Para entender a atitude dos espíritas diante da perda de entes queridos, é preciso entender a visão espírita da morte. O que é a morte para o espírita?
Em primeiro lugar, a destruição do corpo físico, que é um fenômeno comum a todos os seres biológicos. Segundo, a morte é um instante em meio a um caminho infinito. E em terceiro lugar, a morte é uma transição e não um ponto final.
Há que se considerar também que o espírito está permanentemente em processo de crescimento e renovação e a morte é a forma de forçar esta renovação, mudando am-bientes e projetos de vida.
Esta visão um tanto pragmática e aparentemente fria da morte não exclui a existência de sentimentos e emoções, porque tanto quanto sentimos mais ou menos fortemente a separação geográfica entre duas pessoas e ansiamos por reencontrarmos aqueles que estão longe, assim também ansiamos por ter novamente conosco os que se foram.
Mesmo na vida física há separações que são traumáticas, longas e, às vezes, definitivas. Na morte, então, a saudade e a vontade de ter outra vez aquele que se foi é perfeitamente natural e compreensível, mas a certeza da retomada do afeto e de projetos comuns no futuro é profundamente consoladora e faz com que a esperança possa ser tranqüila e confiante.
Por que é tão doloroso ainda para nós o fenômeno da morte física, com a separação dos entes que amamos?
Mauro Operti – Exatamente porque os amamos, queremos tê-los continuamente junto a nós. Isto não precisa de explicação, é natural. Vivemos em função dos outros. Tudo o que fazemos na vida tem como referência o outro. Se o outro que amamos se vai, como não sentir?
É licito procurarmos o contato com entes que partiram, já que a morte não é o fim?
Mauro Operti – Perfeitamente, desde que a nossa atitude mental e as nossas emoções estejam equilibradas. Por outro lado, toda vez que tentamos o contato com o mundo espiritual, temos que ter certeza de que os meios dos quais dispomos (ambiente, médiuns etc.) sejam apropriados para a nossa intenção. De qualquer modo, temos que ser prudentes quando intentamos qualquer contato com o mundo espiritual. E mesmo que a nossa intenção seja boa ou a nossa saudade muito grande, as leis da comunicação mediúnica continuam em vigência. Mas, de qualquer maneira, se a misericórdia divina nos forneceu os meios de comunicação, é perfeitamente razoável buscarmos o contato com aqueles que nós amamos. Quem não anseia uma palavra de afeto de quem está longe? É profundamente consoladora esta certeza.
O que se pode dizer às pessoas que buscam o centro espírita com profundo desejo de receberem uma mensagem de um ente querido que já partiu?
Mauro Operti – Em primeiro lugar, estar avisado de que este contato nem sempre é possível. Às vezes, passam-se meses ou anos antes de conseguirmos uma palavra ou uma mensagem. Nem os médiuns, nem os espíritos estão obrigados a nos dar a resposta que queremos. Se a misericórdia divina permitir, nós a receberemos, como muitos que já receberam. As evidências para alguns de nós são numerosíssimas, como é o meu próprio caso. Eu não tenho como negar o fato da sobrevivência pelo muito que já vivenciei ou já presenciei.
Qual a garantia de estarmos nos comunicando com nossos verdadeiros entes?
Mauro Operti – As evidências para a comunicação entre mortos e vivos são de dois tipos: são subjetivas ou objetivas. As evidências objetivas são confirmações externas, através de fatos objetivos que deixam motivo para poucas dúvidas (ou nenhuma dúvida). É claro que, como acontece com a própria pesquisa científica, sempre se pode levantar hipóteses explicativas para os fenômenos. O que se faz é levar em conta a soma de evidências que levam, quase sem deixar dúvidas, a se aceitar que o fenômeno foi genuíno. Mesmo na pesquisa científica, isto também acontece. Na realidade, nada é definitivamente provado em ciência. Mas, para muitas coisas, o peso das evidências a favor de uma determinada explicação é tão grande que, do ponto de vista prático, é como se estivesse provado. É assim também com os fatos mediúnicos. Mas existem também as evidências subjetivas e essas são pessoais e intransferíveis. Eu não posso provar a uma outra pessoa que sonhei com um ente querido e que isto significa que eu realmente estive com ele, mas, interiormente, eu tenho certeza, pelo realismo das cenas vividas oniricamente e por detalhes que me trazem uma certeza interior que não pode ser transferida. E quando isto acontece, não me importa absolutamente o que o outro possa pensar da minha experiência.
As perdas vivenciadas por qualquer encarnado, quando acompanhados de sentimento de resignação e capacidade de perdão, podem se tornar um aprendizado, um treinamento que nos levaria a entender melhor a perda dos entes queridos?
Mauro Operti – Certamente, porque é o aprendizado da renúncia, a certeza de que não somos donos de nada, nem de ninguém. Que o que temos num certo momento nos pode ser tirado no outro e continuamos vivendo, continuamos lutando sempre com a visão do futuro.
O ente desencarnado assiste ao seu velório? Assim sendo, qual sua postura diante da demonstração de dor dos entes encarnados?
Mauro Operti – Nem sempre. Vai depender do próprio espírito e da assistência por parte dos seus amigos espirituais. Às vezes, ele não tem condições emocionais e está tão desarvorado que deve ser afastado do local. Outras vezes o seu estado de perturbação é tal que ele não tem consciência do que está se passando. Mas, muitas vezes, isso é possível.
A vontade de ver o ente que se foi, a saudade, não atrai o espírito do parente querido desencarnado? Isto pode levar a uma obsessão?
Mauro Operti – Depende do estado mental e emocional que acompanha esta vontade. Também depende das condições do espírito desencarnado, mas não há perigo em pensarmos com saudade nos nossos afetos desencarnados. Isto é uma expressão do carinho e da afeição que une dois seres. Como proibir? Seria, no meu modo de ver, uma falha das Leis Divinas não deixar que nos lembremos com carinho daqueles que um dia se foram.
Como proceder para saber se os entes queridos estão bem?
Mauro Operti – Rezar, pedir a Deus que lhe permita sentir o carinho daquele de quem você gosta. Com o tempo e a prática aprendemos a nos dirigir mentalmente àqueles de quem gostamos e as evidências subjetivas que colhemos desses contatos nos dão a certeza de que realmente estivemos com eles. Mas é preciso aprender a fazer as rogativas mentais com tranqüilidade, confiança e a certeza da assistência espiritual de nossos guias. Peçamos a Jesus acima de tudo e esperemos com serenidade.
Que mensagem você daria para as pessoas que perderam seus entes queridos e acreditam que nunca mais irão encontrá-los?
Mauro Operti – Para estas pessoas eu diria que Deus não cometeria esta maldade de separar definitivamente dois seres que se amam. A essência da vida é o outro. Por que Deus juntaria num breve tempo de uma existência duas criaturas que se sentem felizes de estar juntas e depois as separaria pela eternidade? A certeza da sobrevivência que a prática espírita garante às criaturas está acompanhada da certeza da reunião daqueles que se amam depois da perda do corpo físico. Esta é a maior consolação que poderíamos desejar, mas não é só uma consolação piedosa, é uma certeza proveniente da vivência que, aos poucos, vai nos tornando mais seguros e menos propensos às crises de ansiedade e aflição que são tão comuns às pessoas hoje em dia. Temos certeza e sabemos, não apenas acreditamos.
Entrevista publicada na edição 11 da Revista Cristã de Espiritismo.Ao reproduzir o texto, favor citar o autor e a fonte.
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