sábado, 12 de novembro de 2011

Preconceito contra o Espiritismo

Ainda existe, em maior escala do que se pensa, o medo do Espiritismo. Há pouco, fomos procurados por uma pessoa que, sentindo evidentes perturbações de origem mediúnica, e tendo percorrido os consultórios de psiquiatria, vira-se obrigada a recorrer aos “recursos espirituais”, segundo dizia. Quando soube que não estava tratando com um “espiritualista”, mas com um espírita, assustou-se de tal maneira, que viu-se forçada a confessar o seu medo. “Se eu soubesse que o senhor era espírita - declarou - não o teria procurado.”

A verdade é que, apesar disso, acabou se convencendo de que o Espiritismo poderia ajudá-la, e mais tarde tornou-se espírita. Mas não foi muito fácil arrancar-lhe da mente o pavor doentio que lhe haviam infundido. Sacerdotes, pessoas da família, amigos e médicos, todos haviam contribuído para que o medo se enraizasse em sua alma. Terrível medo, que a desviava da única solução possível para o seu problema.

E o que é mais curioso, a maior contribuição para esse estado de temor foi dado por certas publicações espiritualistas, que apesar de admitirem a reencarnação e a lei de causa e efeito, condenam a mediunidade, pintando-a com as mais negras pinceladas.

O preconceito anti-espírita assemelha-se muito à prevenção contra o Cristianismo, no mundo antigo. As pessoas que temem o Espiritismo não conhecem a doutrina, dão ao termo aplicações indevidas, perdem-se num cipoal de lendas e suposições a respeito das sessões espíritas. Em geral nos acusam de endemoniados, necromantes, feiticeiros e coisas do mesmo teor, como faziam gregos e romanos com os cristãos primitivos. E essas deturpações do Espiritismo não são apenas orais, correndo entre pessoas simples. Figuram também em publicações eruditas, revistas, jornais, livros de ensaios e estudos, com signatários cultos.

Pitágoras já dizia que a Terra é a morada da opinião. E como a opinião é a coisa mais frívola que existe, a mais incerta e a mais irresponsável, não é de admirar que tanta gente opine sobre o que não conhece. Mesmo entre os letrados, a opinião é um hábito enraizado. Mas é evidente que, quando se trata de uma doutrina espiritual, esposada por tantos homens de projeção no mundo das ciências e do pensamento, em todo o mundo, as pessoas de cultura, ou mesmo de mediana cultura, deviam ter mais cautela ao se manifestarem a respeito. Porque se é livre o direito de opinar, não é menos livre o direito de se julgar o senso de responsabilidade de quem opina.

O maior motivo de temer do Espiritismo é o próprio temor. Ou seja: é a covardia humana, essa terrível covardia que faz os homens estremecerem de horror diante do perigo de mudarem de posição diante da vida e do mundo. O Espiritismo, entretanto, não exige outra mudança, senão a da concepção estreita de uma vida utilitarista e falsa, para a ampla concepção de uma vida espiritual, profunda e verdadeira.

Quanto ao problema das relações com o mundo invisível, o Espiritismo não estabelece essas ligações, que existem na vida de todas as criaturas, mas apenas as explica e orienta, dando-lhes o verdadeiro sentido no processo da existência.

Temer o Espiritismo é temer a verdade, que os seus princípios nos revelam, apesar de todos os que lutam para deturpá-los.


Do livro “O Homem Novo” - Herculano Pires

Um comentário:

  1. Olá, muito já se fez mas ainda há um longo caminho pra imensa maioria. Infelizmente, ainda temos muita desinformação, mistificação e xenofobia quando o assunto é religião. Apontar os motivos pelos quais o Espiritismo ainda é tão perseguido é tarefa árdua. Vemos que a internet passou a ser o reduto daquelas pessoas intolerantes, desprovidas de censo moral e de respeito, que consagram tempo e dinheiro para simplesmente atacar a religião dos outros. Um discurso que não é levado com todas as letras nos templos, mas que vem ganhando fôlego na arena virtual. O Espiritismo traz uma realidade simples, mas dura e difícil de ser aceita pela imensa maioria. A de que Deus não pune, mas educa. De que se eu prejudicar alguém vou ter de pedir perdão a ele e resolver o meu problema com ele, e não com uma suposta absolvição de um terceiro, seja ele padre ou pastor. A de que posso voltar como serviçal dos meus empregados, caso não os trate com o devido respeito que merecem, embora tenham empregos modestos. E, a que na minha opinião é a mais dura,o fato de que a palavra do Cristo veio ao mundo para ser praticada, e não apenas conhecida. Muitos acham que apenas crer será o suficiente para a salvação (de quê?, de quem?). O que os perseguidores dos espíritas não desejam admitir é o fato de que o caminho ao criador da vida não é um prêmio, mas um processo. De que a evolução de cada um é feita em comparação com Jesus, e não com os ladrões, assassinos, suicidas e outros irmãos menos esclarecidos. Isso adquire contornos muito peculiares no nosso país, uma vez que foi colonizado com trocas de presentes porque a maioria das pessoas quer ganhar a vida eterna, quer ganhar a felicidade. Convencê-la que ele não irá ganhar nada, mas que terá de conquistar e na maioria das vezes abrindo mão de coisas, companhias e hábitos que ela não sabe viver sem é uma realidade muito dura para ser aceita.

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