sábado, 11 de dezembro de 2010

Profilaxia da Alienação - Richard Simonetti

Dois pacientes conversam no manicômio:
– Sou Francisco de Assis!
– Como soube?
– Uma revelação!
– De quem?
– De Deus.
– Mentira! Nunca lhe falei nada disso!
Este é o clássico exemplo de doentes mentais afastados da realidade,em estágio num mundo de fantasia.
Distúrbios graves dessa natureza,originários de acidente circulatório,senilidade, Mal de Alzheimer e outros, situam-se por cobranças cármicas que o destino faz ao paciente e à família. É o decantado resgate de débitos pretéritos,conforme ensina a Doutrina Espírita.
Em O Evangelho segundo o Espiritismo,capítulo V, item 14, Kardec faz oportuna observação, que merece nossa reflexão:
[…] é certo que a maioria dos
casos de loucura se deve à comoção produzida pelas vicissitudes que o homem não tem a coragem de suportar. [...]
Interessante, leitor amigo. O Codificador considera que a loucura,na maioria dos casos, é produzida pela inconformação diante de situações difíceis, como a morte de
um ente querido, o desastre financeiro,a decepção amorosa, a doença grave,a solidão.
Se a tensão é muito grande, pela recusa em enfrentar os desafios existenciais, fervem os miolos, derrete a razão.
O mesmo ocorre com muitos recém-desencarnados.
Nas reuniões mediúnicas deparamos com entidades nessa lamentável condição. Pouco afeitos à oração e à reflexão, mente presa a situações que dizem respeito à existência física, perturbam-se e caem na alienação.
Como a dimensão espiritual é uma projeção da dimensão física,começando exatamente onde estamos,tendem a gravitar em torno de seus familiares, negócios, vícios, paixões, ambições…
Confusos e aflitos, perturbam os que lhes sofrem a influência,com sua perplexidade e indignação diante de acontecimentos para eles incompreensíveis.
– Meus filhos estão roubando minha fortuna – reclama o usurário,sem perceber que se trata de uma partilha envolvendo o inventário de seus bens.
– Minha mulher está me traindo
– reclama o esposo, sem perceber que ela está refazendo sua vida afetiva.
– Meu marido recusa-se a conversar comigo – reclama a esposa,sem perceber que o marido simplesmente não a vê.
Mente prisioneira das ilusões da Terra, têm dificuldade para encarar as realidades do Além.
Mais lamentável que a alienação mental, que atinge Espíritos encarnados e esencarnados, é a alienação existencial que lhe dá origem.
É o viver sem noção dos porquês da existência.
De onde viemos, o que estamos fazendo na Terra, para onde vamos?
Fiz certa feita uma pesquisa junto a colegas de trabalho, com destaque para a seguinte pergunta:
Qual o objetivo da Vida?
Pasme, leitor amigo! A maioria,mesmo dentre os que se diziam religiosos, não soube responder!
Agora, pergunto-lhe: como pode alguém viver de forma disciplinada,corajosa, espiritualizada,se não sabe o que veio fazer na Terra?
Por isso as pessoas desajustam-se diante das vicissitudes, ficam doentes, atribuladas, infelizes, nervosas,desembocando, não raro, nos transtornos mentais que podem culminar na alienação.
Princípios religiosos tradicionais nos dizem que nossa alma foi criada por Deus no momento da concepção e que a felicidade futura vai depender de cumprirmos o que Deus espera de nós. Num espaço de alguns decênios, decidiremos o nosso futuro para sempre.
É complicado, porque não somos todos iguais.
Não temos o mesmo caráter.
Não temos as mesmas disposições.
Não temos a mesma inteligência.
Não temos as mesmas virtudes.
Não temos a mesma compreensão.
Há gente boa e gente ruim.
Há gente inteligente e gente
obtusa.
Há gente religiosa e gente materialista.
Há gente virtuosa e gente viciosa.
Há gente altruísta e gente egoísta.
Será que Deus nos fez assim,com tão gritantes diferenças, como se tivesse criado uns para a salvação e outros para a perdição?
Tais dúvidas induzem ao amornamento da crença e, não raro, à descrença.
Por isso, habituam-se as pessoas a viver sem questionamentos,preferindo o imediatismo terrestre às cogitações celestes.
O Espiritismo nos ajuda a superar a alienação existencial, a partir da fé racional, como propõe Kardec, compromissada com a lógica e o bom senso.
Somos Espíritos imortais.
Já vivemos múltiplas existências no passado e continuaremos a viver no futuro, desdobrando experiências de aprendizado e aprimoramento.
Cada um de nós tem uma idade espiritual, e nossa personalidade, com nossas facilidades e limitações, com nossas tendências boas ou más, é o somatório de nossas
ex p e r i ê n c i a s do passado, do que fizemos.
As vicissitudes da Terra, os problemas e dissabores que enfrentamos guardam relação
também com o nosso passado.
Tanto melhor os enfrentaremos quanto maior a nossa confiança em Deus e a disposição de lutarmos contra nossas imperfeições,buscando fazer o melhor.
É o que destaca Kardec, na sequência do citado item 14, ao reportar-se ao indivíduo que enfrenta as atribulações da Terra:
[...] se encarando as coisas deste mundo da maneira por que o Espiritismo
faz que ele as considere, o homem recebe com indiferença, mesmo com alegria, os reveses e as decepções que o houveram desesperado noutras circunstâncias, evidente se torna que essa força, que o coloca acima dos acontecimentos, lhe preserva de
abalos a razão, os quais, se não fora isso, a conturbariam.
Perfeito! Encarar os desafios do caminho, na jornada da vida, com as lentes do Espiritismo, é a melhor maneira de não tropeçarmos na alienação.
Pode parecer um exagero o receber mesmo com alegria, os reveses e as decepções...
Difícil rir na dor ou festejar na frustração.
Mas não seria essa a postura lógica de alguém que resgata uma dívida? Se chorar diante do credor,não haverá de ser pela euforia de liquidar o débito?
E se difícil nos parece chegar a tanto, diante da adversidade, que pelo menos preservemos a sanidade física e espiritual, cultivando bom ânimo.
Assim como são necessários os suplementos vitamínicos diários para suprir determinadas deficiências orgânicas, é importante, indispensável mesmo, que alimentemos nossa alma com a leitura e a reflexão em torno das ideias que Kardec,
sabiamente, desenvolve em O Evangelho segundo o Espiritismo, sob inspiração
dos mentores espirituais.
Somente assim teremos condições para, em todas as situações,conservarmos a saúde espiritual,indispensável ao perfeito aproveitamento da jornada.

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