FUNDAÇÃO ESPÍRITA ANDRÉ LUÍS
1. Não se turbe o vosso coração. Crede em Deus, crede também em mim. Há muitas moradas na Casa de meu Pai. Se assim não fosse, eu vo-lo teria dito; pois vou preparar-vos o lugar. E depois que eu me for, e vos aparelhar o lugar, virei outra vez e tomar-vos-ei para mim, para que lá onde estiver, estejais vós também. (João, XIV:1-3)
Diferentes estados da alma na erraticidade
2. A casa do Pai é o Universo; as diferentes moradas são os mundos que circulam no espaço infinito, e oferecem aos Espíritos desencarnados lugares apropriados à sua evolução.
Além da diversidade dos mundos, estas palavras podem também ser interpretadas quanto ao estado feliz ou infeliz do Espírito na erraticidade. De acordo com o estado de maior ou menor pureza e de desapego às atrações materiais, o meio onde se encontra, o aspecto das coisas, as sensações que experimenta, as percepções que possui, tudo isso varia ao infinito. Enquanto uns vivem presos à esfera na qual viveram, outros se elevam e percorrem o espaço e os mundos. Enquanto certos Espíritos culpados vagam nas trevas, os felizes usufruem de uma claridade resplandecente e do sublime espetáculo do infinito. Enfim, enquanto os maus, atormentados de remorsos e desgostos, quase sempre sós, sem consolação, separados dos objetos de sua afeição gemem sob a opressão dos sofrimentos morais, o justo, reunido àqueles que ama, usufrui das doçuras de uma felicidade indescritível. Lá também há, portanto, várias moradas, embora não limitadas nem circunscritas.
Diversas categorias de mundos habitados
3. Dos ensinamentos dados pelos Espíritos, resulta que os diferentes mundos estão em condições muito diferentes uns dos outros, quanto ao grau de adiantamento ou de inferioridade de seus habitantes. Dentre eles, há os que são ainda inferiores à Terra, física e moralmente. Outros estão no mesmo grau, e outros ainda, são mais ou menos superiores em todos os sentidos. Nos mundos inferiores, a existência é totalmente material, as paixões reinam soberanas, a vida moral é quase nula. À medida que esta se desenvolve, a influência da matéria diminui, de tal forma, que nos mundos mais elevados a vida é, por assim dizer, toda espiritual.
4. Nos mundos intermediários, há a mistura do bem e do mal, com predominância de um sobre o outro, segundo o grau de adiantamento em que se encontrem. Mesmo não podendo fazer desses diversos mundos uma classificação absoluta, pode-se, ao menos, em razão de seu estado e de seu destino - e com base em seus aspectos mais destacados - dividi-los de uma maneira geral, a saber: mundos primitivos, destinados às primeiras encarnações da alma humana; mundos de provas e de expiações, onde o mal predomina; mundos regeneradores, onde as almas que ainda têm algo a expiar adquirem novas forças, repousando das fadigas da luta; mundos felizes, onde o bem supera o mal; mundos celestes ou divinos, morada dos Espíritos puros, onde o bem reina absoluto. A Terra pertence à categoria dos mundos de provas e expiações, e é por isso que o homem nela é alvo de tantas misérias.
5. Os Espíritos encarnados num determinado mundo não estão ligados a ele indefinidamente, e não cumprem nele todas as fases do progresso que devem percorrer, para chegarem à perfeição. Quando eles atingem o grau de evolução necessário, passam para outro mundo mais avançado, e assim sucessivamente, até chegarem ao estado de Espíritos puros. Os mundos são as estações nas quais eles encontram elementos de progresso proporcionais à sua evolução. É para eles uma recompensa passarem a um mundo de grau mais elevado, assim como é um castigo prolongarem sua permanência num mundo infeliz, ou serem relegados a um mundo ainda mais infeliz que aquele que são forçados a deixar, quando se obstinam no mal.
O Céu e o Inferno - cap. III - O Céu (aqui reproduzimoa apenas um trecho o capítulo deve ser lido na íntegra)
Em geral a palavra céu designa o espaço indefinido que circunda a Terra, e mais particularmente a parte que está acima de nosso horizonte. Vem do latim "coelum", formada do grego "coilos", côncavo, porque o céu parece uma imensa concavidade. Os antigos acreditavam na existência de muitos céus superpostos, de matéria sólida e transparente, formando esferas concêntricas e tendo a Terra por centro.
Toda as doutrinas criadas para explicar a existência do paraíso partiram da premissa de considerar a Terra como centro do Universo, ao mesmo tempo que fixavam limites para a região dos astros, colocando além desse limite imaginário a morada do Todo Poderoso.
Singular anomalia que coloca o autor em todas as coisas, aquele que as governa a todas, nos confins da criação, em vez de no centro, donde seu pensamento poderia, irradiante, abranger tudo.
Por toda a parte existe a felicidade, decorrente da categoria em que cada Espírito se coloca pelo seu adiantamento, trazendo cada um consigo mesmo os elementos de sua felicidade, relativamente a todos os progressos e a todos os deveres cumpridos.
O céu, portanto, está em toda a parte e nenhum contorno lhe traz limites, sendo os mundos adiantados as últimas estações do seu caminho, que as virtudes franqueiam e os vícios interditam.
É por isso que Jesus afirma que "o reino de Deus não está aqui, nem acolá, mas dentro de nós".
O Céu e o Inferno - cap. IV - O Inferno - O inferno Cristão imitado do Inferno Pagão
O inferno pagão, descrito e dramatizado pelos poetas, foi o modelo mais grandioso do gênero e se perpetuou no seio dos cristãos onde, por sua vez, houve poetas e cantores. Comparando-os, encontram-se neles - salvo os nomes e variantes de detalhes - numerosas analogias; ambos têm o fogo material por base de tormentos, como símbolo dos sofrimentos mais atrozes. Mas, coisa singular! Os cristãos exageraram em muitos pontos o inferno dos pagãos.
Se os pagãos tinham o tonel das Danaides, a roda de Ixião, o rochedo de Sísifo, têm para todos, sem distinção, as caldeiras ferventes cujos tampos os anjos levantam para ver as contorções dos condenados e Deus, sem piedade, lhes ouve os gemidos por toda a eternidade. Nunca os pagãos descreveram os habitantes dos Campos Elísios deleitando a vista nos suplícios do Tártaro. Os cristãos têm, como os pagãos, o seu rei dos infernos - Satã - com a diferença, porém, de que Plutão se limitava a governar o sombrio império, que lhe coubera em partilha, sem ser mau; retinha em seus domínios os que haviam os homens ao pecado para desfrutar, tripudiar dos seus sofrimentos. Satã, no entanto, recruta vítimas por toda parte e regozija-se ao atormentá-las com uma legião de demônios armados de forcados e revolvê-las no fogo.
Já se tem discutido seriamente acerca da natureza desse fogo que queima, mas não consome as vítimas. Tem-se mesmo perguntado se seria um fogo de betume.
O inferno cristão nada pois fica devendo ao inferno pagão.
As mesmas considerações, que entre os antigos tinham feito localizar o reino da felicidade, fizeram circunscrever igualmente o lugar dos suplícios. Tendo os homens colocado o primeiro nas regiões superiores era natural que reservassem ao segundo os lugares inferiores, isto é, o centro da Terra, para onde eles acreditavam servirem de entradas certas cavidades sombrias, de aspecto horrível. Os cristãos também colocaram ali, por muito tempo, a habitação dos condenados.
A respeito do assunto, frisemos ainda outra analogia: O inferno dos pagãos continha de um lado os Campos Elísios e do outro o Tártaro; o Olimpo, morada dos deuses e dos homens divinizados, ficava nas regiões superiores. Segundo a letra do Envangelho, Jesus desceu aos infernos, isto é aos lugares baixos para deles tirar as almas dos justos que lhe aguardavam a vinda.
Os infernos não eram portanto um lugar unicamente de suplício: estavam como para os pagãos, nos "lugares baixos".
A morada dos anjos, assim como o Olimpo, era nos "lugares elevados". Colocaram-na para além do céu estelar, que se acreditava limitado.
A mistura de idéias cristãs e pagãs nada tem de surpreendente. Jesus não podia de um só golpe destruir enraizadas crenças, faltando aos homens conhecimentos necessários para conceber a infinidade do Espaço e o número infinito dos mundos; a Terra para eles era o centro do Universo; não lhe conheciam a forma nem a estrutura interna; tudo se limitava ao seu ponto de vista: as noções do futuro não podiam ir além dos seus conhecimentos.
Jesus encontrava-se pois na impossibilidade de os iniciar no verdadeiro estado das coisas; mas não querendo, por outro lado, sancionar preconceitos aceitos, com a sua autoridade, absteve-se de os retificar, deixando ao Tempo essa missão. Limitou-se ele a falar vagamente da vida bem-aventurada, dos castigos reservados aos culpados, sem referir-se nunca nos seus ensinos a castigos e suplícios corporais, que constituíram para os cristãos um artigo de fé.
Eis aí como as idéias do inferno pagão se perpetuaram até aos nossos dias. Foi preciso a difusão das luzes dos tempos modernos, o desenvolvimento geral da inteligência humana para se lhe fazer justiça.
Porém como nada de positivo houvesse substituído as idéias recebidas, ao longo período de uma crença cega sucedeu, transitoriamente, o período de incredulidade a que vem por termo a Nova Revolução. Era preciso demolir para reconstruir, visto como é mais fácil insinuar idéias justas aos que em nada crêem, sentindo que algo lhes falta, do que faze-lo aos que possuem uma idéia robusta, ainda que absurda.
Localizados o céu e o inferno, as seitas cristãs foram levadas a não admitir para as almas senão duas situações extremas: a felicidade perfeita e o sofrimento absoluto. O purgatório é apenas uma posição intermediária e passageira, ao sair da qual as almas passam, sem transição, para a mansão dos bem-aventurados.
Outra não pode ser a hipótese, dada a crença na sorte definitiva da alma após a morte. Se não há mais do que duas habitações, a dos elementos e a dos condenados, não se podem admitir muitos graus em cada uma sem admitir a possibilidade de se franquearem eles conseqüentemente, o progresso; ora, se há progresso, não há sorte definitiva; se há sorte definitiva, não há progresso. Jesus resolveu a questão quando disse: Há muitas moradas na casa de meu Pai.
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