quinta-feira, 7 de abril de 2011

Maria Dolores, a Poetisa Baiana

Maria Dolores veio ao mundo como Maria de Carvalho Leite, na cidade sertaneja de Bonfim de Feira (BA), no dia 10 de setembro, de 1900, filha de Hermenegildo Leite, escrivão da Prefeitura, e da doméstica Balbina de Carvalho Leite. Em Bufem, passou a infância. Do casal Hermenegildo e Balbina nasceram, com Dolores, três homens e duas mulheres. Os biógrafos, todos eles sem exceção, desconheceram o fato de que a grande poetisa baiana possuía dotes mediúnicos.
Em 1916, diplomou-se professora pelo Educandário dos Perdões, considerada pelas colegas e professores como adolescente prodígio, graças à rara inteligência.
A poesia, Dolores começou a senti-la na cidade natal, ainda quase criança, a transformar-se, mais tarde, na poetisa de bons versos que todos conhecemos.
Lecionou no Educandário dos Perdões e no Ginásio Carneiro Ribeiro, em Salvador. Além disso, também ministrava aulas particulares. Daí porque entendemos seu modo todo especial de ensinar, por meio dos versos, às almas aflitas.
Seu Espírito não se limitou somente aos versos. Ela tocava piano, pintava, gostava da costura e da arte culinária. Humana por excelência, viveu desenvolvendo em si qualidades inatas.
Sua vida não poderia, porém, ser somente flores: estava-lhe reservada uma prova de sofrimentos morais.
Casada com o médico Odilon Machado, suportou o infeliz consórcio durante alguns anos, o qual se interrompeu finalmente pela solução do desquite. Não houve filhos desta união, como nunca os teria Maria Dolores.
Em sua peregrinação, morou em várias cidades da Bahia e foi em Itabuna que conheceu Carlos Carmine Larocca, italiano radicado no Brasil, de quem se tornou companheira ajudando-o, ombro a ombro, em suas atividades. Proprietário do Café Baiano e de uma tipografia denominada A Época. Por ocasião da II Guerra Mundial, o Sr. Larocca foi prisioneiro político devido à sua nacionalidade. Em 1947, mudou-se para Salvador, onde Maria Dolores continuou com suas sessões mediúnicas.
Notamos nos seus versos quanto sofrera, buscando algo que não encontrava: a sua complementação afetiva, tal como fora planejado pela Providência, para que buscasse o Amor Maior, que ela soube encontrar um dia: Jesus! Tanto sofrimento, contudo, não foi capaz de torná-la indiferente ao sofrimento humano.
Na imprensa, falava dos direitos humanos e do sofrimento dos menos felizes. Não foi compreendida: tacharam-na de "comunista", pelo que teve de responder às acusações que lhe faziam, pois fora a isso intimada.
Em menina, fora católica; em adulta, o sofrimento fizera-lhe conhecer a Doutrina de Allan Kardec e veio a consolação, a aceitação do sofrimento.
A dor que suportou a fez conhecer o então combatido Espiritismo. De alma caridosa integrou-se à Legião da Boa Vontade, fundada pelo saudoso Alziro Zarur. Era freqüente ver-se Maria Dolores dedicando-se aos sofredores dos bairros pobres da cidade de Salvador. Afastando-se das lides literárias, Maria Dolores dedica-se, então, à caridade infatigável, criando meninas, sonhando edificar o Lar das Meninas sem Lar.
Receando a apreciação da crítica especializada, guardou para si sua obra poética durante muito tempo, segundo confessa no prefácio do livro Ciranda da Vida, cuja renda possibilitou a realização de seu antigo desejo. Com isso, Maria Dolores, que não fora mãe biológica, tornava-se mãe espiritual de várias meninas, abrigando em seu próprio lar crianças desvalidas, orientando-as e assistindo-as.
Sendo reconhecida na Capital pela sua arte, passou a escrever nos jornais Diário de Notícias e O Imparcial sendo, neste último, redatora-chefe da Página Feminina. Durante 13 anos, escreveu nos jornais citados, mostrando o mundo de ternura que trazia dentro de si, com o pseudônimo de Maria Dolores.
Apelidada pelos amigos e familiares de Madô e Mariinha, era reconhecida pela simpatia e bondade com que a todos cativava.
Fazia campanhas, prendas para os bazares realizados em sua própria casa. Fundou um grupo que se reunia em sua residência todas as semanas, quando saíam para distribuir, nos bairros carentes escolhidos, farnéis, roupas, remédios... Chamavam-se As Mensageiras do Bem. No Natal, faziam campanhas e distribuíam donativos assim como nos Dia das Mães.
Dolores costurava enxovais, vendia o que era seu ou os empenhava e, às vezes, contraía dívidas para desse modo ajudar alguém. Uma de suas filhas adotivas relatou certa vez que, quando ela desencarnou, alguém viera com jóias que lhe pertenceram, as quais foram dadas por ela para que se tornasse viável uma das campanhas que então se fazia.
No trabalho do Senhor, na dedicação à causa evangélica, foi desenvolvendo diversas faculdades mediúnicas. Isso a ajudou a suportar injúrias, como quando fora acusada de "comunista", e outros sofrimentos que, em vez de abatê-la, a elevavam.
Perdoando sempre por cima de suas lágrimas, qual ensinou Jesus, trazia em si um grande sentido maternal e, como não lhe foi dado o direito da maternidade, adotou seis meninas.
Carlos (o esposo) estava na Itália quando Dolores adoeceu. A pneumonia a atacara de forma violenta. Antonieta Bastos foi visitá-la com José e Faustino e, vendo seu estado dispnéico e de real abatimento, providenciaram o internamento no Hospital Português. Inúteis foram, porém, os esforços médicos. Poucos dias depois, quatro ou cinco dias, em 27 de agosto, de 1959, partiu de volta à Pátria Espiritual. Eram 1h40 min. E, como disse Mara, em sua crônica, Partiu-se o Guizo de Cristal. Nilza foi avisar, imediatamente, a Antonieta e Maria Alice. Levaram o corpo para a Casa de Tia Sara − sede da LBV − e de lá partiu, com grande acompanhamento, para o Campo Santo.
Numa carta escrita a Maria Alice, Francisco Cândido Xavier narra o seguinte: Maria Dolores lhe aparecera no dia 29 de março de 1964, bela e remoçada. As lágrimas vieram-me aos olhos, de vê-la tão claramente junto a mim. Que emoção!
Dolores era alva, de cabelos e olhos pretos, alegre e brincalhona, de estatura mediana e robusta de físico. Desencarnara aos 59 anos, mas a sua lira continuou vibrando em benefício do amor, da caridade e do perdão, o seu hino ao Senhor, não diferente dos hinos que tocava e cantava cheia da alegria de servir.
Perguntaram a Chico Xavier qual o primeiro poema que Maria Dolores escreveu por seu intermédio, e ele disse ser o belíssimo Anseio de Amor, inserido nas páginas de Antologia da Espiritualidade.
Desde então ela nos enviava, pelas mãos abençoadas do médium mineiro e também por intermédio de Divaldo Franco, suas páginas normalmente em forma de poesia e rimas, sendo muito comum enviar as tradicionais mensagens das mães e do Natal, por ocasião destas comemorações.
Maria Dolores, a poetisa que ressurgiu pelas mãos abnegadas de Francisco Cândido Xavier, quando encarnada quase sempre engavetava os seus poemas. Em seu livro Ciranda da Vida ela diz o porquê: O pavor à crítica, cujos apupos são uma das formas mais comuns em que se extravasa a vaidade humana, tem-me feito recuar ante a possibilidade de publicar os meus versos simplórios e passadistas. E, por isso, foi-se a mocidade, chegou a velhice, e eles continuam a entulhar o fundo de velha gaveta. Nunca tive jeito para versejá-lo moderno, atualizado até por alguns poetas da velha guarda. Nem mesmo cheguei a tentá-lo. Agora, porém, com a reforma espiritual que traçou um novo caminho para este meu fim de vida, sinto-me disposta e capaz de enfrentar a crítica, porque este livro se destina, com sua venda, a oferecer pequena ajuda a algumas instituições de caridade. Despretensiosa a minha atitude. Mas sincera. Bem intencionada.
Não tardou, porém, e a poetisa reaparece com seu iniludível estilo depois de uma existência inteira consagrada ao próximo, compondo, sobretudo para os leitores espíritas, os mais belos poemas de encorajamento e reconhecimento da excelsitude de Jesus.

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