sábado, 15 de agosto de 2009

Perda de entes queridos

Diante da inexorabilidade da morte, as dores da separação e da perda de um ente querido não podem ser evitadas. Contudo, a maneira de encarar a situação e o entendimento de que a morte não existe podem auxiliar, em muito, as pessoas a passarem por este transe tão difícil.Sir Oliver Lodge, eminente cientista e laureado físico e inventor do final do século IXX e início do século XX, estudou e conduziu experimentações, durante anos, acerca dos fenômenos espíritas e tendo perdido um filho durante a 1ª Grande Guerra escreveu um livro, Raymond, sobre as comunicações mediúnicas e inequívocas provas de identidade do filho que empresta o seu nome à obra, traduzida por Monteiro Lobato. Diz o cientista: “Jamais ocultei minha crença de que a personalidade não só persiste, como ainda continua mais entrosada ao nosso viver diário do que geralmente o supomos; de que não há nenhuma solução de continuidade entre os vivos e os mortos...”Outra personalidade que obteve grande consolação após a perda da filha querida, Leopoldine, foi o escritor e pensador francês Victor Hugo. Quando exilado na ilha britânica de Jersey, começou a pesquisar os fenômenos espiríticos, relatando as suas experiências na obra Les Tables Tournantes de Jersey(As Mesas Girantes de Jersey). Dentre os escritos que deixou para serem publicados após sua morte, destacamos o seguinte, que reflete bem a posição espírita do autor:“A morte não é o fim de tudo. Ela não é senão o fim de uma coisa e o começo de outra. Na morte o homem acaba e a alma começa. Eu sou uma alma. Bem sinto que o que darei ao túmulo não é o meu eu, o meu ser. O que constitui o meu eu irá além.”“O homem é um prisioneiro. O prisioneiro escala penosamente os muros de sua masmorra. Coloca o pé em todas as saliências e sobe até o respiradouro. Aí, olha, distingue ao longe a campina. Aspira o ar livre, vê a luz.”“Assim é o homem. O prisioneiro não duvida que encontrará a claridade do dia, a liberdade. Como pode o homem duvidar se vai encontrar a eternidade à sua saída? Por que não possuirá ele um corpo sutil, etéreo, de que o nosso corpo humano não pode ser senão um esboço grosseiro? (...)”“A morte é uma mudança de vestimenta. A alma que estava vestida de sombra vai ser vestida de luz. Na morte o homem fica sendo imortal. A vida é o poder que tem o corpo de manter a alma sobre a terra, pelo peso que faz nela. A morte é uma continuação. Para além das sombras, estende-se o brilho da eternidade.” Entretanto, há dores que se estendem demasiadamente. Em O Livro dos Espíritos, livro IV - Capítulo I, Perda de entes queridos, Allan Kardec indaga dos espíritos, na questão 936: “De que maneira as dores inconsoláveis dos que ficaram na Terra afetam os Espíritos desencarnados que as provocam?” Resposta: “O Espírito é sensível à lembrança e às saudades daqueles que amou na Terra, mas uma dor incessante e fora de propósito o afeta penosamente, porque ele vê, nessa dor excessiva, falta de fé no futuro e de confiança em Deus e, por conseguinte, um obstáculo ao progresso e talvez ao reencontro com os que ficaram.”O grande antídoto ao desespero, além do conhecimento de que a separação é transitória e a perda o é apenas da forma física tangível, advém da prece recomendada pelo Espiritismo a todos aqueles que partiram. Enquanto se lhes auxilia e fortalece, através destas vibrações sutilíssimas da prece os corações daqueles que choram se sentirão aliviados e as suas lágrimas estancadas. Da mesma forma, a prece ajuda no desligamento do espírito das vibrações da matéria, tornando o seu despertar no mundo espiritual mais tranquilo durante a transição da morte. A consolação espiritual necessita refletir-se no fortalecimento psicológico. Quem guarda relação de dependência emocional com o ente querido que partiu tem muito maiores dificuldades na separação. De agora em diante, inelutavelmente, deve contar apenas consigo mesmo. Se a pessoa acha-se frágil, insuficiente e tem baixa autoestima, provavelmente necessitará de um trabalho psicoterápico para redescobrir seu potencial interno e resgatar sua autoconfiança e autoestima.Uma observação essencial é que a pessoa que sofre a dor da perda de um ente querido não deve ficar na dependência emocional de uma mensagem psicografada. Apesar de esta ser um inigualável consolo, a pessoa precisa criar forças em seu próprio ser. As comunicações mediúnicas obedecem a leis muito complexas e se constituem mais exceções do que regra. Nem todos os espíritos conseguem se comunicar por um dado médium e, dentre os médiuns, poucos têm as faculdades plenamente desenvolvidas a permitir mensagens com inequívocas comprovações de identidade. São afortunados, pois, espíritos e encarnados que logram obter comunicações satisfatórias. Não obstante, as ocorrências destas comunicações se multiplicam, constituindo-se em decisivo peso comprobatório da imortalidade da alma. Mas, enquanto isso, porque não nos consolarmos, regozijarmos mesmo, com as comunicações bem sucedidas, tais como as de Fábio Nasser, que nos comprovam a continuidade da vida e dos afetos daqueles que se foram? Por que não nos voltarmos para as questões espirituais da vida, ressignificando conceitos e valores que elegemos como prioritários?Estas são as recomendações de nossos entes queridos que partiram, a nos concitar uma urgente mudança de rumos em nossas mesquinhas e vazias existências. Fábio Nasser, um interlocutor lúcido dentre aqueles, observa-nos em sua última carta, de 29/01/2009, através da médium Mary Alves: “Ainda estamos com sentimentos desregrados, com paixões desmedidas, com cobiças aviltantes, com maldades vergonhosas, e o trabalho é lento e exige muito sacrifício e renúncia, pois Deus recuperará todos os corações.” Luiz Antônio de Paiva é médico psiquiatra, vice-presidente da Associação Médico-Espírita de Goiás e consultor legislativo inativo do Senado Federal

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