente o processo dialético da evolução. O Mal é a ignorância, o atraso, a superstição. O Bem é o conhecimento, o progresso, a adequação da mente à realidade. Essa é a grande luta das coisas e dos seres, figurada na revolta absurda de Luzbel, o anjo de luz que se entregou à inveja e converteu-se em adversário de Deus. Esses símbolos de um passado bárbaro e longínquo ainda prevalecem na Terra como resíduos míticos que o tempo desgasta na proporção em que a Cultura se desenvolve.
A Ciência incumbiu-se de ajustar a mente humana à realidade terrena, mas os homens se envaideceram e negaram-se a si mesmos nas idéias materialistas, colocando-se abaixo de tudo quanto existe. Duro castigo que o orgulho humano ainda não reconheceu. A Ciência afirma que nada se perde na Natureza, tudo se transforma. O homem aprova isso com entusiasmo e sorri de si mesmo (sem perceber), pois só ele não subsiste, só ele é pó que reverte ao pó.
Essa é a verdadeira queda do homem, que se rebaixa ao pó num mundo em que tudo se eleva incessantemente na direção dos planos superiores. A tentação simbólica de Jesus no deserto assemelha-se à tentação de Buda na floresta. É a tentação dos homens pelas fascinações dos bens terrenos.
Quando o homem se apega à terra (com t minúsculo, porque a terra que pisamos e não o Globo Terreno), ele se nega evoluir e é castigado pelas forças da evolução, que o impelem a sair da sua toca de bicho para atingir a condição existencial da espécie. A lei da existência não é o pó, mas a transcendência.
Pode o homem andar de joelhos pelas ruas e as estradas, jejuar, mortificar-se, ciliciar-se quanto quiser, mas com isso não se tomará melhor. Voltará às reencarnações difíceis e dolorosas para aprender, no sofrimento e na decepção, que não se busca Deus rastejando, mas elevando-se no amor e na dedicação aos outros.
As práticas religiosas de purificação são egoístas, aumentam a miséria humana e o apego do homem a si mesmo. As tentações que sofremos não vêm do Diabo, mas de nós mesmos, da nossa ignorância e do nosso apego hipnótico aos bens perecíveis da vida terrena.
O Diabo é o Bicho-Papão dos adultos, o espantalho dos supersticiosos. Giovanni Papini, escritor católico italiano, contemporâneo, em seu livro IL DIA VOLO, escandalizou o Vaticano, pregando a conversão do Diabo. Não conseguia admitir esse mito impiedoso em sua teologia. O Padre Teilhard de Chardin, em seus estudos teológicos, negou a condenação eterna do Diabo.
O Espiritismo se limita a mostrar a natureza mitológica do Diabo e a demonstrar, prática e logicamente, a impossibilidade da queda do Anjo Luzbel. A evolução espiritual é irreversível. O espírito que se elevou ao plano angélico não pode regredir, não pode ter inveja e outros sentimentos humanos. O anjo-mau é uma contradição em si mesmo, pois a Angelitude é a condição divina que o espírito busca e atinge na existência.
A luta do homem para transformar o mundo é a luta do homem consigo mesmo, pois é ele quem faz o mundo, e o faz à sua imagem e semelhança. Deus criou a Terra e todos os mundos do espaço, mas deu cada mundo aos homens que os habitam, para que eles aprendam o seu ofício paterno de Criador, tentando criar o mundo humano que lhes compete.
É evidente que existe o mundo físico, material, em que nascemos, vivemos e morremos. E é também inegável que, sobre esse mundo físico e com os seus materiais, os homens construíram um mundo diferente, feito de artifícios humanos.
O mundo material e sua contraparte espiritual (que os cientistas começam a descobrir como antimatéria) constituem o mundo natural. Mas sobre ambas as partes desse mundo natural os homens constroem os seus mundos fictícios. Cada Civilização é um mundo imaginário que o homem constrói com o seu trabalho, modelando em argila e pedra os seus sonhos e as suas ilusões.
Esses mundos artificiais são o reflexo das ideações humanas na matéria Nós os criamos, alimentamos, desenvolvemos, dirigimos e matamos. Os mundos bárbaros criados na Terra eram ingênuos; os mundos civilizados apresentam uma gradação que reflete a evolução humana, indo das civilizações agrárias, fantasiosas e alegóricas, até às grandes civilizações orientais, massivas e arrogantes e às Civilizações Teocráticas, míticas e supersticiosas; chegando às Civilizações Científicas, politeístas e pretensiosas, que se transformam em Civilizações Tecnológicas, materialistas e conflitivas, que morrerão para dar lugar à Civilização do Espírito, na busca cultural da Transcendência. Segundo Toynbee, mais de vinte grandes civilizações já existiram na Terra.
Agora está surgindo aos nossos olhos e sob nossos pés uma Nova Civilização — a do Espírito —que podemos chamar de Cósmica ou Espiritual. E para preparar o advento dessa Civilização do Espírito que o Espiritismo surgiu. Não adianta querermos fazer do Espiritismo uma religião dogmática, carregada de misticismo tolo ou de materialismo alienante.
As novas gerações que se encarnam para realizá-la não temem a Deus nem ao Diabo, simplesmente confiam nos planos irreversíveis do Deus, que se executam segundo as leis da consciência humana em relação telepática permanente com as entidades angélicas a serviço de Deus.
O Espiritismo é a Plataforma de Deus, aprovada pelos Espíritos Superiores para a transformação e elevação da Terra.
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Autor: J. Herculano Pires
CURSO DINÂMICO DE ESPIRITISMO
(O Grande Desconhecido)
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