1 - Ao demonstrar as conseqüências que resultam de cada um dos nossos atos, dando a certeza da vida futura, o Espiritismo tem por finalidade a renovação íntima dos indivíduos. O que se observa no Movimento Espírita, algumas vezes, é que coexistem perspectivas diferentes sobre o caminho para se chegar a este objetivo. Essas diferenças são prejudiciais à Doutrina Espírita?
Em realidade, essas diferenças fazem parte do contexto das necessidades humanas. Por um largo período ainda haverá discrepâncias metodológicas, diferenças de aplicações de recursos, tendo-se em vista os variados níveis de consciência que assinalam a sociedade terrestre e, em particular, o Movimento Espírita.
Somos um Movimento ainda em formação. Encontramo-nos na fase da fixação dos valores, quando aprenderemos a selecionar aqueles sentimentos éticos mais importantes para o nosso progresso moral e intelectual. É natural, portanto, que indivíduos intelectualizados, mas não necessariamente moralizados, ao adentrarem-se no conhecimento espírita, intentem aplicá-lo de acordo com a sua maneira de pensar e não de acordo com a proposta exarada pelo Codificador. Disto resultam as discrepâncias metodológicas que de nenhuma maneira afetam a Doutrina, em seu contexto já perfeita, mas gerando algumas dificuldades no Movimento que a qualidade das boas aplicações terminará por superar.2 - Os E spíritos que se manifestaram na Codificação asseveraram a missão do Espiritismo como regenerador da humanidade, idéia que se observa também nas comunicações mediúnicas de inúmeros outros Espíritos. O Movimento Espírita ao redor do mundo caminha nesta direção?
Sem dúvida. Neste momento de transição vivemos os primórdios da hora de renovação social que tomará conta do mundo, assim que passem as grandes tribulações e os testemunhos que irão purificar os espíritos que se olvidaram da lei de amor. Em toda parte, as entidades venerandas comunicam-se convidando à transformação moral do indivíduo, para que, a partir dela, haja a renovação social.
É muito fácil pensar-se num mundo melhor, mas para que isto ocorra é necessário que os espíritos que o habitamos sejamos melhores. Quando nos tornarmos menos agressivos, menos egoístas, menos atormentados pelas paixões inferiores, estas heranças inevitáveis do nosso processo antropossociopsicológico, já estaremos melhores e, conseqüentemente, constituiremos a sociedade melhor para um mundo mais feliz e mais tranqüilo.
Examinando os períodos por que passaria a Doutrina Espírita, o Codificador refere-se ao período de renovação social, que seria o último, indubitavelmente, este que agora estamos iniciando.3 - Como avalia os meios utilizados para o ensino espírita, atualmente, nos Centros Espíritas?
Uma conversa de Espiritismo é uma aula de Espiritismo. Em breve, sem dúvida, os núcleos espíritas, que já são escolas de espiritização, transformar-se-ão nos verdadeiros centros de ensinamento espírita.
Pessoalmente, acho muito difícil que venhamos a criar instituições educacionais culminando em Universidades eminentemente espiritistas. A experiência de outras religiões no passado demonstrou que este não é o melhor método de divulgar o pensamento filosófico de Jesus, porque inevitavelmente passamos a elaborar separatismos desnecessários. Acredito, pessoal-mente, que este ensino, conforme se vem dando, não atenderá a tradicional metodologia e a pedagogia ancestral, que foram trabalhadas com finalidades profanas. Na colocação do pensamento espírita, estes ensinos obedecerão a outros métodos, que facultarão o melhor entendimento do indivíduo sem que haja um tipo de currículo, um tipo de disciplina, um tipo de classes e, naturalmente, as diferenciações promocionais, a oferta de títulos universitários, teológicos ou de outra natureza, aos espiritistas que deverão primar pela sua transformação moral e numa abrangência intelecto-moral.
4 - No mundo espiritual, há um movimento organizado pelos espíritas desencarnados, semelhante ao que desenvolvemos na Terra? Dividem-se os espíritos entre as tarefas de acordo com a sua crença religiosa?
Segundo tenho podido constatar, a Terra continua sendo a cópia da realidade do mundo espiritual. Os indivíduos reúnem-se não apenas pela convicção religiosa, mas também nacional, lingüística, da última existência ou das penúltimas, aí continuando em grupamentos em que se estuda o pensamento do Cristo, dentro das suas antigas teologias, avançando para uma visão cósmica na qual todos se amarão, entendendo profundamente a palavra do Senhor, sem os divisionismos que se fizeram necessários em decorrência do processo de evolução dos indivíduos na Terra.
Tenho feito viagens espirituais e encontrado estes grupos étnicos, religiosos, lingüísticos, como se estivessem na Terra, mas também tenho tido ocasião de visitar lugares onde estas barreiras e discriminações foram superadas e os indivíduos amam com devotamento a Jesus, sem qualquer resquício evocativo das características terrenas. Já são faixas espirituais mais elevadas.5 - Observa-se algumas vezes entre os adeptos do Espiritismo uma postura tradicionalmente religiosa na maneira de entender e de se relacionar com a Doutrina Espírita. Este entendimento dá margem a problemas dentro do Movimento Espírita, como a ritualização de certas práticas, abuso de poder nas hierarquias, e outras dificuldades. Tendo em vista os entraves que a cultura religiosa ancestral criou no pensamento humano, é correto buscar compreender o Espiritismo em primeiro lugar como uma ciência e filosofia, muito mais próximo das outras Ciências do que das religiões tradicionais? Poderia o Movimento Espírita organizar-se segundo esta idéia?
Vivemos um momento de ásperas transformações, e o Movimento Espírita vem tentando encontrar o melhor caminho em um povo como o nosso, com tradições místicas, herdadas dos nossos ancestrais. A visão religiosa da Doutrina colocou-se como prioritária, por atender mais de imediato os grandes sofrimentos morais, econômicos, sociais, emocionais, que vergastam a nossa sociedade.
Uma visão de um Espiritismo sob o ângulo científico é muito válida para aqueles indivíduos que têm uma formação acadêmica e que se possam dedicar a experiências que confirmem todos os fatos que desde Allan Kardec já foram constatados. O que me parece deveria prevalecer ao invés da ritualística que lentamente vai sendo introduzida e aceita por desconhecimento da Doutrina, é que se levasse em consideração a proposta filosófica de uma visão ampla, de uma observação cuidadosa dos fatos da vida e de como o Espiritismo os explica e os orienta, ensejando, deste modo, um comportamento ético-moral saudável, no qual a conseqüência religiosa é inevitável, mas não as fórmulas que caracterizam as religiões, apresentando-se como seitas que já estão totalmente superadas.
Esta preocupação é muito válida, porquanto periodicamente surgem indivíduos em torno dos quais formam-se grupos, indivíduos portadores de mediunidade, nobre ou não, mas mediunidade, que não poucas vezes tornam-se líderes esquisitos e esdrúxulos, com comportamentos alienados, procurando apresentar propostas de exaltação do seu ego e gerando à sua volta uma mística que infelizmente vem desaguando em determinadas posturas incompatíveis com o Espiritismo, como o casamento espírita, etc.6 - Alguma consideração especial ao Movimento Espírita paranaense?Aprendemos com os espíritos nobres que fora da Codificação não há Espiritismo. Todas as obras de todos os investigadores que vieram durante e após Allan Kardec, fazendo abordagens em torno da Doutrina, são valiosas, como contribuição de colaboradores que apresentam uma ajuda subsidiária de amplitude e desenvolvimento daquilo que Allan Kardec, com muita propriedade, sintetizou nas obras básicas que servem de estrutura para a preservação da Doutrina.
As informações mediúnicas que vieram após, através de médiuns nobres e missionários, são ainda o desdobramento daquelas bases profundas, atualizando-as de acordo com a época em que chegam estas informações.
Estudar Allan Kardec para poder vivenciar o Evangelho de Jesus, conforme o viveram ele e seus primeiros discípulos, é o grande desafio para todos nós, espíritas, que desejamos ser fiéis à própria Doutrina, à nossa consciência e à consciência cósmica.
Assim pensando, esta tem sido a conduta do Movimento Espírita paranaense, que se tem mantido fiel à Codificação, conforme a herdamos do egrégio mestre de Lyon. Preservar, portanto, o trabalho de divulgação doutrinária corretamente, sem os infelizes desvios que se observam em alguns setores do nosso Movimento, é dever que nos impomos, aqueles que prometemos fidelidade ao Espiritismo. Jornal folha do mundo
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